Fotos raras de 1965: no dia que o Palmeiras vestiu a ‘Amarelinha’ e bateu a Seleção do Uruguai, no Mineirão!

EM PÉ (esquerda para a direita): Ferruccio Sandoli (dirigente), Djalma Santos, Valdir de Moraes, Valdemar Carabina (Capitão), Dudu, Filpo Nuñez (técnico argentino), Djalma Dias, Ferrari e diretor (não identificado);
AGACHADOS (esquerda para a direita): Romeu (mordomo), Julinho Botelho, Servílio, Tupãzinho, Ademir da Guia, Rinaldo e Reis (massagista).

Em comemoração ao Dia da Independência do Brasil e mais as festividades pela inauguração do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão (naquele momento ainda se chamava Estádio Minas Gerais), foi marcado um amistoso internacional entre as seleções do Brasil e Uruguai.

Pela primeira vez no cenário do futebol nacional, uma equipe brasileira foi convidada para compor toda a delegação do Brasil. Do técnico ao massagista, do goleiro ao ponta-esquerda, incluindo os reservas, o Palmeiras, treinada pelo argentino Filpo Nuñez, é um dos dois estrangeiros a terem comandado a Seleção Brasileira (o outro foi o uruguaio Ramón Platero, na década de 20).

Em meio à época áurea de times como o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha, o Palmeiras, sob critério da extinta CBD, foi escolhido por se tratar da melhor equipe do futebol brasileiro em atividade no período.

Já o Uruguai vinha de classificação para o Mundial de 1966 de forma invicta e apresentava craques como Manicera (que depois desfilou sua técnica no Flamengo), Cincunegui (ídolo no Atlético-MG), Varela, Douksas, Esparrago, entre outros.

Numa partida que entrou para a história do futebol mundial, o Palmeiras goleou a Celeste por 3 a 0. O troféu conquistado pela Seleção ficou na sede da CBD (depois CBF) por exatos 23 anos. Em 1988, decidiu-se pelas partes que o Verdão deveria honrosamente ficar com a taça.

Abaixo como o Jornal dos Sports (principal jornal esportivo do país)destacou essa partida na véspera e no pós-jogo. Boa leitura!

Reportagens na véspera do jogo

Em prosseguimento, ainda, as festividades de inauguração do Estádio Minas Gerais, em Belo Horizonte, o Palmeiras jogará hoje à tarde com a seleção do Uruguai, usando o uniforme da seleção brasileira. A atração do jogo será a presença dos dois mineiros que jogam pelo time paulista: Procópio e Dario.

O argentino Filpo Nuñes, técnico do Palmeiras, informou que a presença de Dario como ponta-de-lança ainda é duvidosa porque o jogador não se encontra em estado físico perfeito, mas que está fazendo todos os esforços para lançá-lo em homenagem aos mineiros. Caso não possa atuar Tupāzinho será mantido. O goleiro Valdir sofreu um princípio de distensão do treino de ontem e fará um teste hoje para confirmar se poderá ou não, jogar.

Treinaram Ontem (segunda-feira, dia 06/09/65)

Os jogadores do Palmeiras, dirigidos por Filpo Nuñez, realizaram individual, bate-bola e dois toques, durante 30 minutos, na manhã de ontem (segunda-feira, dia 06/09), no estádio Minas Gerais e, depois, mais 30 minutos de ginástica. No treino de dois toques um time jogou com camisa contra outro, sem camisa, os com camisas formaram com Ditão (3° irmão com o mesmo nome), Picasso, Julinho, Gildo, Servílio, Ademar e Valdemar Carabina, contra Djalma Dias, Djalma Santos, Procópio, Dudu, Ademir da Guia. Ferrari, Germano e

Zequinha. Os dois times jogaram sem goleiros e o time de Julinho saiu vencedor, com mais de 10 gols, tendo Ademar feito 5.

Durante a meia hora de ginástica, foram poupados Procópio, Djalma Dias, Djalma Santos, Ademir da Guia, Ferrari, Dudu e Servílio, que ficaram batendo bola. O goleiro Valdir logo no início do treino sentiu dores no músculo e foi poupado dos treinamentos. Filpo Nuñez informou que os jogadores estão em boa forma. embora um pouco cansados pela campanha do campeonato paulista, e acredita na vitória sobre os uruguaios.

