Um pouco de Nelson Rodrigues no futebol

Nelson criou as personagens, imagens e expressões mais perenes. Por exemplo: o “Sobrenatural de Almeida”, responsável pelo inexplicável no futebol; a “grã-fina de narinas de cadáver”, que, em pleno Maracanã, costumava indagar “quem é a bola?”; o ceguinho tricolor, seu álter-ego; o óbvio ululante; a burrice do vídeo-teipe e dos intelectuais, verdadeiros “idiotas da objetividade” e seres incapazes de cobrar um mísero lateral e muitos outros.

Nelson Rodrigues escreveu para a Manchete Esportiva no período de 1955 a 1959. com o título de ‘O Berro Impresso nas Manchetes’.
Como seriam os comentários de Nelson Rodrigues nos dias de hoje? Será que falaria que estava escrito há 5000 anos nas estrelas a derrota do Flu para a LDU? A falta de encanto do nosso atual futebol faria um Nelson amargurado em seus comentários.

Em algumas crônicas o autor tratava das origens do Flamengo, louvando a raça da camisa rubro-negra. Falava que chegaria o dia em que o Flamengo não precisaria de técnicos, jogadores e técnicos. A sua camisa seria uma bastilha inexpugnável. É nestes momentos que vemos que Nelson conseguia ser simplesmente escritor.

Vamos ser objetivos: Se fosse um boleiro, Nelson Rodrigues certamente cruzaria uma bola para a grande área e jamais a retrocederia como faz alguns de nossos atuais jogadores. Jamais se perderia em firulas desnecessárias. Seria decisivo como a simplicidade do gol de barriga de Renato, dando um título carioca ao Fluminense.

ALGUMAS FRASES ANTOLÓGICAS DE NELSON RODRIGUES

Não há bola no mundo que seja indiferente a Zizinho.

A humilhação de 50, jamais cicatrizada, ainda pinga sangue. Todo escrete tem sua fera. Naquela ocasião, a fera estava do outro lado e chamava-se Obdulio Varela.

Djalma Santos põe, no seu arremesso lateral, toda a paixão de um Cristo negro.

Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.

Um jogador rigorosamente brasileiro, brasileiro da cabeça aos sapatos. Tinha a fantasia, a improvisação, a molecagem, a sensualidade do nosso craque típico.

Não me venham falar em Di Stéfano, em Puskas, em Sivori, em Suárez. Eis a singela e casta verdade: não chegam aos pés de Pelé. Quando muito, podem engraxar-lhe os sapatos, escovar-lhe o manto.

Um time que tem Pelé é tricampeão nato e hereditário.

O futebol é passional porque é jogado pelo pobre ser humano.

Um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há de sentir-se incompetente para opinar sobre o nosso Mané.

Eu digo: não há no Brasil, não há no mundo ninguém tão terno, ninguém tão passarinho como o Mané.

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