No Fla-Flu da Lagoa, o título dos títulos
O título de bicampeão carioca de 1941, conquistado pelo Fluminense no lendário Fla-Flu da Lagoa, ganha em importância por ter reforçado de forma definitiva e irreversível a mística do clássico mais tradicional do futebol brasileiro, o que se deve, e muito, ao talento de Mário Filho. Criador do moderno jornalismo esportivo, Mário fez desse clássico um capítulo à parte em qualquer antologia futebolística, algo como uma odisséia de dimensões bíblicas. Rubro-negro assumido, ele descreveu em diversas crônicas as peripécias de Carreiro, os dribles de Romeu, as defesas de Batatais, a luta do artilheiro rubro-negro Pirillo para evitar a derrota (o empate teve esse significado) e o episódio das bolas chutadas para a Lagoa Rodrigo de Freitas pelos jogadores do Fluminense para ganhar tempo depois que o Flamengo empatou o jogo em que era vencido por 2 a 0. O placar de 2 a 2 deu o título ao Fluminense, que, nessa época, tinha nada menos que cinco jogadores titulares da Seleção Brasileira.
O Tricampeonato de Dida & Cia
Por ter garantido o primeiro tricampeonato do Flamengo da era Maracanã (o outro foi em 42/44/45), o título de 1955, disputado em três turnos e decidido apenas em 1956, tem um sabor especial para os rubro-negros. Aquela equipe reunia craques emblemáticos que marcaram várias gerações de torcedores – eles ajudaram de forma inexorável a sedimentar a enorme popularidade do clube. Eram tempos de Dequinha, Evaristo, Rubens, Zagallo e Dida, que acabaria por se transformar no maior ídolo de ninguém menos que Zico. Na campanha de 30 jogos, o time conquistou 21 vitórias, marcando 87 gols. Na série decisiva com o América de craques como Pompéia, Édson e Canário, o Flamengo venceu o primeiro jogo por 1 a 0, gol de Evaristo, mas perdeu o segundo por incríveis 5 a 1, o que comprovava a força do adversário. Na última partida, o Flamengo se superou e, mais do que nunca, se mostrou Flamengo. Devolveu a goleada com o convincente placar de 4 a 1. Nesse jogo, Dida se exibiu em grande estilo: marcou três gols, sendo merecidamente considerado o grande herói da conquista.
O show de Garrincha e Paulo Valentim
O primeiro título do Botafogo no Maracanã teve a marca de um gênio do futebol: Garrincha. Aos 26 anos, ele estava no auge da carreira e foi decisivo como nunca até então. Mas aquele Botafogo não era só Garrincha. Era também Nilton Santos, Didi, Quarentinha, Paulo Valentim, e tantos outros. E a síntese do futebol de todos esses craques veio à tona naquela histórica final contra o Fluminense, um adversário de respeito, que tinha nas suas linhas nomes como o de Castilho, Pinheiro, Valdo e Telê. Desde 1948 sem conquistar um Campeonato Carioca, o Botafogo parecia em estado de graça naquela tarde de 22 de dezembro. Às vésperas do Natal, já no primeiro tempo, presentearia a torcida alvinegra com a vantagem de 3 a 0. No segundo tempo, prosseguiu massacrando o adversário, chegando ao placar de 6 a 2, com cinco gols de Paulo Valentim e um de Garrincha, que deu um show inesquecível. João Saldanha era o técnico da equipe. Posteriormente, ele diria: “Não costumo me emocionar com o futebol, mas nesse dia o Botafogo me tirou do sério.”
O único Supersupercampeão da história
Para muitos, o Carioca de 1958 foi o mais emocionante e equilibrado de todos os tempos. No clima da vitória no Mundial da Suécia (o campeonato teve início apenas duas semanas depois da conquista de Pelé, Garrincha & Cia.), Flamengo, Vasco e Botafogo somaram o mesmo número de pontos nos dois turnos disputados. Assim, as três equipes foram para o desempate jogando entre si. No chamado Supercampeonato, cada uma venceu um jogo e, com isso, foram para a disputa do chamado Supersupercampeonato. O Botafogo, o favorito, tinha Nilton Santos, Didi, Garrincha e Quarentinha; o Flamengo Dequinha, Moacir, Dida e Babá; e o Vasco, que não ficava atrás em matéria de craques, exibia, entre outros, Bellini, Orlando Peçanha, Sabará e Pinga. Na primeira partida, o Vasco derrotou esse poderoso Botafogo por 2 a 1, com dois gols de Pinga. Depois, um empate de 1 a 1 com o Flamengo, com um gol de Roberto Pinto, foi suficiente para garantir o título histórico. Coincidentemente, só em 70, quando o Brasil garantiu o Tri, o Vasco voltou a ser campeão.
O maior ídolo Rubro
Edu é o maior símbolo da história do América. Ele defendeu o clube de 1962 até 1974 e é até hoje o seu maior artilheiro com 212 gols. Para muitos, foi tão bom quanto o irmão Zico. Com apenas 1,64 de altura, enfrentava os zagueiros adversários com destemor, pois muitas vezes era vítima da violência. Mas nada o detinha. Era um atacante de muita habilidade, que se caracterizava pelos dribles curtos, passes precisos e chutes bem colocados. Depois de deixar o América jogou no Vasco, Flamengo (onde, inclusive, jogou com Zico), Bahia, Colorado e Joinville. Em 1969, foi o maior artilheiro do Brasil e para muita gente merecia uma vaga na Seleção de 70.
O Risadinha fez a Moça sorrir
A simpatia de Paulo Borges lhe rendeu o carinhoso apelido de ‘Risadinha’. Ponta-direita típico, fez sucesso no Bangu, onde jogou de 1962 a 1967, com um futebol incisivo, de muitos dribles e jogadas de linha de fundo. Participou do histórico time de 1966, campeão carioca em cima do Flamengo — com um gol de Paulo Borges, a equipe de Moça Bonita venceu por 3 a 0. Foi vendido para o Corinthians em 1968 por uma quantia recorde, pois era considerado, naquele momento, o maior ponta-direita da América do Sul. Nesse mesmo ano, foi o principal responsável pelo fim de um jejum de 10 anos sem vitórias do Timão sobre o Santos.
O MELHOR DO BANGU: Ubirajara, Fidélis, Mário Tito, Zózimo, Médio, Moacir Bueno, Zizinho, Mendonça, Paulo Borges, Cabralzinho e Aladim.
Um romântico campeão
Imaginem um campeonato em que o São Cristóvão vence o Flamengo por 5 a 0 e 5 a 1, o Botafogo por 6 a 3 e o Fluminense por 4 a 2. Parece algo impossível? Hoje em dia com certeza, mas em 1926, nos tempos românticos do futebol, isso aconteceu. Esse foi o único título do São Cristovão em toda a sua história, num ano em que ocorreram mudanças na regra de jogo que prevalecem até os tempos atuais: começou a valer o gol olímpico e, para que fosse caracterizado o impedimento, passou a ser necessário que apenas dois, em vez de três jogadores, estivessem entre quem recebe a bola e a linha de fundo do adversário. Naquele momento de transformações, o São Cristovão montou um time aguerrido, que priorizou a preparação física e, assim, passou por cima dos favoritos.
Texto: Roberto Sander.
Fonte: Coluna publicada no Jornal dos Sports, em 04/09/2005 e Bangu.net