Embora proibido, a década de 1950 viu o futebol feminino florescer, atraindo grande público e a atenção da imprensa. E, o que pouca gente sabe, é que São João da Boa Vista faz parte dessa história, sendo uma das cidades pioneiras no esporte.
Em 11 de maio de 1952, driblando a Lei, o preconceito, o machismo, a forte influência religiosa e uma cidade elitizada como a São João da Boa Vista da época, um grupo de alunas do Instituto de Educação Cel. Christiano Osório de Oliveira, com o intuito de arrecadar fundos para a formatura, organizou uma partida de futebol que ficou para a história, por ter levado cerca de 5.000 pessoas à Sociedade Esportiva Sanjoanense e mobilizar a imprensa através da TV Paulista (São Paulo), Rádio Nacional (Rio de Janeiro) e Difusora local, além da Gianelli Filmes do Brasil.
A partida foi a pioneira no futebol feminino do país, e despertou tamanha atenção, envolveu toda uma comunidade e rendeu muito falatório, mas aflorou a personalidade marcante daquelas estudantes e serviu de exemplo para a nação.
Os times eram formados por alunas e também convidadas. As escalações eram as seguintes: o time do 2º Normal A era formado por Jandira Cassiano (Asmara), Aparecida Camargo e Vera Ceschin (Terezinha); Ditinha Tavares, Iracema e Dirce Mineirinha, Renê Romanholli, Mirtes Marcon, Dirce Aleixo, Claunice Marcon e Isa Martarello (Cidinha Morais);
já o 2º Normal B era composto por Sonia Bissoli, Glorinha Aguiar e Yara Del Pozzo; Evanilde Oliveira, Marli Gomes e Odila Seda; Dalva Alvarez, Ziloca Oliveira (Lála), Lourdinha (Terezinha), Fany e Vanja Orrico (atriz de renome nacional, que estava na região para a filmagem do O Cangaceiro, em Vargem Grande do Sul).
A partida foi tão importante que contou com o árbitro local, Francisco Pedro Regini, além de uma breve cerimônia no gramado antes do início do jogo, onde foram reunidas lideranças locais, como o diretor do colégio – Dr. Hugo de Vasconcellos Sarmento – e o prefeito João Ferreira Varzim, com suas respectivas esposas.
Mas o sonho durou pouco: ao ganhar fama pelas páginas dos jornais, as atletas atraíam o olhar dos detratores da prática, que passavam a exigir, também pelos veículos de comunicação, o cumprimento da lei. Assim, os times foram obrigados, em poucos meses, a encerrar suas atividades.
Pelo tempo dessa jornada memorável, a repercussão ainda é evidente. Em 2014, 73 anos após o decreto proibitivo de Vargas, ironicamente o Palácio do Catete no Rio de Janeiro, sede do governo naquela época, recebeu o Espaço Futebol para a Igualdade, evento apadrinhado por Marta, jogadora da seleção brasileira, que proporcionou ao visitante uma nova maneira de enxergar o futebol entre as mulheres, além do jogo em si, tratando-o como plataforma de superação de preconceitos de gênero, raça e condição social.
Mais informações sobre esse jogo – que terminou empatado – e suas curiosidades, podem ser obtidas no site www.leivinha.com.br, que reúne um grande acervo sobre a história dos clubes locais e do futebol em São João da Boa Vista.
FONTES: site Leivinha – Revista Atua