Arquivo do Autor: Cicero

A HISTÓRIA DO FLUMINENSE DO ITAUM (JOINVILLE/SC)

A FUNDAÇÃO
O Fluminense Futebol Clube, do bairro Itaum de Joinville/SC,  ou simplesmente “Fluminense do Itaum”, foi fundado em 24 de Outubro de 1948, num terreno na rua Voluntários da Patria, próximo á Igreja São Judas Tadeu e surgiu para substituir os pequeninos São Paulinho F.C. e Estrela F.C.
A escolha do seu nome inicialmente foi motivo de discórdia, já que a turma dividia-se entre botafoguenses e tricolores. Para encerrar maiores discussões, foi feita uma votação, onde prevaleceu a sugestão dos tricolores.
Foram seus fundadores: Arno Wersdoefer, Egon Giesel, Nelson Brandão, Antonio Pereira, Osvaldo Moreira, Adalcino Pereira, Gercino Rodrigues, Gustavo Jony Batista, José Lino da Silva, Carlos Klug, Francisco Ramos e Antonio Anésio da Silva.
OS PRIMEIRO JOGOS
O primeiro adversário do Fluminense foi o obscuro Esporte Clube Brasil, que acabou goleado por 7×1, sendo quatro dos gols marcados por Brandão.
O primeiro grande rival do Fluminense foi o Almirante Futebol Clube, também sediado no bairro Itaum, e que mais tarde daria origem á atual S.E.R.C. Tamandaré F.C.
Time por volta de 1949
OS PRIMEIROS CAMPEONATOS OFICIAIS
Entre 1948 e 1951 o Fluminense limitou-se a disputar jogos amistosos e festivais esportivos nos diversos campos espalhados pela cidade.
Em 1952 filiou-se á Liga Joinvillense de Futebol e disputou o Campeonato da 3ª Divisão de Amadores da Cidade, ficando com o vice-campeonato ao perder o título para o Cometa F.C.
Em 1953 foi novamente vice-campeão da Terceirinha, desta vez perdendo o título para o Boa Vista F.C.
Em 1954, o tricolor voltou a dedicar-se aos jogos amistosos e aos animados festivais esportivos e ‘torneios do porco’ que eram bem mais animados que os campeonatos oficiais.
Em 1957 voltou ás competições da Liga Joinvillense de Futebol, jogando a 2ª Divisão de Amadores, que devido a extinção da 3ª Divisão, contava sempre com muitos clubes na disputa. Na edição deste ano, além do Fluminense, tomaram parte o Santos, Estrela da Vila Baumer, Sulista, Aviação, Aventureiro, Prefeitura, Arsenal, Internacional, União Boa Vista e Almirante.
Após fazer um turno apenas razoável, o Fluminense recuperou-se no returno e liderou a classificação até a penúltima rodada, quando foi ultrapassado pelo  Santos que acabou sendo o campeão.
O time base do tricolor neste campeonato foi: Caranga, Helio e Marino; Adalcino, Chelo e Osmar; Bia, Milton Fumo, Daniel, Nezinho e Lôlo.
1958: VICE-CAMPEÃO NO CLÁSSICO FLO-FLU
Em 1958 a Liga Joinvillense de Futebol criou a 1ª Divisão Extra de Profissionais, composta dos principais clubes da cidade (Caxias, América, C.A Operário e São Luiz) e que tinha como principal finalidade indicar o representante joinvillense no Campeonato Estadual.
Com isto, a 1ª Divisão de Amadores, passou a chamar-se 1ª Divisão Extra de Amadores e abriu novas vagas, uma das quais foi ocupada pelo Fluminense.  Este campeonato contava com 10 clubes e foi bastante extenso tendo terminado somente em maio de 1959. Com uma campanha brilhante e surpreendente, o Fluminense alcançou o vice-campeonato, perdendo a decisão para o famoso Floresta F.C. (atual Sociedade Floresta de Joinville), num classico que ganhou o apelido de ‘Flo-Flu’.
A decisão do titulo foi uma verdadeira epopeia já que nada menos que cinco jogos tiveram que ser realizados para apontar o campeão. Para fechar a disputa com chave de ouro, o quinto jogo, realizado em 4 de maio de 1959, foi interrompido aos 35 minutos do segundo tempo, por conta de um temporal, quando o placar apontava 3×3. Sem poder mais esperar para decidir o campeonato, a Liga marcou os 10 minutos restantes para a terça-feira, dia 6, onde o Floresta fez 1×0 e sagrou-se campeão.
O time base do tricolor neste campeonato foi: Caranga, Lôlo e Marino; Zeti, Chelo e Osmar; Nilo, Milton Fumo, J. Maria, Nivaldo e Bia.
1959: DEVAGARZINHO, ENTRE OS GRANDES
Em 1959 a 1ª Divisão Extra de Amadores contou com a presença dos ‘ex-profissionais’ C.A. Operário e São Luiz, o que fortaleceu muito a competição que além do Fluminense, contou ainda com a participação de Floresta, Glória, Santos e Estiva.
Tendo dois adversários mais qualificados pela frente, desta vez a sua campanha foi apenas modesta, terminando apenas na 4ª colocação.
Também neste ano, o Fluminense foi convidado a participar de um torneio chamado Osni Mello (então presidente de FCF), onde pela primeira vez, teve oportunidade de enfrentar de forma oficial, os dois grandes clubes da cidade: América e Caxias. Como não podia deixar de ser, a campanha foi modesta.
Seu time base foi o seguinte: Caranga, Laurinho e Baixinho; Zeti, Leonardo e Curuca; Ratinho, Bia, Camundongo, Quero e Lôlo.
1960: O ANO DOS BAILARINOS DO ITAUM
VICE-CAMPEÃO DA CIDADE
Em 1960 o Fluminense mudou completamente de patamar passando a integrar a 1ª Divisão Extra de Profissionais que nesta ocasião, era composta apenas por Caxias, América e pelo seu grande rival, o Floresta.
A campanha do tricolor foi surpreendente e o levou a um inimaginável vice-campeonato da cidade, somando 7 pontos, apenas um a menos que o campeão Caxias.
Seus resultados foram os seguintes: America 0x0 Flu / Caxias 2×2 Flu / Floresta 1×2 Flu / America 1×2 Flu / Caxias 3×1 Flu / Floresta 2×2 Flu.
Seu time base era: Nane, Laurinho (ou Alegria) e Baixinho; Lolo, Quica (ou Zeti) e Camundongo (ou Osmar); Bia, Milton Fumo, Daniel, Ratinho e Caranga.
O artilheiro do time na competição foi Bia com 4 gols.
Este time, que tinha em Ratinho e Milton Fumo os seus principais craques, ficou conhecido como ‘Os Bailarinos do Itaum’ apelidado que foi incorporado ao próprio clube.
O SALÃO DO FLUMINENSE
Neste ano o clube também começou a construção de sua sede social, localizada no início da rua Monsenhor Gercino e para viabiliza-la, realizou diversos festivais e rifas que renderam um bom dinheiro aos seus cofres. Esta sede que ficou mais conhecida como ‘Salão do Fluminense’ foi durante duas décadas o principal ponto de encontro dos jovens do Itaum, que na pacata e germânica Joinville dos anos 1960 e 1970, era tido como o bairro da turma da pesada, do samba e da boemia.
 Salão do Fluminense
O FLUMINENSE NO CAMPEONATO CATARINENSE
O vice-campenato da Liga credenciou o Fluminense a disputar o inchado Campeonato Catarinense de 1960, que contou com a participação de quase 26 clubes divididos em 5 Zonas Regionais.
Os Bailarinos do Itaum ficaram alocados na Zona Norte, junto com o América de Joinville, Acaraí e Baependi de Jaraguá do Sul, Atlético e Ipiranga de São Francisco do Sul, que jogariam entre si em turno e returno em disputa de duas vagas na próxima fase.
Após um inicio até promissor, com duas vitorias em três jogos, o Fluminense acabou perdendo o folego no decorrer da competição e terminou apenas em 5º lugar com 6 pontos ganhos, bem atrás de Baependi e Ipiranga com 16 pontos, América com 11 e Atlético com 7 e á frente apenas do Acaraí que somou 4.
Seus resultados foram os seguintes: Acarai 2×4 Flu / Flu 1×2 Ipiranga / América 2×3 Flu / Flu 2×3 Baependi / Atletico 4×1 Flu / Flu 4×2 Acaraí / Ipiranga 2×0 Flu / Flu 1×6 América / Baependi 4×0 Flu / Flu 2×4 Atletico
O time base do Tricolor foi o mesmo do campeonato da cidade e o artilheiro foi Daniel com 6 gols. Sem estádio próprio, o tricolor mandava seus jogos no Estádio do América ou no Estádio do São Luiz.
Timaço de 1960/61
1961: CAMPANHA MODESTA NO CAMPEONATO LOCAL
A 1ª Divisão Extra de Profissionais de 1961 contou com a participação de 6 clubes com a volta do C.A. Operário e do São Luiz ao certame principal da cidade.
Enfraquecido com a perda de alguns jogadores para os rivais locais, sobretudo o artilheiro Daniel que reforçou o América, desta vez o Fluminense fez uma campanha apenas modesta, terminando a competição em 4º lugar com apenas 6 pontos ganhos, bem atrás do campeão América com 19 pontos, Caxias 15 e Floresta 8, e á frente de São Luiz 5 e Operário 1.
O time base do Fluminense foi: Nane (ou Caranga), Osmar (ou Chuvisco) e Baixinho; Coruca, Quica (ou Lelinho) e Gunga; Ratinho, Pepê, Eduardo (ou Caranga), Lolo e Filo.
Ratinho foi o artilheiro da equipe com 6 gols.
1962: PÉSSIMA CAMPANHA NO CAMPEONATO LOCAL
A 1ª Divisão Extra de Profissionais de 1962 contou novamente com a participação de 6 clubes, com a inclusão do Glória F.C. no lugar do C.A. Operário.
Como no ano anterior, a disputa do titulo ficou monopolizada entre Caxias e América, cabendo ao alvinegro o titulo de campeão invicto. O Fluminense, por sua vez, fez uma campanha desastrosa ficando em ultimo lugar com 8 jogos e 8 derrotas.
O time base, que não contava mais com os craques Ratinho e Milton Fumo foi o seguinte: Nane, Dalvo e Quica; Chuvisco, Filo e Lelinho; Bia, Eduardo, Caranga, Chiquinho e Laurinho.
MILTON FUMO NO VASCO
Milton Antonio Pedro Elioterio, ou Milton Fumo (1940-1989), no inicio de 1962, no auge de seus 22 anos de idade, foi vendido diretamente do Fluminense para o Vasco da Gama do Rio de Janeiro.
Segundo o fundador Egon Giesel, a diretoria do clube joinvillense pediu inicialmente 200 mil cruzeiros para liberar o jogador, porém, nem pensou duas vezes em aceitar a contraproposta de 100 mil feita pelos cariocas. A verdade é que não havia como manter um jogador deste quilate no clube sem receber salário, então, mesmo que o Vasco tivesse oferecido 20 mil, o Fluminense teria aceitado.
No clube carioca, mesmo atuando no quadro de aspirantes, Milton ganhava cerca de 30 mil cruzeiros mensais, algo inimaginável para o futebol joinvillense que era profissional apenas na nomenclatura. Sua estreia no time principal ocorreu em 10/05/1962 em um jogo amistoso contra o Gremio Maringá-PR. A titularidade foi conquistada somente em agosto de 1963, condição que manteve até o ano seguinte.
Milton no Maracanã com o Vasco
Após três anos em São Januario, voltou á Santa Catarina, onde defendeu o lendário E.C. Metropol de Criciuma, onde sagrou-se campeão catarinense de 1965 e 1967.
 
