Foi com enorme alegria que eu li a notícia de que um time da cidade de Epitaciolândia, vizinha de Brasiléia, na divisa com a Bolívia, teve seu pedido de admissão aceito pela assembléia geral da Federação de Futebol do Acre e participará do seu primeiro campeonato profissional. Já fazia tempo que a região precisava desse tipo de iniciativa, várias vezes adiada. De certa forma, a entrada do Alto Acre (é esse o nome da nova equipe) compensa a saída do São Francisco, cuja atitude eu lamentei numa crônica anterior. Compensa e traz alguma vantagem, que é a de integrar, via bola, uma das regiões mais visitadas pelos turistas da capital, sequiosos pelas bugigangas vendidas nos quiosques do outro lado da fronteira. Assim, aos poucos, o campeonato acreano, que um dia não muito remoto no passado foi disputado somente por equipes da capital, começa a se aproximar, verdadeiramente, de uma competição estadual. Agora serão cinco as cidades representadas (Rio Branco, Quinari, Plácido de Castro, Cruzeiro do Sul e Epitaciolândia). Pouco, ainda, mas ganhando corpo. Além da questão da integração, é certo que o interior constitui-se num celeiro de bons valores que, se não houver alguém que os encaminhe para um teste numa equipe profissional, podem passar a vida jogando peladas nos campeonatos municipais amadores, tomando cachaça nos botecos, batendo dominó e caminhando ao redor de uma mesa de sinuca. O exemplo mais recente desses valores vem de Sena Madureira, aqui na beiradinha da capital acreana (cento e quarenta quilômetros apenas de distância), com o atacante que carrega o nome da cidade no sobrenome: Doca Madureira. Depois de algumas temporadas no Rio Branco, ele brilha hoje no futebol da Bulgária. Com direito a gol no You Tube e tudo o mais. A própria Epitaciolândia, assim como Brasiléia (para quem não sabe, já que a internet tem levado os nossos textos cada vez mais longe, são duas cidades, mas é como se fossem apenas uma, dado que a separação entre elas se dá somente por conta de um rio estreito), no tempo do amadorismo as duas legaram inúmeros jogadores maravilhosos para o futebol acreano. Os mais velhos devem lembrar-se de craques como Bruno Couro Velho (dono de uma bomba no pé direito), Aldemir Lopes (malabarista, do qual só se tomava a bola com uma arma em punho), Rui Macaco (ponteiro velocista), Lelê (admirado pelos lançamentos precisos), Canjerê, Hélio Fiesca… Todos tratavam a bola com a maior intimidade do mundo. É isso. Oxalá mais alguma cidade siga o exemplo de Epitaciolândia, em 2011, e também solicite o seu ingresso na primeira divisão do futebol acreano. A ideia é que num dia qualquer do imponderável futuro todos os municípios tenham o seu lugar na mesa do banquete oficial. Articulações novas que possam preencher lacunas de sequências antigas. Oxalá!
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