O Futebol e as HQs

Preste atenção em qualquer jogo entre Palmeiras e Cruzeiro. Duas torcidas organizadas estarão sempre lá, ostentando suas bandeiras. A Mancha Verde do lado dos paulistas, e a Mancha Azul pelos mineiros. Em comum, o fato de que seus símbolos são nada mais, nada menos que o Mancha Negra, famoso vilão dos quadrinhos Disney..
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Mas no futebol as referências a HQs não se restringem ao Mancha, modificado pela cor do time de cada torcida. É fácil ver também o Hulk, o Duende Verde e até o Lobo da DC Comics estampados nas bandeiras das torcidas.

O que dizer, então, da folclórica e recentemente extinta “geral” do Maracanã, na qual se encontram, comumente, torcedores fantasiados de Flash, Super-Homem, Batman e Robin em tudo quanto é Fla-Flu?

Curioso foi o que aconteceu com o Lanterna Verde, que em 2002 esteve na boca até de quem não curtia quadrinhos. Graças ao Palmeiras, que no Brasileirão daquele ano amargou sua pior campanha em certames nacionais (caiu para a segunda divisão), e por causa da cor de sua camisa e por ficar nas últimas colocações do certame… bem, a piada estava feita.

Mas na campanha que reconduziu o alviverde à divisão de elite, os torcedores adotaram um novo símbolo: o “verdão” Hulk. Havia até um ator que se “transformava” no personagem a cada partida.
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Também em São Paulo, por muito tempo a torcida corintiana estendeu nos estádios uma faixa com o desenho Batimão, tendo o defensor de Gotham City com a camisa do clube, numa criativa junção do nome do herói com o apelido do clube.

A relação entre futebol e quadrinhos é mais velha do que se pensa. Já na década de 40, o argentino Lorenzo Mollas criou várias mascotes para os times cariocas. Nessa brincadeira, o Pato Donald passou a representar o Botafogo. Mas, antes disso, o marinheiro Popeye já posava como símbolo do Flamengo. Somente em 1969 o cartunista Henfil criou o urubu para o clube rubro-negro.

Em meados dos anos 80, pelas mãos de Ziraldo, popularizaram-se várias outras mascotes, com destaque para o Super-Homem do Bahia (por muito tempo chamado de “Tricolor de Aço”) e o Saci Pererê do Internacional.

Na Paraíba, o cartunista Deodato Borges (pai de Mike Deodato, um dos melhores desenhistas brasileiros da Marvel), bolou para o Treze de Campina Grande uma majestosa raposa. E o Botafogo da capital João Pessoa tem como representante o Guarda Belo, da Hanna-Barbera, embora ultimamente a torcida prefira o cão pitbull. Já o Esporte de Patos, do interior estado, também usa a figura do Pato Donald.

Também da Disney, o índio Havita e o papagaio Zé Carioca já foram usados como símbolos, respectivamente, do Guarani de Campinas e do Palmeiras, embora não sejam mais bem aceitos pelos torcedores (os palmeirenses até adotaram o porco, há alguns anos, como a mascote “oficial”).

Mas o interessante foi ver toda a turma de Patópolis entrando no clima e vestida com uniformes de seleções de vários países. Isso aconteceu em 2002, no álbum de figurinhas Copa do Mundo Disney. O livro ilustrado foi uma grata surpresa da Editora Abril, que há muito deixara de lançar cromos de personagens Disney, muito comuns nas décadas de 1970 e 1980.

Para relembrar uma Seleção Brasileira que deixou saudades, vale voltar aos meses que antecederam a Copa do Mundo da Espanha, em 1982, quando era exibida na TV uma propaganda da Gillette que marcou época. Era um desenho animado cujo personagem, Pacheco, um sujeito bonachão que representava toda nossa torcida, virou símbolo do País na competição. Ele também aparecia nos gibis, na forma de publicidade em quadrinhos.

No ano passado, no México, os jogadores do Rayados de Monterrey adotaram uma mascote do Hulk, de pouco mais de um metro de altura, que inclusive senta no banco de reservas em todos os jogos.

Futebol nas HQs brasileiras

O Brasil, como país do futebol, tem vários outros exemplos dessa bem-sucedida união entre dois dos melhores entretenimentos que existem. Já em 1932, os moleques Reco-Reco, Bolão e Azeitona, criações de Luis Sá, apareciam batendo uma bolinha.

