Vasco 1×0 Arsenal (Amistoso 1949)
Quebrada a invencibilidade inglesa
Foto da equipe do Vasco no jogo Vasco 1×0 Arsenal, amistoso em 1949. Em pé: Eli, Augusto, Jorge, Danilo, Barbosa e Sampaio. Agachados: Nestor, Maneca, Ademir, Ipojucan e Tuta.
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Foto da equipe do Arsenal no jogo Vasco 1×0 Arsenal, amistoso em 1949. Em pé: Forbes, Daniel, Swindin, Barnes, Macauley e Smith. Agachados: McPherson, Logie, Rooke, Lishman e Vallance.
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Na noite de 25 de maio de 1949, uma quarta-feira, São Januário recebeu o maior público de sua história, no amistoso entre o Vasco e o Arsenal. Havia vários motivos para tanto interesse.
O famoso clube londrino, um dos mais tradicionais e populares da Inglaterra, fundado em 1886 e várias vezes campeão inglês, havia se sagrado mais uma vez campeão na temporada de 1947/48 e era exaltado como um dos melhores times do mundo. Nunca antes um clube tão poderoso e respeitado do velho continente tinha feito uma excursão ao Brasil, quanto mais da Inglaterra, que tinha a aura de inventora do futebol. É verdade que várias equipes inglesas já tinham visitado o Brasil, mas quase todas eram ou compostas de tripulações de navios ingleses (que no princípio do século XX costumavam aplicar goleadas homéricas nos times brasileiros), combinados amadores, ou, no máximo, clubes de segunda divisão para baixo. O próprio Vasco, em 1948, já havia derrotado o Southampton, que na época disputava a segunda divisão inglesa, por 2×1, em São Januário. Mas nenhuma daquelas equipes chegava perto do calibre do Arsenal e não causaram a menor sensação.
Hoje em dia chega a ser difícil imaginar a mística que o futebol inglês ainda conservava naquela época – em grande parte fomentada pela arrogância dos próprios ingleses, que se consideravam os donos do futebol e tão superiores aos adversários, que esnobavam as Copas do Mundo. Havia no Brasil um encantamento pelo futebol inglês que Nelson Rodrigues atribuía sarcasticamente ao “complexo de vira-lata do brasileiro”. Essa admiração excessiva foi inicialmente reforçada pelas atuações convincentes do Arsenal, que após três partidas em gramados brasileiros permanecia invicto. Em São Paulo, o Corinthians saiu derrotado e o Palmeiras alcançou um empate a duras penas. No Rio, o Fluminense, reforçado por alguns jogadores do Botafogo, foi goleado até com uma certa facilidade, numa partida em que o Arsenal mostrou que, além de uma defesa sólida, também tinha poder de fogo.
Ainda restava ao Arsenal enfrentar o Vasco e o Flamengo. Em São Paulo e no Rio, multidões tinham lotado os estádios nas apresentações anteriores dos “Gunners”, e não poderia ser diferente em São Januário, agora que passava a ser questionado se alguma equipe seria capaz de se desforrar, quebrando a invencibilidade inglesa. E se algum time no mundo tinha condições de realizar tal façanha, esse time era o fabuloso Expresso da Vitória, que vivia a encher a torcida vascaína de orgulho. Ainda mais que o Vasco aproveitaria o amistoso para promover a estréia da sua mais recente contratação, o extraordinário porém temperamental Heleno de Freitas, de volta ao Brasil depois de uma temporada no Boca Juniors.
Além disso, os comentaristas e analistas de futebol previam um duelo de esquemas táticos: O Arsenal ainda utilizava o mesmo sistema WM que havia sido criado lá mesmo, em 1925, pelo seu afamado técnico Herbert Chapman, falecido prematuramente em 1934. Já o futebol brasileiro, até os anos 40, era considerado taticamente atrasado, pois o WM nunca chegara a emplacar no Brasil. Foi Flavio Costa, técnico da Seleção, e naquele momento também do Vasco, que começou a implantar uma variante do WM que recebeu o nome de “diagonal”.
Por tudo isso, a partida entre Vasco e Arsenal foi cercada de uma expectativa enorme, adquirindo até um sabor de decisão de mundial de clubes, pois, no ano anterior, o Vasco havia conquistado o título de campeão sul-americano invicto.
A imprensa da época estimou o público que compareceu a São Januário em torno de 60 mil. Nem em partidas da Seleção tinha-se visto o então maior estádio do Brasil tão apinhado de gente.
Curiosamente, naquela partida contra o Arsenal, segundo o registro oficial, houve apenas pouco mais de 24 mil pagantes e sócios, mas que proporcionaram a renda de Cr$ 1.146.150,00, recorde sul-americano na época.
