Pênalti – A falta máxima

Desde que William McCrum, um goleiro irlandês, sugeriu a criação do pênalti à Internacional Board, que definia as regras do futebol, sua cobrança tornou-se um ritual. Cada vez mais importante, é a única infração cuja execução se permite mesmo depois de esgotado o tempo regulamentar. Em compensação, os outros goleiros, colegas do inventor, nunca mais dormiram sossegados.

“O goleiro é mesmo um mero solitário. E a hora do pênalti é só mais um momento de solidão para quem treina separado e até os gols tem que comemorar sozinho” assume Zetti, campeão brasileiro pelo São Paulo.

Para muitos uma covardia, para outros algo tão especial que deveria ser chutado pelo presidente do clube, o pênalti faz cem anos provocando polêmica nestes tempos em que se pensa na mudança das regras para agilizar o jogo – “A marcação do pênalti deveria se limitar às bolas que vão na direção do gol. Muitos lances que acontecem na área não teriam necessidade de uma cobrança direta, a onze jardas, como ocorre.” – sugere Zetti.

Mas nem sempre foi assim. O pênalti nasceu para punir com mais rigor as faltas que acontecem perto do gol, onde a cobrança simples era impraticável. Às vezes, quando ele não existia, juntava-se um bolo de jogadores dos dois times e poucos centímetros da linha do gol, aonde a bola raramente chegava. Como aconteceu no último minuto de um jogo entre Notts County e Stoke City, pela Copa da Inglaterra, em 1891. O zagueiro Henry, do Notts, que já vencia de 1×0, evitou o gol de empate tirando com a mão uma bola na linha. A cobrança, a poucos centímetros da meta, deu em nada: o goleiro do Notts colocou-se na frente da bola, como a regra permitia, e defendeu com facilidade. Mas ficou claro que algo deveria mudar. E depois dessa confusão finalmente aprovou-se a proposta do penalty kick, numa reunião em Glasgow, na Escócia, no dia 2 de junho de 1891.

Os ingleses e a imprensa foram desde o início os inimigos número um da novidade. Enquanto os jornais da época chamavam-no ironicamente de “pena de morte para os goleiros” e de “idéia maluca dos irlandeses”, os ingleses, inventores do futebol, se ofendiam. Acreditavam que um jogo disputado só por cavalheiros não precisava de regras para punir tão severamente jogadas desleais – elas simplesmente não existiriam. Uma doce ilusão britânica, mas que tinha até algum fundamento naqueles românticos primeiros tempos do esporte, quando o cavalheirismo parecia mesmo falar mais alto.

O Corinthians Tean, da Inglaterra, por exemplo, recusava-se a sequer tentar defender as cobranças. Seus goleiros, reconhecendo na marcação um recurso ilícito para impedir o gol quase certo, ficavam encostados na trave, deixando o gol escancarado. E os adversários, em retribuição, eram mais educados ainda, jogando sempre a bola para fora, de propósito. Por isso resolveu-se dar um basta a essa troca de favores, mudando a regra para os goleiros em 1905. Até então, eles tinham o direito de se adiantar seis jardas da linha do gol, mas agora são obrigados a ficar em baixo das traves. Essa foi à única mudança nas regras em cem anos.

Momento único no futebol, a ponto de ser escolhido por Pelé como a melhor forma de imortalizar seu milésimo gol, a cobrança de um pênalti é uma emoção diferenciada. Polêmica desde o momento da marcação da falta até a hora de sua conclusão. O goleiro teria se mexido ? O cobrador chutou mesmo da melhor maneira ? Se o pênalti não tivesse marcado o resultado teria sido outro ? O goleiro Gilmar dos Santos Neves, se acostumou a isso. Teve uma carreira de 22 anos de solidão.
Fonte- Placar

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