A Turma do Pererê, criação de Ziraldo, gostava tanto de futebol que chegou a organizar um torneio na mata. E um inesquecível registro dessa paixão aconteceu em 1962, meses antes de o Brasil conquistar o bicampeonato mundial no Chile. Era uma história que mostrava um dos membros da turma desfilando seu talento nos gramados, e sendo convocado para a seleção que disputaria a Copa naquele ano. Tudo isso pôde ser visto no primeiro volume da coleção Todo Pererê, que a Editora Salamandra lançou em 2002 e cujo terceiro número saiu em agosto de 2004.
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Em 1978, o gibi Sítio do Picapau Amarelo # 13 (RGE) mostrou outro personagem convocado para a Copa. Tia Nastácia foi convidada a fazer parte da delegação do Brasil, para preparar deliciosos quitutes para os jogadores.

Nossa seleção, aliás, tem um grande número de aparições nos quadrinhos, em diferentes épocas, principalmente em lançamentos próximos a alguma Copa do Mundo. Sócrates, Zico, Falcão, Careca, Bebeto, Romário, Taffarel, Ronaldinho e muitos outros (que incluíam os técnicos Cláudio Coutinho, Telê Santana e Lazzaroni) apareceram em gibis do Sítio do Picapau Amarelo, Cebolinha, Zé Carioca e Pelezinho, em 1978, 1982, 1986, 1990 e 1994.

E só mesmo no país pentacampeão do mundo são mais do que comuns as coletâneas especiais sobre o esporte, pinçadas de uma variedade enorme de histórias dos mais diferentes personagens, como os da Disney (em edições de Zé Carioca relacionadas a Copas e no Disney Especial), Turma da Mônica (Pelezinho, também em edições alusivas aos mundiais e na Coleção Um Tema Só: Futebol), entre outros.

Em gibis como Cebolinha, Cascão, Os Trapalhões (tanto na Bloch quanto na Abril) e O Gordo, passando por Menino Maluquinho, Alegria, Turma do Lambe-Lambe e tosqueiras como Sérgio Mallandro, o futebol sempre deu um jeitinho de pintar nas histórias produzidas aqui. Até mesmo Senninha, um piloto de Fórmula 1, participava de peladas com sua turma.

Há outras criações tupiniquins que também amam o futebol, como Maciota, o jogador de várzea criado por Paulo Paiva; a garotinha Mutuca, de Antônio Cedraz (criador da Turma do Xaxado); a tira O Dia a Dia do Futebol, de Bruno Teixeira Lomba; o cão Jarbas, que às vezes veste a camisa da seleção ou se traja de árbitro; e o travesso Cabeça Oca, cuja roupa vermelha e branca é uma homenagem ao Vila Nova, clube para o qual torce o criador do personagem, o goiano Christie Queiroz.

E não se pode esquecer de Futebol e Raça, publicado pela Cedibra, que durou apenas três edições. Com textos de Luiz Antônio Aguiar e desenhos de Mozart Couto, as histórias tinham como protagonista um jogador aposentado.

Mesmo quando algum personagem vinha dos Estados Unidos – país conhecidamente avesso ao futebol -, os autores brasileiros tratavam de fazê-lo apreciar o esporte. Nas histórias da Pantera Cor-de-Rosa, Luluzinha, Bolinha ou algumas da Hanna-Barbera produzidas aqui, era possível encontrar pelo menos a tradicional bola de gomos pretos e brancos compondo cenários de lojas de brinquedos ou quartos de criança. Coisa que não se via nas aventuras importadas.

Em O grande jogo, história produzida nos estúdios da Editora Abril e publicada na revista Pato Donald # 1252, foram reunidos vários vilões como João Bafo-de-Onça, Dr. Estigma e Irmãos Metralha em torno de uma disputa futebolística num presídio. O melhor ficou para o final, quando todos organizaram uma partida de futebol de botão, uma invenção genuinamente brasileira.

