Dom Filpo Nunes, treinador da Academia de Futebol do Palmeiras em 1965

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Descrição da foto: Arnaldo Tirone (ex-dirigente do Palmeiras) ladeado pelo saudoso repórter Tom Barbosa, da Rádio Record, e por Filpo Nuñez. Ferruccio Sandoli é o quarto. Milton Peruzzi é o quinto. Eli Coimbra, o sexto. O último é o massagista Reis.

QUANDO FILPO PASSOU A SER CHAMADO DE ” DOM ”

Os anos corriam até que em 1957, com uma vitória de virada em partida histórica contra o bicampeão paulista Santos FC na Vila Belmiro, a partir daí Filpo passou a ser chamado de Dom Filpo pelo seu feito de vitórias consecutivas no Jabaquara, salvando ainda o clube de um rebaixamento pela segunda vez em 1959.

Na Briosa, Filpo, um bom marqueteiro, soube capitalizar após invencibilidade de 15 partidas, em excursão por Angola e Moçambique, países africanos. Pode-se dizer que aí começou sua ascensão no futebol, até que em 1964 foi contratado pelo Palmeiras, que tinha um timaço, culminando com o batismo de “academia do futebol” no ano seguinte.

A equipe era tão respeitada a ponto de a antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos) requisitá-la para representar a Seleção Brasileira na inauguração do Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão, no dia 7 de setembro de 1965, em partida amistosa contra o Uruguai. E foi show de bola dos palmeirenses, com goleada por 3 a 0, gols de Tupãzinho, Rinaldo e Germano, num time formado por Valdir de Moraes (Picasso); Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina (Procópio) e Ferrari; Dudu (Zequinha) e Ademir da Guia; Julinho (Germano), Servílio, Tupãzinho (Ademar Pantera) e Rinaldo (Dario). O jogo foi visto por 96.669 pessoas.

ALGUMAS PASSAGENS
-Após uma partida, Filpo Nunes reuniu o elenco e perguntou a um jogador que atuava do meio para frente e que tinha sido eleito pela imprensa o craque do jogo: “Quantos gols você fez?” O jogador respondeu: “Nenhum”. “Quantos passes deu que resultaram em gols ou que deixaram os companheiros na cara do gol?” “Nenhum”. Filpo concluiu: “Então, você correu muito e não jogou nada.”

-Após o atacante César ter perdido um pênalti, transtornado, invadiu o gramado, colocou a bola na marca de pênalti com a intenção de mostrar ao jogador como converter a cobrança. Só que ao correr para bola escorregou, caiu, e o estádio “caiu” em gargalhadas.

Antigos palmeirenses reconheceram méritos de Filpo Nunes para motivar jogadores. A rigor, por isso era sempre requisitado para comandar clubes em crise. Com boa psicologia, sabia injetar vibração ao grupo e extraía bons resultados no começo do trabalho. Posteriormente caía na rotina.

Os folclóricos nomes que dava para seus esquemas de jogo: esquemas Pim Pam Pum e Carrousel.

El Bandoneón foi também um de seus apelidos ( instrumento de tango ). Será que era porque seu time jogava por música?

CURRÍCULO

Filpo Nuñez, o Nelson Ernesto Filpo Nuñez, o famoso técnico argentino criador da Academia de Futebol do Palmeiras, nos anos 60, morreu no dia 6 de março de 1999, em São Paulo (SP). Pouco antes de falecer, Filpo Nuñez morava nas dependências do projeto Jerusalém Ação Social, no bairro do Heliópolis. “Sua fortuna se perdeu. Ele não tinha recursos financeiros. Por isso, morava lá. Antes de morrer, o Filpo treinava um time de crianças carentes na escolinha de futebol das meninas. Passou os últimos dias da sua vida treinando aproximadamente 97 meninas”, contou Carlos Altheman, presidente do CONSEG Heliópolis.

Nascido em Buenos Aires, Argentina, no dia 19 de agosto de 1920, Filpo Nuñez formou-se em Educação Física no Equador e depois ingressou na carreira de treinador de futebol profissional no seu país.

Comandou o Independiente Rivadavia. Também treinou outros vários outros times sul-americanos como o Santiago National (Chile), Sport Boys (Peru), España (Equador), Municipal (Bolívia), Libertad (Paraguai), San Martin (Argentina) e Vélez Sarsfield (Argentina).