Milton (no centro) no time do Metropol
RATINHO, O MAIOR CRAQUE DE JOINVILLE
Heitor Martinho de Souza, o Ratinho (1942-2001) também foi negociado pelo Fluminense neste ano de 1962, indo para o C.N Marcílio Dias, que nesta época montou o maior time de sua história. Campeão do Torneio Luiza Mello de 1963 (equivalente ao Estadual), Ratinho transferiu-se depois para a Portuguesa de Desportos onde marcou época jogando ao lado de craques como Ivair e Leivinha.
Ratinho (á esquerda) no ataque da Lusa, com Ivair
Em 1970, no auge de sua carreira, esteve entre os 40 pré-convocados para a Copa do Mundo. Em 1972 transferiu-se para o São Paulo F.C. onde foi vice-campeão brasileiro de 1973 jogando ao lado de Serginho Chulapa e Pedro Rocha.
No seu período de futebol paulista teve a oportunidade de excursionar cinco vezes para a Europa, onde chegou a disputar os famosos Torneio Teresa Herrera e Ramón de Carranza.
Também defendeu a seleção paulista em varias oportunidades formando ataque com Rivelino, Pelé, Toninho Guerreiro, Ademir da Guia, Edu e vários outros craques.
Ratinho na Seleção Paulista
Em 1975 voltou para Joinville, onde defendeu o América e no ano seguinte participou do primeiro time do JEC onde foi campeão catarinense de 1976 e encerrou a carreira em 1977. Como treinador, voltou a brilhar nos gramados europeus comandando a S.E. Irineu, de Joinville, na campanha do vice-campeonato da Copa Viareggio de Futebol Junior em 1998, onde foram revelados o meia Renato Abreu e o atacante Deivid, que tiveram passagens marcantes pelo Flamengo, Corinthians e Santos.
Pode-se dizer com certeza, que por ironia do destino, o maior craque já revelado pelos gramados joinvillenses foi forjado no modesto Fluminense do Itaum, para ‘inveja’ de América, Caxias e JEC.
1964: RETORNO DISCRETO
Após ficar um ano ausente dos gramados oficiais, o Fluminense voltou a disputar o Campeonato da 1ª Divisão Extra de Profissionais da Liga Joinvillense de Futebol em 1964, que nesta ocasião, já não contava mais com Caxias e América que disputavam somente o Campeonato Estadual, junto com a A.A. Tupy, mais nova força do futebol da cidade.
Deste modo, o campeonato local contava com participantes modestos como os velhos São Luiz e Glória e os emergentes Juventus, Aventureiro, Sulista, Estrela da Vila Baumer e Santos. Nem assim, o Fluminense conseguiu destacar-se na competição, ficando longe da briga pelo titulo que ficou com o Juventus.
1965-1971: UM NOVO PERÍODO DE GLÓRIAS
O Fluminense voltou aos dias de glória ao vencer o Campeonato da 1ª Divisão Extra de Profissionais de 1965 de forma incontestável, batendo no jogo decisivo o Juventus por 8×1.
O elenco campeão, que ainda mantinha uma série de remanescentes do time de Bailarinos do Itaum foi o seguinte: Nane (ou Moacir), Lelinho e Bebeco; Lolo, Cardoso e Mogeno; Miltinho, Jorge (ou Ceceu), Bia, Laurinho e Eduardo.
Em 1966 a 1ª Divisão foi inchada com a participação de 12 clubes, sendo quatro a mais que o ano anterior, incluindo a A.A. Tupy, que após uma frustrada experiência no Campeonato Estadual, voltou suas forças para o campeonato local.
Conforme era esperado, Fluminense e Tupy disputaram o titulo palmo á palmo e no jogo decisivo, realizado em 07/05/1966, coube ao Fluminense conquistar o bicampeonato com uma grande vitória de 4×1 sobre o mais novo rival.
O elenco campeão foi o seguinte: Nane, Lelinho e Puga; Bebeco, Cardoso e Lolo; Silveira, Bia, Jurandir, Laurinho e Jorge. Reservas: Moacir, Mogeno, Ernesto, Zezo e Daniel.
Em 1967 o Fluminense atingiu seu auge ao conquistar o tricampeonato da 1ª Divisão Extra de Profissionais. Novamente o principal adversário do clube do Itaum foi a Tupy que teve que amargar mais um vice-campeonato quando na ultima rodada o rival garantiu o empate que lhe bastava diante do Estrela da Vila Baumer. Com 3 pontos a mais na classificação geral que a Tupy, o Fluminense sagrou-se tricampeão com: Araujo (ou Moacir), Mogeno e Bebeco; Ingo, Anselmo e Lolo; Riga, Bia, Nelsinho, Daniel e Alcione.
Time de 1967
Após perder os campeonatos de 1968, 1969 e 1970, respectivamente para o Sete de Setembro de Araquari, S.E.R. Tigre e A.A. Tupy, o Fluminense retomou a liderança do futebol local ao conquistar o Campeonato da 1ª Divisão Extra de Profissionais de 1971.
O jogo decisivo ocorreu no Estádio da Tupy e colocava frente a frente os dois rivais em condição de igualdade, porém, nesta época, rolava um tabu de que a Tupy era freguês do tricolor e não conseguia vence-lo de forma alguma. Mais de 6 mil pessoas acompanharam a decisão e viram Franklin marcar o gol solitário que garantiu o quarto e ultimo titulo joinvillense da historia do tricolor do Itaum.
O time base do Fluminense, que tinha em seu goleiro o principal jogador, foi o seguinte: Anivaldo, Lico, Ingo, Claudio e Ricardo; Laercio (Mogeno) e Tassuva (Galego); Cesar, Franklin, Laurinho e Nilo.
 Time de 1971
1972-1982: O FLUMINENSE VIRA FREGUÊS
No inicio da década de 1970 a cidade de Joinville viveu a sua própria revolução industrial com um crescimento exponencial do setor metalúrgico que buscava mão de obra em todas as cidades da região e do vizinho Estado do Paraná. Como consequência disto, os times ligados ás fábricas, como a A.A. Tupy, a S.E.R. Tigre, o Grêmio Consul e a A.D. Embraco passaram a contar com um forte investimento financeiro nos seus departamentos de futebol, e além, disto, recrutavam não só bons profissionais como excelentes boleiros que recheavam os seus elencos de craques do futebol amador.
Neste cenário, o pobre Fluminense, que continuava dependendo do patrocínio dos seus sócios e dos lucros do seu acanhado salão, não tinha condições de competir em igualdade de condições com estas equipes.
No campeonato de 1972, a Tupy deu o troco no Fluminense e sagrou-se campeã da cidade após empatar com o tricolor em 0x0 no jogo decisivo. Em 1973 e 1974, o Fluminense amargou mais dois vice-campeonatos, desta vez perdendo para a S.E.R. Tigre que contava em seu elenco com antigos tricolores como Anivaldo e Lôlo.
Entre 1976 e 1982 a Tupy foi soberana, sagrando-se heptacampeão, enquanto o Fluminense era mero figurante, não conseguindo sequer chegar ás decisões.
O CALDEIRÃO DO ITAUM
Sem poder competir em condições de igualdade com os times de fabrica nos campeonatos oficiais da Liga, o Fluminense vislumbrou o futuro e ao invés de investir em futebol, á partir de 1978 deu inicio ás obras de construção de seu primeiro estádio próprio.
O terreno onde seria construído o estádio pertencia á Prefeitura Municipal que o concedeu ao clube através de um Termo de Permissão de Uso. A área era extensa e com uma localização privilegiada, no final da rua Florianópolis, uma das principais vias do bairro.
Localização do Fluminense no bairro Itaum
Aproveitando o relevo do terreno, o clube fez verdadeiramente um estádio de futebol, com arquibancadas e tudo mais, um luxo que poucos clubes do futebol amador local podem se orgulhar.
Devido aos recursos limitados, a obra prolongou-se por quatro anos até que em 22 de Agosto de 1982 o Caldeirão do Itaum, nome pelo qual o Estádio é conhecido até hoje, foi solenemente inaugurado com um torneio quadrangular sênior vencido pelo Caxias.
Foi um dia de grande orgulho para o bairro e para o presidente do clube, João Gaspar da Rosa, que estava desde 1976 no cargo e foi o grande empreendedor deste sonho tricolor, não á toa, até hoje o clube também é conhecido como o ‘Fluminense do João Gaspar’.
Com o passar dos anos, foram anexados ao estádio uma churrascaria e um centro de educação infantil, que passaram a auxiliar nas receitas do clube, que desde o inicio da década de 1990 já não contava mais com o seu salão.
Estádio Caldeirão
1983-1989: SEM BRILHO
Entre 1983 e 1989 a Liga Joinvillense enfrentou serias dificuldades para organizar seus campeonatos, que cada vez menos atraiam o interesse dos clubes. A 1ª Divisão deixou de se realizar em duas ocasiões e em outros anos, não mais que quatro clubes participaram da disputa. Neste cenário, o Fluminense foi um dos clubes que mais se retraiu, disputando apenas os campeonatos de 1984, 1985 e 1986 sem qualquer brilho.
ANOS 1990: ALTOS E BAIXOS
Na década de 1990 o Fluminense viveu altos e baixos na elite do futebol amador joinvillense tendo como principais rivais a sempre forte Tupy, além do tradicional América, que havia retornado ao futebol em 1985 após nove anos afastado dos gramados.
Em 1993 o tricolor foi vice-campeão da 1ª Divisão, perdendo o título para o América que iniciava uma hegemonia no futebol amador local.
Time de 1993
Em 1994 o Fluminense participou da fase decisiva do campeonato, mas terminou na 5ª colocação geral, que embora modesta, não foi mais repetida nos anos seguintes, onde as campanhas foram bem ruins, á ponto do clube não participar dos campeonatos de 1998 e 1999.
ROMÁRIO NO ITAUM
Por volta de 1996 o Fluminense roubou a cena do noticiário esportivo estadual, tudo graças a uma visita que recebeu de ninguém menos que o baixinho Romário. O tetracampeão mundial, ainda no auge de sua carreira, jogava no Flamengo onde tinha como companheiro de time o volante joinvillense Pingo. Á convite do amigo, Romário veio á Joinville especialmente para participar da inauguração de uma escolinha de futebol aberta pelo volante em sociedade com Agnaldo (ex-Gremio e Palmeiras). O projeto tinha como base o campo do Fluminense e no dia de sua inauguração, proporcionou ao Caldeirão um dos maiores públicos de sua história.
ANOS 2000: MONTANHA RUSSA DE EMOÇÕES
Nos início dos anos 2000 o Fluminense era mais reconhecido pela simpatia que atraia nos torcedores da cidade, do que pelo poderio do seu time, fato é que sua participação nos campeonatos da 1ª Divisão de 2000 á 2003 foram muito fracas, culminando com um inédito rebaixamento para a 2ª Divisão.
Na Segundona de 2004 o tricolor do Itaum pintou como favorito á conquista do título, e todos estavam ávidos para ver o clube colocar um novo troféu na sua galeria, que desde 1971 aguardava por uma novidade, no entanto, a disputa foi bem mais dura que o esperado. O duelo pelo acesso, na fase semifinal diante do Operário do bairro Cubatão foi dramático e na final a equipe tricolor não foi páreo para o novato Sercos, do Bairro Costa Silva, que alcançou o titulo de forma surpreendente.
Na Primeirona de 2005 o Fluminense deixou a sua ultima boa impressão no futebol amador local. Após um turno desastroso onde ficou na lanterna entre 10 participantes, surpreendeu a todos ao conquistar o returno, credenciando-se para a semifinal do campeonato, onde foi eliminado pela Serrana que na final perdeu o titulo para a surpreendente Sercos.
 