Zé Carioca, por sua vez, joga bola com muita freqüência, desde suas primeiras histórias produzidas no Brasil. Mais ainda depois que surgiu o Vila Xurupita F.C., criado por Ivan Saidenberg na década de 1970. O time punha em campo, além do papagaio, os pernas-de-pau Nestor, Afonsinho, Pedrão e outros “grossos”.
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Praticamente uma versão em quadrinhos do Íbis (time pernambucano que é considerado o pior do mundo), o Vila Xurupita é o maior saco de pancadas da história do futebol. Na única vez em que ganhou um troféu (disputado num jogo só, contra uma equipe formada por gorilas mal-encarados, vencido devido a um gol contra), foi obrigado a vender o prêmio para pagar os aluguéis atrasados da sede do clube.

O time alimenta ainda uma rivalidade ferrenha com o Arranca-Toco. Os jogos entre as duas equipes são o que se pode chamar de (com o perdão do trocadilho) clássico dos quadrinhos.

Como todo brasileiro que se preza, o papagaio malandro é fanático por futebol, e essa paixão foi – e continua sendo – parte marcante do gibi do personagem. Seja em menções a clubes, jogos na calçada ou “furadas de fila” no Maracanã, a revista sempre destacou o esporte bretão.

E numa dessas, foi concebida a melhor saga futebolística do Zé Carioca, a divertida Zé nos States, escrita por Gérson B. Teixeira e desenhada por Aluir Amâncio. O arco completo de histórias foi publicado na edição número 2000 da revista do personagem, e se passava na época da Copa do Mundo 94.

A aventura narrava a ida de Zé Carioca aos Estados Unidos para assistir aos jogos do Brasil. É claro que, para chegar lá sem um tostão no bolso o malandro apronta de tudo para alcançar seu intento. Uma das melhores passagens é o encontro dele com o craque Maradona num navio de passageiros. A rivalidade entre brasileiros e argentinos foi o mote para as mais divertidas confusões. O jogador, claro, sofreu nas mãos do papagaio.

Não mais que um marinheiro argentino, que não resistiu e cantou Aquarela do Brasil junto com o Zé Carioca. Acabou sendo expulso do navio pelos próprios compatriotas, que gritavam “Traidor!” a pelos pulmões.

Para quem não teve a oportunidade de ler essa fantástica saga há dez anos, a Editora Abril a republicou em 2004 no título quinzenal do Zé Carioca.

Mas essa não foi a primeira vez que o papagaio assistiu in-loco aos jogos do Brasil nas Copas. Em muitas ocasiões, ele tanto fazia que acabava integrando a delegação nacional. Como em 1986, na revista Zé Carioca # 1775, em que o malandro até ensina ao técnico Telê Santana um novo posicionamento tático, baseado no famoso “carrossel holandês”: a gangorra tupiniquim.

Antes disso, em 1982, ele foi com Donald e Panchito à Espanha. E em 1998, lá estava o caloteiro na França, no especial Copa 98.

Tantas histórias ligadas ao futebol na revista do papagaio caloteiro provavelmente não se originavam apenas do apelo comercial que o esporte possui, mas também porque a turma da Redação Disney da Editora Abril era adepta de uma pelada semanal nos anos 80.

Os quadrinhistas alugavam uma quadra na sede do Corpo de Bombeiros, em São Paulo, e os jogos rendiam inspiração não só para engraçadíssimas HQs, como para impagáveis charges sobre a Redação, nas quais um dos alvos preferidos era o rechonchudo arte-finalista Acácio Ramos.

Até hoje o argumentista Gérson B. Teixeira (atualmente trabalhando nos Estúdios Mauricio de Sousa) guarda esses desenhos, uma recordação dos bons tempos da produção nacional de quadrinhos Disney.

Falando em charges, grandes nomes da área não perdem a oportunidade de brincar um pouco com o futebol. Laerte, Glauco, Luís Fernando Veríssimo e muitos outros têm em seu portfólio diversos trabalhos sobre o tema.

E aqui mesmo no UHQ o leitor pode se deliciar com divertidas charges que colocam famosos personagens dos quadrinhos (Demolidor, Thor, Wolverine, etc.) no mundo da bola, destacando-se as que antecederam a Copa de 2002.

Com relação a outro sucesso e orgulho nacional, a Turma da Mônica, seus gibis talvez são uma das poucas HQs nas quais os personagens torcem por um time de verdade. Não se trata de uma história isolada em que alguém revelou seu clube do coração. É algo já consolidado em diversas aventuras. Efetivamente, o Cascão é fanático pelo Corinthians, o Cebolinha torce pelo Palmeiras, o Anjinho é santista (nada mais lógico!) e por aí vai.

