América, campeão carioca de 1913!!!

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O ano de 1913 foi um ano agitado no América, com muitas alegrias e algumas decepções. O fato marcante foi a conquista do título máximo, pela primeira vez na história do clube, assunto que merece, por isso, prioridade em nosso relato.
O campeonato foi difícil e disputadíssimo. Participaram, na ordem da classificação final obtida, América, Botafogo e Flamengo, Paissandu, Fluminense, São Cristóvão, Atlético Clube, Rio Cricket, Esporte Clube Americano, Bangu e Mangueira. Os três últimos, de acordo com a nova regulamentação do certame, foram desclassificados ao fim do 1° turno e não participaram da segunda etapa.

Eis um ligeiro resumo da vitoriosa campanha:

1° jogo: Foi no sábado 3 de maio que estreamos no campeonato, vencendo amplamente em Campos Sales ao Americano por 9 x 1. Nossa equipe estava formada por Marcos, Belfort e Luís; Mendes, Jônatas e Lincoln Soares; Witte, José Moreira da Silva (o Juquinha), Ojeda, Álvaro Cardoso e Celso Pedra Pires
(o Aleluia). Os tentos foram assinalados por Álvaro (3), Juquinha (3), Ojeda (2) e Aleluia. Como novidade, foi nessa partida adotado o sistema de separarem-se as torcidas dos dois contendores: a diretoria do América, para evitar os costumeiros desentendimentos entre assistentes, reservou um setor nas arquibancadas, isolado por grossas cordas, para os associados do clube. A medida teve excelente receptividade, tanto que foi imitada, a partir de então, nos demais campos da cidade.

2° jogo: No dia 11 de maio, no campo do Fluminense, derrotamos ao Mangueira por 5 x 0. O placar dilatado não diz como foi difícil a partida, sobretudo na primeira etapa, quando, ajudados pelo árbitro, os mangueirenses opuseram tenaz resistência, não nos permitindo obter mais do que a vantagem mínima. Na fase complementar é que, melhor entrosado, o ataque rubro marcou os quatro tentos que consolidaram o triunfo. A equipe foi a mesma da semana anterior e os tentos foram consignados por Ojeda (2), Juquinha, Aleluia e Álvaro.

3° jogo: O São Cristóvão compareceu a Campos Sales credenciado por brilhante vitória, obtida na rodada anterior sobre o Flamengo. Mas não conseguiu resistir à maior pujança do time americano. Vencemos, com tranqüilidade, por 7 x 1, a 18 de maio. No lugar de Álvaro, estreou Osman Medeiros, dono de possante canhota, que, comprovando suas qualidades de artilheiro, foi o autor de dois gols.
Os outros foram assinalados por Juquinha (3), Jônatas e Witte.

4° jogo: Com a equipe completa (Gabriel reapareceu no lugar de Osman), pela primeira vez no campeonato, a 1° de Junho, defrontamos o poderoso Fluminense, em seu próprio campo, à Rua Guanabara. Foi um dos mais sensacionais confrontos do certame, e terminou com a vitória dos rubros por 3 x 1. Gabriel fez dois gois e Ojeda completou o escore.

5° jogo: Esse era um dos compromissos mais temidos, menos pelo valor técnico do Rio Cricket, do que pelo mal hábito que os chamados “ingleses de Niterói” tinham, de jogar sempre bem contra nós.Realizou-se a 8 de junho, em nosso campo. De fato, com seu goleiro em dia de graça e ajudados pelas copiosas chuvas que alagaram o gramado, nossos adversários venderam caro a derrota, não nos permitindo ir além de um modesto 1 x 0. Gabriel foi o marcador. Osman jogou no lugar de Aleluia, na ponta esquerda.

6° jogo: Ao Botafogo coube quebrar nossa invencibilidade, derrotando-nos, em General Severiano, a 6 de julho, por 2 x 0. Jogamos completos, isto é, com Marcos, Luís e Belfort; Mendes, Jônatas e Lincoln; Witte, Juquinha, Ojeda, Ga¬briel e Aleluia.

7° jogo: Em Campos Sales, a 3 de agosto, contra o Bangu. Não tivemos maior dificuldade em sobrepujar o alvirrubro por 3 x 0, tentos de Ojeda, Luís e Aleluia. Juquinha, lesionado, não jogou, sendo substituído por Osman. Só na derradeira partida do certame, aliás, voltamos a contar com a participação do nosso dedicado meia-direita.

8° jogo: Ainda em Campos Sales, a 10 de agosto, sob forte temporal, vencemos ao Paissandu por 3 x 0. A equipe foi a mesma da semana anterior, cabendo a feitoria dos tentos a Gabriel (2) e Ojeda.

9° jogo: Encerrando o 1°turno, enfrentamos, no dia 31 de agosto, em Campos Sales, ao Flamengo, derrotando-o por 1 x 0. Foi uma das vitórias mais difíceis, decidida graças a certeira cabeçada de Ojeda. A saída simbólica, para o 2.° tempo, foi dada pelo Dr. A. Irarrazagabal, Ministro do Chile, por convite especial dos litigantes.O certame foi, então, interrompido, durante o mês de setembro, para que pudéssemos hospedar a seleção chilena.

