Mémória do Futebol Cearense – O dia em que Ceará e Fortaleza se uniram.

Conheça a história do único dia em que Ceará e Fortaleza estiveram do mesmo lado do campo. Em 1982, as equipes se juntaram para enfrentar o Flamengo, então campeão mundial. E o combinado cearense venceu, por 2 a 0, em noite de Castelão lotado.

Quase 50 mil pessoas foram ao estádio Castelão para ver o combinado de Ceará e Fortaleza (direita) vencer o todo-poderoso Flamengo (esquerda), então campeão mundial, dos craques Zico e Júnior (Foto: Evilázio Bezerra/Fotoreprodução Leocácio Ferreira)  

Quase 50 mil pessoas foram ao estádio Castelão para ver o combinado de Ceará e Fortaleza (direita) vencer o todo-poderoso Flamengo (esquerda), então campeão mundial, dos craques Zico e Júnior (Foto: Evilázio Bezerra/Fotoreprodução Leocácio Ferreira)

O jogo foi numa quinta-feira à noite, 2 de setembro de 1982. Às 21h30min, a bola rolou para o combinado de Ceará e Fortaleza enfrentar e vencer o todo-poderoso Flamengo de Zico, campeão mundial, por 2 a 0. Em promoção da Federação Cearense de Futebol (FCF), os melhores jogadores dos dois principais clubes do Estado se reuniram para este amistoso com pinta de clássico do Campeonato Brasileiro. “O Flamengo era considerado o melhor time do Brasil. Por isso, a gente se sentiu muito motivado“, conta Josué, ponta-direita na partida histórica e atualmente técnico do Tiradentes.

E diferente do que poderia se imaginar atualmente, alvinegros e tricolores frequentaram a mesma arquibancada e, juntos, vibraram pelo mesmo time. União bem distante nos dias de hoje, quando os confrontos espantam os torcedores que não fazem parte das torcidas organizadas. A tranquilidade na época era tão grande que até ônibus extras foram disponibilizados naquela noite. Ao total, um total de 126 fez o transporte do público.

O presidente da comissão de arbitragem da FCF e árbitro no amistoso, Leandro Serpa, lembra que pouco se via manifestações de violência nos estádios. “O pessoal caminhava de braços dados na rua“. Naquela partida, até em campo, os jogadores se respeitaram. “Foi muito tranquilo apitar. No final, ninguém reclamou“, ressalta Serpa. O ex-meia do Flamengo e técnico do time master do Mengão, Adílio, relembra que foi um jogo de muita festa. “Fomos tratados com muito carinho. Não lembro de ter visto nenhum resquício de violência, nem dentro nem fora de campo“.

A lembrança não muda quando o preparador de goleiros do Fortaleza, Salvino, conta como foi a chegada dos torcedores ao jogo. “Foram torcedores por causa da gente. Mas muitos para ver o Flamengo. Todos torcendo em paz“. O coronel Joseneas Barroso, presidente da FCF à época, também destaca o clima de tranquilidade e a união das duas torcidas. “Não teve incidente. Nada dessas coisas de confusão, típicas de hoje. As duas torcidas se respeitavam“.

Hoje, quase 28 anos após esta partida histórica, a realidade nos estádios do futebol cearense é bem outra. Seja em Clássico-Rei ou em jogos de menor porte, a violência entre torcedores se tornou ação corriqueira. Atitudes que poderiam ser abandonadas no futebol. “Para se ter ideia, tinha muita criança e mulher no estádio. As pessoas iam pra torcer. Hoje, a gente vê eles (torcedores) marcando briga até pela Internet“, finalizou Josué.

(Banco de dados)
O Flamengo começou melhor e teve três chances claras de marcar antes de sofrer o primeiro gol. Mas, aos poucos, o time cearense começou a se impor e dominou as ações ofensivas. “Sabíamos que o Flamengo vinha de uma maratona de jogos, então aproveitamos nosso preparo físico“, conta Salvino.

O primeiro gol saiu dos pés de Ademir Patrício, batendo forte na saída de Cantarelli após belo passe de Zé Eduardo, aos 14 minutos do primeiro. O segundo gol veio aos 32 minutos da etapa final com Adílton, após passe de Alves. “Foi um jogo importante para a gente. O Flamengo era o melhor do mundo“, garante Josué.

No final, Zico admitiu que os cearenses jogaram melhor. “Não fomos bem. O time deles se saiu bem melhor“. Leandro Serpa, árbitro da partida, lembra bem. “Eu diria que fiquei surpreso. O Flamengo, que era campeão do mundo, admitiu a derrota”.

AMISTOSO

COMBINADO 2 – Lulinha (Salvino); João Carlos, Lula, Pedro Basílio e Clésio; Alves, Nelson (Jorge Luís Albuquerque) e Zé Eduardo; Geraldino Saravá (Josué), Ademir Patrício (Assis Paraíba) e Ramon (Adílton). Técnicos: Sérgio Rêdes e Moésio Gomes

FLAMENGO 0 – Cantarelli; Antunes, Mazinho, Mozer (Nunes) e Júnior (Ademar); Andrade (Pompéia), Adílio e Zico; Lico, Tita e Victor. Técnico: Paulo César Carpegianni

Local: Estádio Castelão

Data: 2/9/1982

Horário: 21h30min

Árbitro: Leandro Serpa

Assistentes: Luiz Vieira Vila Nova e Emanuel Gurgel

Renda: Cr$ 19.002.900

Público: 46.680 pagantes

Gols: Ademir Patrício (14min 1ºT) e Adílton (32min 2ºT), para o combinado Ceará/Fortaleza

Cartão amarelo: Mazinho (Flamengo)

QUEM ERA QUEM
Do elenco que disputou o amistoso, eram oito jogadores do Ceará e oito do Fortaleza. Moésio Gomes (Fortaleza) e Sérgio Rêdes (Ceará), hoje colunista do O POVO, comandaram o time cearense.

CEARÁ
Lulinha
João Carlos
Lula
Alves
Jorge Luís Albuquerque
Josué
Ademir Patrício
Ramon

FORTALEZA
Salvino
Pedro Basílio
Clésio
Nelson
Zé Eduardo
Geraldino Saravá
Assis Paraíba
Adílton

EMAIS

– Logo após o amistoso com o Flamengo, a FCF pensou em trazer o Vasco da Gama. Mas não deu. Contudo, Joseneas Barroso relembra que quase trouxe a seleção russa. “Eles estavam jogando na América do Sul e só não vieram por falta de datas“.

– O Flamengo acabara de vencer o Fluminense pelo Estadual do Rio, no domingo, dia 29 de agosto, com três gols no primeiro tempo. Um torcedor tricolor invadiu o campo e pediu piedade.

– Nos anos 50, o Flamengo já havia enfrentado duas vezes um combinado cearense. Em 14 de junho de 1959, 3×1 contra o mistão de Fortaleza e América. No dia 17, goleada por 6×0 no Combinado de Nacional, Calouros do Ar, Ceará, Ferroviário e Usina Ceará.

– O Rubro-Negro aproveitou para acertar o empréstimo do meia leonino Viegas, então com 20 anos.

Como foi o jogo

Fonte: Jornal O Povo

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