A EXCURSÃO DO BANGU A.C. em 1984

Histórias pitorescas sempre fizeram parte do Jornal dos Sports desde 1931, quando surgiu. Uma das quais eu mais gosto foi escrita pelo saudoso  Emygdio Felizardo Filho, no qual tive a honra de ter conhecido.

A repotagem saiu em maio de 1984, sobre a excurssão do Bangu Atlético Clube, que na época era uma das forças, não só do futebol carioca como do Brasil.  Vejam a história na íntegra:  

PASMEM. DERAM ATÉ UMA VOLTA NO XERIFE
Foram 30 dias de sofrimento, golpes, explosões, sustos, saudade, falta de dinheiro, alguns momentos de alegria e até um pouco de futebol. Quando os jogadores do Bangu deixaram o Brasil para excursionar pela América Central, certamente não sabiam o que iriam encontrar pela frente. No final, um saldo até bom se levarmos em conta as dificuldades que o time encontrou: duas vitórias, três empates e uma derrota em situação anormal, com a ajuda do árbitro.

A excursão do Bangu já começou tumultuada e com lances pitorescos. O time viajou sem seus dois goleiros – Gilmar e Tião -, porque o primeiro, por engano do computador, não conseguiu passar na polícia federal e não embarcou; o segundo, porque era sua primeira viagem ao exterior e, de brincadeira, para dar um susto no supervisor Catuca, escondeu seu passaporte, sem saber que era preciso visto da Embaixada de Honduras para embarcar. No Aeroporto Internacional, o goleiro acabou sendo impossibilitado de viajar.

Ninguém sabia quando o time jogaria, já que o empresário Elias Zacour não era o responsável pela excursão e sim um dos contatos e todos os integrantes da delegação, que já haviam excursionado com Zacour, foram unânimes ao afirmar que “se ele fosse o responsável, a coisa não teria sido tão desorganizada como foi”.

Pior para o Bangu, que chegou a Tegucigalpa numa quinta-feira e teve que jogar no mesmo dia. Moisés não sabia como fazer para resolver o problema da falta de goleiro. Dois voluntários se apresentaram: Fernandes e Tecão. Moisés optou pelo primeiro, que já havia sido goleiro de futebol de salão. Antes do jogo com a Seleção de Honduras, o pedido do treinador aos demais integrantes do Bangu: “olha aí; rapaziada, quero que vocês me ajudem a gritar para orientar nosso goleiro. A coisa tá preta”.

Até que Fernandes foi bem. Fez defesas sensacionais, e agüentou o resultado de 1 a 0 em favor do Bangu – gol de Marinho, aos 5 minutos – até bem perto do final do jogo, quando não pode defender um chute forte, a queima-roupa. Aos 41 minutos do segundo tempo acabou expulso e Tecão foi para o gol, assegurando o 1 a 1.

No dia seguinte ao da apresentação do Bangu, os jornais de Tegucigalpa destacavam a boa exibição do time brasileiro e principalmente do “goleiro” Fernandes, a quem classificavam, entre outras coisas, de “El Paredón”, “El Gato” e “El Bigodudo”. No sábado, o Bangu enfrentaria novamente a Seleção de Honduras, dessa vez em San Pedro Sula. Moisés ficou novamente em sinuca. Não podia escalar Fernandes na zaga, como era seu pensamento, pois seria um vexame se descobrissem que o time havia viajado sem goleiro e que na verdade “El Paredón” era zagueiro. E nem no gol, já que Tião já havia chegado. Aí conseguiu arranjar uma saída pitoresca: enfaixou um braço e uma perna de Fernandes e disse que ele não poderia jogar por estar contundido. A Imprensa local ficou sem entender nada. Fernandes havia deixado o campo na partida anterior, sem problema algum e o Bangu, na sexta-feira, não havia nem treinado.

