A aura que envolveu aquele Campeonato Brasileiro da Série C de 1997 foi diferente, de um misticismo que não há como explicar, a não ser pelo sentimento vivido por aqueles que lá estavam. E eu era um deles; a inédita possibilidade de presenciar um momento glorioso de um clube do meu Estado dava o toque ufanista que faltava à essa mistura de sensações…
O Clube já havia passado por uma situação igual em 1972, é verdade, quando vencera a Segundona e fora elevado à elite do futebol brasileiro, com várias pratas da casa em um talentosíssimo elenco. Mas dessa vez era diferente, era algo palpável, discernível, crível e, por que não, indescritível?!
Lembranças de um Estádio Castelão lotado, mesmo em campeonatos locais. Lembranças das “gerais”, já quase extintas Brasil afora e seus personagens emblemáticos, sua “ola”, seus irritantes apitos a confundir a tudo e a todos, seus tradicionais lançamentos de sacos cheios de urina arquibancada abaixo…tempo bom que, apesar de recente, talvez nunca volte.
A irretocável campanha do clube não deixou dúvidas quanto à sua capacidade tática e técnica e força de planejamento. Só que todos esquecem de um detalhe precioso nessas horas; no futebol, depois da bonanza é que vem a tempestade! O plantel seria inevitavelmente desestruturado no ano seguinte, deixando para trás títulos e, com certeza, alguns prejuízos. Mas torcedor não lembra disso; o imediatismo é o maior dos pecados futebolísticos! Nada estragaria aquela festa, e foi o que aconteceu!
Depois de uma 1ª fase mais regionalizada e de árduos confrontos nas fases de “mata-mata”, o time havia chegado invicto no último jogo do Quadrangular Final contra a Francana, de São Paulo. Havia a possibilidade real de igualar o feito histórico e, até então, único do Sport Club Internacional em 1979. Em um Castelão abarrotado com aproximadamente 70.000 “bolivianos”, o Sampaio desfilou talento em gramado timbira, abrindo 2 gols contra nenhum da Francana, que só diminuiria o placar no 2º tempo, com um gol de pênalti. O tempo de jogo estava se exaurindo…a euforia tomava conta de uma enorme platéia sedenta e carente de títulos, mas historicamente amadora do tão refinado esporte bretão.
Foi quando, faltando poucos minutos para o término da partida, um infernal atacante de nome Cal sacramenta a vitória, o título e uma delirante invasão ao campo, tudo de uma só vez! Eram heróis! Talvez até desconhecidos de muitos que ali estavam, mas ainda assim heróis…não tinham idéia da dimensão daquilo que haviam acabado de fazer! A imensa massa tricolor veio abaixo…era mesmo o maior do Maranhão, o maior do Brasil! E pensar que tudo aquilo havia começado entre gente humilde, funcionários fabris, carvoeiros, peladeiros e pescadores, muitos anos atrás…a iniciativa de pioneiros havia construído uma nação, tijolo por tijolo, em três cores intercaladas; o encarnado, o verde e o amarelo.
Saí do estádio com meu pai naquele dia enebriado com o clima do acontecido. Os torcedores sem saber o que fazer, ou mesmo sem acreditar, comemoravam a esmo, como se expressassem a carência de eventos tão gloriosos como aquele. Naquele dia havia virado, definitivamente, mais um “boliviano”. Quem sabe fadado ao sofrimento…mas qual torcedor não é fadado a tal “sorte”? Futebol sem sofrimento não é futebol, é simples mecanismo!
Desde então venho sofrendo, na ânsia de um novo e duradouro período de bonanza, sempre na esperança de que não haja tanta tempestade…
Ramssés Silva.
** BÔNUS:
Vídeos
http://www.youtube.com/watch?v=ESY0omy5EHg
http://www.youtube.com/watch?v=etRUEhB7i5M
http://www.youtube.com/watch?v=EYX4x9SeGUo
Resultados
Primeira Fase
Santa Rosa/PA 0x0 Sampaio
Sampaio 1×0 River/PI
4 de Julho/PI 0x1 Sampaio
Sampaio 4×0 Santa Rosa/PA
Segunda Fase
Sampaio 1×1 Quixadá/CE
Quixadá/CE 0x1 Sampaio
Terceira Fase
Santa Rosa/PA 0x0 Sampaio
Sampaio 3×2 Santa Rosa/PA
Quadrangular Final
Francana/SP 1×1 Sampaio
Sampaio 3×0 Tupi/MG
Sampaio 1×1 Juventus/SP
Juventus/SP 2×2 Sampaio
Tupi/MG 0x1 Sampaio
Sampaio 3×1 Francana/SP
Estatísticas
Jogos: 18
Vitórias: 12
Empates: 6
Derrotas: 0
Gols pró: 31
Gols contra: 11
Saldo de gols: 20
Artilheiro: Marcelo Baron (Sampaio Corrêa): 9 gols
Maior média de Público da Série C 1997.
Maior público (70.000) Sampaio 3×1 Francana
Jogadores
Técnico: Pinho.
Em 1995 ou 96, não lembro bem o ano, editei os melhores momentos do Baron em fita VHS (hoje é DVD) quando ele jogava pela Chapecoense.
Acredito que com este vídeo ele tenha conseguido ingressar no Sampaio. O italiano era gente boa e goleador.
Não sei dizer-lhe onde anda Gelásio, talvez até já tenha parado de jogar.
Sei que o artilheiro Baron hoje em dia é técnico de um clube em sua cidade natal no RS e Cal vive com sua família no RJ, já aposentado como atleta profissional, além de Adãozinho, que também parou.
Já se vão 13 anos desta conquista!
Onde anda Gelásio?
Até pouco tempo, acho que em 2009, o Gelásio estava jogando pelo BAC (Biguaçu AC). Este ano não sei qual equipe ele está, mas recentemente encontrei ele trabalhando num banco em de Biguaçu-SC.