1948 – Nhô Quim perpetua o nome de Piracicaba – É o primeiro campeão
Coube ao XV de Novembro, de Piracicaba, a primazia de ganhar, com méritos, o primeiro campeonato da 2ª Divisão. Em Assembléia realizada em 17 de janeiro de 1948, o então presidente da FPF, Roberto Gomes Pedrosa, formalizou a criação do Acesso e Descenso no futebol paulista.
Deste modo, haveria duas divisões: a Primeira ou Principal que reuniria as agremiações que vinham participando do campeonato paulista desde a fundação da FPF em 1941: Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Portuguesa de Desportos, Portuguesa Santista, Ipiranga, Comercial (SP), Jabaquara, Juventus e Nacional. É importante ressaltar que com a criação da “Federação Paulista de Futebol”, entidade chancelada pelo CND, haveria a obrigatoriedade de se respeitar às regras da International Board, entidade vinculada á FIFA e que rege as normas para a prática do futebol no mundo inteiro.
A outra divisão, denominada de Segunda Divisão ou popularmente como ficou conhecida “segundona”, reunia basicamente os clubes do interior e que iria dar ao campeão o ingresso no campeonato da 1ª Divisão. Ficou estabelecido que o último colocado na Divisão Principal, participaria do Campeonato de Acesso.
Os clubes do interior ratificaram essa decisão em Congresso realizado em Batatais em 15 de fevereiro do mesmo ano.
O Campeonato teve inicio no inicio de maio de 1948 e encerrou a 1ª fase em meados de dezembro do mesmo ano. Essa fase apurou os campeões de cada série ou grupo. A adesão dos clubes do interior foi maciça, exceção à Sanjoanense que se licenciou. Assim, os 42 clubes inscritos foram divididos em três séries: Preta, Branca e Vermelha.
Os jogos foram entre os componentes de cada série, em turno e returno. O campeão de cada série disputou a final num chamado “Torneio dos Campeões”. A equipe vencedora desse torneio seria declarada campeã e automaticamente incluída na Divisão Principal.
Depois de computados todos os jogos da primeira fase, tivemos a seguinte classificação:
Série Preta
ColocaçãoCLUBES PG PP J V E D GP GC S
1º XV DE PIRACICABA 38 14 26 17 4 5 61 29 32
2º TAUBATÉ 35 17 26 16 3 7 58 40 18
3º GUARANI 34 18 26 15 4 7 60 41 19
4º SÃO BENTO (MAR) 30 22 26 14 2 10 52 51 1
4º BATATAIS 30 22 26 12 6 8 55 45 10
6º FRANCANA 29 23 26 12 5 9 53 52 1
7º PONTE PRETA 28 24 26 12 4 10 61 40 21
8º INTERNACIONAL (LIM) 25 27 26 9 7 10 46 55 -9
9º MOGIANA 22 30 26 9 4 13 69 66 3
9º RIO BRANCO 22 30 26 7 8 11 44 54 -10
11º BOTAFOGO 20 32 26 7 6 13 48 70 -22
11º PALMEIRAS (FRA) 20 32 26 8 4 14 46 59 -13
13º BARRETOS 18 34 26 7 4 15 41 69 -28
14º PIRACICABANO 13 39 26 4 5 17 36 62 -26
JOGOS REALIZADOS 182
GOLS ASSINALADOS 730
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 4,0
Campeão: XV Piracicaba
Foi sem dúvida o grupo mais difícil, pois na sua composição figuravam todas as equipes que disputaram o campeonato de 1947 (exceção a Sanjoanense que se licenciou).
Desde o início as disputas foram acirradas e o XV de Piracicaba suou para suplantar o Taubaté e o Guarani, seus mais próximos rivais.