O Time Para Hoje (07/09/65)

Filpo Nuñez acrescentou que, embora o quadro não tenha grandes problemas, deverá fazer algumas modificações durante a partida a fim de poupar os jogadores. Revelou que, em princípio, Palmeiras jogará com Valdir (Picasso); Djalma Santos e Djalma Dias; Procópio (Valdemar Carabina) e Ferrari; Dudu e Ademir da Guia; Gildo (Julinho), Servílio, Dario (Tupāzinho) e Germano (Rinaldo).

Ontem à tarde a delegação do Palmeiras esteve no Palácio da Liberdade, em visita ao Governador Magalhães Pinto. Na ocasião, o Presidente do clube paulista, St. Delfino Fachina, fez a entrega ao Chefe do Executivo mineiro, de uma placa de prata comemorativa da inauguração do estádio Minas Gerais.

EM PÉ (esquerda para a direita): Juan López Fontana (técnico), Omar Caetano, Héctor Cincunegui, Luis Alberto Varela, Raúl Núñez, Jorge Manicera, Walter Taibo e diretor (não identificado);
AGACHADOS (esquerda para a direita): Horacio Franco, Héctor Salvá, Héctor Silva, Vladas Douksas e Víctor Espárrago.

Uruguaios Chegaram

A Delegação da seleção do Uruguai chegou a Belo Horizonte ontem (segunda-feira, do dia 06 de setembro de 1965), às 23 horas, e o técnico Juan Lopes informou ao JORNAL DOS SPORTS que pretende, hoje pela manhã, levar os jogadores até o estádio Minas Gerais a fim de que conheçam o campo onde jogarão à tarde. Revelou. ainda, que o quadro jogará incompleto em virtude do campeonato uruguaio, pois a maioria dos times não quis ceder mais de dois jogadores para a seleção.

Os uruguaios entrarão em campo com a seguinte equipe: Taibo; Sircumegui, Nuñez, Varela e Caetano; Manizera e Salva; Franco, Silva, Doukzas e Espanero.

Djalma Santos: 90 Jogos

Em virtude de o Palmeiras jogar hoje com a camisa da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), o zagueiro bicampeão mundial, Djalma Santos, completará a sua 90ª partida com a camisa da seleção brasileira.

A expectativa do público para o jogo de hoje é pequena porque, além de não haver festividades como no domingo, como atração, e nem jogar time mineiro, a torcida está se resguardando para os outros jogos, principalmente Santos e seleção mineira. As autoridades preveem para hoje uma renda fraca.

Vantagens de Minas

O estádio de Minas Gerais, que perde em capacidade de público para o Maracanã, tem, entretanto, algumas vantagens sobre ele, pois, enquanto o estádio carioca tem 186.638m2 de área ocupada pelo gramado. pista de atletismo, parque de estacionamento e jardins, o Minas Gerais tem 300.000m2. O estádio mineiro tem alojamento para 400 atletas, enquanto o Maracanã tem apenas 100.

O primeiro jogo noturno quando serão inaugurados, oficialmente, os refletores será entre o Santos e a seleção de Minas, dia 15. O estádio possui 240 projetores, enquanto o Maracanã tem 220.

Palmeiras derrotou Uruguaios com facilidade

BELO HORIZONTE – O Palmeiras, jogando com o uniforme da seleção brasileira, derrotou, ontem, tarde (na terça-feira, do dia 07 de Setembro de 1965), no estádio Minas Gerais, a seleção do Uruguai, num jogo em que foi sempre superior, não tendo vencido por escore mais dilatado em virtude da grande atuação do goleiro Taibo, do escrete uruguaio, e do trabalho de destruição da sua linha de quatro zagueiros.

O Palmeiras jogou uma partida perfeita, terminando por oferecer ao público que compareceu à segunda partida realizada no novo estádio mineiro, ainda em comemoração à sua inauguração, um verdadeiro show de futebol, comandado por Ademir da Guia, absoluto no meio-campo. Outro destaque foi o lateral-direito bicampeão mundial, Djalma Santos, que todas as vezes em que pegava a bola recebia verdadeira ovação do público.

Sempre Melhor

O Palmeiras, desde os primeiros minutos da partida mostrou sua superioridade, evidenciando logo qual seria o resultado do encontro. A seleção uruguaia, apesar de inferior em técnica, entretanto não se entregou de início e seus jogadores procuraram compensar as deficiências técnicas com um grande espírito de luta, competindo bravamente para fugir à derrota que parecia inevitável. Algumas vezes chegou até a linha de defesa do quadro brasileiro, mas Djalma Santos e Djalma Dias, ambos em grande tarde, com facilidade anulavam os ataques.

