Campeonato Mineiro,uma breve história até a Segunda Guerra Mundial!!!

Arco e Flexa, um jornalista esportivo de prestígio na primeira década do século, em Belo Horizonte, habituou-se ao gesto romântico de comparecer, à redação algumas horas antes de cada jogo do América. Munido de pena e tinteiro, o cronista preparava um comentário de exaltação ao clube, indife
rente ao fato de o jogo não ter sequer começado. Ele deixava em branco apenas o espaço para colocar os números de mais uma vitória.

Foi assim ao longo de uma década de 1916 a 1925. O América valia-se, naquele despertar do futebol mineiro, dos chutes de João Brito, tão potentes como seriam, mais tarde, os petardos de Nelinho e Éder. Kainço aplicava dribles fatais, Francisco Matos fazia gols como se fossem esculpidos por Aleijadinho e Rato evidentemente tinha a formidável habilidade de “ladrão de bola” .
Como se vê, Arco e Flexa jamais pecaria por falta de inspiração. Suas resenhas projetavam a idéia de um América absoluto, que não temia os adversários. E as vitórias se repetiam. As vezes, é verdade, o resultado era apertado, por um gol. Havia ocasiões, entretanto, em que o time chegava à humilhação. Em 1923, por exemplo, massacrou um certo Yale Atlético Clube por 10 x 0. Foi, de fato, uma fase de ouro.

Em 1925, o insuperável América tornou-se decacampeão e perpetuou uma proeza inédita. E, até hoje, não alcançada por outro clube brasileiro em certames regionais.Quando aconteceu a conquista do decacampeonato, os inimigos já estavam totalmente liquidados. Ao fim da terceira rodada do primeiro turno, Atlético, Palestra, Sete de Setembro, Palmeiras, Calafate e Lusitano decidiram, em conjunto, retirar-se da competição. A Liga Mineira de Desportos Terrestres resolveu, então, declarar o América campeão. A ultima partida do alviverde foi contra o Atlético. Não teve graça: o Galo sofreu urna goleada por 4 x 1. Em 1925, a histórica equipe do América era formada por Salim: Tonico e Souza; Del Nero, Tango e Parruda; Leite. Bolívar Sátyro, Osvaldinho e Gauchinho.
O Atletico Mineiro, contudo, recuperou-se no ano seguinte. Deu o troco ao rival na decisão do campeonato. Mário de Castro, um dos maiores fenômenos do futebol brasileiro de todos os tempos, surgia para construir uma fugaz e fulminante carreira. Fez sua estréia na decisão de 1926 e impediu o 11° título consecutivo do América. Na goleada de 6 x 3, ele assinalou três gols. E virou ídolo. Mário de Castro foi um astro do mesmo nivel de Tostão. Mas bem menos responsável: estudante de Medicina, jogava quando queria e às vezes entrava em campo bêbado. Nunca se sabia quando era possível contar com ele. Nem gostava de futebol: preferia o basquete. Movido pelo espírito amador da época, Mário de Castro teve uma carreira curta. Em cinco anos de 1926 a 1931 realizou 100 jogos pelo Atlético e atingiu a extraordinária marca de 185 gols. Até hoje, em Minas, só está atrás de Reinaldo(310), Tostão(276), Dirceu Lopes(201)e Dario (190) .
Relativamente, o velho Mário de Castro é o maior goleador mineiro de todos os tempos. “Não me lembro de ter ficado uma partida sem fazer um gol. ” Quem viu. não se esquece jamais. E conta: ele costumava driblar defesas inteiras antes de acertar as rides. Seus gols saíam sempre no segundo tempo. Em 1929, foi convocado para a Seleção Brasileira. Em vez de correr, eufórico, para a apresentação, quis antes saber se seria titular. A preferência, no entanto, era por Carvalho Leite, do Botafogo. E Mário nem viajou.
Os dirigentes do Atlético ficaram aborrecidos. Para eles, tudo não passava de uma “carïocada” . E desafiaram o Botafogo para um jogo.
Seria a oportunidade de colocar os dois jogadores frente a frente. Não deu outra: Atlético 3 x Botafogo 0, com três gois de Mário de Castro marcados no segundo tempo.
Sua despedida do futebol foi dramática. Em 1931, na decisão do certame, o Atlético jogou com o Villa Nova. Logo de inicio, perdia por 3 x 0. Visivelmente de ressaca, Mário perambulava pelo gramado, sob vaias. No intervalo, vomitou, molhou a cabeça e voltou pisando firme. Fez quatra gols, além de um quinto, anulado pelo juiz. Com a virada, o clima ficou pesado e perigoso. Num lance premeditado, Mário chutou a bola para fora do estádio e iniciou uma fuga pelos vestiários. Houve confusão, briga e tiros de um diretor do Galo matou um torcedor, que o atacara armado de faca. O ídolo ficou contrariado e não quis mais saber de futebol. Como Tostão, trocou a bola por um consultório.