O Bangu perdeu de 1 a 0, mas até os jornais locais destacaram a atuação do time brasileiro e criticaram a atuação do árbitro hondurenho, que além de ter expulsado o zagueiro Tecão injustamente, fez tudo para que o time da casa vencesse.

O GOLPE
Três dias depois a delegação viajou para El Salvador, onde, segundo o empresário Oscar Arcas, responsável pela excursão, o time realizaria duas partidas. E aí começaram os problemas. Arcas não pagou as duas cotas dos jogos anteriores e disse que só poderia receber o dinheiro das duas apresentações do Bangu depois da semana santa, já que tudo estava fechado e o cheque que estava em seu poder e que nunca foi visto por ninguém da delegação do Bangu, era de um banco de Miami. Moisés começou a ficar desconfiado, mas deu um crédito de confiança ao empresário.

Havia uma certa apreensão dos jogadores quanto à passagem por EI Salvador.O que eles sabiam daquele país não dava tranqüilidade a ninguém. Guerrilhas, bombas, tiroteios, mortes. Um quadro nada apreciável. Mas ao desembarcarem viram uma imagem bem diferente. Não era possível que um país com tantos problemas internos tivesse um aeroporto tão bonito e moderno como aquele.

A delegação foi recebida por Arimatéia, um paraibano, segurança da embaixada brasileira e que foi de grande utilidade durante os 17 dias que o time ficou em El Salvador. Na chegada, o primeiro sinal de que a coisa estava começando a ficar ruim. Não havia ninguém da federação local para recepcionar o time, nem condução. O jeito foi alugar algumas camionetes para levar a delegação até o Hotel Siesta, um dos mais bonitos de San Salvador.

Os 17 dias em San Salvador só não foram piores graças à cordialidade, presteza e amizade dos funcionários do hotel. A delegação chegou na terça-feira à noite. Na quarta nenhum jornal falava sobre o tal jogo do Bangu com a Seleção de El Salvador. Nem na quinta-feira. Na sexta, a mesma coisa e aí Moisés começou a desconfiar do empresário argentino Oscar Arcas.

– Rubinho – advertiu Moisés ao chefe da delegação -, acho que estão tentando nos dar uma volta. Vamos tomar o cheque logo desse gringo antes que a coisa piore.
Arcas, um verdadeiro contador de estórias, um 171 nato, garantiu que haveria jogo, que estava tudo certo e só não havia propaganda nos jornais por causa da semana santa. Rafael Bolaños, genro de Zacour acreditava também no contador de estórias argentino e fazia tudo para convencer Moisés, que já estava irritado.

Foto: Jornal dos Sports
Seria um dos campos de treinos de San Salvador ?
Deu saudade do Aterro

CATUCA APARECE
Outro personagem aparece em meio a tantos problemas. Sanches, um argentino radicado em El Salvador, técnico de um time de terceira divisão daquele país e que estava encarregado de facilitar as coisas para o Bangu, conseguindo campos para treino e coisas desse tipo. Acontece que ao invés de ajudar, Sanches, a quem os membros da delegação acabaram apelidando de Catuca, acabou atrapalhando tudo. Primeiro arranjou um campo impraticável para o Bangu realizar um jogo-treino contra o seu time, formado por verdadeiros pernas-de-pau, sem nenhum aspecto de jogadores. Uns eram gordinhos demais; outros, franzinos, parecendo mais um bando de flagelados. No campo, nada menos que 15 bueiros, os quais, segundo Sanches (ou Catuca), faziam parte do sistema de drenagem. Moisés preferiu realizar um treino físico. Depois, pensando em agradar os jogadores Sanches, levou todos, num domingo de folga, para uma praia do pacífico, onde, segundo ele, haveria muita diversão.

