Torneio João Todeschini de 1954, em Curitiba (PR): Athletico Paranaense foi campeão invicto!

EM PÉ (esquerda para direita): Cesquin, Betine, Ubirajara, Damião, Silas e Belfare;
AGACHADOS (esquerda para direita): Boluca, Sano, Lobatinho, Erádio e Alcione.

O Torneio Triangular foi batizado de João Todeschini, onde foi confeccionado um rico troféu que levou o nome de um dos grandes batalhadores do Esporte Clube Água Verde

O formato do torneio consistiu com a participação de três equipes (todos da capital): Club Athletico Paranaense, Coritiba Foot Ball Club e Esporte Clube Água Verde. O regulamento era simples, com as equipes sem enfrentando em turno e returno, com a equipe com o maior número de pontos ficaria com o título.

O mau tempo atrapalhou alguns jogos, mas o Clássico Atletiba foi marcado por muitos gols (16 tentos em dois jogos) e jogadas violentas, que resultou numa pancadaria entre todos os jogadores. Abaixo, na íntegra a reportagem do Paraná Esportivo:

Desandou o “Pau” no “Alto da Glória”:

“Show” Sem bola após a vitória do Athletico”

Os 22 jogadores se engalfinharam no gramado – Invadiu o público e a briga se generalizou – Vencia o Athletico por 4 x 0 – Renda Cr$ 7.250,00

Decididamente o torneio triangular “João Todeschini” está fadado a apresentar surpresas no final dos seus cotejos. Como acontecera nas partidas Athletico x Água Verde e Coritiba x Água Verde, também o clássico Atle-Tiba não teve desculpa.

Vencendo facilmente pela larga contagem de 4 x 0, com prenuncio de alta goleada, o Athletico acabou vitoriando-se espertamente por 4 a 3, depois de uma reação brilhante do Coritiba nos minutos finais da partida.

PASSEIO ATHLETICANO

Realmente a primeira fase e metade do segundo período foi todo do Athletico. Dominando melhor a pelota e atuando com mais senso prático, ο quadro dirigido por Vico não encontrou dificuldade de aparecer com maior figura dentro do gramado.

Na verdade, o rubro-negro foi o único esquadrão a jogar praticamente o futebol, tomando as rédeas da partida, sem qualquer apelação para o seu adversário. O Coritiba esteve ruim neste período. Não se encontrou no gramado e chegou a dar pena da sua constituição.

Desarvorado e sem noção do que fazia, o alvinegro apenas corria atrás da pelota, sem, contudo, da definição do seu futebol; aquele que esteve presente domingo passado no Orestes Thá.

A defesa desarticulada e o ataque sem potencialidade, nada mais se podia esperar do onze dirigido por Nuno Fernandes. Por seu turno o Athletico não deixou dúvidas da sua superioridade; jogando bem e aproveitando as falhas dos seus adversários, foi se agigantando no gramado até atingir o alto placar de 4 x 0.

REAÇÃO DO CORITIBA

Veio tarde a reação do Coritiba, mas surgiu com uma fúria inesperada; porque aquela altura da partida, ninguém tinha duvida da goleada que o Athletico ensaiava. Surgiu o primeiro tento do Coritiba e com ele a reação do Alvinegro (O Coritiba tinha essa alcunha assim como o “Globo Simbólico”).

Marcou mais um e depois o terceiro, perigando no final da partida a vitória atleticana. De fato, uma nota alta para o valor de luta do Coritiba, que soube como reagir com unhas e dentes em procura de um resultado melhor, que aos seus defensores não poderia ser aquela que espelhava o marcador.

Erádio marcou os quatro gols. No final, terminou como artilheiro do Torneio

ERÁDIO  O ARTILHEIRO

A grande figura do Athletico foi indiscutivelmente o meia Erádio . Marcou quatro tentos e teve nítida presença no gramado. Em verdade muita gente foi ver Ivo e acabaram observando Erádio . Aos 11 minutos da primeira fase o artilheiro abriu a contagem, num gol espetacular, depois de fintar Fabio.

