Clubes do RN: A História do novo Globo FC no futebol potiguar

Nos idos de 1960 surgiu em Natal um time criado por um estrangeiro dono de uma fábrica de móveis. O tal time não tinha sede social, muito menos campo próprio para treinar, mas carregava o ideal de quebrar os paradigmas presentes no futebol potiguar desde o início daquele século. Era o Globo Esporte Clube – ou Globo Sport Clube, como mostravam as iniciais no escudo bordado na camisa vermelha. Agora, sem nenhuma ligação com o extinto homônimo, surge um novo Globo, que – na esperança de seu visionário idealizador – promete se tornar uma referência para ABC e América sendo uma verdadeira fábrica de produção de jovens talentos.

Apesar do mesmo nome, o novo Globo não tem nada a ver com o antigo, que pediu licenciamento da Federação Norte-riograndense de Futebol em 1964 e, desde então, permanece extinto. Com o sobrenome de Futebol Clube, o Globo é mais um projeto do empresário Marconi Barreto, que está construindo um verdadeiro complexo às margens da BR-406, no município de Ceará-Mirim.

Ele quer, começando com a formação de uma equipe sub-17 para a disputa do Campeonato Potiguar da categoria, iniciar um projeto que promete servir de lição – ou de fomento – para os maiores clubes do estado. Um detalhe é que, ao contrário da grande maioria das agremiações mundo afora, Marconi Barreto diz que não tem planos de ver seu time dando uma volta olímpica em comemoração a algum título conquistado. Seu objetivo é fazer de seu Globo uma fábrica, assim como antigo, mas desta vez de jogadores de futebol.

“Minha proposta é diferente dos outros times de uma forma geral”, garante Marconi. “Vou investir em um time onde ser campeão será uma conseqüência. Não é o meu ‘gol’. Meu ‘gol’ é preparar cidadãos e possivelmente grandes atletas, dando ênfase à região do Mato Grande”, explica o empresário, responsável pela construção do estádio Barretão, que terá capacidade inicial de pouco mais de 10 mil pessoas.

De fato, o projeto do novo clube é complexo. Segundo Marconi Barreto, os atletas do Globo irão morar em seu empreendimento, que engloba ainda um loteamento residencial e tem no projeto a previsão de construção de um hotel, ao lado do estádio. Além disso, segundo o empresário, eles irão estudar no próprio complexo, onde terão ainda opções de lazer e cultura.

Além da equipe sub-17, o Globo contará também com um time profissional, já filiado à FNF, que disputará a segunda divisão do Campeonato Potiguar. Mais uma vez, garante Marconi, o objetivo inicial não é chegar à elite do futebol local, apesar desta ser a maior motivação para a participação de qualquer equipe no certame.

“O sub-17 é um início. Vamos colocar o sub-17 para trabalhar e depois a gente monta o profissional. Desses 30 jogadores do sub-17 que nós temos, que vão morar, se alimentar e estudar aqui, os que se sobressaírem continuarão fazendo um trabalho evolutivo e serão aproveitados no sub-20 e no profissional”, comenta o empresário. “Para mim, tudo vai ser uma consequência de um trabalho de base. Eu não tenho objetivo de ser campeão. Isso vai ser uma consequência. Se o meu projeto funcionar, fatalmente eu vou ter um time competitivo”, diz Marconi, que prometeu não trazer nenhum jogador “de fora” para compor o elenco de seu time. “Não tenho o menor interesse em trazer jogadores caros, viciados e deixar de preparar o prato local. Para mim quem faz milagre é santo de casa”, ressaltou.

O Globo já teve seu primeiro compromisso enquanto clube. Através de uma fusão com o Força e Luz, o time está na disputa da Copa do Brasil de Futebol Feminino. Esta semana, inclusive, a equipe decidirá a vaga nas quartas de final com o São Francisco-BA. O jogo de ida terminou em 2 a 0 para o adversário.

Inspirado na famosa emissora de TV

Se não é uma referência ao antigo time “fabril”, como era chamado o antigo Globo pertencente à fábrica de móveis homônima, qual seria a inspiração, então, para o batismo do mais novo clube do futebol potiguar? Marconi Barreto responde, sem cerimônia, que seu time é uma homenagem às organizações Globo, dona do maior conglomerado de comunicação do país.

“Globo é porque eu acho o nome muito interessante. Eu sempre tive uma admiração muito grande por Roberto Marinho, um homem que aos 62 anos de idade começou um império. Um visionário”, justifica Marconi Barreto, sem esconder sua admiração pelo mandachuva da TV brasileira.

