Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo, Bigode, Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico. Ninguém melhor do que eles para contar o que aconteceu no fatídico de 16 de julho de 1950. Juvenal a quem tive o prazer de passar algumas horas ouvindos suas histórias falava comigo numa boa sobre a Copa de 1950.
Barbosa
Ghiggia diz que só ele, o Papa e Frank Sinatra calaram o Maracanã. Eu também fiz o Brasil calar, fiz o Brasil chorar: não é só ele que tem esse privilégio não.
Augusto
A cena já estava toda pronta, na minha imaginação. O jogo terminava. O Brasil, absoluto, ganhava fácil do Uruguai. A gente se perfilava no gramado, em frente à tribuna de honra do Maracanã. Depois de cantar o Hino, a gente veria chegar o velhinho Jules Rimet com taça na mão. Eu pegaria a da taça das mãos dele. Todo feliz, ergueria a taça lá para o alto.
Bauer
Vim para o Rio para ser campeão do mundo. Voltei a São Paulo no chão do trem.
Danilo
Como a Copa de 50 marcou a inauguração do Maracanã, a derrota do Brasil ficou gravada para a eternidade. O próprio time do Vasco, base da Seleção Brasileira, derrotou o Peñarol, base da Seleção Uruguaia, em Montevidéu, logo depois. Mas os uruguaios diziam: “A gente não queria ganhar essa aqui em Montevidéu, não. Queríamos ganhar aquela, no Maracanã”.
Bigode
Deve ter morrido gente de enfarte. Se o Brasil fosse campeão, morreria muito mais gente. O povo é exagerado. O Maracanã ia vir abaixo. Iam quebrar tudo nos bailes. O futebol é um fenômeno que ninguém explica. Futebol incomoda mais que problema de família…
Friaça
Fiz 1 x 0 na final da Copa. Ali nós já éramos deuses.
Zizinho
Meu sonho era assim: a gente ainda iria jogar contra o Uruguai. Aquilo que aconteceu era mentira.
Ademir
Depois do jogo com a Espanha – que vencemos por 6 x 1 – apareceu um senhor num automóvel gritando: “Quero falar com Ademir”. Ele entrou e foi falar direto com Flávio Costa. Daí Flávio me chamou num canto: “Vá ao hospital com o médico da seleção, veja a situação e volte”. Quando cheguei ao hospital, vi que era um garoto meu admirador. O menino vei, me beijou e disse: “Doutor, pode operar”. De volta à concentração, não consegui dormir. Fiquei pensando: “O que é que eu sou? Um santo? Um deus?”.
Jair
Sempre antes de dormir, eu pensava no gol que não fiz, aos 45 do segundo tempo. Eu sonhava assim: o Brasil com um time daqueles não ganhou a Copa do Mundo? A derrota é que tinha sido um sonho. Acordava espantado, olhava ao redor – e o Maracanã estava ali, na minha frente.
Chico
Tive um pressentimento estranho. Quando o Brasil entrou em campo, a derrota já estava escrita.
Juvenal
Eu me sentia um soldado defendendo o país. Não é só numa guerra que se defende o país: é nas disputas esportivas também. Então, perder aquele jogo para o Uruguai foi como perder uma guerra. A gente não falava em dinheiro. Os jogadores não pediram prêmio, nada, nada, nada. Nós, ali, éramos como militares.
Estava muito confiante ao entrar no gramado senti uma forte vibração nas veias, olhei para os lados e a festa estava praticamente pronta so bastava fazer a nossa parte, e ai se deu o detalhe quando a bola rolou nem notei, só percebi quando Jair me gritou! Acorda Juva agora é com a gente.
Friaça fez o gol no inicio do segundo tempo e só caiu na real depois que o Uruguai empatou o jogo, ai ele voltou a si.
Danilo Alvim chorava feito uma criança ainda no gramado ao vê-lo aos brantos já nos vestiários tive uma crise de choro também, todos choraram menos Chico foi uma barra terrivel.
fontes: Dossiê 50 de Geneton Morais e lembranças de meus papos com Juvenal que voltou a me chamar atenção devido a um texto de Alexandre Martins.