O Brejuí Esporte Clube foi uma agremiação do Município de Currais Novos (RN). Os “Gaviões de Brejuí” foi Fundado no Sábado, do dia 22 de Janeiro de 1949, pelo dono da empresa Mina Brejuí (iniciou as suas atividades em 1943, mas apenas em 1954, foi constituída empresa com o nome de Mineração Tomaz Salustino S/A), o desembargador Tomaz Salustino Gomes de Melo.
A diretoria era composta por grandes figuras da mineradora como Paulo Dutra, Mário Moacir Porto, Alfredo Luiz de Souza, entre outros. As suas cores: azul marinho, branco e vermelho. A equipe mandava os seus jogos no Estádio Tomaz Salustino (inaugurado no dia 06 de Setembro de 1949), em Currais Novos.
O embrião para a criação do clube surgiu dois meses antes
No domingo, do dia 14 de novembro de 1948, a Minas São Francisco, de propriedade do Sr. João Galdino de Alencar recebeu a Mina Brejuí, do Sr. Tomaz Salustino.
Os times formados por funcionários das empresas se enfrentaram e o São Francisco goleou por 5 a 0. Gols de Xavier, três vezes; Pedro Humberto e Expedito, um tento cada. Apesar do placar elástico, o Sr. Tomaz Salustino não desanimou e dois meses depois fundou o Brejuí Esporte Clube.
Brejuí ajudou a fundar a LCD, em 1949
Após fundar o clube, o Sr. Tomaz Salustino foi peça importante para organizar e ajudar a criar na quarta-feira, do dia 16 de Março de 1949, a Liga Curraisnovense de Desportos (LCD), que teve a presença de quatro clubes: Brejuí Esporte Clube, Seridó Esporte Clube, São Francisco Futebol Clube e Potiguar Esporte Clube.
A diretoria de honra da LCD tinha: o desembargador Tomaz Salustino Gomes de Melo, Sr. João Galdino de Alencar e Coronel Aproniano Pereira. O 1º Presidente foi Wladimir Limeira.
Esta liga existiu até os anos 70, quando a entidade foi reorganizada e Fundada no dia 1º de Janeiro de 1974, com o nome de Liga Desportiva Curraisnovense (LDC), nas cores azul e branca.
O “Pequeno Gigante”
A história do Brejuí poderia ser resumida na seguinte frase: “O time amador mais profissional do Brasil“. Na época era o melhor futebol do interior do Rio Grande do Norte, pagando salário bem superior ao do time paraibano. É bom lembrar que naquele tempo jogador de futebol profissional, ganhava muito pouco, o Brejuí oferecia três vezes mais.
Desta forma o Brejuí Esporte Clube era uma potência no futebol do Rio Grande do Norte, seu presidente e patrocinador o saudoso Tomaz Salustino, fanático pelo futebol, dono da Mina Brejuí (Até hoje a maior Mina de Scheelita da América Latina), homem mais rico do estado e um dos mais ricos do Brasil, não media esforços.
Contratava quem ele quisesse. Mandava trazer das cidades vizinhas e até da Paraíba jogadores famosos para defender as cores do Brejuí. Uma boa história para ilustrar isso, aconteceu após a equipe ter perdido um jogo importante.
Então, o Dr. Tomaz Salustino não gostou e perguntou ao então treinador da equipe, “Seu Binoca”, o que estava acontecendo?
O treinador respondeu: “Está faltando um grande goleiro e um zagueiro”. Então Dr. Tomaz indagou: “Você sabe onde encontrá-los?”. Seu Binoca rebateu: “Sim, Didier e Kelé, do Treze de Campina Grande”.
Era uma segunda-feira, Dr. Tomaz Salustino disse pra Seu Binoca: “Amanhã você vai acertar com os dois jogadores”. Na quarta-feira, Didier e Kelé estavam na Mina Brejuí.
Um detalhe: O zagueiro Kelé veio do Sport Clube Bahia e estava no Treze apenas um ano. No mesmo período o Brejuí contratou o fenomenal Piloto, seleção do Rio Grande do Norte e só não foi para o Flamengo/RJ porque não quis.