Aos 33 minutos novamente Erádio , num rebote depois da pelota atirada por Sano ter encontrada a trave. Aos 37, novamente assinalou numa jogada toda individual. Com 3 x 0 encerrou-se a primeira fase.

No segundo período, logo de início no seu primeiro minuto, Erádio  atirou fora da área para marcar, falhando o arqueiro Hamilton. Somente aos 33 minutos que o Coritiba assinalou o seu primeiro tento, por intermédio de Periquito. Aos 40 minutos, Ivo num ‘mele’ determina a segunda queda. Para novamente Ivo aos 44 escorando de cabeça um centro, marcar o terceiro gol.

IVO PERDEU UMA PENALIDADE

Quando eram decorridos 13 minutos da segunda fase, Ivo foi incumbido de cobrar uma penalidade máxima, atirando com infelicidade, encontrando a esfera o travessão superior da meta de Ivan.

ATUAÇÕES DOS JOGADORES E ARBITRAGEM

O quadro do Athletico, apresentou uma defesa seguríssima, despontando Damião, Betine e Ubirajara. O ataque muito malicioso onde Erádio  foi a grande figura, formando uma ala muito perigosa com Alcione. Os demais em pleno destacado.

O quadro do Coritiba só apareceu nos 15 minutos finais. No início esteve abaixo da crítica. Na defesa somente Fedato. O ataque sem expressão, nem mesmo Miltinho conseguiu salvar-se. Na reação melhorou a defesa, o ataque apareceu melhor, fazendo Ivo então uma regular atuação. Note-se que Ivo não agradou na sua exibição.

O árbitro sr. José Ferreira dos Santos, com atuação que não passa de regular. Não foi potente para segurar o jogo pesado, redundando no sururu após o cotejo. Renda de Cr$ 7.250,00, considerada regular, em vista do mau tempo reinante.

SURURU’ NO FINAL DO PRÉLIO

Quando o árbitro trilou o seu apito dando por encerrado o cotejo, Erádio  e Marcio trocaram socos, redundando um conflito geral, entrando todos os jogadores em luta, no gramado, adicionando ainda a torcida que invadiu o campo.

Um sururu de altas proporções. Pena que isto tivesse acontecido, empanando o brilho da ardente disputa que se antecedia. E pena ainda que o cotejo estivesse tão mal serviço pelo policiamento.

Curiosidade

Essa partida realizada no Estádio Belford Duarte, que foi inaugurado na terça-feira, do dia 15 de novembro de 1932. Esse foi o seu 1º nome. Após reforma em 1977, mudou o nome para “Major Antônio Couto Pereira”, que encontrou o terreno e o financiou pela Caixa Econômica Federal (CEF).

CORITIBA F.C. (PR)         3        X        4        ATHLETICO PARANAENSE (PR)

LOCALEstádio Belford Duarte, no Alto da Glória, em Curitiba/PR
CARÁTERTorneio João Todeschini
DATAQuarta-feira, do dia 17 de março de 1954
HORÁRIO20 horas e 30 minutos (de Brasília)
RENDACr$ 7.250,00
PÚBLICONão divulgado
ÁRBITROJosé Ferreira dos Santos (FPF)
AUXILIARESMoacir Lanzoni (FPF) e José Filizola (FPF)
CORITIBAHamilton; Fedato e Araujo; Fabio (Marcio), Guimarães e Merlim; Ari, Miltinho, Periquito, Ivo e Renatinho. Técnico: Nuno Fernandes
ATHLETICOIvan; Damião e Cesquim; Belfare, Betine e Ubirajara; Boluca, Sano, Lobatinho, Erádio  e Alcione. Técnico: Vico
GOLSErádio  aos 11, 33 e 37 minutos (Athletico), no 1º Tempo. Erádio  a 1 minuto (Athletico); Periquito aos 33 minutos (Coritiba); Ivo aos 40 e 44 minutos (Coritiba), no 2º Tempo.

ATHLETICO, DE VIRADA, GOLEIA O COXA E FICA COM O TÍTULO

Dez dias depois, a última partida reuniu novamente as duas equipes. O Athletico só dependia de um simples empate para ficar com o título. Já o Coritiba precisava vencer para se igualar no número de pontos.

