Esporte Clube Valim – Rio de Janeiro (RJ): “Escola de Futebol e Alfabetização”

O Esporte Clube Valim é uma agremiação da cidade do Rio de Janeiro (RJ). O Alvianil foi Fundado no Sábado, do dia 1º de Outubro de 1927, pelos irmãos da família Valim: Faustino, Brasilino Cipriano, Hélio, entre outros. A sua Sede atual (que na realidade se resume a uma quadra de poliesportiva acanhada), fica localizado na Rua Padre Ildefonso Penalba, nº 470, no Bairro Todos os Santos, na Zona Norte do Rio.

A Sua 1ª Sede e a Praça de Esportes ficava na Rua Ferreira de Andrade (Esquina com a Rua Rocha Pita), nº 99 (depois passou para o número de 395), no Bairro do Méier, na Zona Norte do Rio. Como referencia para aqueles que tenham a curiosidade em saber aonde ficava esse campo (endereço acima). Se entrar no ‘Google Maps’, o campo ficava do lado da Igreja N. S. Aparecida do Méier.

Aspecto do Auditório do clube

Ações Sociais: um marco do E.C. Valim

No início, a construção do campo não foi nada fácil. Afinal, o local era um brejo perigosíssimo, infecto e transmissor de moléstias ao povo adjacente. Com muita dificuldade, a Praça de Esportes foi erguida.

Na década de 30, o clube possuía mais mil sócios não por acaso. O Valim desenvolveu diversas ações sociais com as crianças e adolescentes da localidade. Além do futebol, que era o ‘carro-chefe’, também foi criada a Associação de Escoteiros, com fornecimento de vestimentas às crianças pobres.

Quadra de Basquete e Voleibol

Ou ação social bacana, era no período dos Natais, quando o clube realizava farta distribuições de tecidos (para que as famílias pudessem produzir roupas para os seus entes queridos) e mantimentos. O Esporte Clube Valim também colaborou com a sua vizinha: Igreja N. S. Aparecida do Méier. Para ajudar a instituição religiosa o clube construiu um teatrinho para ser uma fonte de renda! E o resultado funcionou e a Igreja no ano seguinte pode remodelar toda a Igreja.

Além disso, o Valim permitia, sem nenhum custo, que as suas instalações fossem utilizadas para exercícios dos alunos do Tiro de Guerra, nº 77, no Cachambi, e também para os soldados do 3º Batalhão da Polícia Militar. Em 1938, criou o curso Particular de Instrução, com material de expediente escolar, tudo inteiramente grátis. Depois o curso passou a se chamar: Instituto Valim, registrado sob o número 1.238. O curso recebia excedentes das Escolas Municipais.

Vista parcial do campo

As artes cênicas também tinha espaço, uma vez que o clube contava com um grupo artístico, que faziam exibições no auditório, com capacidade para 600 pessoas sentadas (a sua construção custou Cr$ 250 mil cruzeiros).  Uma curiosidade. Na Sede do clube existia um departamento médico, algo incomum para aquela época, sobretudo, nos clubes de segunda categoria.

Uma das salas de aulas

Um clube Poliesportivo

Na esfera esportiva, o Valim também possuía opções para a inclusão social da garotada. Além do futebol, nas instalações também contavam com Basquete, Voleibol, Atletismo, Ping-Pong (atual Tênis de Mesa), jogos de Salão (futebol de salão e atualmente chamado de Futsal).

Não era o simples fato de ter essas modalidades, mas também o clube federou todas: Federação Atlética Suburbana; Liga Suburbana de Basquete; Liga Suburbana de Voleibol; Liga de Esportes do Rio de Janeiro; Federação Metropolitana de Atletismo. No futebol o Valim se filiou a Liga Carioca de Futebol (LCF); e, posteriormente, na década de 40, se filiou ao Departamento Autônomo, uma sub-liga da Federação Metropolitana de Futebol.

Campeão de 1946

No futebol, o Esporte Clube Valim obteve resultados que merecem registro. Entre o final de 1941 até o fim 1942, o clube jogou 55 partidas, sem nenhuma derrota. Depois sagrou campeão da Federação Metropolitana de Futebol, em 1946.

Ameaça de Despejo virou uma odisséia

Nos anos 30 e 40, o Valim viveu a ameaça de perder a sua sede. O motivo era que o terreno pertenceu a três proprietários, destacando-se Darke Bhering de Oliveira Mattos, que presidiu o Botafogo Football Club, em 1936. Enquanto vida teve sempre consentiu que o clube permanecesse instalado na Sede e na Praça de Esportes na Rua Ferreira de Andrade, nº 99 (depois passou para o número de 395), no Bairro do Méier.

No entanto, na década de 40, o local passou para as mãos do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE), que exigiu a saída do Esporte Clube Valim, a fim de construir no local edifício no local.

A disputa teve um entrave judicial, onde o IPASE moveu uma ação de despejo. Em 11 de Maio de 1949, o juiz da 3ª Vara da Fazenda Publica, deu ganho de causa ao IPASE. O Valim foi intimado a deixar o local no prazo de seis meses (até o dia 19 de novembro de 1949).

No entanto, paralelamente a esse tramite, o Valim já tinha entrado em 1947, junto a Prefeitura do Distrito Federal, um processo de desapropriação (ficha 8.887 de 1948 do gabinete de S. excia. o Sr. Prefeito, o Marechal Ângelo Mendes de Morais, que governou de 16 de junho de 1947 a 24 de abril de 1951).