Filpo chegou ao Brasil ainda jovem para ser um treinador. Dirigiu o Cruzeiro em 1955 e depois passou por várias equipes, entre elas Guarani, Atlético Paranaense, Jabaquara, Portuguesa Santista, América de Rio Preto e Vasco da Gama, antes de assumir o Palmeiras. Pelo alviverde, entre 1964 e 1965, Filpo adotou jogar em velocidade, tocar de primeira e chegar ao gol. Nesse período, o Palmeiras começou a ser batizado de “Academia de Futebol”.
Filpo chegou a ter outras duas passagens pela Sociedade Esportiva Palmeiras: entre 1968 e 1969; e entre 1978 e 1979. Ao todo, foram 154 jogos no comando do Verdão (94 vitórias, 27 empates e 33 derrotas) e uma conquista: o Torneio Rio-São Paulo de 1965.

Mas o Palmeiras não foi o único grande clube da capital paulista a ter o argentino como técnico. Filpo Nuñez dirigiu duas vezes o Corinthians. Primeiro, em 1966, quando o alvinegro chegou a liderar o Campeonato Paulista. Depois, em 1976. O treinador comandou o Timão em 34 partidas (16 vitórias, 7 empates e 11 derrotas).

Outros clubes

Filpo Nuñez fez sucesso como treinador por vários países. Em Portugal, por exemplo, dirigiu o Leixões, o Vitória de Setúbal e o Lusitano Évora. No México, trabalhou pelo Monterrey. No Brasil, ele também comandou o XV de Piracicaba (SP), Paulista de Jundiaí (SP), Galícia (BA), Coritiba, Marília (PR), Francana (SP), Sport Club Recife (PE), São José (SP), Fabril de Lavras (MG), C. A. Atlanta (Buenos Aires – Argentina), Santo André (SP), Saad (SP) e Foz (Foz do Iguaçu–PR).

Principais títulos e prêmios no Brasil

Campeão do Torneio Início de 1956 pelo Guarani; eleito o melhor técnico do Torneio Preparação de 1957, pelo Jabaquara; Campeão do Torneio Início de pelo América de Rio Preto de 1958; Cinta Azul do Futebol Brasileiro (15 jogos, 15 vitórias, 75 gols a favor e 10 contra) pela Portuguesa Santista em 1959; Eleito melhor técnico do ano pela Agência de Notícias “Sport Press”, quando dirigia a Portuguesa Santista em 1960; Vencedor do Troféu Conhecimento, premio da “Rádio Universal de Santos”, em 1960; Vice-campeão paulista pelo Palmeiras em 1964; Campeão invicto do torneio internacional “IV Centenário da Guanabara”, pelo Palmeiras; Campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1965, pelo Palmeiras; Vice-campeão baiano pelo Galícia em 1967; Vice-campeão do Torneio Mar del Plata de 1968, pelo Palmeiras e Vice-campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1969, pelo Palmeiras.

Alguns dos jogadores dirigidos por Filpo

A lista de grandes craques que foram comandados por Filpo Nuñez é extensa. Entre eles aparecem os nomes de: Julinho Botelho, Bellini, Djalma Santos, Dudu, Garrincha, Alfredo Mostarda, Zequinha, Servílio, Orlando, Brito, Ademir da Guia, Rivellino, Valdir Joaquim de Moraes, Vavá, Ademar Pantera, Wladimir, Cabeção, Barbosa, Piazza, Eurico, Leivinha, Dirceu Lopes, Tupãzinho (ex-Palmeiras), Jair Marinho, Zé Maria, Leão, Tostão, Luís Pereira, César, Djalma Dias, Procópio e Dino Sani.

MILTON NEVES
ARIOVALDO IZAC * É jornalista em Campinas
GILBERTO MALUF

Um comentário em “Dom Filpo Nunes, treinador da Academia de Futebol do Palmeiras em 1965

  1. Marcos Falcon

    Gilberto ele realmente era um grande marketeiro pois os seus números não justificam o nome e a fama que conquistou.
    Ficou como destaque realmente apenas o seu trabalho na Academia.
    Belo artigo

    Abraços

    Falcon

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