No final, após estar perdendo por 3 a 1, já no segundo tempo, o Furacão fez uma virada sensacional, chegando ao placar de 6 a 3, ficando com o título invicto com 100% de aproveitamento. Abaixo, novamente na íntegra, a reportagem do Paraná Esportivo:   

“Show” de Aniversário na Baixada

Larga e bonita vitória do Athletico, confirmando o seu triunfo absoluto no Torneio “João Tedeschini” – Cr$ 15.530,00 – Outros detalhes

No epilogo do Torneio João Todeschini, uma vitória larga, bonita e espetacular do Athletico sobre o Coritiba F. C., seu mais antigo e tradicional adversário. Escore muito alto, de 6 x 3, e que teve, entre tantos méritos, o de ratificar em tudo a sua campanha invicta dentro do Torneio, que, pode-se dizer, levantou de ponta a ponta, sem ninguém a lhe atrapalhar a caminhada.

Uma satisfação das maiores para a gente Athleticana, que presenciou empolgada uma exibição extra dos seus jogadores, que a rigor, sem menosprezo algum ao grande adversário ofereceram um autêntico “show” de aniversário, comemorando assim, condignamente, a passagem do seu 30º aniversário de fundação (26 de março de 1924).

Depois de alternativas várias, com o Coritiba inclusive dominando no marcador, ao início do segundo tempo, por 3 x 1, o Athletico reagiu, virou o panorama da partida e num ritmo crescente e arrasador, subiu para a meia-dúzia de gols, num atestado de capacidade integral do seu quinteto avançado, jovem, insinuante, voluntarioso e muito lutador.

Para os alvinegros do Alto da Gloria não houve “chance“, mesmo porque, nitidamente inferiores nos instantes decisivos do encontro, não conseguiram fugir aos tentáculos de um domínio de ferro, imposto com galas por um Athletico brioso e espetacular.

É SÓ REFORÇAR MELHOR A RETAGUARDA

A rigor, deixou o Athletico a impressão de que está quase bem para ο Campeonato Paranaense de 1954. O ataque tem credenciais, luta bastante e sabe como se insinuar velozmente pelas brechas que encontra e que força no sistema defensivo do seu adversário.

Na defesa, Silas e Ivam dos bons arqueiros e Damião e Ubirajara valores de primeira qualidade. Dentro disso, apenas a carência de valores mais capacitados para as duas alas (zaga esquerda e a média direita) e para o centro da intermediaria. Individualmente, destacaram-se, Damião, Silas e Ubirajara na defesa e Sano, Erádio , Lobatinho e Ico no ataque.

AINDA INSEGURO E TITUBEANTE O CORITIBA

Sobre o Coritiba a afirmação de que o seu “team” continua a se ressentir de maior segurança coletiva. Defesa e ataque estão titubeantes, cumprindo-se destacar, principalmente, as falhas do trio médio, setor onde apenas Bequinha apresentou alguma coisa.

Na defesa o esforço sistemático de Fedato, entretanto com prometido por alguns “frangos” de Hamilton e por algumas más jogadas de Araujo e Marcio.

Muito fraco o ataque, carecendo também de melhor hierarquia técnica e tática. Ico ainda não acertou Rosinha é ainda muito jovem e Renatinho Quadros e outros, apenas acertam algumas jogadas. Em realidade apenas a capacidade indiscutível de Miltinho e o esforço e a inspiração de Periquito salvam alguma coisa.

Atuação da Arbitragem

Arbitragem normal do sr. Vitor Marcassa, que foi imparcial e procurou acertar o mais possível. Apesar da violência de alguns jogadores, visivelmente maldosa, soube manter o comando e levar o “match” a um desfecho sem anormalidades mais graves.

Renda regular de Cr$ 15.530,00, ao maior de todo o Torneio João Todeschini.

