História do Campeonato de Acesso Paulista – Cap. III

1949- Bugre sobe e se mantém por quase 50 anos!
O Campeonato de Acesso desse ano contou 47 equipes divididas em quatro séries. A FPF procurou agregar as equipes em regiões, deste modo tivemos 4 campeonatos regionais que agrupava as principais malhas ferroviárias da época.
Cada agremiação jogava entre si, dentro da sua série em turno e returno. O campeão de cada série disputaria com os outros três o “Torneio dos Campeões”, que apontaria a equipe que teria o direito de integrar a Divisão Principal do futebol paulista. O nível técnico do campeonato não foi dos melhores, a presença de equipes semi-amadoras contribuíram para um número muito grande de goleadas. A competição ficaria para as mais “profissionais” como o Guarani, Batatais, Linense e Ponte Preta.
Os jogos regionais duraram de maio a novembro de 1949. A tabela de classificação dessa fase foi a seguinte:

Série Branca
Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
1º BATATAIS 31 9 20 13 5 2 43 31 12
2º FRANCANA 26 14 20 11 4 5 39 24 15
3º RIO PARDO 23 17 20 9 5 6 54 41 13
4º RIO PARDENSE 23 17 20 10 3 7 45 38 7
4º BOTAFOGO 22 18 20 10 2 8 33 33 0
6º RADIUM 21 19 20 8 5 7 39 34 5
7º SANJOANENSE 20 20 20 6 8 6 32 33 -1
8º GINÁSIO PINHALENSE 16 24 20 7 2 11 29 42 -13
9º SÃO JOAQUIM 14 26 20 6 2 12 30 48 -18
9º ORLÂNDIA 13 27 20 4 5 11 22 40 -18
11º PALMEIRAS (FRA) 11 29 20 4 3 13 33 45 -12
JOGOS REALIZADOS 110
GOLS ASSINALADOS 399
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 3,6
Campeão: Batatais

Série Ouro
Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
1º UCHOA 31 13 22 13 5 4 55 25 30
2º INTERNACIONAL (BEB) 28 16 22 13 2 7 54 27 27
3º INTERNACIONAL (LIM) 26 18 22 12 2 8 42 35 7
4º XV DE JAÚ 25 19 22 12 1 9 38 50 -12
5º AMÉRICA 24 20 22 11 2 9 51 39 12
6º PAULISTA (ARA) 24 20 22 11 2 9 54 49 5
7º SÃO PAULO (ARQ) 24 20 22 10 4 8 45 41 4
8º RIO CLARO 22 22 22 9 4 9 37 36 1
9º VELO CLUBE 19 25 22 7 5 10 43 49 -6
9º RIO PRETO 17 27 22 6 5 11 38 46 -8
11º ARARENSE 14 30 22 6 2 14 38 55 -17
12º COMERCIAL (LIM) 10 34 22 4 2 16 29 72 -43
JOGOS REALIZADOS 132
GOLS ASSINALADOS 524
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 4,0
Campeão: Uchoa

Série Preta
Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
1º LINENSE 30 10 20 13 4 3 45 26 19
2º PRUDENTINA 29 11 20 13 3 4 69 28 41
3º SÃO BENTO(MAR) 27 13 20 11 5 4 71 38 33
4º FERROVIÁRIA (BOT) 25 15 20 12 1 7 42 48 -6
4º CORINTHIANS (PP) 23 17 20 11 1 8 58 34 24
6º COMERCIAL (LINS) 18 22 20 7 4 9 28 37 -9
7º FERROVIÁRIA (ASS) 17 23 20 8 1 11 41 49 -8
7º BAURU 17 23 20 8 1 11 23 44 -21
9º NOROESTE 16 24 20 6 4 10 35 42 -7
10º TUPÃ 11 29 20 5 1 14 31 62 -31
11º SÃO PAULO (ARÇ) 7 33 20 2 3 15 26 61 -35
JOGOS REALIZADOS 110
GOLS ASSINALADOS 469
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 4,3
Campeão: Linense

Série Vermelha
Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
1º GUARANI 40 8 24 19 2 3 69 19 50
2º PONTE PRETA 36 12 24 17 2 5 82 30 52
2º MOGIANA 36 12 24 15 6 3 63 40 23
4º BRAGANTINO 28 20 24 11 6 7 54 36 18
5º TAUBATÉ 25 23 24 9 7 8 55 48 7
5º RIO BRANCO 25 23 24 10 5 9 46 53 -7
7º SÃO CAETANO 23 25 24 11 1 12 51 60 -9
8º VOTORANTIM 22 26 24 9 4 11 44 54 -10
9º SÃO JOÃO 21 27 24 8 5 11 54 64 -10
9º CORINTHIANS (SA) 20 28 24 8 4 12 49 60 -11
11º PORTOFELICENSE 16 32 24 6 4 14 45 76 -31
12º PIRACICABANO 15 33 24 5 5 14 45 60 -15
13º PAULISTA (JUN) 5 43 24 1 3 20 30 87 -57
JOGOS REALIZADOS 156
GOLS ASSINALADOS 687
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 4,4
Campeão: Guarani