A influência da toda poderosa parou mesmo no nome. Os demais ícones e signos que formam o ideal do Globo Futebol Clube têm relação com o próprio Marconi Barreto e suas convicções.
Uma delas, por exemplo, são as cores do time: preto, vermelho e amarelo. “As cores da Alemanha. Eu tenho uma admiração muito grande pela Alemanha. Sua robustez, sua disciplina, sua capacidade de recuperação, mostrada principalmente depois da Segunda Guerra”, comenta o empresário.

Por fim, o mascote: uma águia. Assim como seu projeto, diz Marconi, a águia é um animal que tem um poder de visão muito grande e não teme desafios, como, por exemplo, o de criar um time de futebol sob a promessa de se tornar referência no trabalho de bases para os demais clubes do estado. “A águia é visionária, vê longe. A águia dá voos muito altos. Casa com o meu projeto aqui”, pontua Marconi.

O empresário lembra, todavia, que seu Globo não surge para competir – mesmo sob um ideal diferente – com ABC e América, que também desenvolvem trabalhos voltados para suas categorias de base, mesmo que de forma limitada. Para ele, nada impede que num futuro próximo o Globo possa se tornar um futuro parceiro da dupla. “Quem sabe eu não seja um provedor de talentos para ABC e América, com o objetivo de engrandecimento do futebol do Rio Grande do Norte”, imagina.

O time do Globo será comandado por Edson Capitão, ex-zagueiro integrante da lendária equipe campeã pelo ABC em 1973, no início da era Machadão. Ele será auxiliado pelo desportista Ranilson Cristino, ex-goleiro e presidente do Força e Luz.

‘Irmão’ mais velho chegou a ser vice campeão estadual

O primeiro Globo, de sobrenome Sport Club, surgiu em Natal em 1960 por iniciativa de um empresário do ramo de móveis, justamente no período em que o América pediu licença da federação para tocar as obras de construção de sua sede social na Avenida Rodrigues Alves. O time teve vida curta, tendo se licenciado em 1964, apenas quatro anos depois da criação. Nada havia sede, tampouco CT. Era a lendária época em que se fazia apenas um coletivo por semana, exatamente na véspera dos jogos, sempre aos domingos no Juvenal Lamartine.

Quem conta a história é Ribamar Cavalcante, ex-ponta direita do Globo, seu primeiro clube de futebol. Ele chegou por lá no último ano da equipe, 1964, mas como sempre se interessou pela memória do futebol, antes mesmo já guardava recortes de jornal que falavam do time fabril.

Com nomes como Talvanes, Buru, Odissé, Zé Ireno e Rodrigues, o time rubro alcançou seu ápice em 1962, quando foi vice Estadual. “Nunca foi um time que sempre brigou em cima, mas tinha um padrão e contava com alguns bons jogadores”, lembra Ribamar Cavalcante.

Uma curiosidade na memória do desportista eram as contratações feitas pelo Globo. Na época, ele conta, ao invés de dinheiro as “luvas” dos jogadores eram pagas em móveis, fabricados na empresa do presidente do clube.

Marconi Barreto

O idealizador do Globo e do complexo esportivo-cultural que está sendo montado em Ceará-Mirim é o empresário Marconi Barreto. Economista por formação, com pós-graduação em Mercadologia e carreira acadêmica como professor da Escola Superior de Marketing de São Paulo, Marconi iniciou sua vida empresarial tocando uma destilaria de álcool em Ceará-Mirim e, quando expandiu os negócios, passou 25 anos trabalhando nos Estados Unidos, onde ainda fez especialização na universidade de Michigan.

Seu projeto conta, além do estádio Barretão, com um kartódromo, sambódromo, pista de arrancada, pista de vaquejada, pesque-e-page, 400 lojas comerciais, centro de treinamento, arena para shows e festejos juninos. “Está nos nossos planos também lutas de MMA”, diz.
A intenção dele é fomentar o esporte da região do Mato Grande e fidelizar aquele público, que, segundo ele, já tem demonstrado feição à ideia. “A aceitação é fantástica na região toda, até porque o projeto todo é muito amplo”, comenta o empresário.

Para estimular a presença do público nos jogos do Globo, Marconi Barreto pretende criar programas sócio-educativos. Um deles é a troca de garrafas PET por ingressos para os jogos no Barretão, que até esta semana estava “concorrendo” a receber os jogos do América durante a Série B do Campeonato Brasileiro deste ano.

Sobre a eficácia de seu projeto, questionado por algumas pessoas, entre eles o presidente do Alecrim, Anthony Armstrong, Marconi Barreto não se diz temeroso pelo fato de não contar com os jogos do América em seu estádio. “Nunca foi plano meu trazer o América para cá. O América foi uma consequência. Isso aqui nunca tornar-se-á um ‘elefante branco’, até porque aqui eu tenho muitas outras coisas”, finaliza

f: NOVOJORNAL.COM

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