Foto: Jornal dos Sports
O ônibus atolou na areia. O Lugar era horrível e a saída foi empurrar o mais rápido possível o ônibus para sair daquele local

Foi uma catástrofe. O aspecto do local era terrível. Bêbados caindo pelo meio da rua; barracos velhos caindo aos pedaços; comidas com aspecto de lavagem; urna multidão na areia, com uma aparência horrível e para completar o ônibus que conduzia a delegação ainda atolou na areia. Os jogadores tiveram que empurrar o ônibus para que pudessem sair o mais rápido possível daquele local. Ninguém acreditava no que estava vendo. A praia de Ramos, mesmo nas piores épocas, dava de mil a zero naquilo.

Arimatéia sugeriu que todos fossem para um clube próximo dali, que foi uma das coisas mais bonitas vistas em El Salvador. O clube Atami fica num grande penhasco, é imenso, limpo, com várias piscinas, uma natural e até uma praia particular. Os jogadores foram recepcionados da melhor forma possível e deram início a um grande churrasco, ao som de samba bem brasileiro. Índio, Marcelo, Mococa e Gilmar foram os responsáveis pela percussão, que fez o associado do clube sair da piscina para aplaudir os brasileiros.

Foi um dia inesquecível para todos, e serviu para pelo menos diminuir a saudade que os jogadores sentiam dos familiares.

A essa altura, Oscar Arcas já havia viajado, dizendo que ia até Guatemala, para acertar o jogo contra a seleção local. Ele viajou no sábado à tarde e não se soube de mais nada sobre o argentino vigarista. Rafael Bolaños ficou num beco sem saída. Não sabia mais o que fazer para contornar a situação. Não havia dinheiro, jogo, e nem sinal do empresário.

Ainda bem que a dona do hotel entendeu a situação do Bangu e permitiu que a delegação ficasse por algum tempo. Bolaños ligou para Zacour, que garantiu as passagens de volta e se responsabilizou pelo pagamento das cotas. Mas e as diárias do hotel? Moisés já estava cansado de tanta confusão e uma noite, na pérgula da piscina do hotel, pensativo, resmungava a todo instante: “o que é que os caras no Brasil vão falar quando souberem que eu Moisés, levei uma volta? Não, isso não vai ficar assim. Eu não posso levar uma volta. Vai todo mundo rir de mim”.

JOGO PARA O HOTEL
O técnico que havia levado alguns dólares e por isso estava garantindo os bichos e as diárias dos jogadores, imprensou Bolaños. Queria uma solução. Encontraram uma, não a melhor, mas pelo menos serviria para aliviar a barra. O Bangu jogaria como FAS, campeão de El Salvador, que garantiria o dinheiro da despesa do hotel. Depois, do que sobrasse da renda, pagaria as despesas do jogo e o restante seria dividido. Acontece que a renda não deu nem para pagar as despesas do hotel. O time até que foi bem, mesmo jogando sem seu principal jogador de ataque, o ponta-direita Marinho. O empate de 0 a 0 foi injusto pelo que o Bangu apresentou.

Bolaños mantém, novos contatos. Confirma o jogo com a Seleção da Guatemala, para o dia 4, e acerta outra partida em El Salvador, no dia 1º de maio, dessa vez contra o Aliança, time de massa, e à tarde, o que aumentaria a possibilidade de uma boa arrecadação.

Os jogadores não agüentavam mais de saudades dos familiares, que aumentava a cada dia por causa da falta de jogos. O jeito era sair um pouco da rotina do hotel, dar uma volta por San Salvador, que é uma cidade muito bonita, mas também muito perigosa. Lá até guarda de trânsito anda de metralhadora. Não se vê arma leve na mão de ninguém.

Pelo menos os 17 dias em El Salvador serviram para que os jogadores ficassem conhecendo melhor aquele país. O povo é hospitaleiro, mas está sempre apreensivo. Todos dizem que o perigo está nas fronteiras, onde acontecem os combates. As explosões na capital são poucas, mas sempre dá para se ouvir bem, principalmente à noite. Teve um dia que os guerrilheiros explodiram nada menos que 8 bombas na capital. Os vidros do hotel tremeram, a luz faltou e os jogadores ficaram espantados. O pessoal do hotel, já acostumado com aquilo, tentava tranqüilizar os jogadores.