O “Torneio dos Campeões” foi disputado em turno e returno e durou de 18/12/1949 à 05/02/1950, reunindo os quatro campeões de cada série.
Ao final, tivemos o Guarani e o Batatais empatados no primeiro posto com 4 pontos perdidos, o Linense com 5, e por último o Uchoa com 11.
Portanto, Guarani e Batatais deveriam disputar a finalíssima num campo neutro.

Final: Guarani 2 x 1 Batatais
Data: 12/02/1950
Local: Estádio “Rodolfo Crespi”, em São Paulo
Árbitro: Godfrey Sunderland
Gols: Américo Salomão
Zico e Dorival
Guarani: Arlindo; Orestes e Gritta; Godê, Luís de Almeida e Alcides; Dorival, Piolim, China, Chiquinho e Zico. Técnico: Adelmo Pelegrino Begliomini
Batatais: Rafael; Sapólio e Stacis; Goiano, Pixo e Itamar; Dido, Américo Salomão, Tonho Rosa, Luís Rosa e Lombardini. Técnico: João Lima (1916-2002).
Ocorrência: Após a marcação do segundo gol do Guarani, os jogadores do Batatais se recusaram a continuar o jogo, alegando que o lance que deu origem ao gol foi irregular. O árbitro aguardou o tempo regulamentar para o reinicio do jogo, com a recusa dos atletas do Batatais em continuar o jogo, encerrou a partida.

Campanha do Campeão
1ª Fase – Série Vermelha
1º Turno: 2º Turno:
22/05/49: Guarani 8 x 0 Corintians (SA) 28/09/49: Guarani 8 x 0 Paulista
29/05/49: S. Caetano 0 x 3 Guarani 04/09/49: Portofelicense 1 x 3 Guarani
05/06/49: Guarani 4 x 0 Portofelicense 11/09/49: Guarani 2 x 0 Rio Branco
19/06/49: Paulista 2 x 3 Guarani 18/09/49: Piracicabano 0 x 3 Guarani
25/06/49: Guarani 3 x 0 Piracicabano 02/10/49: Guarani 4 x 2 Votorantim
03/07/49: Votorantim 0 x 1 Guarani 09/10/49: Ponte Preta 0 x 1 Guarani
10/07/49: Guarani 2 x 0 Ponte Preta 15/10/49: Guarani 6 x 0 S. Caetano
17/07/49: Taubaté 3 x 2 Guarani 23/10/49: Bragantino 0 x 1 Guarani
24/07/49: Guarani 1 x 1 Bragantino 30/10/49: Guarani 3 x 0 Mogiana
30/07/49: Guarani 5 x 3 S. João 06/11/49: Guarani 2 x 0 Taubaté
07/08/49: Mogiana 3 x 0 Guarani 13/11/49: S. João 2 x 2 Guarani
14/08/49: Rio Branco 0 x 1 Guarani 20/11/49: Corintians (SA) 2 x 1 Guarani
2ª Fase – Torneio dos Campeões
1º Turno: 2º Turno:
18/12/49: Guarani 2 x 0 Uchoa 22/01/50: Linense 3 x 1 Guarani
08/01/50: Batatais 1 x 1 Guarani 29/01/50: Uchoa 4 x 5 Guarani
15/01/50: Guarani 2 x 2 Linense 05/02/50: Guarani 5 x 0 Batatais
Final:
12/02/50: Guarani 2 x 1 Batatais

Balanço Geral: Jogos: 31; Vitórias: 23; Empates: 4; Derrotas: 4; Gols marcados: 85; Gols sofridos: 29; Saldo: 56

Equipe base do Campeão:
Arlindo; Orestes e Grita; Godê, Luís de Almeida e Alcides; Amado, Piolim, China, Chiquinho e Dirceu. Também atuaram: Euclides, Benjamim, Dorival, Invernize, Marinho, Bode e Zico. Técnico: Adelmo Pelegrino Begliomini
Destaques: Hector Roberto Grita (1915 -?), zagueiro argentino que veio para o Brasil no final dos anos 30. Jogou com relativo sucesso no América carioca e já veterano veio defender o Guarani. E o fez com muita galhardia, foi campeão também com o XV de Jaú no Acesso de 1951. Godê, Luís de Almeida e Alcides: a “espinha dorsal da equipe”. Piolim, o dínamo da equipe. José Gonçalves da Silva (1923-?), o China, apesar de ter entrado na equipe no meio do campeonato, foi responsável direto por muitas vitórias do seu time.

