O Esporte Clube Avenida é uma agremiação da cidade de Santa Cruz do Sul (RS). A cidade crescia e com ela sua população. No dia 6 de Janeiro de 1944, um grupo de rapazes excedentes do Futebol Clube Santa Cruz decidiu fundar o E.C. Avenida. “Eu estava servindo em Rosário”, recorda Bruno Seidel, que jogava no Galo. Na verdade, era reserva como tantos outros, pelo número excessivo de atletas que acorria ao único time da cidade. “A gente chegava a ficar um ano no banco.”
Quando voltou, em 1945, passou a jogar no recém-fundado Avenida, substituindo o jogador Adalberto Simonis, que foi para a Varig. “A gente pagava para jogar — era uma questão de amor à camisa mesmo. O clube só dava camiseta e a bola”, sublinha.
O Avenida não tinha campo, nem recursos e treinava na Várzea. “Quando eu já era presidente, propus para a turma comprarmos um pedaço de campo”, conta Seidel, que também foi o idealizador do emblema do clube. Juntaram o dinheirinho que tinham e foram falar com Arthur Emilio Meinhardt, pai de um dos jogadores do Avenida e dono da área pretendida.
Quando ele soube quanto dinheiro o grupo tinha, sentenciou: “É pouco”. “Caprichamos nas economias e emprestamos para o clube os Cr$ 55 mil. Tínhamos um lugar nosso para jogar,” exulta. Era hora de limpar a área, arrancar os tocos de eucalipto e aterrar mais de meio metro de altura, tudo no braço e na carroça. A lenha vendida reverteu em mais renda.
Na inauguração do estádio, em 1950, o Grêmio, padrinho convidado, não poupou os afilhados e goleou por 13 a 2. Mas ninguém se importou e a festa foi grande. Em 1953, foi a vez de inaugurar os refletores. Nos anos 60, o Avenida ganhou uma mãozinha divina, ou melhor, um pezinho.
O padre da paróquia que atendia a Várzea, Orlando Pretto, hoje pároco da catedral, cedeu às tentações do esporte e passou a treinar com o time. “Tudo sob a bênção do bispo dom Alberto Etges”, sublinha ele. “Eu era um jogador voluntarioso, craque não”, se autodefine. “Tinha um chute forte e velocidade, mas não era um grande driblador.” Preenchia posições na ponta direita e brincavam: lá onde acaba o campo não cresce grama, porque é onde o padre pára e dá o giro para o retorno.
O técnico Daltro Menezes quis chamar a atenção em um amistoso do Avenida contra o Internacional e combinou que o padre jogaria 10 minutos no final. Mas o destino conspirou contra — o pai do padre adoeceu, impedindo sua participação. Certa feita, ele atuou inclusive de comentarista, ajudando o Ernani Aloísio Iser de dentro do campo.
Foi na partida contra o América, campeão carioca, em domingo de muita chuva. “Tu não podes me identificar como padre no rádio, me chama de Orlando Francisco”, alertou ao narrador. Mas, aos 32 minutos do segundo tempo, uma jogada fenomenal: o placar estava 0 a 0, a bola molhada, o meia-esquerda Jaime, do Avenida, chuta forte de esquerda, de fora da área e a bola dá a impressão de que ia entrar, mas um ângulo misterioso a desvia na última hora. Iser, emocionado e já preparado para gritar gol, aciona o pároco: “faaala padre Pretto”. No dia seguinte, senhoras foram ao bispo reclamar do padre metido em futebol.
No início dos anos 70, uma fusão com o rival Santa Cruz tenta resolver a difícil situação financeira dos dois clubes, mas não foi vista com bons olhos pelo Avenida. O novo time se chamava Associação Santa Cruz do Futebol e vestia as cores amarelo e azul. Diante da resistência do Avenida, foi tentado o uniforme verde e preto, mas mesmo assim a fusão não foi para a frente. Hoje o Avenida está com seu Departamento de Futebol parado, com atividades apenas sociais. Para Seidel, é muito triste ver parte do patrimônio, adquirido a tantas mãos, penhorado.
Fonte: Jornal Gazeta do Sul
Colaborou: Douglas Marcelo Rambor