ATHLETICO PARANAENSE (PR)        6        X        3        CORITIBA F.C. (PR)  

LOCALEstádio Joaquim Américo, no bairro Água Verde, em Curitiba/PR
CARÁTERTorneio João Todeschini
DATASábado, do dia 27 de março de 1954
HORÁRIO15 horas (de Brasília)
RENDACr$ 15. 530,00
PÚBLICONão divulgado
ÁRBITROVitor Marcassa (FPF)
ATHLETICOSilas (Ivan); Damião e Cesquim; Belfare, Betine (Ubirajara) e Ubirajara (Sano); Boluca (Guará), Sano (Boluca), Lobatinho, Juve (Erádio ) e Erádio  (Ico). Técnico: Vico
CORITIBAHamilton; Fedato e Araujo; Marcio, Merlim e Bequinha; Rosinha (Periquito), Miltinho, Max, Ivo e Renatinho (Wizoli). Técnico: Nuno Fernandes
GOLSMax, duas vezes (Coritiba); Sano (Athletico), no 1º Tempo. Periquito (Coritiba); Erádio  (Athletico); Ico, duas vezes (Athletico); Sano (Athletico); Boluca (Athletico), no 2º Tempo.

Números do Torneio

Artilheiros

5 gols – Erádio  (Athletico);

4 gols – Periquito (Coritiba); Grilo (Água Verde) e (Athletico);

2 gols – Sanford e Ico (Athletico); Ivo e Max (Coritiba);

1 gol – Ubirajara, Lobatinho e Boluca (Athletico); Ari e Miltinho (Coritiba); Valdomiro (Água Verde).

Arqueiros vazados

Hamilton (Coritiba) – 12 gols sofridos;

Silas (Athletico) – 6 gols sofridos;

Caninin (Água Verde) – 6 gols sofridos;

William (Água Verde) – 4 gols sofridos;

Ivan (Athletico) – 3 gols sofridos;

Árbitros que apitaram

Victor Marcassa – Duas partidas;

Ataíde Santos – uma partida;

José Ferreira dos Santos – uma partida;

Barbosa de Lima Neto – uma partida.

Formações

Athletico: Ivan (Silas); Damião e Cesquim (Guará); Belfare (Mineirinho), Betine (Juve) e Ubirajara; Boluca, Sano, Lobatinho (Sanford), Erádio  (Ico) e Alcione (Almir). Técnico: Vico

Coritiba: Hamilton; Fedato e Araujo; Fabio (Marcio), Guimarães (Bequinha) e Merlim; Ari, Miltinho (Max), Periquito (Rosinha), Ivo e Renatinho (Wizoli). Técnico: Nuno Fernandes

Água Verde: Caninin (William); Beco (Verdes) e Zaleski; Mário Ferreira (Ítalo), Mário Savi (Taubaté) e Barbozinha; Didico (Grilo), Tuca (Rui), Rato (Mário Savi), Jaci (Didico) e Valdomiro (Toni). Técnico: Zinder Lins.

DATASRESULTADOSRENDAS
Sábado – 06 de marçoAthletico4X3Água VerdeCr$ 2.450,00
Domingo – 14 de marçoÁgua Verde2X3CoritibaCr$ 7.480,00 / Público: 678 pagantes
4ª-feira – 17 de marçoCoritiba3X4AthleticoCr$ 7.250,00
Domingo – 21 de marçoÁgua Verde0X2AthleticoCr$ 6.550,00
4ª-feira – 24 de marçoCoritiba1X0Água VerdeCr$ 6.410,00
Sábado – 27 de marçoAthletico6X3CoritibaCr$ 15.530,00

Classificação final do Torneio João Todeschini

CLUBESPGJVEDGPGCSG
Athletico8441697
Coritiba44221012-2
Água Verde044510-5

FONTE: Paraná Esportivo (PR)

2 pensou em “Torneio João Todeschini de 1954, em Curitiba (PR): Athletico Paranaense foi campeão invicto!

  1. Sérgio Mello

    Boa noite, Rogério Roberto Ribas!
    Vamos lá:
    Erádio aos 11, 33 e 37 minutos (Athletico), no 1º Tempo.
    Erádio a 1 minuto (Athletico); Periquito aos 33 minutos (Coritiba); Ivo aos 40 e 44 minutos (Coritiba), no 2º Tempo.

    Forte abraço.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *