Por: Telmo Lemos
O Esporte Clube Tamandaré de Mostardas surgiu no dia 11 de Janeiro de 1942. Mostardas, ainda Vila, saindo dos cueiros de Freguesia, assistia a um fato novo no terreno esportivo de sua história. Começava a ter seu primeiro clube de futebol, realmente organizado. Nascia o Esporte Clube Tamandaré, honra e glória do esporte mostardense.
Hoje o Tamandaré não é mais um patrimônio dos seus associados, nem de seus simpatizantes, bem mais que isto, está inserido no coração, na alma e na consciência de todo o mostardense, que deve ver nele o começo de um pedaço novo da nossa história, a história desportiva de Mostardas.
Muitos, que nem eram tantos, como eu, tiveram a felicidade de presenciar este começo. Numa homenagem ao grande e inequívoco Tamandaré, contra o qual disputei, como jogador do Brado do Sul, inesquecíveis e leais jornadas, faço este depoimento, sem precisar datas, mas apenas meses. É certo que os acontecimentos estão entre janeiro e fevereiro de 1942.
Morava em São Simão, estudava em Porto Alegre, gozava à época, férias e, como o meu pai era proprietário na Boa Vista, acertei com ele um jeito de assistirmos à fundação da primeira entidade esportiva de Mostardas, que levaria o nome de Tamandaré, numa homenagem ao herói marinheiro rio-grandense, hoje Patrono da Marinha, cuja natalidade ainda é disputada entre riograndinos e nortenses.
A tranco de cavalo, cedinho, nos pusemos a caminho. Viagem de três horas, por volta das dez, chegávamos a Vila de Mostardas. Havia o natural e costumeiro rebuliço que, no nosso interior de então, sempre acontecia nestas ocasiões.
As horas foram passando e começou a se instalar nos espíritos a incerteza da vinda do Esporte Clube Liberal, de São José do Norte, que seria o padrinho da nascente entidade esportiva. Por incrível que pareça, nossa estrada para o Norte já era tão ruim e de trânsito tão incerto quanto hoje.
Alguma coisa não mudou. A comunidade em expectante alvoroço, alguns carneiros já sacrificados para o almoço de recepção aos convidados, algumas garrafas de vinho na “cacimba do povo”, no fundo da Quinta do Chico Pedro. As horas passando e de nortenses nada.
Nesta condição aventou-se a ideia de formar-se uma equipe de estudantes, para que ao menos parte do acontecimento fosse salvo. Como estudante, comecei a torcer por esta hipótese. Não deu outra, como hoje se diz. Jogamos onde agora é o aeroporto, então campo de futebol.
O resultado foi parelho, mas não sei precisar. De um fato, porém não esqueço, por ter sido protagonista central. Vou descrevê-lo: Nosso time investe e, sobrando uma bola, chutei a golo. Goleira sem rede, o chute, passando a poucos centímetros, deu a impressão de que havíamos marcado.
Neste momento, a banda de música estourou um dobrado comemorativo que, confesso hoje, 50 anos depois, arrepiou todos os pelos dos meus 16 anos. À época era a Banda do Maestro Gentil, hoje do João da Édia, do Luizinho, do Ceceu e de tantos outros abnegados, mas sempre querida, respeitada e certamente imortal.
O juiz não deu o gol, nem poderia. Valeu, no entanto, meu arrepio e um dizer da lavra do meu grande e dileto amigo Vicente Cardoso, companheiro de equipe, que por muito tempo fez parte da nossa comunidade. Quando alguém perdia algo, fosse uma partida de futebol, uma carreira ou até mesmo a namorada, era costume dizer-se “e nem a banda tocou”. Era um jeito de chibatear o amigo, de certa forma carinhosa mas também mordazmente. No meu caso, o gol não valeu, mas a “banda tocou”.
Dias depois desta partida, provavelmente um ou dois fins de semana, veio a equipe do Liberal Futebol Clube, que então oficialmente apadrinhou nosso Tamandaré. As datas ficam por conta dos arquivos e, na falta destes, dos pesquisadores.
De minha parte ofereço estes detalhes e uma fotografia de parte da equipe do Liberal, no caminhão que a trouxe, na frente da casa do “seu” João Caieira, que era a sede do Clube.