Curiosidades:
• Artilheiro máximo do campeonato: Servilio (Ponte Preta), com 29 gols;
• Artilheiro do Torneio dos Campeões: Tonho Rosa (Batatais), com 7 gols;
• Defesas mais vazadas na primeira fase:
Paulista (Jun): 87 gols; Portofelicense: 76 gols e Comercial (Lim): 72 gols;
• Defesas menos vazadas na primeira fase:
Guarani: 19 gols; Francana: 24 gols e Uchoa: 25 gols;
• Maior goleada do campeonato: Prudentina 10 x 2 Tupã, em 18/09/1949;
• Equipes que se destacaram:
Batatais (vice-campeão):
Rafael; Sapólio e Stacis; Chorete (Goiano), Pixo e Itamar; Dido, Eduardinho (Xixico), Luisinho Rosa, Tonho Rosa (Américo Salomão) e Lombardini. Técnico: João Lima
Linense (3º colocado):
Petrônio (Leopoldo); Sarvas e Noca; Frangão (Gatinho), Dito Brás (Pé de Valsa) e Mário Pereira; Dino (Silas), Zezinho, Carabina, Nelsinho (Moreno) e Alemãozinho (Mário Miranda). Técnico: Waldemar de Brito
Uchoa (4º colocado):
Batistela (Batatais); Pé e Mimosa; Espanador, Santos e Rudge; Alcides, Natalino (Ataíde), Miranda, Viana e Panadiero. Técnico: Paulo Biroli
• Seleção do Campeonato (segundo o semanário “O Mundo Esportivo”):
Arlindo (Guarani); Bruninho (Ponte Preta) e Noca (Linense); Nino (Prudentina), Bolinha (Prudentina) e Itamar (Batatais); Dido (Batatais), Beijinho (Prudentina), Servilio (Ponte Preta), Luís Rosa (Batatais) e Rovério (Mogiana);
• A vitória no jogo final do Guarani foi muito contestada pelo Batatais que até hoje há gente que não se conforma com a atuação do árbitro inglês Mr. Sunerland. A verdade é que o Batatais contava com a simpatia do público e da imprensa e no jogo final não teve uma boa atuação, deixou se envolver pelo jogo viril, mas leal do Guarani;
• Hideraldo Luís Belini (1930-), zagueiro bicampeão do mundo em 58 e 62, defendia a Sanjoanense nesse ano;
• Francisco Rebuá Filho (1925-2004) (Guarani), o Chiquinho era professor de Química em Rio Claro e se decidiu pelo magistério, “pendurando definitivamente as chuteiras” em 1951;
• Dorival Geraldo dos Santos (1928-) (Guarani) entrou na equipe na fase aguda do campeonato, foi mais tarde técnico do próprio Guarani;
• Servilio de Jesus (1915-1984) (Ponte Preta) confirmou a fama de artilheiro sendo o goleador máximo do campeonato. Servílio anteriormente havia atuado pelo Corinthians paulista. Devido a sua classe em jogar, era conhecido pelo público de “bailarino”;
• João Ramos do Nascimento (1917-1996) (Bauru) atendia pelo nome de Dondinho e foi nada mais nada menos do que o pai de Pelé;
• João Batista Ribeiro Neto (1919-?), o Maracaí, jogou no Fluminense carioca, Corinthians e Santos. Praticamente encerraria sua carreira na Ferroviária de Assis;
• Richard Petrocelli (1922-) (Rio Pardo) jogaria no Palmeiras por quatro anos (1950/1954). Encerraria a carreira aos 22 anos devido a uma lesão no joelho;
• Carlos Heidel Feresín (1928-?), o Dido, era irmão de Orlando Adhemar Feresín ( – ), o Pixo. Ambas jogaram no Batatais nesse ano, no início de suas carreiras foram treinados pelo pai, Orlando Feresín (?-?), um antigo jogador de futebol;
• A fase final teve somente árbitros ingleses: Harry Rowley e Godfrey Sunderland;
• Revelação do campeonato: Aquiles dos Reis (1928-) (Corinthians-PP) que mais tarde defenderia o Palmeiras.
Em pé da esq. p/ direita: Godê, Luís de Almeida, Alcides, Orestes, Gritta e Arlindo.
Agachados na mesma ordem: Dorival, Chiquinho, China, Piolim e Dirceu.
Trabalho inédito que contou com a colaboração do Júlio Diogo

 

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