Crianças não podiam soltar papagaios, mulheres não podiam trabalhar, estudar, nem ter cuidados médicos e eram obrigadas a usar burcas. Os campos de futebol eram lugares de rituais macabros de extermínio, mutilação e condenação. Sob o regime talibã, até 2001, assim era o Afeganistão. Após os ataques terroristas do 11 de setembro de 2001, os norte-americanos acabaram com o reinado dos fanáticos religiosos. Assim, com a fuga dos talibãs, os estádios voltaram a ser usados para esportes. Desde 1984, nas eliminatórias para a Copa da Ásia, a seleção afegã não participava de competições internacionais. Com a invasão russa e, mais tarde, com o regime talibã, era impossível praticar o futebol mesmo em campeonatos domésticos. Em 1997, o esporte chegou a ser proibido no pais. E o futebol não foi o único. O xadrez, por exemplo, não podia ser praticado, porque suas peças são réplicas de pessoas e animais, o que feriria a crença islâmica. Mesmo com a proibição, o futebol permaneceu como esporte preferido dos afegãos. Filiada à Fifa desde 1948, a Federação Afegã nunca perdeu seu lugar na entidade, mesmo sob o regime talibã.
Os afegãos são diferentes dos brasileiros em praticamente tudo. Em suas indumentárias saídas dos contos das mil e uma noites; nos casamentos arranjados entre primos; na reverência pelos mais velhos; em seu declarado gosto pela guerra; em sua religião e no fervor com que a seguem; no confinamento das mulheres, simbolizado pela burka – tão persistente depois quanto antes do Taleban.
Mas há um traço em comum, e não é pouca coisa: o futebol. Não pela qualidade dos jogadores. “É só entusiasmo, mais nada”. Mas pela paixão. O futebol é o esporte nacional afegão, embora perca em originalidade para o buzkashi, um precursor do pólo no qual os cavaleiros têm de atravessar o campo com uma carcaça de ovelha ou um prisioneiro decapitado – o que estiver mais à mão.
Há muitas narrativas para o absurdo passado recente afegão. O futebol é uma delas. Os jogadores da seleção regional de Kabul treinavam no mesmo estádio – aliás o único do país – que foi palco de alguns dos atos mais chocantes do regime taleban, em seus cinco anos de existência (1996-2001).
O Estádio de Kabul – foi construído em 1973 pelo presidente Mohammed Daud, logo depois de assumir o poder, num golpe de Estado contra seu primo, o rei Zahir Shah. E destruído durante a guerra dos mujaheddin (1992-96), na qual o general usbeque Rashid Dostum – um dos candidatos a presidente que boicotaram a eleição presidencial de sábado – o transformou em seu quartel-general, impiedosamente bombardeado por seus inimigos. Entre eles, o general tajique Ahmed Shah Massud, assassinado por suicidas da al-Qaeda dois dias antes dos atentados de 11 de setembro de 2001. Seu retrato num outdoor domina hoje o estádio, ao lado de outros dois, do presidente Hamid Karzai e do imperador Ahmed Shah Baba, que fundou a dinastia no século XVIII.
Depois que os taleban tomaram, em 1996, o controle de Kabul e, com ela, de 90% do país, a ONU resolveu presentear os afegãos com a reforma do estádio – simbolizando a nova era de paz. Mas os taleban tinham outros símbolos em mente. Atraídos pelo futebol, que chega a reunir 22 mil pessoas no estádio, os afegãos eram induzidos a assistir a execuções de condenados à morte pelos mulás.
“Eu já era funcionário da Federação Afegã de Futebol nessa época e, quando ficava sabendo que ia haver execução, ia embora do estádio”, lembra Sayed Mozafari, hoje secretário-geral da entidade. “Nunca assisti a uma execução.” Milhares de afegãos assistiram. As execuções ocorriam nos intervalos, ou quando os taleban – que costumavam invadir o campo interrompendo os jogos para orações – considerassem conveniente. Por causa da oração das 17h, os jogos foram antecipados para as 14h. Já voltaram para o horário normal, mais adequado, em vista do calor desértico que faz no verão.
