Era uma noite de quarta-feira, uma noite de chuva em Salvador na Fonte Nova pelo campeonato baiano uma rodada dupla com o Galicia vencendo o Atlético de Alagoinhas por 2 a 0 na preliminar no jogo de fundo o Bahia entrava em campo para encarar o Botafogo de Salvador no famoso “clássico do pote” as duas equipes se enfrentariam pela quarta vez no ano, com uma vitória para cada lado e um empate, neste ano com a vitória por 1 a 0 em março o Botafogo quebrava um tabu de 21 anos sem vencer o tricolor da boa terra. Em campo o Bahia entrava com força máxima enquanto o alvi rubro tinha o desfalque do bom goleiro Zé Ivã e o seu reserva Norival também lesionado davam o lugar para o jovem goleiro Azeitona formado pelas categorias de base do clube aos 22 anos era a chance de ouro para mostrar suas qualidades e justamente contra um adversário de peso e com uma linha de frente espetacular com Fito, Douglas, Jorge Campos, Miltão e Jesum.
O jogo começou da forma imaginada o Bahia atacando e o Botafogo se defendendo e explorando os contra ataques com Zé Amaro, Luciano, Hilton e Sivaldo, a primeira boa investida do jogo fora do Botafogo com Luciano cobrando falta de Luis Antonio espalmando para escanteio, logo depois o Bahia toma conta do jogo e Azeitona começa a aparecer numa cabeçada de Miltão e um bom chute de Jesum, o jogo fica dramático por causa da chuva e o gramado encharcado dificulta as ações do Bahia mais mesmo assim ao final do primeiro tempo o tricolor aperta e Douglas obriga Azeitona a fazer defesa espetacular num chute a queima roupa, na cobrança de escanteio Fito acerta a trave e no rebote Miltão chuta e o goeliro defende novamente para escanteio, o Botafogo fica acuado não conseguindo sair do sufoco, quando tem a chance Luciano adianta a bola e na dividida com Baiaco ele comete falta violenta e é expulso o primeiro tempo termina 0 a 0 graças a Azeitona que é procurado pelas rádios por ser o destaque do jogo.
Começa o segundo tempo e o Bahia novamente sai para cima do Botafogo com força total, com Jesum em noite inspirada o ponta esquerda dribla como quer o lateral Anildo e o volante Aliomar e municia Miltão e Jorge Campos que perde gol feito após rebote de Azeitona, o chute acerta a trave, o publico se levanta nas arquibancadas sentindo que o gol do Bahia esta próxima mais ai acontece um contra ataque rápido com Sivaldo este cruza para Hilton que é derrubado por Zé Augusto pênalti e o zagueiro do Bahia expulso na confusão pela marcação do arbitro Anivaldo Magalhães, Romero também é expulso, Hilton bate o pênalti e Luis Antonio defende no rebote o atacante acerta o olho esquerdo do goleiro e novo tumulto gerado o sururu é formado e os jogadores saem no tapa ao final da confusão Hilton é expulso e o jogo segue agora com nove para cada lado, no lugar de Luis Antonio entra Jair. O Bahia volta a tomar conta da partida com a diminuição da chuva Douglas comanda o time e Miltão segue dando trabalho para a defesa do Botafogo, Fito cobra falta na gaveta o grito de gol vai sair mais Azeitona de mão trocada manda para escanteio, Jorge Campos invade pela direita corta Vavá e manda no ângulo novamente Azeitona espalma, ai aos 21 minutos da etapa entra Zé Neto no lugar de Fito, mais um atacante para forçar a defesa adversária, em sua primeira jogada Zé Neto que veio do Goytacaz e estreará num Ba-VI marcando um gol de cabeça quase marca mais Azeitona defende o jogo se desenrola já passam dos 30 minutos e nada de gol, ouvia o jogo pelo radio com minha mãe insistindo para eu dormir porque no outro dia tinha aula e eu ligado ao lado de meu pai e do meu primo Anacleto ai Jesum desce pela esquerda mais uma vez, passa fácil e centra Miltão sobe e é empurrado por Roberto Oliveira, é pênalti, é agora Douglas ajeita a bola com carinho no radio a locução de José Atayde pela Radio Clube da Bahia “correu Douglas para bola atenção bateuuuuuuuu, defendeuuuuuuuuuu Azeitona, sensacional o jovem goleiro do Botafogo voa