Time de 2005
Em 2006 o clube fez a pior campanha de sua historia, terminando a Primeirona na 12ª e ultima colocação. Em crise financeira e existencial, deixou de disputar os campeonatos de 2007 e 2008.
Em 2009 decidiu voltar ás disputas dos campeonatos oficiais, mas teria que começar tudo de novo, tendo que encarar a Terceira Divisão do Futebol Amador local, um verdadeiro porão para um clube de tamanha tradição. Com um time sem qualquer investimento, apostando nos jovens jogadores das suas escolinhas,  o Fluminense fez campanhas discretas nos anos de 2009 e 2010 e ainda teve que amargar um pseudo-clássico Fla-Flu contra o modestíssimo Flamenguinho do vizinho bairro Fátima, cenário bem distante dos eletrizantes Flo-Flu da década de 1960.
 2014: VOLTA INESPERADA AO FUTEBOL PROFISSIONAL
Em março de 2014, João Gaspar da Rosa deixou a presidência do clube após 38 anos, não sem antes indicar o seu sucessor: o gestor Anelísio Machado. Entusiasta do futebol, já que há vários anos vinha investindo no futebol amador, o diretor da Faculdade Assessoritec logo deu inicio a um projeto audacioso e surpreendente: recolocar o Fluminense no futebol profissional.
Anelísio Machado e João Gaspar
A regularização do clube para a volta ao cenário estadual, embora bastante onerosa (cerca de R$ 40 mil em taxas para a FCF e CBF), não demorou muito para se efetivar.
Em junho o Fluminense já estava disputando as categorias juvenil e junior do Campeonato Catarinense da 3ª Divisão onde enfrentou Juventus de Seara, Sport Club Jaragua e Maga, sem grande sucesso, sendo eliminado na primeira fase e ainda amargando punições por escalar jogadores irregulares.
A estreia no campeonato principal deu-se em Agosto e como o depreciado Estádio do Caldeirão do Itaum não reunia condições mínimas de receber um jogo profissional, a alternativa foi mandar seus jogos na Arena Joinville. O publico de 600 pessoas na estreia foi bastante animador, porem, no decorrer da competição, a campanha fraca e a falta de apoio das rádios e demais órgãos da imprensa local fizeram com que o interesse do publico diminuísse culminando com apenas 50 pagantes no ultimo jogo.
Alocado no Grupo A da competição, o Fluminense não conseguiu avançar de fase nos dois turnos do campeonato, tendo feito a seguinte campanha:
Turno: Maga 0x1 Flu / Flu 0x0 Jaraguá / Juventus de Seara 2×0 Flu
Returno: Flu 0x4 Juventus de Seara / Jaraguá 3×0 Flu / Flu 2×1 Maga.
O Grupo B contava com Oeste, Curitibanos e Barra, que também não foram páreos para o Juventus de Seara, que venceu os dois turnos e sagrou-se campeão de forma direta.
Time de 2014
Numa competição repleta de bizarrices, o Fluminense também deu a sua parcela de contribuição. A primeira delas foi disputar todo o campeonato com um goleiro de 49 anos de idade, o consagrado Silvio, que após passagens vitoriosas pelo JEC e Grêmio nos anos 1990, havia encerrado sua carreira em 2003 no Marcilio Dias. Mais curioso que isto, foi o fato do goleiro ter sido o principal destaque do time na competição, com defesas espetaculares. A outra grande bizarrice ficou a cargo do próprio presidente, que no auge dos seus 50 anos de idade estreou como jogador profissional diante do fraco Maga.
2015: FUTEBOL PROFISSIONAL COM OS PÉS NO CHÃO
Em 2015 o Fluminense foi um dos primeiros clubes a confirmar participação no Campeonato da Terceira Divisão Estadual, dando mostras de que está firme no proposito de se consolidar como o segundo time da cidade.
No campeonato das categorias juvenil e junior, enfrentando o S.C. Jaraguá, Curitibanos e Caçadorense, novamente o Fluminense decepcionou, não conseguindo passar da primeira fase.
No campeonato principal, novamente vem mandando seus jogos na Arena Joinville, sem apoio da imprensa e com pouca presença de publico. A diferença primordial é que o elenco está mais qualificado e embora não tenha condições de conquistar o turno, promete fazer boa campanha no returno e brigar por uma vaga na final.
Caso venha a ser campeão desta Terceira Divisão, o clube subirá para a Segunda Divisão Catarinense, ocupando a vaga do rebaixado Blumenau Esporte Clube.
Novo escudo e uniforme versão 2015
Fontes: 
Acervo pessoal
Acervo de Luciano de Oliveira Borges
Jornal A Noticia
Jornal Notícias do Dia
Livro Show de Bola, de Edson dos Santos.
Google maps
Terceiro Tempo de Milton Neves
FCF
http://www.palavralivre.com.br/2011/06/perfis-egon-giesel-a-enciclopedia-do-fluminense-do-itaum-e-futebol-amador/
https://www.facebook.com/FluminenseJoinvilleOFICIAL?fref=ts

DONA DALVA DO FLORESTA/AC

Portuguesa, brasileira, acreana e florestana: assim que se define Dalva Ferreira de Sales, aos 88 anos. Gerada em Lisboa – Portugal, ela chegou ao Acre em 1927, ainda na barriga de sua mãe. Filha de portugueses, tem uma história de vida invejável. Uma mulher guerreira em todos os sentidos e que, sem pretensão, tornou-­se a primeira mulher a comandar uma equipe no futebol acreano. Dalva Sales além de  fundadora,  ocupou todos os cargos na diretoria do Floresta Futebol Clube, um time esmeraldino que, por causa da cor, passou também a ser apelidado por “periquito do futebol acreano”. Por tudo isso, ela é reconhecida como a matriarca do time esmeraldino.

Dalva Ferreira

RELATOS:

Um certo dia a torcida do Andirá Esporte Clube, também conhecido como time do morcego, era muito metida, mexia com todas as demais, e numa partida decisiva entre as duas equipes, a torcida das meninas do time morcegueiro, ao verem o Floresta entrar em campo, com os jogadores todos de verde, os taxaram de periquitos. Foi o suficiente para passar a procurar entre os vizinhos no bairro quem criava aquela avezinha até juntar juntar 11 unidades do referido animal e no domingo seguinte fazer os atletas do Floresta entrar em campo cada com um periquito no dedo, devolvendo-os depois para a torcida.

“Assim, provamos nos éramos realmente o time periquito, como nos taxaram”

“O Floresta faz parte da minha vida e nunca imaginei me tornar personagem, porém a história nos leva a este caminho. Mas o que fiz foi por amor. São tantas as pessoas que nos ajudaram que se eu for relatar todos não cabe num jornal inteiro”.

“Quando não tinha como comprar o material a gente saía pedindo, batia nas portas dos comerciantes, dos deputados. O importante era o time entrar em campo. Vencer ou perder fazia parte do jogo. O bonito era ver todas aquelas pessoas reunidas, uns jogando, outros torcendo e nos confraternizando. Infelizmente alguém torou esta alegria deste povo, acabando com o time do Floresta e deixando órfão uma gama de pessoas e parte de uma cidade inteira”.
memorial2

memorial3

Guarda a primeira bandeira e a primeira camisa do time esmeraldino.


Expressando-se com voz trêmula e, deixando cair lágrima nos olhos a histórica senhora que comandava o time periquito, exibe com orgulho a primeira bandeira medindo apenas 50 centímetro e vestindo a primeira camisa esmeraldina acrescenta: “Tudo começou pelos anos de 1941, 1942. Jogavam sem noção. Colocavam a bola no campo e saíam feito doidos correndo atrás. Depois disso o futebol começou a crescer. Agora em 1966 foi que o time do Floresta foi federado para as disputas da Federação Acreana de Desportos (FAD). O grupo de pessoas que fundou o Floresta Futebol Clube já morreram quase todos. Figuras importantes como: Augustinho, Heitor, Pedrinho da Olga, ele começaram a jogar aqui, depois, foram jogar no Oswaldo. O futebol mesmo nasceu num campo onde hoje é o Via Verde Shopping, no terreno da dona D ilma Leão. Ela era viúva.  Era casada com Raimundo Paxiúba. Eles tinham esse lugar. Vendo a aluta daquela juventude ela deu aquele lugar para fazer o campo de futebol”, explica D. Dalva.

Ela foi a primeira presidente de um time no futebol acreano


A primeira mulher dirigente no futebol acreano diz que o começo foi por demais complicado mas tudo era feito com amor. “O Ruela vinha para cá, no bairro Floresta, e patrocinava jogos amistosos, as famosas peladas organizadas, contra times do Papoco ou da Capoeira. O Ruela pagava como prêmio para os meninos sorvetes e picolés. O deputado Taumaturgo vinha e ajudava. Quando um atleta nosso, o Teotônio, quebrou a perna jogando contra o Juventus, ele foi internado por conta do Taumaturgo. Fui na Assembleia pedir ajuda e teve um deputado, não lembro bem o nome, que disse não tenho nem para mim. E eu retranquei: pois eu tenho saúde e amigos e força para pedir. O Darci Fontenelle também nos ajudou. Reinaldo Moreno também ajudou”.

Eu solicitava um jogo de camisa, pedindo a um e a outro. Eu tinha direito a 30 entradas gratuitas, por tudo que a gente fazia. Eu pedia patrulhamento e outras coisas mais para dar segurança a minha equipe. O presidente da Federação de Futebol que mais me ajudou foi o Alberto Zaire. Ele colaborava com incentivo, proteção e apoio, tanto com os jogadores quanto com a torcida.

“Tivemos um empate contra o Juventus, onde fomos roubados pelo juiz”


“Um certo dia o nosso time, depois que tinha disputado a divisão C, subiu para o disputar o estadual e fez uma grande partida contra o então todo poderoso Juventus. O Moacyr Moura era um goleiro que eu gostava muito. Mas morreu e depois veio Moacyr Tranca Rua. Não me lembro o dia, o nosso time colocou 2 a 0 no Juventus, aí a coisa começo a preocupar e o juiz passou a roubar contra nós, até o Juventus empatar. Ave Maria se eles tivessem perdido”, especula.