O Vasco entrou em campo com uma das formações mais fortes da sua história: Barbosa, Augusto e Sampaio; Eli, Danilo e Jorge; Nestor, Maneca, Ademir, Ipojucan e Tuta. No decorrer da partida, o estreante Heleno e Mario substituíram respectivamente a Ipojucan e Tuta. Com a entrada de Heleno, o técnico Flavio Costa promovia uma alteração tática no ataque: Ademir foi exercer a função de ponta-de-lança pelo lado direito, Maneca foi armar o jogo pela meia-esquerda no lugar de Ipojucan, e a posição de centroavante foi ocupada por Heleno.
O Arsenal formou com Swindin, Barnes e Smith; Macauley, Daniel e Forbes; McPherson, Logie, Rooke, Lishman e Vallance. Ainda no primeiro tempo, o manager Tom Whittaker colocou Fields em substituição a Daniel.
O juiz foi o ingles Mr. Barrick, que teve atuação regular segundo a revista Esporte Ilustrado, auxiliado pelos brasileiros Mario Vianna e Alberto da Gama Malcher.
Este trecho da reportagem publicada na revista Globo Sportivo descreve como foi o jogo e o lance do gol da vitória cruzmaltina, marcado por Nestor:
O Vasco, depois da estréia, era o indicado como o mais capaz para uma vitória sobre os ingleses. Por isso, o jogo levou uma multidão ao Estádio de São Januário. Nervosos, visivelmente emocionados pela sorte que esperava o seu clube favorito. O Vasco esteve bem, atacou mais e não se intimidou com o cartaz dos ingleses. Seus jogadores entraram em campo certos de que poderiam vencer o poderoso Arsenal, a melhor equipe da Inglaterra e uma das melhores do mundo.
O Vasco começou melhor, mas o Arsenal equilibrou. Com as mudanças de Tuta e Ipojucan por Mario e Heleno de Freitas, o Vasco ficou com a ofensiva com mais objetividade. Com o Vasco mandando em campo, terminou o primeiro em 0x0. O segundo tempo não mudou muito. O Vasco continuou melhor com o Arsenal procurando equilibrar o jogo no meio campo. Somente aos 33 minutos é que o estádio explodiu com o gol de Nestor. Um centro de Mario da esquerda que cruzou toda área inglesa sem que o goleiro Swindin conseguisse cortar. Nestor chutou de primeira não dando chance para a defesa inglesa. A vitória foi justa e foi comemorada com entusiasmo, principalmente porque quebrou a invencibilidade do Arsenal.
Foto da comemoração do gol do Vasco no jogo Vasco 1×0 Arsenal, amistoso em 1949. Nestor (camisa 7) sendo abraçado por Heleno, enquanto Ademir, Maneca e Danilo se aproximam para comemorar a marcação do gol da vitória histórica sobre o decantado futebol inglês.
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Já a revista Esporte Ilustrado anotou o gol de Nestor aos 38 minutos. Na foto ao lado, publicada pela mesma revista, Nestor (camisa 7) está sendo abraçado por Heleno, enquanto Ademir, Maneca e Danilo se aproximam para comemorar a marcação do tento, que acabou dando ao Vasco a vitória histórica sobre o decantado futebol inglês.
Expresso da Vitória é como é conhecido o que é considerado pela maioria o maior esquadrão de futebol da história do Club de Regatas Vasco da Gama e um dos maiores do Brasil, que jogou entre 1942 e 1952. A denominação teria surgido num programa musical da Rádio Nacional, onde um cantor, ao se apresentar, disse que dedicaria a música ao Vasco, chamado por ele de “Expresso da Vitória”, por atropelar seus adversários em campo. O Expresso foi o primeiro time brasileiro a ganhar um título internacional fora do Brasil, o Torneio dos Campeões Sul-Americanos. Foram 11 títulos em dez anos, sendo desses 5 Cariocas, dois vencidos de forma invicta. Foi também a base da seleção carioca, tricampeã do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais em 1943, 1944 e 1946 e a base da seleção brasileira vice-campeão do mundo em 50, tendo no elenco da mesma oito jogadores vascaínos mais o técnico, Flávio Costa.
Jogadores Ilustres
Ademir – Ademir Marques de Menezes
Augusto – Augusto da Costa
Barbosa – Moacir Barbosa
Bellini – Hilderaldo Luiz Bellini
Danilo – Danilo Alvim
Eli – Ely do Amparo
Ipojucan – Ipojucan Lins de Araújo
Jorge – Jorge Dias Sacramento
Lelé – Manuel Pessanha
Maneca – Manoel Marinho Alves
Sabará – Onofre Anacleto de Souza
. Vasco x Arsenal foi baseado nos artigos publicados nas revistas Esporte Ilustrado de 02/06/1949 e Globo Sportivo de 27/05/1949.
.Expresso da Vitória teve como fonte Netvasco.com.br e wikipédia
Texto muito, mas muito bom msm! 🙂
Só uns adendos, o Expresso na verdade foi de 44 a 53, e foram 15 títulos em 10 anos, ganhou 3 cariocas invictos e ele foi base dos títulos brasileiros da seleção carioca de 46 e 50, o de 44 ficou dividido entre Vasco e Flamengo.