– Isso não é nada. Tem uma festa aqui perto e estão soltando alguns fogos.
Podia até ser verdade, mas eram os únicos fogos de artifício que conseguiam tirar as estações de rádio do ar, derrubavam postes e cortavam a energia.

A guerra entre os dois partidos – Arena, de extrema direita, partido dos ricos, e PDC, grande favorito – que disputavam a presidência do país, aumentava a cada dia. O medo crescia a cada momento, pois todos já sabiam o que podia acontecer mais próximo da eleição.

MUAMBA, ZONA FRANCA E MUITO RATO
Em El Salvador, o perigo não são os guerrilheiros, que procuram até não fazer mal à população. Sempre que colocam uma bomba, eles se localizam de maneira que possam avisar ao popular que vai passar pelo local para retornar, pois vão explodir um posto. O maior perigo é o próprio exército, que está sempre atento e não pensa duas vezes quando tem que disparar suas metralhadoras contra carros ou pessoas suspeitas, inocentes ou não.

Lá, segundo comentários de alguns salvadorenhos, o rico está sempre esmagando o pobre. Garotos de 15, 16 anos, são vistos transitando tranqüilamente com pesados Fals, fuzil americano de repetição. O exército salvadorenho vai buscar os garotos nos colégios de pobres, fazem uma lavagem cerebral neles e lhes dão uniforme e pesadas armas. Enquanto isso, no colégio dos ricos, ninguém é chamado para o serviço militar.

SUFOCO
Um grupo de jogadores do Bangu passou por uma experiência desagradável na véspera da viagem para a Guatemala. Índio, Fernandes e Aldo resolveram ir até um bar de um guatemalteco, fã do futebol brasileiro, para bater um papo. A conversa rendeu, principalmente porque havia muita música brasileira na casa. Já era mais de meia-noite e o bar fechou as portas, mas o dono não queria que os jogadores fossem embora. Queria mais papo. Em dado momento, uma freada brusca. Três homens muito fortes, vestidos com bermuda, camisa, meia e tênis e carregando duas armas cada um – essas eram leves, se é que se pode chamar a 45 automática disso – resolveram entrar no bar. Quase arrombaram a porta e entraram no peito. Estavam todos bêbados. Os jogadores ficaram espantados, principalmente Índio, que nunca tinha saído do hotel, por ser o mais medroso do time. O dono do bar tentou dizer que estava fechado mas de nada adiantou. Os homens queriam beber e exigiram a bebida nem que para isso tivessem que conseguir na base do tiro.

Os jogadores estavam espantados, sem saber o que fazer. Um dos homens viu o garção com uma faca na mão e pensou que este fosse lhe atacar. Segurou o pulso do garção, que continuou segurando a faca, espantado. O homem, o mais forte e mais bêbado de todos, arrancou a faca à força, abrindo um profundo corte na mão do pobre garção. Depois, quebrou a faca em dois pedaços. isso foi o suficiente para que os jogadores sentissem um gosto de sangue na boca. O segurança da casa, desesperado, bateu em retirada, deixando os demais entregues à própria sorte.

O dono do bar tentava aparentar tranqüilidade, mas estava mais nervoso que os jogadores, que eram os únicos fregueses da casa. Para sair, eles teriam que passar pelos homens armados. Quando começaram a falar que iam embora, o dono da casa apelou, resolveu dar cerveja de graça para os jogadores, com a intenção de forçá-los a ficar lá dentro. Os jogadores não queriam cerveja e os homens, a cada momento, se alteravam mais.

– E agora? – disse Índio. Como é que vamos sair daqui?

– Vamos sair logo, pois pode piorar.

– sugeriu Fernandes.

