Analisar futebol como negócio é um grande desafio. E talvez o das suas características mais diferenciadas seja o dinamismo.
O que é lei hoje, muda amanhã, uma divisão se forma, outra é extinta, o sistema das ligas muda, clubes nascem, clubes morrem e no meio disso tudo temos de tentar, continuamente, analisar o “risco” que é operar no “business do futebol”.
Acompanhamos no Estado de São Paulo como o futebol teve fases. A primeira, amadora e elitista, morreu com a chegada do profissionalismo, na década de 30. Os grandes clubes de então sucumbiram, e de Paulistano, Germânia e Inter, ficamos com Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos.
O provável rebaixamento da Portuguesa Santista para a 4ª divisão é, para mim, o indício claro de que estamos assistindo o fim de mais uma fase. Se aquela que morreu no início do século passado chamamos de “Amadora” eu denominaria essa agora de “Romântica”.
Parece que o coro “Ódio eterno ao futebol moderno” cantado na Rua Javari, se torna a cada dia mais anacrônico. Queiramos ou não, essa nova mudança de fase é inexorável.
Não falo apenas de Pão de Açúcar e Red Bull, mas os descuidos administrativos praticados até agora não estão sendo mais perdoados, o futebol hoje em dia não aceita uma gestão fraca, que o diga o Palmeiras.
Dos 106 clubes profissionais de São Paulo hoje, nada menos que 30% tem menos de 10 anos de vida, ou foram reestruturados nesse período.
Enquanto isso, vemos que dos 11 fundadores da Federação Paulista de Futebol em 1941, 3 podem estar juntos na quarta divisão 2011, isso se conseguirem reunir força para mais uma temporada.
Por todo o país vemos clubes “tradicionais” agonizando. Mesmo pensando como torcedor no alto dos meus 42 anos, a realidade que vivi parece a cada dia mais fantasiosa, onde Portuguesas Santistas se juntam a XVs, Comerciais, Bonsucessos, Londrinas, Goiânias, Operários, Dom Boscos, Ypirangas, Galícias, Íbis, Américas.
Caros, não creio que se trata de tentar velar por esses apaixonantes mortos-vivos, o que precisamos é ver como fazer para que outros não tenham o mesmo destino.
Más gestões, crises, mudanças de lei, calendário, falta de profissionalismo, fizeram com que empresas buscassem fazer os seus Grêmios Barueris, mas não podemos culpá-las, porque fossem os clubes bem administrados e este dinheiro teria outro destino.
Assim, invés de abominar o novo, pensem no porque empresas como a Red Bull, por exemplo, preferiram montar seus próprios times invés de investir nos existentes; porque os fundos de investimento se voltam para vários e não para parcerias concretas e fieis ou porque as emissoras de TV só pensam nos grandes…
Essa não é a primeira e nem será a última fase a morrer na história do nosso futebol, mas temos, o quanto antes, que discutir o que queremos ver no futuro dessa nossa paixão.
Excelente artigo! Faz realmente pensar que o futebol brasileiro está caminhando para uma vala e logo deixará de ser potência nesse esporte.
Sempre fui um ardoroso defensor do futebol do interior e muitos sabem que investi tempo e dinheiro tentando conhecer um pouco dos nossos clubes interioranos.
Sou do tempo que as equipes do interior levavam legiões de seguidores mesmo para assistir um São Bento x América, que hoje não significa nada. Mas nos anos 60, 70 e parte dos 80 esse clássico interiorano mexia com o frenesi das pessoas. O meu São Bento tinha um timaço: Gonçalves, Bazaninho, Paraná, Picolé, Copeu… O América tinha Ambrósio, Reis, John Paul, Paulinho, Nélson Prandi…
A briga era pela melhor colocação entre os times interioranos. Vinha time grande e tomava sufoco. Assisti dois jogos na década de 60 e o meu azulão arrancou um merecido empate contra do grande Santos.
Éramos felizes! Esperávamos o Alfredo Metidieri chegar para nos levar para dentro do estádio. Nào importa contra quem era, queríamos ver o Bentão jogar.
A cidade era apaixonada pelo clube e acredito que em outros lugares também era assim. Televisão só a noite depois das 23 hs, onde o videotape mostrava na íntegra algum jogo dos grandes.
Ai de alguém que ousasse torcer pro grande contra o Azulão, tomava esporro. Não tinha pra ninguém, a satisfação de ver o time fazer uma boa apresentação era enorme. Se perdesse tomava vaia.
Hoje quando vejo que o estádio do América levando no máximo 2 centenas de testemunhas, dá vontade de chorar. Estamos chegando no fundo do poço. Graças à violência não vou mais aos estádios. Virei torcedor de poltrana. Meu filho nem sabe que o Azulão existe, quer assistir apenas aos jogos do Liverpool. Jogamos PES juntos e fiz um time do São Bento, tão bom como o Santos do Pelé.
Não sou contra a modernidade e quando vejo um site como o do Milan em 5 idiomas, faz pensar que temos que evoluir para não perdermos o bonde (ou aeronave, pois as coisas acontecem muito rapidamente).
