História do Campeonato de Acesso Paulista – Cap. VIII

1954: Deu Burro na cabeça!

Coube ao Taubaté a primazia de ganhar o Campeonato de Acesso justamente no ano da morte de seu idealizador, Roberto Gomes Pedrosa (1913-1954). Pedrosa faleceu no dia 6 de janeiro e segundo alguns, foi o melhor presidente que a Federação Paulista já teve. Dinâmico e arrojado, conseguiu consolidar a competição do Acesso, apesar das inúmeras correntes contrárias. Passados mais de 50 anos da sua morte, o Acesso é hoje uma realidade inconteste nas várias divisões do Estado de São Paulo. O número de participantes permaneceu o mesmo do campeonato do ano anterior. A FPF seguiu à risca o regulamento com referência a população das cidades. Só aceitava comprovação com um documento do IBGE. O Catanduva EC chegou a apresentar 27 documentos atestando que a cidade que ele representava tinha mais de 50.000 habitantes. Mas não teve jeito, o documento principal (do IBGE) ainda era do ano de 1950 e apontava uma população inferior ao estabelecido. O Jabaquara que deveria participar do campeonato, novamente não compareceu em nenhum jogo. Houve alterações dos integrantes: a Araraquara e o Nacional (que fora rebaixado no ano anterior), pediram licença. O Comercial (Ribeirão Preto) fez a sua estréia e o Radium retornou da licença. O Velo Clube também reaparece e a Portuguesa Santista, rebaixada no ano anterior, disputa o seu primeiro Acesso. O certame só começou em dezembro e avançou até meados de 1955.

A primeira fase apresentou a seguinte classificação:

Série Nóbrega

Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
BOTAFOGO 15 5 10 7 1 2 32 11 21
FERROVIÁRIA (ARQ) 12 8 10 6 0 4 27 13 14
AMÉRICA 12 8 10 6 0 4 28 20 12
COMERCIAL (RP) 12 8 10 5 2 3 22 14 8
RIO PRETO 9 11 10 4 1 5 10 20 -10
PAULISTA (ARQ) 0 20 10 0 0 10 3 44 -41
JOGOS REALIZADOS 30
GOLS ASSINALADOS 122
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 4,1

Classificados: Botafogo e Comercial, após eliminar a Ferroviária e América.

Série Piratininga

Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
TAUBATÉ 15 5 10 6 3 1 30 12 18
SÃO BENTO (SOR) 13 7 10 6 1 3 22 17 5
PAULISTA (JUN) 12 8 10 6 0 4 22 15 7
PORTUGUESA (SAN) 10 10 10 4 2 4 20 24 -4
RADIUM 9 11 10 4 1 5 19 19 0
VELO CLUBE 1 19 10 0 1 9 14 40 -26
JOGOS REALIZADOS 30
GOLS ASSINALADOS 127
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 4,2

Classificados: Taubaté e S. Bento (Sorocaba).

Série Anchieta

Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
MARÍLIA 17 7 12 7 3 2 33 17 16
ARAÇATUBA 17 7 12 6 5 1 26 12 14
TUPÃ 17 7 12 8 1 3 25 11 14
PRUDENTINA 11 13 12 3 5 4 16 20 -4
GARÇA 8 16 12 2 4 6 29 29 0
CORINTHIANS (PP) 8 16 12 2 4 6 12 32 -20
BAURU 6 18 12 1 4 7 13 33 -20
JOGOS REALIZADOS 42
GOLS ASSINALADOS 154
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 3,7

Classificados: Araçatuba e Tupã, após a eliminação do Marília.