Os três se levantaram, trêmulos, e foram em direção à saída. Os homens olharam para os jogadores e isso foi o suficiente para uma reação inusitada dos jogadores. Uma situação tragicômica. Os três sorriram forçosamente para os homens e Fernandes começou e falar:

– Olá amigos.

Nenhum dos três respondeu. Fernandes ficou mais espantado ainda. Mas prosseguiu:

– Somos brasileiros, jogadores de futebol del Bangu! -, e dizia isso ao mesmo tempo que fazia movimentos como se estivesse fazendo embaixadas, só que não havia bola nenhuma.

Os homens sorriram e iniciaram o diálogo.

– Ah, si, brasileños. Tomem una cerveza.

Os três “pipocaram”. Não queriam cerveja e sim sair o mais rápido dali. Recusaram e Índio foi logo saindo. Ao ultrapassar a porta foi agarrado pelo braço pelo homem mais forte e puxado novamente para dentro do bar. Aí foi que o medo aumentou. Os homens exigiam que todos tomassem cerveja. Todos riam amarelo e um dos jogadores conseguiu uma desculpa aceita pelos homens. Disse que tinha treino bem cedo e já estava atrasado para dormir. Iam ser multados.

O mais sóbrio dos três aceitou a desculpa e deu ordem aos outros dois para que deixassem os jogadores sair. Do lado de fora do bar não havia um único táxi, a rua deserta, e os homens se prontificaram a levar os jogadores de carro até o hotel. Os três “pipocaram” novamente. Os homens faziam questão de levar e a coisa foi piorando. Os três já pensavam em começar a gritar por socorro, pois a residência do embaixador do Brasil ficava do outro lado da rua, bem em frente ao bar. Mas apareceu um táxi e eles conseguiram sair dali. Enquanto entravam no táxi, os homens começaram a gritar “Arena” e essa foi a despedida aos jogadores.

Foto: Jornal dos Sports
Na despedida de El Salvador, todos os funcionários do hotel fizeram questão de abraçar os jogadores. Um dos raros momentos de emoção

A DESPEDIDA
O segundo Jogo em El Salvador foi realizado um dia antes do embarque para a Guatemala. O Bangu venceu, fácil, por 2 a 1. Uma boa despedida. Quando a delegação deixou o Hotel Sieste aconteceram lances emocionantes. Todos os funcionários, na maioria mulheres, até mesmo os que estavam de folga, foram se despedir dos jogadores. Muitos choraram na despedida, pois o convívio durante os 17 dias fez com que todos se apegassem aos brasileiros, sempre brincalhões e animados.

A caminho da Guatemala, Moisés procurava descontrair o ambiente:
– É, novamente um lugar maravilhoso. A Guatemala é demais. Tomara que não seja outra volta. Já estava preocupado em El Salvador. Pensei até que fôssemos obrigados a nos alistarmos na guerrilha ou votar na eleição pra presidente. Muita gente no Brasil ia ficar com inveja.

Na chegada, uma impressão melhor. Pelo menos tinha um representante da federação local esperando a delegação e um ônibus para levar todos ao hotel. O Bangu ficou apenas dois dias na Guatemala, onde jogou numa sexta-feira, à tarde, empatou em 0 a 0, e na madrugada de sábado voou para a cidade do México, onde esperou, durante cinco horas, um vôo para Manaus.

Todos já estavam cheios de vontade de beber o café e comer a comida brasileira. Ninguém agüentava mais. E virou mesmo Brasil. O primeiro sinal: na alfândega, os membros da delegação foram apertados por um funcionário da polícia federal, que facilitou a saída dos estrangeiros do aeroporto, mas segurou os jogadores brasileiros, que estavam há mais de 20 horas viajando, cansados. Tudo porque o técnico Moisés reclamou do funcionário ter passado um estrangeiro na frente dos brasileiros.