Este assunto, muito interessante, pode também ser divididos em várias outras fases, ou realidade, que são as das regiões do Brasil. Se SP que sempre foi a força do futebol no nosso Brasil vem sofrendo, clubes de outras regiões sofrem situações ainda piores.
No Nordeste, por exemplo, os clubes até que ensaiaram uma reação de se fortificar perante o resto do Brasil, quando a Copa do Nordeste nos finais de anos 90, foi exemplo de rentabilidade, gestão e motivação. Esta competição tirou o torcedor do sofá e os mandou para os estádios e isto incomodou a muitos, em especial a grande investidora Globo, e a CBF tratou de sepultar a competição mesmo quebrando um contrato rentavel da Liga do NE com a própria globo e outros investidores. Depois de anos de batalha juridica, a Copa NE voltará a ser disputada em junho deste ano, com o aval da Cbf, apenas para livrar a rede globo da milionaria multa neste processo que rola já a alguns anos da Liga do Ne.
No RN, dos fundadores do campeonato no fins dos anos 10, apenas abc, américa e alecrim sobrevivem. Este ultimo, agoniza, a anos perto de um rebaixamento para segunda do estadual, o que pode significar o fim. Em 2009, ocupando uma vaga rejeitada por seis cluibes, foi disputar a nova Serie D e com um time caseiro e patrocinado por uma Lavanderia supreendeu e foi até as semi-finais concluindo em quartoi lugar ganhando uma vaga na Serie C deste ano. A, já, pequena, romantica e apaixonada torcida já se preocupa como o clube se manterá nesta competição.
Vivemos uma fase realmente do profissionalismo e uma comprovação disto, aqui no estado, são os protagonista assu x potyguar, que fizeram supreendentemente a final do estado em 2009. Apenas o fato de terem montado um time que deu certo não os credencia a serem favoritos para competições seguintes, é necessário planejamento. Estes clubes citados irão disputar o rebaixamento em 2010. Pelo regulamento o dois ultimos jogam uma partida extra para definir o rebaixamente e os campeões são os fortissimos candidatos.
Por fim quando li este texto de Kussarev que diz ” O que eu quero dizer é que para o torcedor do Guarani, A2 ou A3 tanto faz, tirando-se a A1, que dá um bela cota de TV, as demais dão na mesma. Se o time caísse para a A3, mas fosse bem na Copa do Brasil e se mantivesse na A Brasileira, que diferença o regional faria?
Isto é muito real. A alguns anos quando o meu time, perdia o estadual ficava numa tristeza profunda. Hoje, o sentimento é de estar e manter-se na Serie B, beliscar a serie A e fugir da serie C. É chato não ser campeão, mas já não sofro de o America estar a sete anos sem ganhar no estadual. E a vaga na Copa do Brasil? vem no ranking da cbf.
Com o valor dos ingresso a 30 reais, e a grande desvalorização do Paulistão, são fortes fatores para que as equipes chamadas de pequenas fiquem menor ainda.
Pare e analise: num jogo envolvendo Corinthians vs Rio Claro logicamente teremos um ótimo público e quando for Rio Claro e Mirassol, que é que vai querer pagar este valor, sem muitos recursos as equipes do interior ficam cada vez mais sem espaço, por isso acontece o fechamentos de pequenos clubes, enquanto os comandades do futebol não perceberem que quem faz as grandes equipes são os times do interior, com a venda de suas revelações, o futebol dos pequenos clubes no futuro não tão distante irá acabar difinitivamente.
Caro Ielo, grandes palavras.
Ao meu ver existe um problema que é o primeiro a ser tratado e este, sem dúvida,é o mais polêmico.
Quem me conhece sabe que eu sou um dos mais ardorosos defensores dos campeonatos estaduais, seja por sua tradição, seja por sua iconografia, seja por sua capacidade de ter feito do Brasil o melhor no maior esporte do mundo. Eu acredito que se um dia terminarmos com os estaduais, estaremos destinados a deixar de ser potência mundial no futebol.
Todavia, a situação atual é insustentável. Nosso sistema de ligas não é vertical, ou seja, não existe continuidade. Há um ano atrás, um time novo na 4ª divisão paulista poderia chegar à Série C do Brasileiro em 2 anos, hoje, pra chegar à Série D, precisa de, no mínimo, 5 anos.
Sem a FPF perceber, o Paulistão, que antes tinha status comparável a um segundo nível nacional, hoje está no quinto nível nacional. Ou seja, a falta de diálogo e de “sentar na mesa para discutir”, fez com que fossemos rebaixados sem nem perceber.
O fato é que os Estaduais hoje funcionam como se fossem outro esporte, não há conexão com o sistema de liga nacional. Particularmente, voltaria aos anos 70, quando os melhores de cada estado disputavam o campeonato nacional, mas como isso é impossível, precisamos urgentemente discutir o assunto, porque em que pese acreditar na regionalização das comunicações/esportes, não há clube que resista a uma temporada de quatro meses!