Nossa primeira apresentação, no returno, estava marcada para 5 de outubro, quando enfrentaríamos o São Cristóvão. Acontece, entretanto, que o clube alvo indicou para local da partida o terreno público da então Praça Marechal Deodoro, conhecido ainda hoje como Campo de São Cristóvão. Era um campo sem a menor segurança, onde, sete dias antes, se desenrolaram cenas lamentáveis, com brigas, invasão do gramado, etc.
O América, muito justificadamente, recusou-se a comparecer. Até porque, a própria Liga tinha por princípio não aprovar campos que não fossem cercados, e não era certo abrir exceção em prejuízo do América, a quem, em 1910, ela recusara referendar o campo da Rua Sergipe. A celeuma foi enorme e só tivemos ganho de causa devido à ação enérgica dos dirigentes rubros. Nova partida foi marcada para 23 de novembro, ao término do campeonato.

10° jogo: Foi contra o Fluminense, a 12 de outubro, em, Campos Sales. Fizemos um primeiro tempo avassalador, marcando ampla vantagem por 4 x 1. Na etapa final, entretanto, o adversário reagiu e, não fora a extraordinária atuação de Marcos, talvez a vitória até nos escapasse. O resultado final foi de 5 x 4, a nosso favor, gols de Osman (2), Ojeda, Gabriel e Witte. Segundo a opinião geral dos jornais da época, o primeiro gol do Fluminense foi um presente do árbitro, pois a bola não chegou a ultrapassar a última linha.

11°jogo: Outra vez, o Botafogo interrompeu nossa marcha vitoriosa, a 26 de outubro, derrotando-nos, em General Severiano, por 1 x 0. Marcos falhou no tento alvinegro, mas o peso da derrota deve ser repartido com o ataque, cuja produção, nessa tarde, foi decepcionante. Nossa equipe foi a mesma da partida contra o Fluminense: Marcos, Luís e Belfort; Mendes, Jônatas e Lincoln; Witte, Gabriel, Ojeda, Osman e Aleluia.

12° jogo: Marcado para 1.° de novembro, deixou de ser realizado, porque o adversário, o Paissandu, fez, antecipadamente, a entrega dos pontos.

13° jogo: Não foi sem receio que atravessamos a Baía de Guanabara, para enfrentar o Rio Cricket, a 9 de novembro. Chovia a cântaros, o que não era novidade. Pior é que estávamos desfalcados de Jônatas e Aleluia. Seus substitutos foram, respectivamente, De Paiva e Paula Ramos, dois nomes que evocamos com a mais comovida emoção, símbolos que vieram a se tornar do entusiasmo e do ardor na defesa do América. A duras penas, vencemos por 2 x 1, gois de Osman e Paula Ramos.

14° jogo: A 18 de novembro, no campo do Botafogo, sofremos a terceira derrota, na temporada. Caímos diante do Flamengo por 1 x 0. Jogamos sem Jônatas, que, aliás, não disputou nenhuma outra partida nesse campeonato, sempre substituído por De Paiva.

15° jogo: Mesmo com a derrota para o Flamengo, continuamos na liderança e bastaria um empate, no derradeiro compromisso, para termos garantido o cobiçado laurel de campeões cariocas de 1913. Faltava-nos enfrentar o São Cristóvão, em cumprimento à partida transferida do dia 5 de outubro.
Mas os grandes interessados eram o Flamengo e o Botafogo, que, distantes dois pontos do primeiro posto, que ocupávamos, isolados, torciam para um descuido do América, que lhes permitiria igualarem-se a nós, em um tríplice empate.
A partida foi jogada no campo do Botafogo, a 23 de Novembro. Sem Marcos, Luís, Mendes, Jônatas e Aleluia, que, por motivo que não tardaremos a revelar, deixaram de comparecer ao campo, tivemos de improvisar a equipe: César Fagundes, Paula Ramos e Belfort; De Paiva, Lincoln e Berthelot; Witte, Juquinha, Ojeda, Osman e Gabriel. A derrota, por 1 x 0, nessas condições, não chegou a surpreender.

Mas não foi o fim de nossas esperanças. Essas ressurgiram, dois dias depois, ao ser comprovado que nossos adversários haviam incluído um jogador não registrado na Liga, José Amarante Camarinha Filho, fazendo-o passar por seu irmão Artur, este, sim, legalmente inscrito. A diretoria americana agiu pronta e eficazmente na defesa dos interesses do clube. Impetrou enérgico recurso, fundamentado em duas provas irretorquíveis: o testemunho do próprio presidente da Liga, a quem José Camarinha confessou a fraude; e a súmula do jogo, rasurada, na calada da noite, com a anteposição de um “A” ao nome do jogador, que o capitão do time, conforme o costume, grafara abreviadamente, como “Camarinha” apenas.

O julgamento foi marcado para a noite de 26. Segundo o Correio da Manhã, do dia seguinte, “uma verdadeira multidão de desportistas interessados na solução do caso acotovelava-se na pequena sala da LMSA e nos seus corredores”. Também na sede do América, a expectativa era imensa. Os debates foram acalorados, após os quais ficou aprovada a anulação da partida, por 8 votos contra 2. Discordaram, apenas, o Vila Isabel Futebol Clube e o próprio América, que pleiteava, como direito líquido e certo, os dois pontos, conforme rezavam os estatutos da Liga.
A nova partida foi marcada para 30 do mesmo mês de novembro, no campo do Fluminense. Com as tribunas completamente lotadas, disputou-se, então, renhido combate, à altura de sua importância. O América formou apenas sem Jônatas: Marcos, Luís e Belfort; Mendes, Lincoln e Berthelot; Witte, Gabriel, Ojeda, Juquinha e Aleluia. Aos 8 minutos do primeiro período, Gabriel marcou o único tento do cotejo, dando a vitória e, mais do que ela, o título de campeão carioca de 1913 ao América.

Fonte:Campos Salles,118

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