Há dois anos, Mauricio de Sousa anunciou que transformaria o jogador Ronaldo (sim, ele mesmo, o Fenômeno) em mais um de seus personagens. Foi até divulgado um desenho do craque ao lado de Mônica e Cascão. Até hoje, nada de concreto aconteceu.

Marcelinho Carioca, o polêmico ex-atacante do Corinthians, por pouco também não virou personagem de quadrinhos. Em 2001 ele lançou o Pé de Anjo, que só não foi para os gibis (ou para qualquer outro lugar) porque, na época, o jogador estava em crise com os torcedores.

Outro que não emplacou e acabou cedo foi o título Coringuinhas. Lançado em 2003, numa parceria entre o Corinthians e a Publishouse, o gibi tinha como atração os jogadores mirins da escolinha do clube paulista, entre eles o craque Alvinho. A equipe criativa contava com Caco Machado (roteiros), George Tutumi (desenhos), Roberto Souza (arte-final) e o saudoso Hermes Tadeu (cores). Em 1998, a Editora Abril lançou o especial de luxo Linha de ataque: Futebol Arte. Com textos dos comentaristas esportivos Armando Nogueira, José Trajano, Marcelo Fromer (que também era guitarrista da banda Titãs e faleceu há poucos anos) e Casagrande, mais os desenhos de Marcelo Campos, Octavio Cariello, Rogério Vilela e Roger Cruz, foi um dos exemplos mais significativos da junção do futebol com a nona arte. Mas não foi nenhuma obra-prima do gênero, é preciso dizer.

Outra produção recente sobre o tema foi lançada em 2002. Trata-se de Dez na área, um na banheira e ninguém no gol. O álbum, publicado pela Via Lettera, apresentou 11 histórias produzidas pelos craques dos quadrinhos Fábio Moon, Gabriel Bá, Allan Sieber, Custódio, Fábio Zimbres, Lélis, Leonardo, Osvaldo Pavanelli, Emílio Damiani, Spacca, Samuel Casal, Maringoni e Caco Galhardo. E ainda teve um prefácio do ex-jogador Tostão.

E em 2004 saiu pela Editora Bom texto, o espetacular A História do Futebol no Brasil através do Cartum, livro organizado pela dupla Jal e Gual que rende uma homenagem ao mais apaixonante dos esportes e à memória do traço nacional. São 340 ilustrações de várias épocas.

Para os que não puderem adquirir nenhuma dessas edições, e que desejam ler alguma HQ sobre futebol, a opção é acessar o site da Nona Arte, sempre rico em quadrinhos de vários estilos. Lá se encontra disponível para download a excelente Dia de decisão, produzida por Arthur Ferraz, Daniel Brandão e Denilson Albano.

Reforços estrangeiros

Em qualquer lugar do mundo onde haja futebol e se produza HQs, pode-se testemunhar a união de ambos. Do Chile, com o Condorito (às vezes ele aparecia de chuteiras e com uma bola na mão, vindo de alguma pelada), à Argentina, com o jogador Dico (o personagem, criado em 1971 pelo desenhista José Luis Salinas, era artilheiro do Estrela F.C. e participava de aventuras policiais fora de campo).
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Ambos foram publicados no Brasil em revistas próprias, pela RGE, respectivamente nos anos 80 e 70. O condor chileno ainda voltou às bancas brasileiras em curta temporada, no começo da década de 1990, pela Editora Maltese.

Até o frio e “burocrático” futebol da Alemanha tem representantes nos quadrinhos. Kick Wilstra, criado por Henk Sprenger, era um jogador que enfrentava bandidos nas horas vagas. O personagem fez muito sucesso entre os alemães, na década de 1950.

E não só aqui os personagens Disney demonstram paixão pelo futebol. Em países como Dinamarca, França e Itália, também chegados numa pelota, é muito comum encontrar histórias do gênero.

Uma das mais memoráveis foi feita pelos italianos e publicada no Brasil em 1986. Nela, Mickey e Pateta tentam voltar no tempo, mais precisamente para 1970, para tirar fotografias exclusivas da final da Copa do Mundo entre Brasil e Itália. Tudo dá errado e eles acabam indo para o futuro, exatamente no dia e local da disputa da Copa 86. Enquanto o jogo se desenrola, são mostradas apenas as expressões dos personagens, que ficam sabendo, antecipadamente, quem venceu o campeonato.