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Conseguimos tudo e acabaram vergonhosamente


Depois de participar do estadual, a partir dos anos 1970, com o esforço de uma gama de pessoas e ajuda de outros, o Floresta Futebol Clube construiu, com muita dedicação de todos, uma bela sede social. Tudo crescia. O clube chegou a vender até 70 caixas de cerveja por noite. Levantaram uma sede que após várias mudanças de diretoria o clube faliu por completo. Para a matriarca do Floresta o responsável pela destruição do  Floresta foi o então presidente Martins Bruzugu. “Ele endividou o clube, acabou com tudo e sequer prestou constas. Colocou fim numa história da parte de uma cidade. Sim, porque, toda aquela parte dos bairros, pegando do cemitério e seguindo sentido bairro, era envolvido com o Floresta. Todo este povo ficou desiludido. Ele acabou com a esperança do povo, tirou o time de campo, e deu fim ao patrimônio da agremiação esmeraldina sem prestar contas”, reclama D. Dalva.

Alguns dos jogadores que defenderam o Floresta Futebol Clube:

Abraão, Pingonça, Laureano, Moacir Conde, Marcos Montenegro, Edson Gonçalves, Edson Vieira, Ely Roberto, Dinda, Tarzan, Carlinho Chita, Audicélio, Osmar, Aldemir, Wanderley, Pipa, Eládio, Pixilinga, Borges, Pantinha, Caçarola, Moacir Moura, Pimpão, Azulão, Luiz, Polanco, Regino, Aluízio, Paulo, Ary, Abacate, Erivaldo, Mário, Chiquim Sambudo, João Tibúrcio, Teles, Jurandir, Edgar, Luiz Carlos, Mundoca, Artur, Geraldo, Carlinho, Chico Cuiú, Adãozinho, Jair, Silva, Sobrinho, Cícero, Piaba, Ramirez, Zé Palito, Carlão, Adâozinho, Valtinho, Vidal, Curica, Delegado Barbosa, Carlos Alberto, Louro, Amaral, Teotônio, Evaldo, Elson Barbosa, Timbal,  Pelé e outra dezena de jogadores que vestiram a camisa esmeraldina e fizeram parte do time periquito.

Dona Dalva ainda guarda com carinho a primeira bandeira do time esmeraldino
Dona Dalva guarda com carinho a primeira bandeira e a primeira camisa do Floresta Futebol Clube.


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Escrito por Raimundo Fernandes.

Disponivel na integra em: http://www.jornalopiniao.net/editorias/esporte/2131-a-primeira-mulher-dirigente-do-futebol-acreano-nasceu-em-1927

 

PERI DE MAFRA/SC – 95 ANOS: DA GLÓRIA AO ESQUECIMENTO

1920 – O INÍCIO

O Pery Sport Club, de Mafra, cidade no Planalto Norte de Santa Catarina, foi fundado em 18 de setembro de 1920, e foi o primeiro clube de futebol a surgir na então jovem cidade, instalada em 8 de setembro de 1917, graças ao desmembramento do núcleo urbano da cidade paranaense de Rio Negro, por conta da vitória do Estado de Santa Catarina na Questão de Limites com o Paraná, que se arrastava desde 1894.

Os fundadores do Pery eram todos trabalhadores da ferrovia São Paulo Rio Grande, que em 1917 havia inaugurado um importante entroncamento ferroviário na região, ligando-a á importantes centros como Joinville e Porto União, além da ligação com Ponta Grossa e Curitiba, já existentes.

Dentre estes ferroviários destacavam-se as figuras de José Madureira Correia, primeiro presidente; Egidio Piloto, vice-presidente; Joaquim Simião e Gutemberg Ferreira, tesoureiros; Salvador Correa e João Pompeu Ribas, secretários; Leopoldo Goelbecke, Jacob Haymussi, Osvaldo Amaral e Antônio Baggio, sócios fundadores.

Foram escolhidas as cores verde e branco para o clube, que teve o seu nome inspirado na obra “O Guarani” de José de Alencar, que trata do romance entre Ceci e Peri, este, um índio que concentra as virtudes de coragem, generosidade e valentia.

 Primeiro escudo

1921 – O CAMPO

O primeiro ano de vida do Pery foi de muito trabalho e pouca diversão, sendo os maiores esforços empregados na construção de seu campo, localizado nos fundos da estação ferroviária, numa região conhecida como Baixada Mafrense. O terreno fica ás margens do rio negro, que divide as cidades gêmeas. Mais tarde, com a construção de arquibancadas, o local recebeu o nome de estádio Ildefonso Mello, que mesmo em ruinas, resiste até hoje no mesmo local.

Os jogos contra o experiente Rio Negro S.C., da vizinha cidade paranaense de mesmo nome, também movimentaram o clube e á medida que o Pery ia crescendo, seu adversário ia minguando, já que “Rio-Mafra” ainda não comportava dois clubes.

1922 – AS PRIMEIRAS EXCURSÕES

Sem uma liga oficial para organizar campeonatos, os primeiros anos de atividade do Pery resumiram-se á realização de jogos amistosos. Neste ano, pela primeira vez o clube aventurou-se em jogos fora da sua cidade, tendo vencido o União S.C. em Jaraguá por 3×2 e perdido para o Caxias F.C. em Joinville por 3×0.

1923 – FRANCO PROGRESSO

Os amistosos seguiram-se e no jogo revanche diante do Caxias, o Pery causou surpresa ao bater o forte adversário joinvillense por 4×1.

Ampliando seu alcance, também visitou o município de Porto União, onde foi derrotado pelo União S.C. por 3×2.

Este ano tambem marcou a retomada da rivalidade com o Rio Negro S.C que após um período inativo, remontou seu time e abateu o Pery pela primeira vez na historia, por 3×2. A revanche acabou não acontecendo, devido as picuinhas da imprensa local, que informou que o Pery reforçaria seu time com três jogadores do América de Joinville, o que desagradou os rio negrenses e estremeceu a relação entre ambos.

 1924 – GOLEADAS

Aplicou uma goleada de 10×0 sobre o Rio Negrinho F.C. e também venceu por 3×0 o Lapa F.C. da cidade paranaense de mesmo nome.

 1925 – FORTE DIANTE DO COXA

Recebeu o time principal do Coritiba F.C. e perdeu apenas por 3×1, demonstrando estar no mesmo nível dos grandes clubes do Paraná. Também se manteve invicto em jogos contra o Caxias F.C. e o Rio Negro S.C.

 1926 – PELA PRIMEIRA VEZ EM CURITIBA

O Pery esteve pela primeira vez em Curitiba onde fez um jogo sensacional contra o Palestra Italia, sendo derrotado por 7×5, num jogo que serviu de preliminar para um duelo entre Paraná e São Paulo.

Em dezembro recebeu o time médio do Atletico Paranaense e conseguiu empatar em 2×2, sendo, porém, derrotado no dia seguinte por 4×3.

 1927 – UM PERYENSE NA SELEÇÃO CATARINENSE

Neste ano o Pery não foi feliz nos amistosos que realizou, tendo sido goleado em casa pelo modesto Jahu F.C. de Curitiba por 6×0.

As relações com o Rio Negro S.C. que estavam estremecidas foram reatadas neste ano e no primeiro jogo entre ambos, após muito tempo, o Pery amargou uma derrota por 4×3.

Embora ainda não estivesse devidamente filiado á Federação Catarinense de Desportos, cedeu pela primeira vez em sua historia um jogador para a Seleção Catarinense, tratava-se de Carlos Pires, que oficialmente, estava inscrito pelo Avahy F.C. de Florianópolis. Ele foi ponta-direita titular no jogo realizado no Rio de Janeiro, onde os catarinenses foram eliminados pelos baianos ao perderam por 8×5.

1928 – IMBATÍVEL DIANTE DA SELEÇÃO CATARINENSE

Manteve-se soberano diante do Rio Negro S.C. e visitou novamente a cidade de Joinville, desta vez para enfrentar o América F.C. pelo qual foi derrotado por 1×0.

Teve a sua filiação aceita pela F.C.D., porém, não conseguiu organizar-se para a disputa do Campeonato Estadual.

No final do ano, causou surpresa geral ao empatar em 1×1 com o Selecionado Catarinense que após ser derrotado em Curitiba, em jogo valido pelo Campeonato Brasileiro, esteve de passagem por Mafra.

 1929 – 3º LUGAR NO CAMPEONATO CATARINENSE

Neste ano as oficinas da Estrada de Ferro foram transferidas de São Francisco do Sul para Mafra, sendo instaladas bem próximas ao seu campo. Isto trouxe mais ferroviários á cidade e mais sócios ao clube, que aumentou ainda mais seu poderio esportivo e financeiro.

Acertando algumas pendencias junto á Federação Catarinense de Desportos, participou pela primeira vez do Campeonato Estadual. Sua estreia foi diante do Porto União F.C. o qual venceu por 2×1. Na segunda fase, jogada somente em janeiro de 1930, perdeu por 2×1 e foi eliminado pelo Caxias, que assim foi á final e sagrou-se campeão após vencer o Adolpho Konder F.C. de Florianópolis.

 1930 – POUCA ATIVIDADE

Por estar filiado á Federação Catarinense de Desportos, o Pery tinha que pedir a permissão da entidade máxima dos esportes catarinenses para a realização de qualquer jogo amistoso, deste modo, acabou tendo poucas aparições neste ano, já que não haviam outros clubes filiados na sua região. Com isso, restou ao Pery fazer alguns jogos contra o Caxias e América, de Joinville.

 1931 – SENSAÇÃO EM FLORIANÓPOLIS

Neste ano o Peri voltou com mais vigor aos gramados, tendo inicialmente abatido o Caxias por impiedosos 5×0, consolidando-se assim, entre os grandes times do futebol catarinense.

Nesta altura todos desejavam conhecer o poderio do time serrano, e não por acaso, a Federação Catarinense fez um convite para que viesse se apresentar em Florianópolis. Após muitas negociações o convite foi aceito e assim pela primeira vez o Pery exibiu-se na capital catarinense onde venceu o Figueirense por 4×2 e o Atletico Catarinense por 3×0, sendo derrotado apenas pelo Avai, por 4×3. No retorno desta excursão, passou por Itajai, onde empatou com o Lauro Muller (futuro campeão estadual deste ano) em 2×2.

  Escudo á partir de 1931

1932 – IMBATIVEL

Mantendo a excelente fase, venceu o Marcilio Dias, de Itajai por 4×3 e empatou com o Guarany de Ponta Grossa por 2×2 e com o C.A. Ferroviário de Curitiba por 3×3.

O resultado mais espetacular em jogos amistosos foi conquistado em Joinville, diante do América, que foi abatido por inacreditáveis 7×5.

Nesta época também contava com um bom time de basquete, que costumava acompanhar o time de futebol nas excursões para enfrentar adversários das cidades vizinhas.

1935 – VITORIAS E DERROTAS

Venceu todos os rivais locais e também o União S.C. de Porto União por 3×0, porém, amargou duas derrotas para o Caxias por 3×0 e Ypiranga de São Francisco por 4×0.