Mas o pior estava para acontecer. O segundo sinal: o hotel onde a delegação ficou hospedada era da pior qualidade. Sua única vantagem era que ficava próximo da Zona Franca. A delegação chegou ao hotel às 2 horas de domingo, de madrugada. Eram cinco quartos, com cinco camas. Os jogadores reclamaram. Era muita gente num quarto só. Mas estavam cansados e queriam só dormir. Subiu o primeiro grupo de cinco no elevador que tinha capacidade para seis pessoas. E na volta o elevador enguiçou.

Não subia e nem descia. O funcionário do hotel, muito prestativo, mas envergonhado com o que estava acontecendo tentou contornar a situação. Não sabia consertar o elevador e a porta da escada estava trancada. Mandou um emissário buscar a chave da escada no outro hotel o emissário pegou a chave errada. Já eram 3 horas da manhã e o pessoal reclamava. Aí ele abriu uma porta atrás do escritório do hotel, uma saída de emergência. Tinha mais água do que qualquer outra coisa. Uma escada úmida e escura mas não havia outro jeito. Os jogadores tiveram que subir por ali, espantando as enormes ratazanas que circulavam pelo local.

Ao passarem pela copa do hotel, outra cena terrível. Ratos passeavam por cima das panelas e os jogadores decidiram nem comer no hotel.

No domingo, de folga, os jogadores resolveram passear um pouco. Foram assistir à transmissão do jogo Flamengo x Corintians em um bar próximo. Acostumados ao espanhol durante 27 dias, alguns jogadores ainda falavam algum coisa, esquecendo que já estavam no Brasil. Um deles foi Rosemiro, que ao invés de pedir um tira-gosto ao dono do bar soltou um “amigo, tienes una boquita?” Todos riram e aí ele se lembrou que não estava mais em El Salvador.

A delegação ficou dois dias em Manaus e fez muitas compras. Não faltou também quem levasse “uma volta” apesar das advertências de Moisés, para que ninguém acreditasse em vantagem nenhuma.

A maior volta quem levou foi Fernando Macaé, que perdeu 100 dólares ao entrar no conto de um homem, que segundo ele era deficiente físico. O tal disse que tinha uns tênis baratos para negociar, menos da metade do preço. Levou o jogador para dentro de um shopping, pegou dinheiro do jogador, que queria três pares, e sumiu.

Na quarta-feira, o final da excursão com um fecho de ouro. Mesmo assim Moisés chegou a se assustar. O Rio Negro conseguiu marcar dois gols na frente do Bangu, que reagiu e em cinco minutos virou para 3 a 2. A partir daí deu um verdadeiro show de bola, vencendo por 5 a 2. No final da partida, um lance raro no futebol. Faltavam cinco minutos para o encerramento e o juiz correu na direção do auxiliar, tomou-lhe a bandeira da mão, deu-lhe o apito e falou: “Vai l á, apita esse restinho aí pra pegar um pouco de experiência”. Era o terceiro sinal. Tinha mesmo virado Brasil. Graças a Deus.

Este post foi publicado em 01. Sérgio Mello, História do Futebol, Rio de Janeiro em por .

Sobre Sérgio Mello

Sou jornalista, desde 2000, formado pela FACHA. Trabalhei na Rádio Record; Jornal O Fluminense (Niterói-RJ) e Jornal dos Sports (JS), no Rio de Janeiro-RJ. No JS cobri o esporte amador, passando pelo futebol de base, Campeonatos da Terceira e Segunda Divisões, chegando a ser o setorista do América, dos quatro grandes do Rio, Seleção Brasileira. Cobri os Jogos Pan-Americanos do Rio 2007, Eliminatórias, entre outros. Também fui colunista no JS, tinha um Blog no JS. Sou Benemérito do Bonsucesso Futebol Clube. Também sou vetorizador, pesquisador e historiador do futebol brasileiro! E-mail para contato: sergiomellojornalismo@msn.com Facebook: https://www.facebook.com/SergioMello.RJ

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