A capa de Peninha # 1, lançamento da Abril em agosto de 2004, é outra prova do quanto os italianos gostam do esporte. O desenho foi feito na Disney Itália, e mostra o pato atrapalhado ao lado de Huguinho, Zezinho e Luisinho num campo de futebol alagado.

Curiosa foi a história O som da arena, feita nos Estados Unidos e protagonizada por Cable, um dos muitos mutantes da Marvel Comics. Publicada aqui na Wizard # 12 (Panini Comics, setembro de 2004), mostrou, em algumas páginas, aquilo que todo mundo lá fora já sabe: brasileiro é apaixonado por futebol. As cenas apresentavam o herói no Rio de Janeiro observando um garoto mutante batendo uma pelada na praia com seus amigos e usando superpoderes para cabecear uma bola que vinha muito alta.

Os chamados quadrinhos autorais também prestaram sua homenagem ao futebol. Vários cartuns do argentino Mordillo (cultuado na Europa e pouco conhecido aqui), e Os Campeões (lançado no Brasil pela Meribérica/Líber), obra do turco Gürcan Gürsel, são dois excelentes exemplos. Donos de traços diferentes entre si, têm em comum a paixão pelo esporte das massas e um humor inteligente que se traduz na forma como produzem seus álbuns: gags puras, sem nenhum balão ou recordatório, no máximo uma onomatopéia aqui e ali.

O também argentino Sergio Más lançou, em 1998, o livro de cartuns Futbol de Más, com a participação de alguns cartunistas brasileiros.

E um futebol futurista, com jogos violentos em verdadeiras batalhas campais, foi mostrado, em 1987, na obra Hors Jeu, de Enki Bilal e Patrick Cauvin.

Ainda há O mini-guia do futebol, HQ dos franceses Bruno Madaule e Gaston. Publicado recentemente em vários países da Europa, o álbum bem que poderia circular pelo Brasil, já que Portugal verteu a obra para nossa língua.

De nossa pátria-mãe vem Pantera Negra Eusébio, homenagem em HQ ao maior jogador português da história do futebol, o atacante Eusébio, artilheiro da Copa da Inglaterra, em 1966. O álbum foi lançado em 1990 pela Meribérica, com desenhos de Eugénio Silva.

Até na terra do Sol nascente, sem nenhuma tradição futebolística (mas que vem se interessando pela coisa há alguns anos – Zico que o diga!), vez ou outra se produz alguma HQ com o tema.

Em 1982, surgiu o mangá Captain Tsubasa (criado por Yoichi Takahashi), com as aventuras do jovem Oliver Tsubasa, que sonhava em ser campeão de juniores pelo Japão. O primeiro tomo da série foi até 1989.

No ano de 1994 veio o segundo tomo, no qual o personagem jogava no São Paulo. Isso se justificava pelo fato de o clube ter ganhado duas decisões da Copa Intercontinental Toyota, em Tóquio, em 1992 e 1993 e gozar de muito prestígio por lá. Nas histórias ainda apareciam outros times brasileiros, como Flamengo e Grêmio. Recentemente, Tsubasa se transferiu para o Barcelona.

Por aqui, o personagem só deu as caras em animê. O mangá ainda é publicado no Japão, numa nova série, com a impressionante tiragem semanal de 1,5 milhão de exemplares.

O mais recente trabalho de Yoichi Takahashi também é sobre futebol: Syukan Shonen Champion, também inédito no Brasil.

O Rei em quadrinhos

Pelé, o maior expoente do futebol em toda a História e talvez a personalidade mais conhecida do planeta, já honrou as HQs com sua presença. Além de contracenar com o Zé Carioca, o Rei ainda apareceu na capa do especial Super-Homem versus Muhammad Ali, publicado no Brasil nos anos 70, pela Ebal. Na ilustração, ele assiste à luta ao lado de outras figuras famosas da política e das artes.

Assim como se formaram mitos em torno das façanhas de Pelé nos gramados, também existe uma lenda sobre ele nos quadrinhos. Lee Falk, criador do Fantasma, afirmou numa entrevista ao Jornal da Tarde (de São Paulo), em 1996, que o rei do futebol ajudou o Espírito-que-Anda numa aventura produzida no Brasil.