O “Torneio dos Finalistas” apresentou a seguinte classificação:

Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
TAUBATÉ 14 6 10 6 2 2 27 12 15
COMERCIAL (RP) 13 7 10 6 1 3 16 21 -5
SÃO BENTO (SOR) 11 9 10 4 3 3 16 11 5
BOTAFOGO 9 11 10 4 1 5 10 20 -10
ARAÇATUBA 9 11 10 3 3 4 17 21 -4
TUPÃ 4 16 10 1 2 7 8 24 -16
JOGOS REALIZADOS 30
GOLS ASSINALADOS 94
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 3,1

Como no ano anterior, a 2ª fase foi por pontos corridos e o jogo decisivo foi disputado na última rodada, onde o Comercial esperava um tropeço do Taubaté frente ao seu arqui-rival, o Botafogo. Mas não teve jeito, a equipe do “pantera” não foi páreo para o “burro” e o acesso estava garantido.

Jogo decisivo: Taubaté 4 x 1 Botafogo

Data: 26/6/1955

Local: “Estádio da Praça Monsenhor Silva Barros”

Renda: Cr$ 112.000,00

Árbitro: Luís Botini

Gols: Berto (11/1T), Silvio (33/1T); Benedito (7/2T), Perseu (14/2T)

Taubaté: Sergio; Rubens e Ananias; Can Can, Zé Américo e Ivan; Silvio, Taino, Berto, Benedito e Alcino. Técnico: Joaquim Loureiro

Botafogo: Ênio; Fonseca e Vastinho; Diógenes, Mário e Perseu; Neco, Brotério, Elvio, Américo Salomão e Dorival. Técnico: nd

Campanha do Campeão

Série Nóbrega – 1ª fase

1º turno                                                           2º turno

19/12/1954: Taubaté 4 x 0 S. Bento (Sor)           13/02/1955: S Bento (Sor) 1 x 1 Taubaté

26/12/1954: Velo Clube 2 x 4 Taubaté                27/02/1955: Taubaté 9 x 2 Velo Clube

2/1/1955: Taubaté 2 x 1 Paulista (Jun)                6/03/1955: Radium 0 x 0 Taubaté

16/01/1955: Portuguesa 1 x 1 Taubaté                3/03/1955: Taubaté 5 x 1 Portuguesa

23/01/1955: Taubaté 2 x 1 Radium                     27/03/1955: Paulista (Jun) 3 x 2 Taubaté

Torneio dos Finalistas – 2ª fase

1º turno                                                           2º turno

1/05/1955: Taubaté 6 x 3 Comercial       (1)        5/06/1955: Comercial 0 x 0 Taubaté

8/05/1955: Araçatuba 2 x 2 Taubaté                   9/06/1955: Taubaté 1 x 0 Araçatuba

15/05/1955: Taubaté 2 x 1 S. Bento (Sor)           12/6/1955: S Bento 2 x 1 Taubaté (Sor)

22/05/1955: Taubaté 4 x 0 Tupã                         19/06/1955: Tupã 2 x 4 Taubaté

29/05/1955: Botafogo 1 x 3 Taubaté                   26/06/1955: Taubaté 4 x 1 Botafogo

(1) O Taubaté perdeu os pontos dessa partida

Balanço Geral: Jogos: 20, Vitórias: 13, Empates: 5, Derrotas: 2, Gols marcados: 57, Gols sofridos: 29, saldo: 28.

Equipe base do campeão

Sérgio; Rubens e Porunga; Can-Can, Zé Américo e Ivan; Silvio, Toninho Taino, Berto, Benedito e Alcino. Também jogaram: Floriano, Diogo, Ananias, Celso, Manteiga, Minelli e Durval. Técnico: Joaquim Loureiro

Destaques: Os “pratas da casa” Silvio, Zé Américo, Ivan da Silva Cunha (1930-?) e Toninho Taino. Berto e Alcino que haviam atuado pelo São Paulo e Sergio, vindo do Palmeiras.