Chego à conclusão de que deveríamos ter discutido isso antes e chegado a um termo onde os campeonatos estaduais se tornassem o terceiro nível nacional, ou seja, estes fossem a terceira divisão do Brasil e não a quinta.
Não é o melhor dos mundos, mas ao menos teríamos um calendário maior para a maioria dos clubes do interior, a possibilidade real de chegar às ligas nacionais e um racionalização do nosso sistema global de ligas.
O que eu quero dizer é que para o torcedor do Guarani, A2 ou A3 tanto faz, tirando-se a A1, que dá um bela cota de TV, as demais dão na mesma. Se o time caísse para a A3, mas fosse bem na Copa do Brasil e se mantivesse na A Brasileira, que diferença o regional faria?
É duro, mas temos de enfrentar isso antes de qualquer coisa, pois quando vamos arrumar a casa, geralmente, começa,os pelos fundos. Sem base e parâmetros, não conseguiremos avançar em nenhuma direção.
Otimo artigo.
Precisamos de reflexões como esta para tentarmos prever como fortalecer o futebol no Brasil, sem perder a sua excência. A pratica do esporte como show e lazer e ao mesmo tempo, o incentivo para que todos tenha o hábito de praticar, na busca de uma vida mais saudavel para toda a população.
Com o profissionalismo cada vez maior, e a audiência do espetaculo transmitido ao vivo pela tv, unido a falta de espaço nas grandes cidades, distancia o Show da “pelada”.
Ao meu vêr, o principal problema esta na “gestão” do futebol brasileiro e o caminho escolhido pela “Lei Pele” ou “Lei Zico”.
O que garante a audiência é a torcida, e não o clube de boa gestão. Estamos muito longe da valorização da boa gestão.
Mas como garantir a boa gestão no clube associativo quem tem tradicionamente sua “Torcida”?
Alguns convenceram a maioria que o clube empresa é o caminho, ou seja, modelo “americano” ou “japones”. Paises sem tradição no futebol, mas com muito capital. Consequencia “Lei Pele-Zico”.
Assim bons empresários e maus empresários entraram no ramo.
Nosso modelo brasileiro foi esquecido, ou seja, não houve as necessarias correções nos estatutos para atingir a boa gestão nos clubes associativos através de lei especifica e democratica.
Ficarão somente os clubes empresas, e nós seremos condenados a ser torcedores destas empresas, que tomam decisões unilarerais sem consultar seus “torcedores”. Vide caso Gremio Barueri, ou o pessimo histórico dos clubes empresas do bem sucedido volei brasileiro.
Democratizar os estatutos dos clubes, dando direito a voto ao torcedor (não socio) com fiscalização e auditoria externa permanente das finanças com obrigatoriedade de publicação na Internet e remuneração de seus dirigentes garantiriam a boa gestão aos clubes.
Incentivar a parceria do clube com as empresas, tanto de gestão como patrocinadoras, garantindo as empresas uma “torcida prontinha”.
As redes de TV nacional estão equivocadas. Elas acreditam que a andiência nacional é o unico fator a ser considerado. Só acreditam nos grandes times e suas grandes torcidas.
Hoje assisti o jogo da Copa da Eufa, Benfica e Liverpool, mas por pura falta de opção, pois não me identifico com nenhum destes times. Gostaria de ter assistido um Xv de Jau e São Bento, e acredito que muitos outros telespectadores também, provavelmente estaria vendo um botucatuense em campo e também conheceria o “Café Bauru” através da publicidade deste jogo, e poderia estar comprado este pó de café pagando mais barato deixando de compra o “Café Nestle”. Mas para a Band, SportTV, Gazeta e ESPN é muito mais barato comprar um produto pronto com este jogo da UEFA e transmitir para o Brasil inteiro, quem quisesse poderia ter assistido outros Jogos da UEFA no mesmo momento.
A TV Cultura, e mais rescentemente a Rede Vida, vem abrindo espaço para os jogos de menores torcidas, torcidas estas regionais. Mas elas não interferem na gestão do campeonatos para serem mais atrativos com mais opções de horários, mesmo assim, são os programas de maior audiência de suas TVs (no caso da Tv cultura o “Viola minha viola” de Inesita Barroso é imbatível na audiência).
Imaginemos então, a audiência na região de Campinas do classico Guarani e Ponte Preta, ou Inter de Limeira e Xv de Pirá. A audiência seria grande na região de Campinas, mas quase nenhuma no Brasil. Este jogo sendo transmitido pela Tv regional teria bons patrocinadores que querem atingir seu consumidor regional. A Tv regional lucraria e os clubes também. Neste mesmo momento poderia estar sendo transmitido um jogo do Potiguar de Mossoró com ABC na Tv regional do Rio Grande do Norte.
As grandes redes de TV deveriam dividir uma pouco mais o bolo com as TV regionais, aumentando o faturamento de suas parceiras no fortalecimento regional em todas as areas, e o futebol seria um grande gerador de audiencia regional.
Quem viver verá…