O fato é que não se sabe que editora realizou tal façanha: RGE/Globo, Saber ou Ebal, que publicaram o herói em diferentes épocas em nosso país. Infelizmente, não se encontra registro dessa história, mas se o próprio Lee Falk disse que ela existe…

No final da década de 1970, Pelé ganhou participação mais que efetiva nos quadrinhos, quando Mauricio de Sousa criou Pelezinho. Estreando em tiras de jornal e depois ganhando seu próprio gibi na Editora Abril, o personagem fez muito sucesso não só no Brasil, mas em outros países da América do Sul.
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Os coadjuvantes de Pelezinho eram todos baseados em amigos de infância do Rei. Um dos mais divertidos da turma era o (arremedo de) goleiro Frangão. Até Dondinho, o pai de Pelé, aparecia nas histórias.

A revista mensal do pequeno craque durou até 1982, e por mais quatro anos foram lançados almanaques periódicos com republicações, incluindo os especiais da Copa do Mundo de 82 e de 86 (em duas edições).

Quando os Estúdios Mauricio de Sousa foram para a Editora Globo, o personagem ganhou um almanaque em 1988, além do especial Copa 90 (que apresentava histórias inéditas, e numa delas havia até um encontro entre Pelé e Pelezinho) e um álbum em comemoração aos 50 anos do rei do futebol.

Em 1990, Mauricio de Sousa cogitou a volta do personagem com um visual bem diferente, agora um pré-adolescente. Anos depois, em 2002, essa nova imagem foi apresentada em propagandas nas revistas da Turma da Mônica e em sites pela internet. Mas a idéia não seguiu adiante.

Restou só a saudade do maior craque que os quadrinhos já revelaram para o futebol – ou seria o contrário?

Supercraques

Em 1995, o então diretor de redação da revista Placar, Marcelo Duarte, teve a idéia de revitalizar as mascotes dos clubes de futebol, as quais achava ultrapassadas. Pensou em algo que significasse o poder e a força que os times representam.

A Era Image, na qual supertipos anabolizados e anatomicamente inverossímeis eram a bola da vez, estava no auge. Assim, sob encomenda do jornalista, a equipe do estúdio Art & Comics seguiu a tendência e transformou as velhas e passivas mascotes nos Super-Heróis da Bola: Mega Timão (Corinthians), Power Urubu (Flamengo), Lança-Chamas (Botafogo), Cyberpork (Palmeiras), Galo Vingador (Atlético-MG), Fox (Cruzeiro) e outros formavam o mais novo esquadrão de paladinos da justiça.

A Editora Abril pretendia popularizá-los até que pudessem ganhar uma revista própria. Durante vários números da Placar, eles foram tema de matérias, capa de edição e chegaram a ganhar um superpôster e uma história curta. Mas a iniciativa não surtiu efeito, as vendas não demonstraram que o público ficara animado com a inovação e o projeto foi engavetado.

De qualquer forma, foi um divertido exercício de imaginação que entrou para a história da mais longeva revista de esportes do País.

Também em 1995, inspirado nas “supermascotes”, este articulista fez uma montagem que consistia no Ciclope (líder dos X-Men), vestindo a camisa do Flamengo e segurando a cabeça do ex-jogador Renato Gaúcho, o então algoz do time rubro-negro (autor do gol que tirou o título carioca do rubro-negro naquele ano). Batizada de X-Mengo, a imagem foi publicada na Placar especial de 100 anos do time carioca.

Mas os quadrinhos continuaram fazendo parte da revista. Tiras de humor e charges são seções fixas na Placar há muitos anos. A hilária coluna Lendas da Bola, de Milton Trajano, é um belo exemplo disso.

Diante de tudo que se viu, não resta dúvida: nos quadrinhos o futebol também é alegre, faz sorrir e chorar, produz tabelas perfeitas e até as goleadas surgem com mais freqüência.

O único problema é que não é possível xingar o juiz. Mas isso parece não fazer falta, pois os leitores já têm seu próprio saco de impropérios: o editor.

Fonte: www.universohq.com/quadrinhos- Marcus Ramone é flamenguista roxo. Talvez por isso também seja torcedor fanático do Vila Xurupita nos quadrinhos.
Obs: meu gibi favorito era o Fantasma. Imaginem só, Pelé ajudou o espírito-que-anda numa aventura. Só o negão mesmo.
Gilberto

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