Bangu Atlético Clube – 40° à Sombra

Este clube, quase desconhecido da geração mais nova, já cedeu à seleção brasileira jogadores do porte de: Zizinho, Zózimo (bi-campeão do mundo), Ademir da Guia ( foi no Bangu que despontou o Divino, como ficou conhecido), Fidélis, Paulo Borges e Marinho. Estes nomes são os que me recordo. Outros jogadores excelentes, dignos de integrar a seleção brasileira, caso a época não fosse excepcional. Cito alguns: Ladislau da Guia, que não vi jogar, e outros que tive o privilégio de testemunhar jogadas memoráveis e inesquecíveis: Moacir Bueno, Djalma, Rafanelli, Menezes, Décio Esteves, Nívio, Parada, Bianchini, Fidélis, Arthurzinho e muitos outros. Desta seleta constelação, Zizinho foi a estrela maior. Pelé declarou que foi o jogador que mais o impressionou pela refinada técnica e Zizinho já estava em final de carreira.

Em 1960, o Bangu foi, na verdade, o primeiro campeão mundial de clubes. Na época esta versão denominou-se Torneio de Nova York. A atuação de Ademir da Guia, ainda muito jovem, chamou a atenção dos grandes clubes e lá se foi Ademir para o Palmeiras.
Campeão estadual duas vezes, o Bangu tem inúmeros vice-campeonatos em jogos finais de arbitragens discutíveis. Em 1951, Mendonça teve a perna fraturada e o Bangu jogou o primeiro jogo da série melhor de três contra o Fluminenese, com 10 jogadores porque não havia substituição. Em 1964, novamente numa série melhor de três, contra o mesmo Fluminenese, um penalti duvidoso de Mário Tito em Amoroso permitiu a vitória do Fluminense na primeira partida por 1×0. Em 1984, o mais discutido de todos os lances. Num erro histórico da arbitragem, não foi marcado o penalti do zagueiro Vica do Fluminense em Cláudio Adão, aos quarenta e cinco minutos do segundo
tempo. O jogo estava 2×1 e o empate favorecia ao Bangu.

O Bangu é um clube originário de uma fábrica de tecidos. Deveria contar com numerosa torcida, mas como tudo no Brasil é muito estranho, são os clubes oriundos da elite social que detêm as maiores torcidas. Exceção ao Vasco da Gama que pertence à Zona Norte. Concordo que o início da decadência do futebol do Rio coincide com o começo da decadência do América e do Bangu.. Que benefícios maiores trouxeram ao futebol do Rio os novos clubes guindados à primeira divisão? Aqui a prevalência do dito de Camões ” Fraco rei faz fraca forte gente”.
A grande verdade é que a imprensa ao divulgar somente os quatro grandes, outrora seis, colaborou também para o ostracismo em que vivem Bangu e América.
Texto de Jairo L Salles, fiel torcedor do Bangu
O ÚLTIMO TÍTULO DO BANGU E O ÚLTIMO GESTO DE PAZ DE ALMIR PERNAMBUQUINHO
Na tarde daquele 18 de dezembro de 1966, com arbitragem de Aírton Vieira de Morais, o Sansão, o Flamengo pisou o gramado do Maracanã com Valdomiro, Murilo, Itamar, Jaime Valente e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Carlos Alberto, Almir, Silva e Osvaldo Ponte Aérea. O Bangu de Castor de Andrade colocou em campo Ubirajara, Fidélis, Mário Tito, Luís Alberto e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Ladeira, Cabralzinho e Aladim. Numa época em que as substituições não eram permitidas, o Flamengo foi logo prejudicado quando perdeu, ainda no primeiro tempo, o ponteiro Carlos Alberto, após uma entrada desleal de Ari Clemente. Uma das revelações do Campeonato Carioca de 1966, Carlos Alberto submeteu-se a operações no joelho atingido, voltou aos treinos mas jamais se recuperou totalmente, sendo obrigado a abandonar o futebol.

Estranhamente, aquele Flamengo vibrante, que jogava de maneira vistosa, dono de um meio-de-campo clássico – com Carlinhos e Nelsinho – pareceu totalmente desfigurado a partir da saída de Carlos Alberto. Já o Bangu, percebendo a timidez do adversário, lançou-se ao ataque e marcou dois gols praticamente seguidos ainda na primeira etapa: Ocimar, aos 23 anos, e Aladim, aos 26 minutos. No segundo tempo, Paulo Borges, numa jogada inspirada, marcou o terceiro gol logo aos três minutos. Com 3 a 0 no placar, o sonho da conquista do bicampeonato carioca parecia quase impossível, ou totalmente impossível, para uma equipe desfalcada de um de seus principais atacantes. Foi então que, aos 26 minutos, Almir decidiu acabar com o jogo, provocando uma briga generalizada, que terminou com a expulsão de nove jogadores antecipando o final da partida.

Temperamental, Almir Pernambuquinho, que morreu assassinado em Copacabana, aos 35 anos, poucos meses depois de ter abandonado a carreira, entrou para a história do futebol carioca. Logo no início da carreira, no Vasco, quebrou a perna de Hélio, do América, inutilizando o companheiro de profissão. Depois, na Seleção Brasileira, foi o estopim de um conflito total num Brasil x Uruguai pelo Campeonato Sul-Americano de 1959, na Argentina. E ainda, quando atuava pelo Santos, aplicou uma covarde cabeçada no rosto de Amarildo na decisão de 1963 do Mundial Interclubes com o Milan, no Maracanã. Sua reação naquele Flamengo x Bangu, portanto não pode ser classificada de acidental. No vestiário, com a desvantagem de 2 a 0, Almir teria dito ao dirigente rubro-negro Flávio Soares de Moura que aquele jogo não acabaria e que o Bangu não daria a volta olímpica porque ele não permitiria.

Hoje, passados vários anos, muitos comparam o temperamento de Almir com o de Heleno de Freitas (1920-1959), centroavante do Botafogo, do Vasco e do América na década de 40 e início da de 50. Heleno, porém, de acordo com o laudo do hospital onde morreu, em Barbacena, era comprovadamente um caso patológico. Mesmo levando-se em conta que contraiu sífilis no auge da carreira, não resta dúvida de que Heleno sofria de esquizofrenia desde muito jovem. Quanto a Almir, nunca se pôde chegar a uma conclusão.

Que seu comportamento não era normal, não resta dúvida. Possivelmente era, igualmente, um caso de esquizofrenia (distúrbio mental e fragmentação da personalidade). Por ironia do destino, entretanto, na noite em que morreu, com um tiro na cabeça, numa briga de bar da Galeria Alaska, Almir Pernambuquinho entrara justamente para evitar o conflito que havia começado.

Pela primeira e última vez, Almir Pernambuquinho esboçou um gesto de paz.

Texto: Roberto Porto

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