O atacante Dequinha tentou levá-lo para o time carioca várias vezes. Com Didier, Kelé e Piloto, o Brejuí conquistou quase todas as competições que disputou, inclusive o time era constantemente convidado para participar de importantes torneios em João Pessoa (PB), Campina Grande (PB), Patos (PB), Guarabira (PB) e Mossoró (RN).
1º amistoso nacional: Brejuí x Treze (PB)
Na quinta-feira, do dia 15 de Novembro de 1951, às 16 horas, o Brejuí enfrentou, em amistoso, o poderoso Treze, de Campina Grande (PB). Num jogo empolgante o “Galo da Borburema” venceu, de virada, por 2 a 1, no Estádio Tomaz Salustino, em Currais Novos.
O jogo começou a todo vapor, com os dois times buscando o gol. Aos 20 minutos, o Brejuí arranca num contra-ataque com Piloto. Este dá passe para Moisés que avança pela ponta direita e entrada da área e solta a bomba, sem chances para o goleiro Harri Carey, abrindo o placar.
Aos 28 minutos, o treinador do Treze sacou Araújo e colocou no seu lugar 58. A mudança surtiu resultado e aos 35 minutos, chegou ao empate. Zequinha centrou na área. O goleiro Gordo falhou e Rozendo aproveitou para empurrar a bola para o fundo das redes.
Aos 43 minutos, o Treze virou o marcador. A defesa bobeou e 58 invadiu a área e fuzilou o goleiro Gordo. Na etapa final, o Brejuí voltou disposto a empatar. Com amplo domínio, foi criando uma chance atrás da outra, mas aí surgiu o goleiro Harri Carey, praticando uma defesa mais difícil do que a outra.
Terminando a partida com 2 a 1 a favor do Treze.
Brejuí: Gordo; Binoca e Maçaroca; Chaguinha, Zé Carvalho e Doca; Moisés, Petit, Sida (Americano), Piloto e Luiz (Solon).
Treze: Harri Carey; Kelé e Felix; Alagoano, Edinho e Zé Pequeno; Zequinha (Amauri), Mario, Araujo (58), Ruivo e Rozendo.
Melhor de três contra o Internacional de Natal
No domingo, do dia 08 de Junho de 1952, o Brejuí goleou o Sport Club Internacional, de Natal, pelo placar de 6 a 1, em Currais Novos. As duas equipes se enfrentariam numa melhor de três jogos para definir quem ficaria com o “Troféu Desembargador Tomaz Salustino“.
A equipe grená que disputava o Campeonato Potiguar da 2ª Divisão daquele ano, saiu de Natal, um dia antes (sábado), às 17 horas, chegando pouco depois de uma hora da madrugada, sendo recebido por membros da diretoria do Brejuí Esporte Clube. A delegação do Inter de Natal ficou hospedado no Grande Hotel, situado na grande cidade de Seridó.
Sob as ordens do árbitro José Bezerra, a partida começou às 15h45min., com o Brejuí tomando a iniciativa do jogo. Aos poucos a equipe grená conseguiu equilibrar a peleja. Mas foi o time local que abriu o marcador. Piloto deu passe para Tico, que cruzou para a extrema direita, onde estava Toinho. Este acossado por Eliezer, levou vantagem e chutou de forma inapelável, sem chances para o goleiro Zé Silva, levando para o intervalo a vantagem para o Brejuí.
Na etapa complementar, com um certo equilibro de parte a parte até que um pênalti de Dromé, a favor dos donos da casa, veio a influir decisivamente na produção do Inter de Natal. O atacante Tico cobrou com classe, ampliando o marcador para o Brejuí.
A partir daí a equipe grená sentiu o golpe e se tornou presa fácil. Assim, o Brejuí marcou mais quatro tentos: Tico marcou mais dois gols (num total de três), Gena e 58 completaram o placar. Mota marcou o tento de honra para o Inter de Natal.
Brejuí: Didié; Zito e Kelé; Zé Carvalho, Doca e Maçaroca; Toinho, Gena, Tico, Piloto e Moisés (58). Técnico: Seu Binoca.