Curiosidades

  • Artilheiro máximo do campeonato: Berto (Taubaté), 23 gols;
  • Outros goleadores: Mairiporã (Comercial), 16 gols; Pagão (Portuguesa Santista), 14 gols; Brotério (Botafogo), 13 gols; Benedito (Taubaté), 12 gols;
  • Goleiros mais vazados na primeira fase:

Mingau (Paulista – Araraquara) com 28; Velasco (Garça) com 24 e Cabeção (Velo Clube) com 20 gols sofridos;

  • Goleiros menos vazados na primeira fase:

Garito (Botafogo): 10 gols, Sorocaba (Tupã): 11 gols; Sérgio (Taubaté) e Hugo (Araçatuba): 12 gols e Fia (Ferroviária), Mário (Comercial): 13 gols;

  • Maior goleada do campeonato: Marília 10 x 2 Corinthians (PP), em 30/1/1955;
  • Equipes que se destacaram:

Comercial (Ribeirão Preto): Mário (Pinin); Toninho e Sula; Assunção (Aldo), Lola (Bié) e Laércio; Silas (Servilinho), Ademar, Mairiporã, Maneca e Clive (Orestes). Técnico: Alcides Manay;

São Bento (Sorocaba): Vítor (Gibi) (Jaime) (Nélson); Domingos (Cafisso) e Cidoca (Sidney); Fioti, Falco e Lanzudo (Sérgio); Reis (Robertinho), Agostinho (Acosta) (Pedrinho), Nicácio (Odácio), Rato e Fortaleza. Técnico: Hélio Geraldo Caxambu;

Botafogo (RP): Garito; Fonseca (Mexicano) (Vastinho) e Kelé (Chorete); Diógenes (Wilsinho), Oscar e Mário; Barra Mansa (Dorival) (Elvio), Neco (Ponce), Brotério, Américo Salomão (Laerte) e Guina. Técnico: nd

  • A equipe do Paulista (Araraquara), já extinta, fez um péssimo campeonato. Não pontuou e tinha a seguinte formação:

Mingau; Ferraz e Pinho; Bruno, Braga e Negão; Didier, Desastre (Ditinho), Teixeira (Nino), Canhoto (Tom Mix) e Dino (Gonçalves). Técnico: nd

Didier jogaria na Ferroviária, da mesma cidade e seria campeão do acesso no São Bento em 1962. Também com um avante chamado Desastre, a campanha do time só poderia resultar numa catástrofe!

  • Paulo César de Araújo, o Pagão (1934-1991) se transferiria no ano seguinte para o Santos FC, onde faria muito sucesso como parceiro de Pelé. Era um jogador de rara habilidade que se machucava com extrema facilidade, daí o apelido de “canela de vidro”. Jogou ainda no São Paulo e encerraria a carreira em 1968 na mesma Portuguesa Santista;
  • Gonçalo Gonçalves (1935-) formava dupla de ataque com Pagão na Portuguesa Santista. Como o parceiro, também jogaria no Santos e São Paulo. Abandonou o futebol com 30 anos de idade;
  • Rubens Francisco Minelli (1928-) (Taubaté), se consagraria como técnico mais tarde, dirigindo várias equipes como o São Paulo, Palmeiras e Internacional (PA). Encerraria a carreira como jogador em 1955 no São Bento (Sorocaba), após sofrer fratura na perna;
  • Antonio Júlio Taino (1930-), foi um dos grandes jogadores da história do Taubaté. Além de jogador, foi técnico da equipe em várias oportunidades. Seus filhos Antonio Júlio Taino Júnior (Toninho Taino) e Éder Taino também defenderam o “burrão”;
  • Luís Campana (1933-?), o Luís Valente (Marília) após defender o Catanduva por três anos, transferiu-se para o São Paulo em 1961;
  • O atacante Américo Salomão (1920-1997) (Botafogo) apareceu no São Paulo e não realizou nenhuma partida no time profissional. Resolveu tentar a sorte nas equipes do interior e a sua trajetória pode justificar a de um jogador azarado. Vejam só:

1949: Jogou a final pelo Batatais e perdeu;

1950: Jogou a final pelo Botafogo e perdeu;

1951: Jogou a final pelo Linense e perdeu;

1952: Jogou pelo Radium na 1ª Divisão e a equipe foi rebaixada;

1953: Jogou na AD Araraquara e ao final do campeonato a equipe se licenciou;

1954: O Botafogo resolveu deixá-lo na “cerca” por algumas rodadas devido a sua baixa produtividade. Será que o retrospecto ajuda?