espetacularmente e defende o chute de Douglas” era o balde de água fria já são mais de 35 minutos e o um dos ídolos do time perde um pênalti era o sinal que não daria certo era noite de Azeitona; realmente era noite de Azeitona tudo levava a crer que o jogo terminaria em 0 a 0, para complicar a situação do Bahia Jorge Campos nervoso agredi Aliomar e é expulso deixando o Bahia com oito em campo e agora, o Botafogo percebe que a noite não era tricolor e passa a apertar o Bahia, neste dado momento do jogo acontece o lance capital do jogo, Queirós meia do Botafogo perde uma bola na entrada da grande área para Baiaco, este serve a Douglas que avança Jesum pede a bola mais Douglas resolve abrir para Zé Neto que cai pela direita na linha lateral do meio campo Zé Neto domina e avança Leléu sai ao seu combate e o atacante do Bahia perde o domínio da bola mais ainda em cima da linha lateral domina levanta a cabeça e tenta o lançamento para Miltão na grande área ele chuta a bola sobe muito e vai ao encontro do goleiro Azeitona este sobe com as mãos estiradas para a defesa mais a bola perde força e sua trajetória é mudada pelo vento como num chute estilo “folha seca” ela cai dentro do gol numa falha lamentável do jovem arqueiro que era a maior figura do jogo é gol do Bahia Zé Neto um gol espírita na Fonte Nova desespero dos jogadores do Botafogo, mãos são levadas ás cabeças o diretor do clube Miguel Carneiro não crer no que ver, uma bola fácil um frangaço na Fonte Nova delírio na ala tricolor festa dos mais de 13.532 pagantes daquela noite fria e chuvosa o Bahia vence o seu primeiro grande rival no futebol, Azeitona desolado é consolado pelos companheiros de time o jovem saiu de campo aos prantos era seu primeiro jogo pelos profissionais e uma falha lamentável. Depois deste jogo Azeitona ainda defendeu o Botafogo em outras partidas, depois defendeu o Jequié, Humaitá, Serrano e CSE de Alagoas, em 1990 o conheci pessoalmente quando disputava um campeonato amador na liga de futebol do Luis Anselmo em Salvador no Largo dos Paranhos ao falar da partida ele disse que teve vergonha de sair na rua do bairro onde morava em Cosme de Farias no outro dia e que ficou três noites sem dormir disse-me ele “aquele frango só foi esquecido por todos em 1979 quando Gelson falhou na final do campeonato de 79 pelo Vitória contra o Bahia” Bahia que aliás segundo alguns os três maiores frangos das historia do nosso futebol foram a favor do tricolor de aço: em 1952 o goleiro Rui do Ypiranga leva um frango antológico segundo a época numa cabeçada de Carlito sem a menor pretensão, o de Azeitona em 77 e Gelson em 79.
“É estou lembrado para sempre pelo frango que tomei naquela noite, e não pelas defesas sensacionais que fiz naquela partida; até pênalti do maior jogador do Bahia na época eu defendi, bolas a queima roupa, petardos indefensáveis de Jesum, cabeçadas de Miltão, Zé Augusto, faltas de Fito, mais de nada adiantou o único gol do jogo foi por minha culpa, minha falha pelo menos ainda sou lembrado que ironia: ele sorriu e frisou “ pelo menos não fui acusado de te me vendido como fizeram com o Gelson” falhas acontecem ainda bem que era um jogo de fase de classificação e não uma final como foi com Rui e Gelson “ainda bem, ainda bem”. Ufa!
FICHA DA PARTIDA
BOTAFOGO 0 X 1 BAHIA
FONTE NOVA 20/07/1977 – CAMPEONATO BAIANO DE FUTEBOL
GOL: ZÉ NETO aos 41 minutos do segundo tempo
BOTAFOGO: Azeitona; Anildo, Roberto Oliveira, Vavá e Leléu; Ademilton, Aliomar ( Queirós) e Luciano; Chiquinho (Zé Amaro), Hilton e Sivaldo.
BAHIA; Luis Antonio (Jair); Toninho, Zé Augusto, Sapatão e Romero; Baiaco, Fito (Zé Neto) e Douglas; Jorge Campos, Miltão e Jesum.
Fontes: Texto Galdino Silva
Revista Placar
Arquivo de Jorge San Martis
Excelente narrativa. Mas, a pura verdade é que certas pessoas são mais lembradas pelos erros do que pelos acertos cometidos.
Também joguei futebol profissional nessa época e enfrentar o Bahia com esse timaço era um páreo duríssimo.