“Naquela época era tudo muito difícil”, recorda Bashir Soldat, de 26 anos, que joga na defesa do Sabol, um dos 18 times da primeira divisão, e foi escalado para a seleção de Kabul no primeiro campeonato nacional do país. “Tínhamos de usar barbas compridas e jogar de shalwar kameez (a vestimenta tradicional dos afegãos, composta de túnica comprida e calça larga).” Calções e camisetas, como as que a seleção usa agora, doadas por ingleses que vieram dar um curso, eram proibidos.
O futebol no Afeganistão é amador. Os jogadores recebem ajuda de custo de 50 afeganis (US$ 1) ao fim de cada treino, que agora está ocorrendo todos os dias, na preparação para o campeonato.
Os afegãos guardam na lembrança glórias passadas, como uma partida em que derrotaram o Irã, há 23 anos. Sustentado por um orçamento anual de US$ 280 mil para todas as categorias, doado pela Fifa, o futebol afegão acalenta expectativas modestas – de apenas poder seguir adiante, sem ser abruptamente interrompido, como faziam os taleban com as partidas. É só o que pede o Afeganistão também.
Federação Afegã de Futebol
Afghanistan Football Federation
País: Afeganistão
Confederação: AFC
Fundação: 1922
Filiação a FIFA: 194
Filiação a AFC: 1954
Telefone: +93-75/2023 770
Fax: +93-75/2023 770
Site: www.aff.com.af
Fundada em 1933, a Federação Afegã de Futebol é uma filial da FIFA desde 1948, a federação foi um dos membros fundadores da Confederação Asiática de Futebol em 1954. Sua primeira partida internacional foi em 25 de agosto de 1941 em Cabúl, contra Irã, numa partida que terminou com um empate sem gols (0x0). Seu maior êxito, foi sua única participação olímpica nos jogos olímpicos de 1948, embora sofreram uma goleada na primeira rodada, ao perder para Luxemburgo por 6×0. Os anos 50 foram os mais badalados para o futebol Afegão. e foi visto pela última vez no cenário internacional em 1984 durante a competição de qualificação para a Copa da Ásia. A invasão russa e, posteriormente, o regime talibã tornou impossível manter o futebol a níveis nacional e internacional. Muitos jogadores continuaram suas carreiras em outros países.
Somente após a queda do regime talibã, em 2002, que a nação apaixonada por futebol contemplar um futuro brilhante, mais uma vez.
A equipa nacional fez um retorno aos gramados internacionais em setembro de 2002, tendo participado no torneio de futebol dos Jogos Asiáticos, em Busan. Embora os resultados foram decepcionantes, a alegria dos jogadores retornando ao futebol foi muito claro de se ver. E poucos meses depois, na Copa do SAFF, em Bangladesh, uma melhoria significativa nos padrões já era visível. Sua primeira participação para o Mundial de 2006 foi no Turcomenistão, onde terminou eliminada na primeira fase com 2 derrotas, em Ashgabat por um contudente 11 – 0, e em Cabúl por um respeitável 0 -2. A crise do país, os atentados, o pobre patrocínio e suas péssimas instalações esportivas fazem que careçam jogadores de qualidade que de fato, os melhores jogadores são imigrantes Afegãos pelo mundo. No final de 2004, 8 jogadores saem de seu campo de treinamento na Itália para buscar asilo na Alemanha. Este tipo de situações, mais o perigo de atentados fez que a FIFA proibisse Afeganistão de participar das Eliminatórias Asiáticas de 2010 como mandante de campo em seu próprio país.
Fontes:
www.fifa.com
www.en.wikipedia.com
thruafghaneyes.blogspot.com
Muito legal a pesquisa,parabéns.Eles começaram definitavamente agora,tem muito solo pela frente,talvez até consiga surpreender na proxima eliminatória.Pois sinto que vontade não falta.