Airton Pavilhão, o zagueiro das multidões

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Airton Pavilhão, o Airton Ferreira da Silva, fantástico ex-zagueiro central do Grêmio nos anos 50 e 60, nascido no dia 31 de outubro de 1935, deixou o time do Força e Luz de Porto Alegre para o Grêmio trocado por um pavilhão. Eu imaginava que um pavilhão era uma cobertura ou coisa do tipo. Mas pavilhão é uma construção leve, de madeira ou de outro material, geralmente destinada a servir de abrigo. Este foi o preço do passe dele, daí o apelido que o acompanha até hoje. Segundo se conta…
……era uma vez 1954, ano de inauguração do Olímpico Monumental. O Estádio da Baixada, antiga casa tricolor, localizado onde hoje é o Parque Moinhos de Vento, havia sido desmanchado. As tábuas da arquibancada estavam disponíveis. Na negociação com o Força e Luz, além de um valor em dinheiro, foi entregue aquele lote de madeira. Este fato valeu ao jogador contratado o apelido de Aírton “Pavilhão”.

No Rio Grande do Sul, Airton é considerado superior a Figueroa e até mesmo a Domingos da Guia, Mauro, Bellini, Djalma Dias, Luiz Pereira e Oscar, é uma unanimidade entre os gaúchos. É referenciado até hoje como “o dono da área” e “sem fazer faltas”, ressalva o jornalista Armindo Antônio Ranzolin em dedicatória na contracapa do livro “Airton Pavilhão, o zagueiro das multidões”, de Celso Sant´Anna, que perpetuou Airton Pavilhão em 124 páginas.

Aqui no Rio de Janeiro, conheço um antigo torcedor do Internacional que foi inclusive gandula do colorado no começo dos anos 60. Hoje ele é dono de uma academia na rua Barata Ribeiro, seu nome é Jose Carlos. Perguntei para ele sobre o Airton do Grêmio. Ele me falou: Enquanto o Airton jogava no Grêmio, pouquíssimas vezes o Internacional foi campeão. Eu ficava atrás do gol e via, era gandula. Ele tirava tudo por cima. Por baixo tinha tanta categoria que saia driblando. Os antigos centroavantes do Internacional nada conseguiam com ele. Era o Alfeu, o Larri e o Flávio Minuano. Não conseguiam nada com ele. Sem contar que formava uma excelente dupla de área com o Ênio Rodrigues. Na defesa tinha também o ” armário ” Ortunho. Contou também que viu o Pelé tentar dar o drible da vaca no Airton. O zagueiro só esticou a perna, pegou a bola e saiu soberano. Como gandula ficava também ouvindo as instruções que o técnico Sergio Moacir Torres dava para os atacantes do Grêmio e voltava correndo para o banco do Internacional para contar o que ouviu.

Airton, marcador implacável, impunha-se também no cabeceio, mas principalmente pela técnica com a qual defendia a cidadela tricolor. Sua marca registrada era o “passe de letra”ou “de charles”. Aírton carregava a bola para perto da bandeirinha de escanteio, arrastando com ele os atacantes adversários. Lá chegando, subitamente posicionava a bola do lado de fora do pé esquerdo e a impulsionava com o peito do pé direito para as mãos do goleiro ou para outro companheiro de equipe, para deleite da torcida e espanto dos atacantes que pensavam tê-lo encurralado.

Dizem que um passe de letra, num treino da seleção brasileira, lhe custou a convocação para a Copa de 62, disputada no Chile. Aymoré Moreira, o técnico, não gostou de ver um zagueiro fazendo aquilo e o excluiu do grupo. Aírton deve ter adorado, porque…avesso a aviões, ele não acompanhava a delegação gremista em viagens aéreas curtas. Quando o Grêmio atuava no interior do RS, em Santa Catarina ou no Paraná, enquanto a delegação voava, ele seguia de ônibus ou de carro. Seu pânico por aviões era imenso. Na vitoriosa excursão gremista à Europa (1961), Aírton alegou problemas médicos e pediu dispensa. A Direção não lhe deu ouvidos e ele estava no grupo que brilhou nos gramados do Velho Continente.
O seu modo de jogar chamou atenção dos clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo e Aírton recebeu convite para jogar nas equipes do Santos e do Botafogo, ao lado de Pelé e Garrincha.

“Naquele tempo não tinha a mídia que tem hoje. Me arrependo de não ter ido para o centro do país e ser conhecido em todo o Brasil. O dinheiro era equivalente, mas lá era vitrine. Errei”, lamenta Aírton, que apenas por três meses esteve emprestado ao Santos de Pelé para jogar o Torneio Rio-São Paulo de 1960. Mas voltou logo para seguir sua inesquecível trajetória no Grêmio. Há quem diga que o verdadeiro motivo foi outro: aquele Santos de Pelé viajava demais. E, quase sempre, de avião.

Nesse curto período em São Paulo, Aírton jogou ao lado do Pelé. Já com a camisa tricolor o enfrentou em cinco partidas e assegura que jamais falhou diante daquele que se tornaria o Rei. Também treinou junto com ele na Seleção de 62, embora não tenha participado da Copa do Mundo realizada no Chile

Durante 13 anos, Aírton “Pavilhão” foi o principal jogador do Grêmio. Foi o melhor zagueiro gaúcho de todos os tempos e um dos melhores do mundo. O “zagueiro que driblava” marcou 120 gols na carreira.

Em 1967, com 33 anos, tendo vencido 12 campeonatos gaúchos em 13 disputados (marca nunca igualada), com uma distensão na virilha que limitava seus movimentos, Aírton despediu-se do Grêmio, indo atuar no Esporte Clube Cruzeiro de Porto Alegre. Posteriormente, foi convidado para ser técnico e zagueiro no Cruz Alta, onde se aposentou em 1971.

Airton Pavilhão marcou época no Grêmio ao lado de Arlindo, Alberto, Altemir, Áureo, Ortunho, Élton, João Severiano, Juarez, Paulo Lumumba, Sérgio Lopes, Milton, Vieira, Alcindo, Marino, Carlos Froner, dentre tanta gente boa.
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Em pé: Orlando, Ênio Rodrigues, Ortunho, Arlindo, Élton e Aírton.
Agachados: Marino, Gessi, Juarez, Milton Kuelle e Vieira.

Fontes:
site Imortal Tricolor
ex-gandula Jose Carlos
trechos livro zagueiro das multidoes

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