 1936 – VICE-CAMPEÃO CATARINENSE

Filiou-se a A.C.D. – Associação Catarinense de Desportos, entidade fundada no ano anterior em Joinville, dissidente da Federação Catarinense de Desportos.

Sagrou-se campeão da 3. Zona do Campeonato da A.C.D. (Zona Serrana), credenciando-se para a final do campeonato desta entidade, onde foi vice-campeão ao ser derrotado pelo Ypiranga de São Francisco por 4×3.

Ainda neste ano ganhou a alcunha de Leão da Fronteira ao empatar um jogo que estava perdendo de 5×0 para o Rio Negro S.C. e ao bater o Operário Esporte Clube, local, por 15×2.

 1937 – 3º LUGAR NO CAMPEONATO CATARINENSE

Em conjunto com o Operário E.C. e América F.C. de Mafra, Tres Barras S.C., G.E. Rio Negrense F.C. e C.A. Canoinhense foi um dos clubes fundadores da Liga Esportiva Catarinense, mais conhecida como Zona Serrana, entidade subordinada á Federação Catarinense de Desportos.

Como campeão da Zona Serrana, credenciou-se a jogar o campeonato catarinense, onde novamente foi eliminado pelo Caxias que o venceu por 3×2 em jogo único e se credenciou á final contra o Figueirense, que foi o campeão.

 1938 – MUDANÇA DE NOME

Mudou a sua denominação para Peri Ferroviário Esporte Clube, evidenciando seus fortes laços com esta classe.

Por divergências, não disputou o campeonato da Zona Serrana, ficando restrito aos jogos amistosos, nos quais bateu o Tres Barras S.C., que foi o campeão regional deste ano.

 1939 – O MAIOR TIME DE TODOS OS TEMPOS

Neste ano o Peri voltou a disputar e ganhar o campeonato da Zona Serrana, credenciando-se mais uma vez para disputar o Campeonato Catarinense.

Em jogo único diante do Caxias, venceu por 2×1 e credenciou-se para disputar a final contra o Figueirense, em Florianópolis, onde foi derrotado por 5×3 e amargou mais um vice-campeonato estadual.

O time vice-campeão, formado por Caroço, Alfredo e Cordeiro; Ataide, Rosalvo e Juvencio (ou Tonico); Cana, Bode, Abreu, Pedro Urbano e Bodinho, foi o melhor já formado na história do futebol do Planalto Norte Catarinense.

 

Esquadrão de 1939

Figueirense e Peri entrando em campo para a final de 1939

O CRAQUE TONICO

Os craques deste time lendário de 1939 eram o goleiro Caroço e o atacante e presidente Cana, titulares desde 1922, além do artilheiro Pedro Urbano, no entanto, que mais brilhou em nível nacional foi o meia Tonico, que em 1940, defendendo o Coritiba, participou do jogo inaugural do Estadio Pacaembu e em 1942 foi convocado para a Seleção Brasileira. Fez muito sucesso no Coritiba F.B.C. onde foi campeão paranaense em 1941,1942,1946,1947 e 1951.

 Tonico no Coritiba F.B.C.

1940 – 3º LUGAR NO CAMPEONATO CATARINENSE

Bicampeão da Zona Serrana, credenciou-se para a disputa de mais um Campeonato Estadual, onde foi eliminado em jogo único pelo Ypiranga de São Francisco, ao ser derrotado por 2×0. Com a vitória, os francisquenses, chegaram á final e foram campeões estaduais batendo o Avaí.

Nos jogos amistosos, bateu o Canoinhense por 8×0, o Marcilio Dias por 3×0, o Caxias por 4×3 e foi derrotado pelo Operário de Ponta Grossa por 5×3.

Neste ano foi fundado em Mafra o seu principal rival, o Clube Atlético Operário, que em pouco tempo, conseguiria montar um time competitivo e assim dividir a torcida na cidade.

 1941 – 4º LUGAR NO CAMPEONATO CATARINENSE

Tricampeão da Zona Serrana, credenciou-se para a disputa de mais um Campeonato Estadual, onde foi eliminado em jogo único pelo Caxias de Joinville, ao ser derrotado por 4×1. Com a vitória, os joinvillenses chegaram á final onde foram derrotados pelo Figueirense.

Nos jogos amistosos causou furor ao bater o Ypiranga de São Francisco, que mantinha a base campeã estadual de 1940 por inacreditáveis 10×2.

 1942 – 7º LUGAR NO CAMPEONATO CATARINENSE

Tetracampeão da Zona Serrana, credenciou-se para a disputa de mais um Campeonato Estadual, onde foi eliminado em jogo único pelo América de Joinville, ao ser derrotado por 5×1. Com a vitória, os joinvillenses alcançaram a fase semifinal, avançando depois para a final, onde foram vice-campeões por WO diante do Avaí.

  1943 – 4º LUGAR NO CAMPEONATO CATARINENSE

Pentacampeão da Zona Serrana, credenciou-se para a disputa de mais um Campeonato Estadual, onde foi eliminado pelo América de Joinville, ao ser derrotado por 2×1 e 6×3. Com a vitória, os joinvillenses alcançaram a final onde foram derrotados novamente pelo Avaí.

 1944 á 1954 – DIAS DE COADJUVANTE

Neste período o Peri deixou de figurar na disputa dos Campeonatos Catarinenses por ter perdido a condição de principal time da região para o Ipiranga F.C. de Canoinhas, campeão regional de 1945-46-48-49-50-51 e 52.

Também teve dificuldades para manter-se como o principal time da cidade, tendo em vista o crescimento do seu rival eterno, o Clube Atlético Operário, que foi campeão regional em 1947.

Time de 1949

1955 – VOLTA MODESTA AO ESTADUAL

O Peri voltou a disputar o Campeonato Estadual em 1955, credenciado por ter vencido o Campeonato Regional, no entanto, não conseguiu avançar ás fases finais.

 1957 – CAMPEÃO MAFRENSE INVICTO

O Peri conquistou de forma invicta o campeonato da Liga Mafrense de Desportos, competição que envolvia os principais time de Mafra e Região.

Também disputou o Campeonato Catarinense, que a partir deste ano foi dividido em Zonas Regionais. Alocado num grupo de clubes do Planalto Norte e Região Oeste, não conseguiu avançar para a Segunda Fase da competição.

1958 – UM ANO DE AMISTOSOS

Neste ano o Peri brilhou em diversos jogos amistosos realizados durante o ano. Nos duelos intermunicipais bateu o Ipiranga de São Francisco por 7×2, o Atlético São Francisco por 6×0, o Santa Cruz de Canoinhas por 4×1 e foi derrotado por Caxias e São Luiz de Joinville por 2×1.

Nos duelos interestaduais venceu o Avahi de União da Vitória por 4×1, o São Mateus por 6×2 e o União de Lapa por 6×3 e 4×1. Em contrapartida foi derrotado pelo Ferroviario de União da Vitória por 1×0 e empatou com o Britania de Curitiba em 3×3.

Nos duelos Peri-Ope, em 10 jogos, houve 4 vitorias para lado e 2 empates, porém, o Peri conseguiu duas grandes goleadas: 5×0 e 4×0.

 Cena de um clássico Peri-Ope

O CRAQUE LEOCÁDIO

Neste ano 1958, surgiu no time principal do Peri, contando com apenas 16 anos, um meia muito habilidoso chamado Leocadio Consul. Bastaram poucas aparições para que o garoto despertasse a atenção dos principais clubes do Paraná. Operário de Ponta Grossa, vizinho mais próximo, foi mais ligeiro e levou o jogador embora. Posteriormente, Leocadio brilhou no Londrina e no Coritiba F.C. onde jogou entre 1970 e 1974, conquistou os títulos estaduais de 1971-72-73-, o Torneio Internacional de Verão de 1971, o Torneio do Povo de 1973 e ainda realizou diversas excursões ao exterior.

Leocádio no Coritiba F.B.C.

1960 – DENOVO ENTRE OS GRANDES DO ESTADO

No extenso Campeonato Catarinense de 1960 foi vice-campeão de sua zona regional, colocando-se assim entre os 10 clubes que disputaram a fase final, onde não obteve sucesso. A derrota mais amarga ocorreu para o Caxias, que o venceu por 7×0.


1964 – MODESTA APARIÇÃO NO ESTADUAL

No Campeonato Estadual de 1964 não conseguiu colocar-se entre os 17 clubes da fase final, fazendo uma modesta campanha na 3ª Zona que classificava três clubes entre os oito disputantes.

 1965 – OUTRA MODESTA APARIÇÃO NO ESTADUAL

Em 1965 não conseguiu colocar-se entre os 12 clubes da fase final, fazendo uma modesta campanha na 4ª zona, que classificava dois clubes entre os sete disputantes.

1966-1969 – OS ULTIMOS ANOS DE GLÓRIA

Neste período, mesmo afastado das disputas dos Campeonatos Estaduais, o Peri possuía muito prestigio no futebol local e regional, tendo sido campeão do concorrido campeonato da Liga de Futebol de Amador da cidade de Corupá em 1969.

Embora modesto no futebol estadual, o Peri ainda era um clube social muito bem estruturado, contando com quadras de tênis, basquete e até uma grande piscina, onde até Vera Fischer, então miss Santa Catarina, chegou a nadar.

  1970-1982 – LENTA DECADENCIA

Com a falência do sistema férreo, o clube iniciou um lento período de decadência, com uma grande redução no numero de associados e na receita.

Neste cenário, restou ao Peri disputar os campeonatos amadores do norte catarinense, enquanto seu principal rival, o Operário, ensaiava o retorno ao Campeonato Estadual, o qual disputou sem grande sucesso em 1977 e 1978.

Buscando contar com o apoio do torcedor periense, em 1980, o Operário deu lugar ao Mafra Atlético Clube, que surgiu com o objetivo de unificar as torcidas da cidade, mas não foi bem sucedido.

 1983 – GOLPE DE MISERICORDIA

O patrimônio do clube, que já vinha se deteriorando devido á grave crise financeira, foi tragicamente comprometido com a grande enchente que assolou a cidade e o Estado em 1983 e deixou debaixo d’agua o estádio e a sede, que nunca mais foram os mesmos. A fúria do rio Negro também levou embora grande parte dos troféus e documentos do clube, que assim, perdeu também grande parte de sua memoria.

 O rio negro transbordado tendo em primeiro plano a histórica ponte de ferro e a o fundo o estádio do Peri.

“Rio-Mafra” debaixo d’agua, onde o centro de Rio Negro está na parte de baixo da foto e o centro de Mafra acima.

1984 Á 2005 – ESQUECIDO

Ao mesmo tempo em que o Peri seguia moribundo, uma nova versão do seu rival Operário, agora chamado de Sociedade Esportiva e Recreativa Operários Mafrenses, aventurava-se esporadicamente nos campeonatos regionais amadores e na disputa da Segunda Divisão de Profissionais.

Neste cenário, o Peri perdeu espaço, enquanto o Operário, mesmo sem sucesso dentro de campo, conseguia manter uma torcida fiel e se consolidar como o único clube da cidade.