A essa altura, o outrora terrível América não assustava ninguem.O clube não resistiu as mudanças que, aos poucos, eram introduzidas no futebol mineiro. A partir de 1926, os primeiros sinais de profissionalismo já eram nítidos. Embora tivesse inaugurado o profissionalismo marrom em Minas Gerais, o alviverde passou a condenar sua prática mais aberta. E parou no tempo: em 1933, quando acabou o amadorismo, os grandes clubes eram Atlético, Palestra Itália (nome do Cruzei¬ro até 1942) e Villa Nova.O América queixou-se em vão. Em sinal de protesto, trocou até sua tradicional cor verde pela vermelha nas camisas e na bandeira. O alviverde só reapareceu em 1947, um ano antes de seu primeiro título do ciclo profissional.
Sem moralismo, o Palestra aderiu ao profissionalismo marrom em 1928. Para impedir o tricampeonato atleticano (bi em 1927), vasculhou o mercado paulista e contratou jogadores como Morganti, Arnaldo,
Osto, Gutiérrez e Morgantinho. Assim, ficou mais fácil. E a equipe da colônia italiana de Belo Horizonte chegou ao primeiro tricampeonato, em 1930.
De todo o modo, o tri foi conquistado sobretudo graças, a um dos gênios do futebol brasileiro de todos os tempos: Nigínho. Ele despontou ainda adolescente e tinha boa procedência: vinha da família Fantoni, que sempre fornecera craques ao Palestra.Fernando, Nininho, Ninão(artilheiro de 1928), Orlando e Benito torciam pelo rapaz por uma simples razão. Ele era o melhor de todos.

Linídio Fantoni, o Niginho, permaneceu apenas três anos no Palestra. Aos 20 anos, transferiu-se para o Lazio, da Itália, no qual já estavam Nininho e Ninão. Tudo ia bem até que ele se recusou a lutar na guerra contra a Abissínia e teve de retomar ao Brasil. Em 1940, seus gols evitaram que o Palestra entrasse no décimo ano sem título.
Com a Segunda Guerra Mundial, os italianos que viviam no Brasil ficaram em situação difícil. Em Belo Horizonte, eles mudaram nomes de casas comerciais e clubes. Em 1942, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália, o presidente do Palestra, Enes Ciro Poni, tomou uma decisão pessoal. E o Palestra virou Ypiranga. Com esse nome, aliás, o time fez apenas um jogo e perdeu para o Atlético por 2 x 0. Dez dias depois, a diretoria convocou unia reunião em repúdio à atitude solitária de Poni. E resolveu que o clube se chamaria definitivamente Cruzeiro.

Fonte:Placar

Um comentário em “Campeonato Mineiro,uma breve história até a Segunda Guerra Mundial!!!

  1. Carlos Eduardo Magalhães

    Só uma ressalva.
    O Ipiranga não so mudou de nome ckmo fechou as portas, pelo menos no papel.

    O cruzeiro cair? extinto? Sendo que já foi até Refundado!!

    Isso aconteceu em 1942 quando se chamava Ipiranga, onde doou todos troféus e taças para campanha do metal na segunda guerra Mundial, ou seja todos os títulos até 1942 deixaram de existir pois o Ipiranga fechou as portas

    De palestra 1921″ a Ipiranga 1942-|-

    Fonte: livros PDF
    1 A Lucta de Titans.
    2 Clássico dos clássicos das alterosas mineiras.
    Segue os artigos, um deles é a pag 167.
    https://gefut.files.wordpress.com/2012/11/a-lucta-dos-titans.pdf

    http://www.scielo.br/pdf/rbefe/v30n3/1807-5509-rbefe-30-03-0703.pdf

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