Amarildo tremeu no jogo contra a Espanha – 1962

Segundo depoimento de Amarildo, ele só tremeu uma vez no futebol. Na copa do mundo de 1962 quando foi escalado para substituir o Pelé contra a Espanha. Quando Pelé se machucou, no Brasil todo mundo perguntava – “Quem vai substituir Pelé ?” . No ar, alguns sintomas: em 1958, o guri Pelé entrara no lugar de Dida e, deste vez alguém entraria em seu lugar na mesmo rodada. Lá estava o garoto Amarildo com a camisa 20, justamente o dobro da famosa de Pelé. E o próprio Rei o chamou: – “Quem sabe, Amarildo, se não foi Deus quem te mandou aqui ? Você tem tudo que eu tinha em 1958”.

Na concentração, o veterano Nilton Santos pensou – “Esse menino não ia ser convocado porque é brigão”. E mandou chamá-lo a seu bangalô na concentração em El Retiro, em Quilpuê, Vinã Del Mar. – “Eles vão te desacatar. Finja que não ouve. Não queira também se fazer de Pelé. Seja o mesmo Amarildo do Botafogo”.

No dia 3 de junho, em campo contra a Espanha, Amarildo não conseguia escutar os gritos do conselheiro Nilton Santos, as ordens do mestre Didi, nem mesmo acompanhar os centros de Garrincha. As pernas pareciam de chumbo, sumira aquela ferocidade. Estava estático, sem vida. Até que no fim do primeiro tempo o zagueiro Garcia cuspiu-lhe na camisa e puxou-lhe o cabelo. Pobre Garcia despertava o adormecido anjo barroco e dele surgia a figura do Possesso.

Veio o segundo tempo e o Brasil virou o jogo para 2 a 1 com dois gols de Amarildo. Nelson Rodrigues exaltava perante o mundo –
“Só um possesso em último grau ou por este montado, só um possesso faria aquilo”.

Era o grande Amarildo, bicampeão do mundo, também bicampeão carioca. Por nove anos, foi rei na Itália jogando no Milan, Fiorentina e Roma. Também foi rei em punições: suspenso 41 vezes, expulso 28, pena de 38 semanas. Era um jogador que iria fazer parte de um time inesquecível para 75 milhões de brasileiros naquela final de 3 a 1 contra a Techecolováquia no dia 17 de junho de 1962: Gilmar. Djalma Santos. Mauro. Zozimo e Nilton Santos. Zito e Didi. Garrincha. Vává. Amarildo e Zagalo.
Fonte: Revista Placar

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