Em 2001, seus antigos jogadores, inconformados com o abandono do clube, decidiram a Sociedade Esportiva Recreativa Veteranos do Peri, que passou a realizar jogos semanais no Estádio Ildefonso Melo, dando um pouco de vida ao local, que desde então também passou a receber cuidados.

2006 –UMA VOLTA INESPERADA

Neste ano, de forma surpreendente, o Peri retornou ao futebol profissional, tendo disputado a 3ª Divisão do Campeonato Catarinense, quando ficou em 5º lugar entre 10 clubes. A sua volta foi encabeçada pelos dirigentes e comissão técnica que haviam comandado o Operário nas duas ultimas temporadas e que não tiveram o apoio necessário para manter este clube em atividade no ano seguinte.

Sem estádio próprio para mandar os seus jogos e com o estádio do Operário em reforma, o Peri teve que mandar alguns jogos no estádio municipal de Rio Negro e embora isto não fosse um problema, a sua média de publico neste campeonato ficou bem abaixo da média que o Operário vinha tendo nos últimos anos, evidenciando que embora glorioso no passado, já não era um clube tão querido na cidade.

Escudo em 2006

Time de 2006, no estádio do Operário (Pedra Amarela).

2015 – ATUALMENTE

Nos dias atuais o Peri já não tem sede social e campo próprio, já que os mesmos pertenciam á Rede Ferroviária Federal, e agora pertencem á União, sendo administradas pelo DNIT, que por sua vez, cedeu-a á Prefeitura de Mafra.

O campo segue servindo á comunidade e aos Veteranos do Peri enquanto a sede social é utilizada para abrigar uma repartição da prefeitura.

Resta ainda um bar e canha de bocha ao lado da sede social, que mantem vivas as lembranças do clube, graças á sua pintura verde e branca e o escudo do clube desenhado na parede.

 

Arquibancadas do Estádio Ildefonso Mello em ruínas (2006)

Antiga sede social do clube (2006)

Cancha de bocha do Peri (2009)
Fontes: Acervo pessoal, acervo de Adalberto Jorge Kluser, Portal clickriomafra, site do Coritiba e Figueirense, jornais A Noticia e Jornal de Mafra.

MOCINHO ERA BOM DE BRIGA

O VILÃO

Um dos primeiros vilões do futebol catarinense foi o jogador Antonio Bezerra, natural da histórica São Francisco do Sul/SC, onde como que por tradição, os moradores se notabilizam muito mais por seus apelidos, e o seu, não podia ser mais insólito: Mocinho.

Mocinho, no centro da foto.

O INÍCIO DE CARREIRA

Mocinho começou sua carreira no Ypiranga Futebol Clube, de São Francisco do Sul, em 1924, atuando como ponta-esquerda. Tinha na velocidade seu principal atributo e entre 1925 e 1928 destacou-se em diversos jogos amistosos, tendo inclusive marcado gols diante dos poderosos America de Joinville e Hercilio Luz de Tubarão, que foram derrotados por 3×0 e 3×2, respectivamente, em jogos bastante tumultuados.

O Ypiranga era um clube de origem humilde, composto basicamente por trabalhadores do porto, por isso, não tinha a polidez dos clubes da elite. Com isso, Mocinho pode sempre colocar em pratica o seu jogo pesado, sem ser repreendido. Neste cenário, os jogos entre Ypiranga e clubes como América e Caxias, de Joinville, geralmente acabavam em confusão, e o pivô delas era sempre o mesmo: Mocinho, o quebra-canelas.

PONTAPÉS E TAPAS NA CARA

Em 1928, passando a atuar no meio-campo, Mocinho começou a arrumar ainda mais encrencas, pois agora tinha a função de marcar. Em 8 de Setembro, num jogo em que o Ypiranga venceu o Britania de Curitiba por 1×0, após incomodar tanto o jogador Basani, levou um pontapé e uma bofetada. Ao revidar na mesma intensidade, deu inicio a uma batalha campal que só terminou após a intervenção dos presidentes dos clubes e da policia, que com muito custo, conseguiram fazer com o que o jogo fosse terminado, bem como as festividades que o sucederam.

Ainda neste ano integrou a Seleção Catarinense que em 4 de Novembro foi abatida pelos Paranaense por 8×0, em jogo valido pelo Campeonato Brasileiro.

UM CONTRA SETE

Em 1929 teve atuação discreta nos gramados, porém, em 1930 voltou com força total, agora defendendo o Lauro Muller Futebol Clube, de Itajaí, clube formado por operários de uma Fabrica de Tecidos e que era temido pela hostilidade que recebia seus adversários no seu campo, na Vila Operária.

Em 23 de fevereiro, quando seu time derrotou o Caxias por 3×2, em jogo amistoso, conseguiu a proeza de machucar sete jogadores caxienses e não ser expulso. A narrativa do Jornal de Joinville demonstra bem a indignação dos joinvillenses:

Os laurenses organizam um ataque mas o Caxias defende, Cylo ataca e Eurico defende, Mocinho dá uma violenta entrada em Cylo que jogou até o fim contundido. Dorotávio chuta forte e Chiquito ao tentar tirar faz gol contra, Lauro 1×0.O Caxias vai ao ataque e Lemos faz 1×1, Mocinho machuca Lemos com raiva e este é substituído por Andrade que joga 5 minutos e saiu machucado por Mocinho e por Lemos ter se recuperado.O Lauro Muller tem um escanteio, Paulo cobra Candinho defende mas Dorotávio faz Lauro 2×1.Mocinho que nem touro ataca de raiva, violentíssimo e o alvejado pela ferocidade é Raul Schmidlin que leva duas pancadas na boca do estômago, na segunda pancada Schmidlin revida e é agredido por brutamontes.Mocinho mostrou ser um elemento sem caráter e sem educação esportiva.Serenados os ânimos Dario faz penal e Marinheiro empata em 2×2.Mocinho e sua sinistra faixa de machucar dá seguidas entradas violentas.Começa o 2º tempo e o Caxias ataca e o Lauro defende, o Lauro ataca mas o jogo perde a beleza devido a Mocinho que machuca José, mas este porém continua a jogar,em seguida Mocinhovai agredir Cyrillo que se machuca, é uma verdadeira tourada.Vendo em Marinheiro a principal estrela da defesa caxiense, Mocinho depois de várias tentativas o machuca sendo que este foi levado a uma pharmácia onde foi  medicado e levado ao Hotel, depois de bons lances ocorre um penalty de Chiquito que Dario cobra e perde.Começa a cair uma torrencial chuva e em um ataque o Lauro faz 3×2, depois de  mais um ataque termina o jogo.Atuou de juiz Emilio Sada que foi muito criterioso e imparcial. Tomara que o Lauro Muller não apóie o jogo de Mocinho, o Caxias agradece a Pharmácia Santha Terezinha por tratar de Marinheiro.

 UMA TERRIVEL MUTILAÇÃO

Depois deste polemico jogo, Mocinho seguiu atuando normalmente pelo Lauro Muller, sendo sempre um dos principais jogadores do time, que já era famoso em todo Estado, enfrentando em condições de igualdade e muitas vezes vencendo, os principais clubes de Joinville, Florianópolis e Blumenau.

Em Outubro de 1930 foi convocado pelo exercito para lutar no “Movimento Libertador” que conduziu o ditador Getúlio Vargas á presidência do Brasil e nesta ocasião, servindo em Florianópolis, teve a infelicidade de ser atingido por uma granada que lhe arrancou o braço direito.

A fatalidade comoveu toda a população itajaiense, principalmente a comunidade esportiva, onde tanto o C.N. Marcilio Dias e quanto o Lauro Muller F.C. organizaram jogos para arrecadar fundos para ajuda-lo na recuperação.

A VOLTA AO FUTEBOL

Para qualquer outro, perder um braço significaria o fim da carreira futebolística, mas não para Mocinho, que imitando os passos de Hector ‘Manco’ Castro, herói uruguaio do Mundial de 1930, deu sequencia a carreira, mesmo com a deficiência.

No inicio de 1931, Mocinho voltou ao posto de titular do meio-campo do Lauro Muller, que nesta ocasião, estava com o time cada vez mais afiado.

BENGALADAS E FACADAS

Como não podia deixar de ser, Mocinho, também continuou adepto de uma boa briga. Em 14 de junho de 1931, quando assistia a um jogo entre Brusquense e Lauro Muller, em Brusque, a confusão em que se envolveu por pouco não terminou em tragédia, conforme relatou o jornal ‘O Libertador’:

No final, quando os nossos rapazes preparavam-se para o regresso, houve uma desavença entre o chauffer João Pereira e um dos rapazes visitantes. Houve a intervenção de três outros presentes que o referido chauffeur tentou agredir a faca, tendo mesmo conseguido ferir de leve o nariz de um deles. Foi quando surgiu Antonio Bezerra, mais conhecido por Mocinho, que foi em socorro de um irmão, a quem Pereira também tentava ferir. Mocinho, que só tem o braço esquerdo, pois que o direito perdeu durante a revolução com a explosão de uma granada, entrara em luta armado de bengala, sendo esfaqueado pelo alludido chauffer, recebendo dois ferimentos, sendo um no braço esquerdo e outro no ventre. O criminoso refugiou-se num Hotel, sendo afinal preso, bem como o seu primeiro contendor. Mocinho, cujo estado não é grave, ahi fora assistir o match, acha-se internado no Hospital de Azambuja, daquella cidade.

NOVA VOLTA POR CIMA

Em Julho, mesmo ainda machucado pelas facadas, Mocinho voltou ao time principal do Lauro, que nesta ocasião, preparava-se para a disputa do Estadual de 1931, campeonato este, que após muita confusão por parte da Federação, terminou somente em janeiro de 1932, com o titulo sendo homologado ao Lauro Muller, devido a desistência do Athletico Catharinense. Embora não fosse mais titular do time, Mocinho fazia parte do plantel. Deste modo, colocou o seu nome no rol dos jogadores campeões do Estado.

O FIM DA CARREIRA ESPORTIVA

A partir de 1933 seu nome deixou de figurar no noticiário esportivo. Seu paradeiro fora do esporte é um tanto obscuro, embora existam evidencias que neste período tenha iniciado a carreira de Delegado de Policia na cidade de Penha.

CAMPEONATO CATARINENSE AMADOR (REGIÃO OESTE) 2005-2014

O Campeonato Catarinense de Futebol Amador da Região Oeste de Santa Catarina é subordinado ao Campeonato Catarinense de Futebol Não-Profissional, que além dos campões e vice-campeões desta região, conta também com a participação de clubes das regiões Sul/Norte e Capital.

Embora subordinado á competição estadual, o Campeonato do Oeste é atualmente o maior, melhor e porque não principal campeonato amador do Estado, contando neste ano de 2015 com a participação de 21 clubes de 21 cidades diferentes.

Entre as 21 cidades envolvidas na competição, apenas Chapecó possui um time de futebol profissional, ou seja, para as demais cidades esta é a principal competição do calendário esportivo.

A listagem e mapa abaixo detalham os participantes deste ano.