Série Branca
Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
1º XV DE PIRACICABA 38 14 26 17 4 5 61 29 32
2º TAUBATÉ 35 17 26 16 3 7 58 40 18
3º GUARANI 34 18 26 15 4 7 60 41 19
4º SÃO BENTO (MAR) 30 22 26 14 2 10 52 51 1
4º BATATAIS 30 22 26 12 6 8 55 45 10
6º FRANCANA 29 23 26 12 5 9 53 52 1
7º PONTE PRETA 28 24 26 12 4 10 61 40 21
8º INTERNACIONAL (LIM) 25 27 26 9 7 10 46 55 -9
9º MOGIANA 22 30 26 9 4 13 69 66 3
9º RIO BRANCO 22 30 26 7 8 11 44 54 -10
11º BOTAFOGO 20 32 26 7 6 13 48 70 -22
11º PALMEIRAS (FRA) 20 32 26 8 4 14 46 59 -13
13º BARRETOS 18 34 26 7 4 15 41 69 -28
14º PIRACICABANO 13 39 26 4 5 17 36 62 -26
JOGOS REALIZADOS 182
GOLS ASSINALADOS 730
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 4,0
Campeão: Linense
Pela ordem foi o segundo grupo mais difícil, a disputa pelo título do grupo praticamente ficou com o Linense, Rio Preto, Bauru e Noroeste.
Série Vermelha
Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
1º RIO CLARO 43 27 35 19 5 11 41 47 -6
2º SÃO CAETANO 38 14 26 16 6 4 60 37 23
2º RIO PARDO 38 14 26 18 2 6 97 44 53
4º RIO PARDENSE 34 18 26 15 4 7 59 26 33
5º GINÁSIO PINHALENSE 33 19 26 15 3 8 66 39 27
6º VELO CLUBE 31 21 26 13 5 8 57 43 14
7º VOTORANTIM 29 23 26 12 5 9 50 52 -2
8º PAULISTA (ARQ) 24 28 26 9 6 11 57 60 -3
8º AMPARO 24 28 26 11 2 13 54 55 -1
10º PORTOFELICENSE 23 29 26 8 7 11 44 58 -14
11º SOCORRENSE 19 33 26 7 5 14 36 67 -31
12º SÃO JOÃO 16 36 26 6 4 16 28 58 -30
13º PAULISTA (JUN) 16 36 26 5 6 15 39 70 -31
14º COMERCIAL (LIM) 14 38 26 4 6 16 39 70 -31
JOGOS REALIZADOS 182
GOLS ASSINALADOS 727
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 4,0
Campeão: Rio Pardo
O jogo desempate pelo título da série foi disputado em19/12/1948, o Rio Pardo abateu o São Caetano por 5 a 3, classificando-se para as finais.
De longe o grupo mais fraco, mas nem por isso tira-se o mérito do Rio Pardo. O São Caetano, Riopardense e Ginásio Pinhalense incomodaram bastante o campeão.
(*) Nota das tabelas, dependendo da referência obtida, os números podem apresentar ligeiras divergências.
O triangular final reuniu as três agremiações vencedoras de cada série. Os jogos foram pelo sistema de “ida e volta“ e no final verificou-se um triplo empate.
Torneio dos Campeões – classificação:
Colocação CLUBES PG PP J V E D GP GC S
1º XV DE PIRACICABA 4 4 4 2 0 2 7 6 1
1º RIO PARDO 4 4 4 2 0 2 14 8 6
1º LINENSE 4 4 4 2 0 2 4 11 -7
JOGOS REALIZADOS 6
GOLS ASSINALADOS 25
MÉDIA DE GOLS POR JOGO 4,2
O Rio Pardo que havia vencido o jogo de ida contra o Linense por 8 a 1, necessitava então, de um simples empate para ser campeão. No jogo de volta e na casa do adversário, perdeu por 2 a 1 e a chance do acesso.
O impasse do triplo empate foi resolvido pela FPF, levando os jogos decisivos para São Paulo, teríamos uma verdadeira “superdecisão”. Pelo regulamento, as duas equipes sorteadas decidiriam uma vaga e a terceira ficaria no “chapéu”.