Inter de Natal: Zé Silva; Joca e Eliezer (Dromé, depois Ivan); Luzan, Amauri (Gilvandro, depois Luzan), Mota, Aurino, Béu (Barros Lima), Djalma e Paulomar (Ninil, depois Béu). Técnico: Chagas de Souza.
Inter de Natal goleia e deixa tudo igual
O 2º jogo, aconteceu na tarde de domingo, do dia 27 de Julho de 1952, em Currais Novos. O Brejuí precisava de um simples empate para ficar com a taça. No entanto, O Inter de Natal jogou com autoridade e goleou por 4 a 1, levando a disputa pela taça para o terceiro e último jogo.
Novamente sob a arbitragem do Dr. José Bezerra, deu início a peleja às 15h55min. Os “Gaviões de Brejuí” começaram a todo vapor e logo aos sete minutos, abriram o placar por intermédio de Toinho.
Ao contrário do último jogo, o gol não abalou o Inter de Natal, que cresceu na partida e chegou ao empate aos 14 minutos. Após passe de Béu na medida para Gilvandro, que driblou Zezinho e chutou forte, vencendo a meta de Didié.
A virada aconteceu aos 38 minutos, quando num ataque coordenado a bola chegou par Mota que finalizou com categoria, deixando os visitantes em vantagem.
No segundo tempo, o Inter de Natal seguiu se impondo até aos 14 minutos, aumentar o placar, por intermédio de Gilvandro. O golpe de misericórdia veio aos 31 minutos. O zagueiro Kelé entrou forte em Gilvan, dentro da área. Pênalti, que o próprio Gilvan cobrou com categoria, transformando a vitória em goleada. Aos 42 minutos, Maçaroca “perdeu a cabeça” e tentou atingir Gilvan com um pontapé. O árbitro não titubeou e expulsou o meia do Brejuí, terminando a partida com um jogador a menos.
Brejuí: Didié; Zezinho e Kelé (Doca); Chaguinha, Zé Carvalho e Maçaroca; Helio, Toinho, Piloto, Moisés e Dinorah. Técnico: Seu Binoca.
Inter de Natal: Zé Silva; Dico e Cuica; Ney (Wallace), Djalma e Luzan; Mota, Aurino, Gilvan, Gilvandro e Béu. Técnico: Chagas de Souza.
Brejuí vence e fica com a taça
A 3ª e última peleja aconteceu, na tarde de domingo, do dia 14 de dezembro de 1952, o Brejuí Esporte Clube bateu o Sport Club Internacional de Natal, por 3 a 1, em Currais Novos, ficando em posse do “Troféu Desembargador Tomaz Salustino“. O árbitro da partida foi o Dr. José Bezerra.
O Brejuí abriu o placar aos 10 minutos, por intermédio de Gilvan. Aos 20 minutos, Gena ampliou para os donos da casa. Porém, aos 35 minutos, Mota diminuiu o placar, colocando mais emoção para a etapa complementar.
No segundo tempo, o jogo foi equilibrado, mas após uma jogada infeliz de Luzan, Gena arrancou em velocidade e fuzilou o arqueiro Edson, dando números finais a peleja!
Brejuí: Didié; Kelé e Cuica; Doca, Zé Carvalho e Dico; Moisés, Gena, Tico, Gilvan e Pernambuco (Toinho). Técnico: Seu Binoca.
Inter de Natal: Edson; Djalma e Joca; Valdetário, Josebias e Luzan; Mota, Bira, Abel, Dedé e Béu. Técnico: Chagas de Souza.
Em 1957, Inauguração do Estádio Municipal
A partida entre o ABC de Natal (RN) e o Sport Club do Recife (PE), marcou a inauguração do Estádio Municipal, em Currais Novos. A partida aconteceu, às 16 horas, no Domingo, do dia 06 de Janeiro de 1957.
Graças ao arrojo e boa vontade do Dr. Silvio Salustino foi construído o estádio. No final, numa partida de oito gols, o Sport do Recife venceu o ABC, pelo placar de 5 a 3, ficando com a Taça Mina Brejuí, ofertada pela Mineração Tomaz Salustino S.A. A partida gerou uma renda de 56.030 cruzeiros. Na preliminar, o Currais Novos Esporte Clube goleou por 5 a 0, o Caicó.