Naquela época alguns clubes se utilizaram desse processo com êxito. Naquele instante, com já tinha percorrido todos os tramites legais, o Valim só dependia da conclusão e da assinatura do Prefeito para “virar o jogo”.

Então, como num filme hollywoodiano, restando um dia para ser despejado, uma luz no final do túnel se acendeu. Na sexta-feira, do dia 18 de novembro de 1949, o juiz Tiago Pontes da 3ª Vara da Fazenda Publica, resolveu sustar a execução.

No entanto, um mês depois os advogados do IPASE derrubaram a suspensão. Diante desse quadro, o Valim voltou a depender da boa vontade do Prefeito Ângelo Mendes de Morais. Então, nessa odisséia, no dia 30 de dezembro, foi aceito um mandato de segurança.

O desembargador Sampaio da Costa, baseando-se na lei municipal nº 424, de 29 de novembro de 1949, sancionada pelo prefeito Mendes de Morais, aceitou a medida que veio a salvar o Valim da extinção. O despejo estava marcado para acontecer no dia 02 de janeiro de 1950.

Após idas e vindas, finalmente essa história teve um desfecho. Pena que desfavorável ao Valim. No dia 28 de março de 1950, foi executado o despejo do clube e a demolição da Sede e escola. Não foi apenas limar de um clube, mas também deixaram 300 alunos sem aula, pois existia uma escola na sede do Valim.

O duro recomeço

Naquela época, diversos clubes cariocas foram extintos com a desapropriação da sua e/ou campo pelo mesmo motivo do Valim. Então, por quê o clube sobreviveu?

Ao contrário das outras histórias com um triste fim, o Esporte Clube Valim virou notícia! Diversos jornais daquela época, sensibilizadas com a forma como a ação era feito pelo IPASE, realizaram diversas reportagens condenando o despejo.

Assim, rapidamente os moradores dos bairros adjacentes ao clube ficaram indignados com o processo e passaram a defender o Valim. Mesmo com a decisão desfavorável, o pós despejo o clube recebeu apoio e ajuda de diversos lugares como os clubes, sócios, moradores e apoio da mídia, o que deu uma sobrevida ao clube.

Os clubes filiados a Federação Metropolitana de Futebol (FMF), por exemplo, deram um auxílio ao Valim, no valor de Cr$ 5.000,00 para ajuda no transporte de seus materiais do depósito público para a sede provisória.

Um mês após a desapropriação, as constantes reportagens começaram a surtir efeito. O Prefeito, o Marechal Ângelo Mendes de Morais, enfim prometeu ajudar, a Câmara Municipal também fez coro em defesa do Valim.

Após muitas promessas, o Valim obteve outro espaço para montar a sua nova Sede: Rua Padre Ildefonso Penalba, nº 470, no Bairro Todos os Santos, onde o clube está até hoje.

Apesar de ser um espaço menor, a popularidade do clube estava em alta. O número de sócios girava em torno de 1.000.  Mesmo diante de uma realidade mais modesta, o clube seguiu com o ideal de educar! Com isso, ganhou uma justa frase: “Valim, Escola de Futebol e Alfabetização“.

Para se ter uma ideia da comoção que o Valim recebeu do país, o clube recebeu uma “chuva” de convites para excursionar  pelo Brasil. O Alvianil do Méier viajou para Minas Gerais, Corumbá (Na época Matogrosso e atualmente Mato Grosso do Sul), entre outros.

O clube seguiu participando do Departamento Autônomo, mas diante de uma realidade mais modesta. Durante décadas, a Associação de Moradores do Méier e o clube criaram um laço de união! Todos os eventos eram realizado no Valim.

Time-base de 1943: Hermes; João e Jaú; Bandeira, Brandão e Vadinho; Lindo, Roberto, Brasilino, Paco e Neném. Técnico: Sylvio Valim.

FONTES: Amanhã – Diário de Notícias – Gazetas de Notícias – Jornal dos Sports – Diário Carioca

3 pensou em “Esporte Clube Valim – Rio de Janeiro (RJ): “Escola de Futebol e Alfabetização”

  1. Juscelino de Mello Baptista

    Eu penso que o Esporte Clube Vallim, tem condições plenas de formas equipes em diversas categorias e voltar a ter relacionamentos futebolísticos com os diversos clubes que ainda resistem ao tempo , começando com jogos amistosos dentro e fora de casa, e quem sabe voltar a disputar campeonatos federativos .Eu mesmo já representei o Vallim, jogando fora de casa. O Humberto, me conhece há muito tempo, sabe como eu TORÇO para que o clube volte a ser destaque nas modalidades esportivas do momento. Um pouco de divulgação na mídia é também um fator importante. No mais sucesso e sabedoria à quem de Direito nessa missão.

  2. Helio Rodrigues Valim

    Parabéns pela reportagem, há muito tempo, tenho procurado material sobre o Esporte Clube Valim na Internet e não tinha encontrado material tão completo. Faço parte da segunda geração, meu pai, já falecido, é o Helio Valim, que, nas fotos, aparece ao lado de meus tios.
    Continuem nesse trabalho de resgate da história dos times/clubes dos subúrbio do Rio. Hoje os clubes perderam seu papel social, esportivo, cultural e comunitário que possuíam. Infelizmente!
    Um grande abraço,

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