O Linense ficou na “espera” e iria para a finalíssima enfrentar o vencedor de XV de Piracicaba e Rio Pardo, os detalhes dessa partida estão abaixo:
Jogo: XV de Piracicaba 2 x 1 Rio Pardo
Data: 6/2/1949
Local: Campo da Rua Javari
Árbitro: Cherubim da Silva Torres
Gols: Isidoro (10′) e Rabeca (23′); Demaria (12′)
XV: Ari; Elias e Idiarte; Cardoso, Strauss e Adolfinho; Demaria, Sato, Picolino, Gatão e Rabeca. Técnico: Eugênio Vanni
Rio Pardo: Ciasca; Rubens e Orestes; Valdomiro, Totó e Alemão; Luisinho, Mamão, Isidoro, Mandu e Osvaldo. Técnico: Jorgito
A final teve lugar no estádio do Parque Antártica e o “Nhô Quim” aplicou uma goleada histórica sobre o “Elefante da Noroeste”: 5 a 1, conquistando o título e o acesso.
Jogo: XV de Piracicaba 5 x 1 Linense
Data: 13/02/49
Árbitro: João Gambeta
Gols: Gatão (4′), Rabeca (9′), Demaria (22′), Moreno (28′), Jair I (contra) (34′) e Gatão (36′), todos os gols assinalados na Segunda etapa.
XV: Ari; Elias e Idiarte; Cardoso, Strauss e Adolfinho; Demaria, Sato, Picolino, Gatão e Rabeca. Técnico: Eugênio Vanni
Linense: Leopoldo; Noca e Jair I; Gatinho, Brás e Mário; Demais, Moreno, Carabina, Jair II e Carmelo. Técnico: Adelmo Pelegrino Begliomini (1914-2001)
Campanha do campeão:
1ª Fase – Série Preta
1º Turno: 2º Turno
09/05/48: XV 2 x 3 São Bento 29/08/48: São Bento 1 x 0 XV
23/05/48: XV 2 x 1 Ponte Preta 12/09/48: Ponte Preta 0 x 3 XV
30/05/48: Taubaté 4 x 2 XV 19/09/48: XV 4 x 1 Taubaté
06/06/48: Piracicabano 0 x 1 XV 27/09/48: Botafogo 0 x 1 XV
13/06/48: XV 3 x 0 Botafogo 03/10/48: XV 2 x 1 Piracicabano
20/06/48: Mogiana 1 x 1 XV 10/10/48: XV 4 x 0 Barretos
27/06/48: Barretos 1 x 3 XV 24/10/48: XV 2 x 1 Mogiana
04/07/48: XV 7 x 1 Rio Branco 31/10/48: Rio Branco 0 x 1 XV
11/07/48: Francana 2 x 2 XV 07/11/48: XV 6 x 2 Francana
18/07/48: XV 3 x 0 Batatais 14/11/48: Guarani 1 x 1 XV
25/07/48: Internacional 2 x 2 XV 21/11/48: XV 2 x 0 Internacional
01/08/48: XV 4 x 0 Guarani 28/11/48: Palmeiras 3 x 0 XV
07/08/48: XV 2 x 1 Palmeiras 12/12/48: Batatais 3 x 1 XV
“Torneio dos Campeões”
1º Turno: 2º Turno:
19/12/48: Linense 1 x 0 XV 09/01/49: XV 2 x 0 Linense
26/12/48: XV 3 x 2 Rio Pardo 16/01/49: Rio Pardo 3 x 2 XV
Superdecisão
06/02/49: XV 2 x 1 Rio Pardo
13/02/49: XV 5 x 1 Linense
Balanço Geral: Jogos: 32; Vitórias: 21; Empates: 4; Derrotas: 7; Gols marcados: 75; Gols sofridos: 34; Saldo: 41.
Equipe base do campeão
Ari; Elias e Idiarte; Cardoso, Strauss e Adolfinho; De Maria, Sato, Picolino, Gatão e Rabeca. Também jogaram: Tão, King, Mário Renzi, Pixe, Vitú, Cardeal, Berto, Henrique. Técnicos: Moacir de Moraes, na primeira fase e Eugênio Vanni, para o restante do campeonato.