O Brejuí Esporte Clube se sagrou Bicampeão do Campeonato Citadino de Currais Novos, em 1956 e 1957.
Declínio acontece na década de 60
Depois que Dr. Tomaz morreu, em 30 de Junho de 1963, aos 83 anos, o Brejuí começou a cair de produção, o time continuou forte, porém sem o brilho de antes. Didier e Kelé foram efetivados como funcionários da Mineração Tomaz Salustino S/A, detentora da Mina Brejuí.
Didier deixou o futebol no começo dos anos 70, foi motorista da empresa, montou um Bar lá mesmo na Mina Brejuí e deixou a Mineração na década de 80. Em Currais Novos, instalou um Mercadinho em sua residência e continuou como motorista, desta feita a serviço dos Postos Toscano, de Siderley Meneses até 2003.
No entanto, apesar de ter perdido a força, o Brejuí Esporte Clube seguiu nas décadas seguintes participando do Campeonato Citadino de Currais Novos, sempre entre os grandes favoritos ao título.
Brejuí venceu o América de Natal
Na segunda-feira, do dia 06 de Setembro de 1971, o Brejuí venceu, em amistoso, o América de Natal, por 1 a 0, em Currais Novos. A partida, que fez parte dos festejos pelo ‘dia do mineiro’, foi realizado na própria Mina Brejuí, uma promoção da Mineração Tomaz Salustino.
Quem foi o Sr. Tomaz Salustino?
O Sr. Tomaz Salustino Gomes de Melo, nasceu no sítio Alívio, no município de Acari (RN), no dia 06 de Setembro de 1880. Representou os municípios de Currais Novos e Florânia, em três legislaturas, além de ter sido deputado estadual na Constituinte de 1915, que reformou a Constituição Estadual do Rio Grande do Norte.
Primeiro Juiz de Direito designado para a comarca de Currais Novos, nomeado Desembargador do Tribunal de Justiça do RN em 1940. Exerceu o cargo de Vice-Governador do Rio Grande do Norte, em 1947.
Tomaz Salustino foi um dos maiores realizadores de sua época no Rio Grande do Norte e do Nordeste, um verdadeiro visionário. Foi o responsável pela construção nas comunicações Campo de Pouso em 1946, e um outro campo de pouso em 1954.
Sem falar na Rádio Brejuí Ltda., Teatro Desembargador Tomaz Salustino, Tungstênio Hotel erguido em 1953, Agência Banco do Brasil S/A, Capela de Santa Tereza, Grupo Escolar Manoel Salustino, Posto de Puericultura, todos na década de 50. Faleceu, no dia 30 de junho de 1963, em Natal.
Algumas formações:
Time base de 1949: Moacir (Gegê); Nicolau e Tinteiro; Maçaroca (Carvalho), Doca (Zé Lindolfo) e Garimpeiro (Eugênio); Geraldo (Mel), Jaime (Cazuza), Gena (Manequim), Fantasma e Xixico.
Time base de 1950: Moacir; Binoca e Cenema; Carvalho, Doca e Maçaroca; Dedé, Toinho, Piloto, Chaguinha e Ranulfo.
Time base de 1951: Gordo (Caruá); Binoca e Maçaroca; Chaguinha, Zé Carvalho e Doca; Moisés, Petit (Toinho), Sida (Americano), Piloto e Luiz (Solon).
Time base de 1952: Didié (Etinha); Kelé (Binoca) e Maçaroca; Chico (Gazeta), Carvalho e Doca (Gena); Tavuga (Toinho), Chaguinha (Raimundo Cruz), 58 (Solon), Moisés (Baiano) e Bidorá (Tico).
Colaborou: Adeilton Alves
Desenho do escudo e uniforme: Sérgio Mello
FONTES: A Cigarra (SP) -Site Mina Brejuí -Ricardo Morais Zip.Net – Blog Escrete de Ouro (Currais Novos/RN) – Luiz Sátiro de Matos – Diário de Natal (RN) – A Ordem (RN)