  • O recorde de expulsões: Ocorreu no jogo São Bento 1 x 1 Taubaté, realizado em Sorocaba no dia 13/2/1955. O árbitro Sr. José Trabold expulsou 7 jogadores – Manteiga, Benedito, Minelli e Alcino, do Taubaté. Cidoca, Nicácio e Fortaleza do São Bento;
  • Taubaté o eterno “Burro da Central”

O apelido carinhoso foi dado por Tomás Mazzoni (1900-1970), famoso cronista esportivo. Em virtude da perda dos pontos no primeiro jogo da fase final (Taubaté 6 x 3 Comercial),

o Taubaté escalou irregularmente o avante Alcino. Sorte que essa derrota não comprometeu a conquista do título (mas poderia!). Ficou famosa a frase de Mazzoni “time que ganha no campo e perde os pontos nos tribunais e assim mesmo ganha o campeonato só pode ser burro”. A Central do Brasil era a antiga estrada de ferro que passava pela cidade;

  • O jogo da vergonha: Tupã 2 x 4 Taubaté – 19/6/1955

Como dissemos anteriormente a perda de pontos do Taubaté para o Comercial, no primeiro jogo da 2ª fase, quase compromete o sonho da equipe do Vale de se tornar campeã.

O “jogo da vergonha” se referiu à penúltima rodada da 2ª fase e foi responsável pelo episódio mais lamentável do campeonato daquele ano.

A diretoria do Tupã encabeçada pelo seu presidente o Sr. Mauro Pacheco Alves, “entregou o jogo”, como se diz na gíria futebolística. Ao que consta, em troca de alguma quantia monetária. Em relação a este fato, conversamos com Caetano Martins Filho (1928 -) mais conhecido como Sorocaba, na época defendia a meta do tricolor da alta paulista.

“O Tupã mesmo que vencesse o campeonato não teria condições de subir, pois o nosso estádio necessitaria de uma ampla reforma. Naquela época, como hoje, as condições financeiras dos clubes do interior não eram boas, portanto não teríamos condições de arrumar o estádio em tempo hábil.

Fiquei sabendo por intermédio da diretoria da minha equipe que o Henrique, nosso atleta, iria jogar mesmo sem ter condições legais, pois estava suspenso.

Protestei e disse que dessa maneira não jogaria, o nosso técnico (Cid Ribeiro do Val) havia abandonado a equipe e a diretoria num ato de extrema insensatez, me convidou para dirigi-la. Logicamente não aceitei, pois se não atuaria como atleta não participaria como técnico”.

A FPF abriu inquérito para apurar o fato. O Tupã foi suspenso por 1 ano. Toda diretoria da equipe foi destituída uma semana após o final do campeonato. O ato administrativo puniu os corruptos e não os corruptores mais uma vez.

O depoente não atuou no último jogo de sua equipe, foi substituído por Seixas. Sorocaba pode não ter sido em sua carreira futebolística um goleiro de grandes predicados, mas o seu caráter, e a honradez são virtudes que valem muito e farão com que muitas pessoas se recordem mais do homem do que a de atleta.

  • Seleção do Campeonato (1ª fase)

Sérgio (Taubaté); Pedro (Araçatuba) e Ferracioli (Ferroviária – Araraquara); Diógenes (Botafogo), Cornélio (Portuguesa. Santista) e Luís (Marília); Paulinho (Ferroviária – Araraquara), Zigomar (Garça), Berto (Taubaté), Paulinho (Rio Preto) e Henrique (Tupã);

  • Revelação do Campeonato: Pagão (Portuguesa Santista);

Taubaté 54

Em pé da esquerda p/ direita: Joaquim Loureiro, Ivã, Zé Américo, Can-Can, Ananias, Rubens e Sérgio. Agachados na mesma ordem: Silvio, Tonho, Berto, Benedito e Alcino.

Trabalho inédito que contou com a colaboração do Júlio Diogo

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