Clube Nome completo Sede População
Abelardense Associação Recreativa e Esportiva Abelardense Abelardo Luz 17.100
AFA São Carlos Sociedade Esportiva Recreativa e Cultural AFA São Carlos 10.284
Ajap Sociedade Esportiva e Recreativa Ajap Pinhalzinho 18.284
Cometa Esporte Clube Cometa Itapiranga 16.253
CRM Clube Recreativo Maravilha Maravilha 26.104
Cruzeiro Sociedade Esportiva e Recreativa Cruzeiro Itá 6.427
Fraiburgo EC Fraiburgo Esporte Clube Fraiburgo 34.606
Grêmio Guarujá Grêmio Esportivo Guarujá Guarujá do Sul 4.908
Guarani Clube Esportivo Guarani S. Miguel do Oeste 39.352
Guarany Sociedade Esportiva Recr. e Cultural Guarany Xaxim 27.336
Harmonia Esporte Clube Harmonia Guaraciaba 10.498
Independente Sociedade Esportiva Independente São Domingos 9.496
Ipanema Grêmio Cultural Ipanema Mondaí 8.432
Juventude Sociedade Esportiva e Recreativa Juventude Lindóia do Sul 4.642
Oeste EC Oeste Esporte Clube Chapecó Chapecó 202.009
Ouro Verde Clube Esportivo Recreativo Ouro Verde Descanso 8.638
Ouro Verde/Curitibanos CME Ouro Verde / Curitibanos Esporte Clube Ouro Verde 2.271
Palmitos Associação Esportiva Palmitos Palmitos 16.266
Saudades Associação Desportiva Saudades Saudades 9.016
Xanxerê FC Xanxerê Futebol Clube Xanxerê 47.679
Ypiranga Associação Ypiranga Futebol Clube S. José do Cedro 13.672
533.273



O Campeonato Regional de Futebol do Oeste Catarinense teve origem em 1959 quando pela primeira vez formou-se um grupo entre clubes da região para indicar um representante no Campeonato Catarinense de Futebol. Esta fórmula perdurou até a década de 1960. Na década de 1970 a competição tornou-se um tanto obscura, não sendo disputada continuamente. Na década de 1980, o campeonato voltou a ganhar força e até o final da década de 1990 foi organizado pela Federação Catarinense de Futebol. No início dos anos 2000 a organização da competição era revezada de um ano para o outro entre as Ligas Amadoras da Região. Á partir de 2009 a organização passou a ser confiada exclusivamente á LEOC (Liga Esportiva Oeste Catarinense), de Joaçaba, que ano após ano, vem conseguindo aumentar o interesse e o numero de participantes do campeonato.

Nos últimos 10 anos, a competição vem sendo marcada pelo equilíbrio, tendo sido vencida por 9 clubes diferentes, cabendo apenas ao Cometa de Itapiranga, a honraria de ter conquistado dois títulos neste período.

O sucesso da competição deve-se ao fato dos clubes mais tradicionais da região preferirem disputar as competições amadores, do que se profissionalizar. Deste modo, os valores que seriam gastos com transportes, taxas da Federação, folha salarial e encargos de um time profissional, são gastos na formação de grande times, repletos de jogadores de renome no Oeste do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A competição também sempre conta com jogadores conhecidos no cenário nacional.

Neste ano, o destaque é o volante Ademir Sopa, ex-Portuguesa e São Caetano-SC, que está defendendo o Independente-SD. No ano passado a estrela foi Josiel, ex Paraná Clube e Flamengo, artilheiro do Brasileirão-2007, que defendeu o Cometa. O lateral direito Patricio, ex-Gremio-RS defendeu o Olaria de Xanxere por varias temporadas. Alguns jogadores são figuras carimbadas na competição. O goleiro Pedro Paulo, ex Chapecoense e Portuguesa/SP já foi campeão com o Oeste-Chapecó e  o atacante Tuto, ex Ponte Preta-SP, São Caetano-SP e futebol japones foi  campeão em 2012 com o Ypiranga.

A listagem abaixo, detalha os participantes e suas respectivas colocações entre 2005 e 2014.

CLUBE CIDADE 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
ABELARDENSE, A.R.E. Abelardo Luz 4F SF 1.
ACEF/SOERCA Campo Erê 1F
AFA, S.E.R.C. São Carlos SF 4F 1F SF
AJAP, S.E.R. Pinhalzinho 1F 2. 2. 4F 8F 1F SF
ASSOC. CORONEL FREITAS Coronel Freitas 1F
ATLÉTICO CN Campos Novos 4F 4F 8F
BAVIAL, A.A. Xanxerê 1F 1F 1F
CAÇADOR A.C. Caçador 4F 1F 8F
CAÇADORENSE, E.C. Caçador 1F
CANARINHO, E.C. Pinhalzinho 1F 8F 8F
COMETA, E.C. Itapiranga 1. SF 1. SF 2. 2. SF 8F
CONCÓRDIA A.C. Concórdia 8F
COOPERCAMPOS, A.A. Campos Novos 8F 1F SF 8F 4F
CRUZEIRO, S.E.R. Itá 1. 4F 8F 8F 2.
FLOR DA SERRA F.C. Herval D’Oeste 1F
FRAIBURGO Fraiburgo 1F
FRAIBURGO E.C. Fraiburgo 8F 8F
FREI BRUNO, A.A. Joaçaba 4F
GIGANTINHO, S.E.C. Chapecó 1. 4F 4F 1F
GUARANI, C.E. S. Miguel do Oeste SF 1. 8F SF 4F 2. 8F
GUARANI, E.C. Maravilha 1F 4F
GUARANY, S.E.R.C. Xaxim 4F 1F 1F 8F 1F
HORIZONTE F.C., E.C.R. Novo Horizonte 1F 8F
INDEPENDENTE, S.E. Barra Bonita 4F 1F 1F
IPANEMA, G.C. Mondaí 1F
ITABIGA, C.R. Faxinal dos Guedes 1F 1F 4F SF
JUVENTUDE, S.E.R. Lindóia do Sul 1F 1F 4F 2. SF SF 4F
JUVENTUS, C.A. Seara 2. 1F 8F 1F
MARAVILHA, C.R. Maravilha 1F 8F
METROPOL, S.E.R.C. São Carlos SF
NACIONAL F.C. Chapecó 1F
OESTE E.C. Chapecó 2. 1. 4F
OESTE F.C. Chapecó 1F 1F 1F
OESTE E.C. / GIGANTINHO Chapecó 4F
OLARIA, E.C. Xanxerê SF 4F SF SF 4F 4F 1. SF
OLÍMPICOS, C.E. Xanxerê 1F 1F 8F 8F
OPERÁRIO / RODEIO BONITO Águas de Chapecó 8F
OURO VERDE, C.E.R. Descanso 1. 8F
PALMITOS, A.E. Palmitos 4F 4F 8F
PINHEIRO F.C. Campos Novos 4F
PINHEIRO PRETO / ABEC Pinheiro Preto 1F
PONTESERRADENSE, C.E.R. Ponte Serrada 8F
REAL PROMORAR, E.C. São José do Cedro 4F
RODEIO BONITO, S.E. Chapecó 4F
SÃO CRISTÓVÃO, S.E.R. Quilombo 4F 4F 1F 4F 4F 8F
SERRA ALTA, C.M.E. Serra Alta 1F
SOERCA Campo Erê 1F 1F 1F 1F 1F 1F
TABAJARA F.C. Xanxerê SF 4F 4F 4F 4F 4F
TANGARAENSE, A.B.E.C. Tangará 1F 8F 8F
TRÊS ESTRELAS, E.C. Xanxerê 1F 8F 4F
UNIÃO CURITIBANENSE Curitibanos 1F
VINTE E NOVE DE JUNHO, A.A. Bom Jesus 8F
VIVA VIDA, A.C. Santiago do Sul 1F 1F
XANXERÊ F.C. Xanxerê 4F 4F
YPIRANGA F.C., A. São José do Cedro 4F 2. SF 1. 8F 4F

LEGENDA:

1. = Campeão

2. = Vice-campeão

SF = Semi-finalista

4F = Quartas de Final

8F = Oitavas de Final

2F = Segunda Fase

1F = Primeira Fase.

UMA AVENTURA DO CAXIAS EM BLUMENAU/SC – 1928

Nos dias de hoje, uma viagem entre Joinville e Blumenau, distantes cerca de 100 km, demanda pouco mais de 1 hora e meia para ser concluída, seja seguindo pela duplicada BR-101 até se chegar á mortal BR-470, ou seja via BR-101, depois BR-280 e finalmente a SC-414 que corta uma belíssima serra entre os municípios de Guaramirim e Blumenau.

Estes trajetos, todos bem asfaltados, embora perigosíssimos pela falta de rodovias duplicadas, são bem mais acessíveis do que o caminho que Caxias Futebol Clube de Joinville encontrou quando resolveu fazer uma excursão até a ‘vizinha’ cidade em 1928.

Nesta ocasião, qualquer trajeto escolhido era feito por estradas sem qualquer tipo de pavimentação, o que transformava uma simples excursão esportiva numa verdadeira epopeia.

O relato abaixo, extraído do Jornal de Joinville, detalha uma das diversas aventuras futebolísticas registradas em terras catarinenses, lá pelos idos de 1920/30.

Domingo 16 de Setembro de 1928

Em Blumenau:

F.B.C. BLUMENAUENSE 1X4 CAXIAS F.C. (Joinville)

A SAÍDA NO SÁBADO

O Caxias chefiado por seu presidente Irapuan Leal seguiu para Blumenau, animado das melhores esperanças, numa caravana de sete automóveis escalonados, sendo o primeiro carro pertencente ao Sr. Palmyro Vidal, que levou o contador de anedoctas Bento. Além destes e dos atletas, acompanharam a embaixada o tesoureiro Jazer Vieira, o secretário João Lorenzi, os senhores Roberto Schmidlin, Henrique Meyer Jr., Julio Cribari, Otto Schoereder e o tenente Manoel Câmara, que foi como juiz.

A BOIADA ‘CAXIAS’

Todos passaram por várias peripécias até a chegada, devido às más condições do tempo e da estrada, que passava pelas margens do Rio Itajhay. Num dos trechos, a caravana deparou-se com uma boiada composta por onze bois pretos e brancos. Logo todos a apelidaram de boiada Caxias, e para os mais supersticiosos, era um indicio da vitória caxiense no jogo.

A CHEGADA DOMINGO DE MADRUGADA

O Caxias chegou às 3 horas da madrugada (de domingo) em Blumenau, e logo se hospedou no Hotel Wurger na Altona, distante 7 km do centro Blumenau. Faltava ainda o carro de Julio Cribari que trazia o Jazer, Candinho, Manequinho e Amorim.

O AGUACEIRO

Às 10 horas da manhã começou um forte aguaceiro, que pôs em dúvida a realização do jogo. A diretoria do Blumenauense foi buscar os representantes do Caxias, para juntos verificarem as condições do campo, e ao chegaram até ele, mal puderam distinguir o gramado, que estava coberto por um lençol d’água. A solução foi seguirem até o campo do Brasil, que embora também não estava bom, apresentava um melhor aspecto. Desta forma, foi combinado entre as três diretorias, a realização do jogo, no campo do Brasil.