Com Ademir da Guia dominando inteiramente o meio-campo, bem assessorado por Dudu, a ofensiva brasileira não tinha dificuldades em alcançar a área do adversário e somente não chegou a uma goleada porque o goleiro Taibo veterano da seleção, – estava em tarde de grande inspiração e fez defesas espetaculares.

Além disso, os quatro zagueiros uruguaios, jogando com sobriedade e com boa cobertura, conseguiram, em parte, diminuir o ímpeto da ofensiva palmeirense, embora são conseguisse evitar os dois gols do primeiro tempo.

Primeiros Gols

A primeira etapa do jogo terminou de 2 a 0 para o Palmeiras, gols de Rinaldo, de pênalti, aos 27 minutos, e de Tupãzinho, aos 35. Depois do segundo gol brasileiro a equipe uruguaia esmoreceu um pouco e se concentrou mais na defesa, tentando o ataque, esporadicamente, em lançamentos de profundidade. Nas raras vezes em que o goleiro do Palmeiras, Valdir, foi chamado a intervir, o fez com segurança e categoria.

No primeiro tempo, além de Djalma Santos, Djalma Dias e Ademir da Guia, os atacantes Tupãzinho, Julinho e Rinaldo foram os que mais se destacaram, sendo que Tupãzinho foi o melhor dos três. Os outros, entretanto, também atuaram bem, porém com menos ímpeto.

A Confirmação

No segundo tempo o Palmeiras apenas confirmou sua grande atuação da primeira etapa, embora o uruguaio voltasse um pouco melhor depois de fazer algumas modificações. O Palmeiras também mudou vários jogadores, mas seu ritmo não sofreu solução de continuidade.

O terceiro gol da equipe brasileira veio aos 29 minutos, por intermédio de Germano, que substituiu a Julinho na ponta-direita. Depois desse gol o Palmeiras parece ter perdido o interesse de aumentar o marcador e passou a fazer exibição de futebol, sob os aplausos intensos dos torcedores, que pediam “olé“.

EM PÉ (esquerda para a direita): Juan López Fontana (técnico), Omar Caetano, Héctor Cincunegui, Luis Alberto Varela, Raúl Núñez, Jorge Manicera, Walter Taibo e diretor (não identificado);
AGACHADOS (esquerda para a direita): Horacio Franco, Héctor Salvá, Héctor Silva, Vladas Douksas e Víctor Espárrago.

Preliminar

Na partida preliminar o América, de Belo Horizonte, derrotou o Uberaba, por 5 a 2, tendo o primeiro tempo terminado com um empate de 2 a 2, gols de Mosquito, aos 6 minutos e Dirceu, aos 39, para o América, e Zé Luís, aos 36 minutos, e Sapucaia aos 41, para o Uberaba.

Na etapa complementar, Dirceu, aos 5 minutos; Mosquito, nos 7 minutos e Sabino, aos 13 minutos, ampliaram para o América. Na arbitragem funcionou o Sr. Doraci Jerônimo.

BRASIL (S.E. Palmeiras/SP)     3        X        0        URUGUAI

LOCALEstádio Minas Gerais (atual Mineirão), em Belo Horizonte/MG
CARÁTERAmistoso Internacional  
DATATerça-feira, do dia 07 de setembro de 1965
HORÁRIO15 horas e 15 minutos (De Brasília)
RENDACr$ 49.162.125,00
PÚBLICO44.984 pagantes
ÁRBITROEunápio de Queiroz
AUXILIARESCláudio Magalhães e Frederico Lopes.
BRASILValdir de Moraes (Picasso); Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina (Procópio Cardozo) e Ferrari; Dudu (Zequinha) e Ademir da Guia; Julinho Botelho (Germano) Servílio, Tupãzinho (Ademar Pantera) e Rinaldo (Dario Alegria). Técnico: Filpo Nuñez.
URUGUAIWalter Taibo (Carlos Fogni); Héctor Cincunegui (Miguel de Britos), Jorge Manicera e Luis Alberto Varela; Omar Caetano, Raúl Núñez (Homero Lorda), Héctor Salvá e Horacio Franco; Héctor Silva (Orlando Virgili), Vladas Douksas e Víctor Espárrago (Julio César Morales). Técnico: Juan López Fontana.
GOLSRinaldo, de pênalti, aos 27 minutos (Brasil); Tupãzinho, aos 35 minutos (Brasil), no 1º Tempo. Germano, aos 29 minutos (Brasil ), no 2º Tempo
PRELIMINARAmérica Mineiro 5 x 2 Uberaba.

FOTOS: Acervo Fabiano Rosa Campos

FONTE: Jornal dos Sports (RJ)

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