A FANTÁSTICA FÁBRICA DE FIGURINHAS

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Nem Pacaembu em dia de jogo do Timão, nem domingão na praia, nem circo. Quando eu era pequeno, meu programa preferido era acompanhar meu pai ao trabalho dele, na padaria. Eu ajudava a fazer pão, a carregar caçulinhas e comia muita coisa boa. Era a padoca Santa Marcelina, no Brooklin (SP). Sabe quem ia lá? Roberto Rivelino, que gostava da simpatia e o bom papo de papai. O bigode me deu uma bola autografada, um vinho de sua grife particular e sempre nos deixava entrar no vestiário da “Seleção de Masters”, do Luciano do Valle.

Uma das coisas boas dessas excursões era poder ficar pertinho das caixas de chiclete Ping-Pong e pegar quantos eu quisesse. Menos pela goma e mais pelo que ela trazia: figurinhas da Copa, lembra? Ainda me recordo da alegria de desembrulhar o Éder (que, sei lá por que, acabou virando Éder Aleixo; na minha época era só Éder) e finalmente completar o Brasil de 82. Quem tem aquele álbum levanta a mão aí.

Naranjito, Mora (goleiro de El Salvador), N’Kono (de Camarões), Dasaev, Aleinikov e Demianenko (da URSS), Litibarski (Alemanha Ocidental), Butragueño (Espanha), Colovatti, Conti e Tardelli (Itália)… Putz, que saudade… Nada pode ser mais inesquecível do que passar um dia nos bastidores do trabalho do pai e ainda por cima tirar a figurinha do Éder.

Pois dias atrás acho que dei um presente desses pra minha filha. Deixei-a faltar na escola e levei-a comigo à Panini, que produz as (difíceis de achar, segundo meu amigo Fábio Altman) figurinhas da Copa de 2006. Para mim era trabalho; eu ia entrevistar o presidente da empresa para a revista “IstoÉ Dinheiro”. Para minha pequenina, pura farra. Só que eu acabei me divertindo à beça também. Vi como funciona a fantástica fábrica de figurinhas e fiz todas aquelas perguntas que a gente se faz quando coleciona cromos:

Será que os caras guardam os craques para vender só lá na frente, depois que a gente já gastou uma fortuna comprando repetidas?
Quem define os jogadores que vão para o álbum, já que ele é sempre lançado bem antes de os técnicos soltarem a lista final dos convocados?

Vou contar procês o que me explicaram e o que eu vi lá.

O José Eduardo Martins, presidente da Panini, jurou que não existem figurinhas difíceis. Sai tudo na mesma quantidade e eles não escondem Ronaldinhos, Henris e Riquelmes. A produção é mais ou menos assim:

Fase 1
A figurinhas chegam de uma gráfica terceirizada já impressas. Uma enorme folha de papel traz, lado a lado, todas os 596 cromos. A disposição deles na folha é calculada por computador.

Fase 2
A enorme folha entra em uma máquina que a corta e diversos pedaços menores com 20 figurinhas cada um. Eles chamas essas folhas menores de pranchas.

Fase 3
Uma outra máquina embaralha as pranchas e as faz uma grande pilha com elas. Uma terceira máquina dá o último corte, parindo as figurinhas individuais. É complicado explicar, mas é por causa desses cortes e desses embaralhamentos que nunca vêm figurinhas repetidas no mesmo pacotinho, diz o Martins.

Fase 4
Mais uma máquina – sempre elas – empacota as figurinhas.

Fase 5
Enfim, mãos humanas (sempre femininas) separam os pacotinhos em bolos de 50, envolvem tudo em um filme plástico e guardam em caixinhas de papelão.

Fase 6
Uma outra empresa terceirizada entrega o ouro às bancas de jornal.

Certo dia , um jornaleiro da Avenida Paulista me contou que as figurinhas da Copa estavam saindo como pão quente (da Santa Marcelina?). Ele havia recebido 800 pacotinhos (sexta) de manhã. “E não durou nem até a hora do almoço”, disse.

Sorte que, além de boas lembranças e muita diversão, na época o passeio/trabalho à Panini me rendeu um álbum da Copa 2006 + todas (TODAS!) as figurinhas. Só veio uma repetida, o escudo da Holanda.
Por Christian Cruz
fotolog.terra.com.br/caroco:4

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