Destaques: Idiarte, jogador clássico que sabia sair jogando, Strauss com seu físico privilegiado, formava uma excelente zaga com Idiarte. Sato era o “cérebro” da equipe, concatenando as jogadas de ataque. Gatão, clássico e impetuoso. Rabeca, o homem dos chutes espetaculares, decidiu muitos jogos para o XV.
Curiosidades:
• Artilheiro máximo do campeonato: Isidoro (Rio Pardo) com 38 gols. Foi o ainda o artilheiro da Série Vermelha com 31 gols;
• Zuza (Guarani) foi o artilheiro da Série Preta com 26 gols;
• Carabina (Linense) foi o artilheiro da Série Branca com 21 gols;
• Goleiros mais vazados da serie preta:
Nélson (Barretos) e Bonzinho (Piracicabano) com 59 gols sofridos;
• Goleiros menos vazados da série preta:
Ari (XV de Piracicaba): 20 gols, Zezão (Taubaté): com 26 gols, Toquinho (Francana): 30 gols, Zélio (Mogiana): 31;
• A maior goleada da competição se verificou em jogo da série Branca em 25/07/1948, o Rio Preto massacrou o Bandeirante por 13 a 0;
• Os irmãos Rosa, Luís com 21 e Tonho com 14 gols defendiam a Francana; Fizeram juntos mais de 60% dos gols de sua equipe;
• Elba de Pádua Lima (1915-1984), o Tim, tinha a alcunha de “El Peon” Famoso avante da Portuguesa Santista, Fluminense e Seleção Brasileira, disputaria mais um campeonato de acesso em 1949 e encerraria sua brilhante carreira no Botafogo de Ribeirão Preto;
• Zezão (Taubaté) defendeu 7 penalidades durante a competição;
• Waldemar de Brito (1913-1979), dirigia o Bauru que tinha como avante João Ramos do Nascimento (1917-1996), o Dondinho, pai do Pelé;
• Francisco Santana (1926-?), o Xixico (Batatais), era bom com os pés e com as mãos. Numa época que não se permitia substituições em jogos oficiais, Xixico chegava a não comprometer a sua equipe e muitas vezes colocava o goleiro titular na reserva. Atuaria ainda pelo Botafogo (RP) e XV de Piracicaba.
• Os “velhinhos” do campeonato. O uruguaio Sebastian Beracochéa e Laurindo Furlani (1913-2000), o Piolim (Batatais), o argentino Juan Raúl Echevarrieta (São Bento-Mar) (1915-1987), Tim (Botafogo) e Luiz Esteves Siqueira Neto (1911-?), o Zuza (Guarani);
• Uriel Fernandes (1913-2000), o Teleco (Rio Claro) ficou conhecido como o “rei da virada”, assinalou apenas seis gols para a sua equipe, contudo foi um dos maiores artilheiros da história do Corinthians;
• No dia 4/7/48 jogavam a Ponte Preta e o Batatais, num determinado momento do jogo, o goleiro do Batatais João Marques de Oliveira, o Joãozinho “Gato Preto” se chocou com o joelho de seu companheiro de equipe, Stacys. Teve que ser retirado de campo e ser hospitalizado. O resultado apontava vitória parcial da Ponte Preta por 1×0. Xixico avante do Batatais foi o seu substituto (naquele tempo não se permitia substituição em jogos oficiais). Tomou mais 4 gols e Joãozinho só voltaria aos gramados mais de 1 ano depois desse episódio;
• Revelação do campeonato: Itamar (Batatais) e Agenor Epifânio (1925-?), o Pitico (Ponte Preta).
Observação: Trabalho inédito que contou com a colaboração do Júlio Diogo, dentre outros.
Em pé da esquerda p/ direita: Ari, Elias, Idiarte, Strauss, Cardoso e Adolfinho.
Agachados na mesma ordem: De Maria, Sato, Picolino, Rabeca e Gatão.