A CHEGADA DO RESTO DO TIME

O Caxias ainda estava receoso pelo atraso do sr. Julio Cribari, já que sem ele, o time só poderia entrar em campo com 9 jogadores. No entanto, as 13:00 horas, todos chegaram são e salvos à Blumenau. O atraso foi motivado por um desarranjo no carro, logo que saíram de Joinville, que fez com que eles retornassem para repará-lo.

 O JOGO

Às 16 horas depois do clássico bate-bola no gramado, era chegada à hora do jogo. A sorte de escolher o campo coube ao Caxias. A linha do Caxias que jogava num terreno pior, cheio de lama, não podia firmar-se bem, o que era aproveitado pelos locais. O jogo mais combinado porém, por parte do alvinegro, leva os seus dianteiros a assediar constantemente o arco. Desse modo, Calafate aos 20 minutos, de perto, conquista o primeiro ponto caxiense. Continuam os ataques por parte dos joinvillenses, que perdem mais duas ótimas oportunidades. Os de Blumenau reagem, mas não fosse a afobação, teriam conseguido empatar. O Caxias continua fazendo pressão e consegue mais dois pontos com Pedro Lemos. Não desanimaram os blumenauenses e alguns minutos depois, devido a uma furada de Candinho, que não pode firmar-se no terreno, fizeram seu único ponto. João saiu do arco, mas não impediu que fosse vasado, terminando assim o 1º tempo com 3×1 para o Caxias.

Reiniciado o 2º tempo, o Caxias entra a atacar, procurando aumentar a contagem. Os blumenauenses começam a desenvolver um jogo um tanto pesado, sendo marcadas varias penalidades. A partida foi interrompida duas vezes para atender os jogadores machucados. Prossegue o jogo, e é marcada uma penalidade contra os locais. Há esforço de parte a parte para aumentar a contagem. Num dado momento que se acha caído um jogador local, os blumenauense conseguem um ponto que é acertadamente anulado pelo juiz. Prosseguem os do Caxias com mais investidas, sendo ao faltar dez minutos, conseguem o ultimo ponto, com Pedro Lemos. Atuou de juiz o Sr. Camara que foi imparcial.

Á NOITE

A noite no Hotel, ocorreram brincadeiras com Bento, Manequinho e Candinho, que nos intervalos exigiam uma rodada de chopps. Os senhores Irapuan Leal e Willy Urban discursaram, os directores dos clubes locais também estavam presentes. A exceção de Henrique Meyer e seus acompanhantes, que voltaram na mesma noite, os demais regressariam apenas na 2ª feira pela manhã.

FUGINDO DA ENCHENTE

Conforme era previsto, a embaixada caxiense deixou Blumenau segunda-feira pela manhã, chegando a Joinville de tarde, após uma vigem sob forte chuva. Apenas Julio Cribari, que já teve problemas na ida, não pode retornar. Ao acordar, ele deparou-se com o Rio Itajahy cheio, inundando parte da Rua XV e impedindo que os automóveis passassem. Segundo alguns, foi cômico ver o sr. Jazer Vieira  tentando colocar 12 pessoas no carro para não serem víctimas do Rio Itajhay.

O TRAJETO ATUAL

CAMPO DO COLÉGIO CATARINENSE – 100 ANOS

A INAUGURAÇÃO

Domingo 11 de Abril de 1915

Em Florianópolis:

No campo do Gymnasio, na Rua Esteves Junior, ás 14:50 horas, um match de foot-ball amistoso:

EXTERNATO ‘1º team’  1×0  INTERNATO ‘1º team’ 

A CHUVA ATRAPALHOU O JOGO INAUGURAL DO CAMPO

Após dois anos de trabalho intenso, finalmente o Gymnasio Santa Catharina (atual Colégio Catarinense) conseguiu concluir a construção do seu próprio campo de futebol, localizado nos fundos do extenso terreno do estabelecimento de ensino.

Para inaugurar o campo com toda a pompa que o mesmo merecia, a diretoria do Gymnasio promoveu uma grande tarde esportiva, onde os seus alunos mais afeitos ao esporte, puderam demonstrar caprichados exercícios de ginastica e realizar o clássico jogo de futebol entre alunos internos x alunos externos, ou simplesmente Internato x Externato.

Foi um dia de muita expectativa e festa para todos no Gymnasio Santa Catharina, tendo o campo ficado repleto de alunos e alguns convidados para assistirem á programação.

As provas de ginastica transcorreram dentro do esperado, o que não aconteceu com o jogo de futebol, que por conta de um forte temporal que caiu de repente, teve que ser paralisado tão logo foi terminado o primeiro tempo.

Embora este evento fosse marcante para o futebol da capital, que acabava de ganhar outra praça de esportes além do campo do C.S. Florianópolis, a repercussão na imprensa local foi mínima. O único jornal que noticiou a inauguração do campo foi o ‘Ipiranga’, que não por acaso, era escrito pelos próprios alunos do Gymnasio.

‘Ipiranga’, Florianópolis, maio de 1915:

Foi escolhido para a direcção o distincto moço Gentil Silva que ás 14,50, mandou que os “players” tomassem as respectivas posições.

As equipes entraram assim em lucta:

Externato

J. Amorim Admastor Linhares Rude Celso

Perusca Floriano Algemiro

Iracy Altamiro

Nicanor

 Internato

Cauduro Pinho Abelardo Sada Affonso

Edmundo Theodoro Jorge

Jayme Mario

Bruno

Convidada, a senhorita Cora Linhares, deu o “place kicke”. Durante alguns minutos correu o jogo sem dominio certo, feito só de shoots e rebatidas.

Porém Pinho, o veloz ontside righr do Internato de uma escapada passa alguns “driblings” nos “halves” do externato e consegue enviar uma “granada” ao rectangulo inimigo, dando occasião a uma bella defeza de Nicanor, o impertubavel goal-keeper.

Subito uma escapada de Amorim, habilmente cortada por Jorge, arranca dos espectadores anceios e freneticos enthusiasmos. Depois certo tempo, começou de pensar o temivel outside do Externato, Celso, a realçar a linha dos forwards, passando acolá ao Amorim driblando e enviando emfim vigorosos shoot ao goal adversario habilmente defendido por Bruno.

Á medida que lamentamos a falta de combinação dos players externos, devemos elogiar a combinação dos internos. Abelardo manteve-se no nivel dos seus companheiros, conseguindo atacar o goal de Nicanor, com shoots vigorosos.

Adamastor que até então estava desanimado, recobra a animação, vendo a bola manter-se, por algum tempo, no campo inimigo e, recebendo um passe de Celso, impelle a bola ao goal atirando-se sobre o goal-keeper – e abre assim a “score” do seu team, com o primeiro e unico goal do dia.

Os players internos não fraqueiam. Dada a sahida, investiram estes, em forte investida contra a defeza adversaria, e enviam varias “granadas” ao goal. Floriano, o “center-half” dos externatos, que sempre faz o seu jogo realçadamente, fel-o n’este dia muito obscuramente. Foi muito notada a perseverança de Edmundo, marcando Celso. Affonso e Sada, os excellentes “players” da ala esquerda fizeram, por ultimo, um jogo de passes estupendos.

D’um “corner” de Theodoro, se originou um “mellée” que, infelizmente, foi cortado devido a bola ter batido no “referee”. Iam os formados internos em veloz investida, quando o  ‘refere” apita dando como terminado o jogo, devido a chuva. De um só half-time constou o jogo do dia 11, terminando com o seguinte resultado.

Externos – 1 gool

Internos – 0                                                                              

TRAVE DE ENTRADA DO CAMPO – Década 1920

VISTA AÉREA – Década de 1920


PALCO ÚNICO DO CAMPEONATO DE 1925

Por conta de obras de melhoria no Campo da Liga, na Rua Bocayuva, (depois rebatizado de Estádio Adolfo Konder), o Campeonato de 1925 teve como único palco dos jogos o campo do Gymnasio Santa Catharina.

Não á toa, o título deste ano foi conquistado de forma invicta e indiscutível pelo Externato Futebol Clube, time formado exclusivamente por alunos do ginásio.

A conquista do Externato rendeu reclamações dos torcedores dos demais clubes da Liga, que alegavam que os jovens conheciam todos os buracos do campo e por isso foram favorecidos no campeonato. Replicavam os do Externato lembrando que o Internato, também composto de alunos do ginásio, havia participado do mesmo campeonato e terminou num modesto 5. lugar entre 7 participantes. Numa tréplica, os torcedores mais atentos lembravam que o Internato, embora tenha ido mal no campeonato principal, conquistou também de maneira invicta o título dos 2. quadros. Certo é que a discussão cessou no campeonato seguinte, quando o Campo da Liga voltou a ser o palco principal do futebol de Florianópolis.

EXTERNATO, CAMPEÃO DE 1925

O CAMPO DE FUTEBOL MAIS ANTIGO DO ESTADO

O campo do atual Colégio Catarinense, existe até os dias de hoje, sendo, portanto, o campo, ou estádio de futebol mais antigo ainda existente em Santa Catarina e um dos mais antigos do Brasil.

Se anteriormente o primitivo campo era cercado de morros e arvores, atualmente, devido ao enorme crescimento urbano de Florianópolis, pode-se dizer que o mesmo fica espremido entre os prédios e as instalações do próprio colégio, construídas no decorrer das décadas.

O campo também mudou muito em um século de existência, ganhando uma pequena pista olímpica ao seu redor e uma confortável arquibancada de cimento, localizada na lateral onde fica o barranco, que embora modificado, ainda persiste. Também existem alambrados e traves metálicas, itens comuns em qualquer estádio atual. O gramado, que no principio misturava-se á terra batida, pode ser considerado um dos melhores da cidade, cuidadosamente tratado para a utilização dos alunos, seja nas aulas de educação física, seja nos torneios de futebol de base que o colégio participa.

Pode-se dizer que o campo do Gymnasio Santa Catharina, até 1930, foi ao lado do campo da Rua Bocayuva, o principal palco do futebol florianopolitano. Neste período, geralmente por conta de obras que inviabilizavam a utilização do campo vizinho que ficava apenas há 1300 metros de distancia, o campo do Gymnasio foi utilizado para a realização de jogos intermunicipais, interestaduais, do campeonato catarinense e do campeonato da capital.

Á partir de 1930, com a construção do Estádio Adolpho Konder, o campo do Gymnasio ficou restrito a jogos sem maior importância, como jogos do campeonato interno do colégio e poucos jogos do campeonato da capital, geralmente aqueles onde o A.D. Colegial, fundado em 1944, sucessor de Internato e Externato, tomava parte.

Na década de 1960, quando o Colegial deixou de participar dos campeonatos da capital e o Figueirense inaugurou o estádio Orlando Scarpelli, o campo do Colégio Catarinense, denominação tomada á partir de 1942, passou a ser praticamente de uso exclusivo dos alunos.

VISTA DA ATUAL ARQUIBANCADA

 VISTA AÉREA – atualmente

Pesquisa do autor ©

Fontes: jornal Ipiranga, Republica e O Estado. Colégio Catarinense. Livro 85 anos de Bola, de Maury Borges.