O medo da seleção húngara em 1954

Depois de um intervalo de oito dias de angustia e expectativa, o Brasil se preparava para enfrentar a temível e assustadora Hungria. O ambiente na concentração de Macolin, não poderia ser pior. Além de alarmados com o retrospecto, os jogadores brasileiros tinham se impressionado ao assistirem um treino dos húngaros contra um time de fábrica de relógios. As fotografias enviadas para os jornais do Brasil, mostravam o pânico nos seus olhos.

Na véspera da partida, circulava um boato de que, João Lira Filho, chefe da delegação brasileira, havia marcado as passagens de volta. Ele desmentiu e falou para os jogadores antes do jogo mostrando a bandeira do Brasil – “Olhem as cores que vocês terão que defender com galhardia dentro da cancha, honrando a nossa Pátria”. Um jornalista mineiro, Adelchi Ziller, se dirigia aos atletas com estas palavras – “Temos que ganhar o jogo. Temos que vingar os mortos de Pistóia”. Em Pistóia estavam enterrados cerca de 450 soldados da Força Expedicionária Brasileira, tombados na II Grande Guerra Mundial. A Hungria nada tinha ver com isso, muito menos seus jogadores.

Diante desse quadro, não seria de estranhar que a seleção abandonasse a camisa branca e azul, passando a usar a atual camisa amarela, por sugestão do jornalista Walter Mesquita. Para complicar, Bauer perdeu 5 quilos no jogo anterior e estava muito abatido. Recebeu autorização para ir a Zurique, acompanhado do radialista Geraldo José de Almeida, afim de telefonar para seus familiares. Veludo e Pinheiro saíram do Hotel e voltaram muito tarde. Quase foram desligados da delegação. Na noite anterior ao jogo, Humberto Tozzi praticamente não dormiu e fumou dois maços de cigarros. Pinga e Baltazar, ao acordarem, anunciaram que estavam contundidos.

O que se poderia esperar do jogo ? Com oito minutos do primeiro tempo, a Hungria já vencia por 2×0. Mas, o Brasil viu que o diabo não era tão feio como pintaram. Índio sofreu pênalti e Djalma Santos diminuiu ainda no primeiro tempo. No etapa final, o Brasil partiu em busca do empate. Entretanto, aos 16 minutos, Mr. Ellis marcou um pênalti contra o Brasil e o placar ficou em 3×1. O Brasil não desanimou, e Julinho fez o segundo gol. No finzinho do jogo, os húngaros fecharam o marcador em 4×2. O juiz ainda expulsou Nilton Santos e Humberto do Brasil e Boszik da Hungria.

Os brasileiros reclamaram da arbitragem. Nosso juiz na Copa, Mário Vianna, chamou Mr. Ellis de ladrão, safado e comunista. Esses xingamentos custou ao brasileiro sua expulsão do quadro de árbitros da FIFA. Depois do jogo, na concentração, no meio de choros e protestos, Mário Vianna retirou do paletó o pomposo escudo da FIFA e queimou diante de todos. Foi o fim de um capitulo triste da história do futebol brasileiro.

Revista Placar

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