Bazani e Ferroviária são sinônimos. Afinal, o talentoso meia-esquerda proporcionou momentos mágicos aos torcedores da agremiação grená, como os dois acessos ao Paulistão, o primeiro em 1956, e o segundo 10 anos depois. Também protagonizou o tricampeonato do Interior (entre 1966 e 1968) e o título interiorano de 1959, além das excursões ao exterior em 1960, 1963 e 1968. Marcou 244 gols em 758 jogos pelo time da Morada do Sol. Olivério Bazani Filho ganhou do pai o apelido de Rabi, ainda na infância. Ele nasceu em Mirassol no dia 3 de junho de 1935 e começou a jogar futebol por influência do pai, um zagueiro voluntarioso e que defendeu o Corinthians na década de 40. Rabi despontou no juvenil mirassolense, comandado pelo técnico Anésio Pelicione, conhecido por Matinê.
Num amistoso, o Mirassol impôs 8 a 0 no amador da Ferroviária, com direito a show de Bazani, que impressionou Djalma Bonini, o Picolim, dirigente afeano. Mas o destino lhe reservou outras passagens antes de criar laços com a Ferroviária. Jogou na Mogiana, de Campinas, por um ano, e disputou o Campeonato Amador Regional pelo Grêmio Esportivo Monte Aprazível (Gema). Em 9 de dezembro de 1953 assinou seu primeiro contrato profissional para defender o Rio Preto no Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Permaneceu no Jacaré durante seis meses, quando recebeu proposta para atuar no Fluminense, do Rio de Janeiro. Porém, antes de acertar com o clube carioca, os amigos China e Ico, ambos de Mirassol, iam fazer testes na Ferroviária e o convidaram a participar. Picolim, que já o conhecia, o convenceu a ficar em Araraquara. Disputou alguns jogos pelos amadores até que o técnico Renganeschi o promoveu ao time principal para substituir o ponta-esquerda Boquita.
Estreou marcando um dos gols na vitória por 3 a 2 sobre o Paulista de Jundiaí. Assinou seu primeiro contrato com a Ferrinha em 30 de dezembro de 1954. Dois anos depois, a Ferroviária subiu à “elite” ao conquistar o título da Segundona, com esmagadora vitória por 6 a 3 diante do Botafogo, com dois gols de Bazani. Em 1959, a equipe de Araraquara surpreendeu ao terminar o Paulistão em 4º lugar, atrás apenas de Palmeiras, Santos e São Paulo. Emergente, o time afeano recebeu convite para excursionar à Europa e África. Entre abril e junho de 1960, contabilizou 20 partidas, com 17 vitórias dois empates e apenas uma derrota, para o Sporting, de Lisboa, por 1 a 0. Os destaques foram a vitória de 2 a 0 sobre o Porto, com o primeiro gol de Bazani, e o empate de 1 a 1 com o Atlético de Madrid.
Após exibições de gala foi contratado pelo Corinthians, que pagou 30 mil Cruzeiros pelo seu passe. Ficou duas temporadas no Parque São Jorge antes de retornar à Ferroviária. Foi tricampeão do Interior (1966 a 1968) e jogou profissionalmente até 1973. Sua despedida foi diante do Guarani, no dia 28 de fevereiro. Antes, já havia assumido o comando interino da Ferroviária em algumas partidas, como no empate de 1 a 1 contra o São Paulo, pelo Paulistão de 1972. Formado em odontologia (1962) pela Unesp de Araraquara, Rabi continuou prestando serviços ao time de Araraquara, dividindo seu tempo entre o consultório e a Fonte Luminosa. Trabalhou como treinador, supervisor e coordenador das categorias de base. Como técnico, foi campeão paulista de aspirantes em 1993. No ano passado, a diretoria da Ferroviária o homenageou instalando um busto de bronze na Fonte Luminosa para eternizar sua imagem no estádio. Bazani, o mestre da Fonte, morreu (13/10/2007) depois de meses de luta contra o Mal de Parkinson e de Alzheimer. Ele deixou os filhos Lelo, Marinês e Ana Carolina e a mulher, Aparecida Becastro.
Duas temporadas dedicadas ao Corinthians
Bazani tornou-se um carrasco do Corinthians. Na temporada de 61, a Ferroviária venceu os dois confrontos diante do Alvinegro, ambos por 2 a 1. No primeiro turno, o jogo aconteceu na Fonte Luminosa e no segundo, no Parque São Jorge. Em março do ano seguinte, as duas equipes se enfrentaram em partida amistosa e os afeanos golearam por 4 a 1, na Fazendinha, em São Paulo, com o primeiro gol marcado por Bazani. Pela Taça São Paulo, em junho de 1962, a Ferrinha voltou a triunfar, vencendo por 2 a 0. Impressionados com a categoria daquele habilidoso meia-esquerda, dirigentes corintianos o contrataram. Ele concretizou um sonho, repetindo o caminho do pai, que atuou como zagueiro da equipe paulistana na década de 40.
O primeiro campeonato de Bazani pelo Corinthians foi o Torneio Rio-São Paulo de 1963. Estreou na derrota de 1 a 0 para o Palmeiras, dia 23 de fevereiro. Ele substituiu Rafael durante a partida. Seu primeiro jogo como titular aconteceu em 3 de março, na derrota de 2 a 0 para o Santos, com dois gols de Pelé. E a primeira vez que marcou com a camisa 10 do Timão foi na vitória de 2 a 0 sobre o Olaria, dia 21 de março, ainda pelo Rio-São Paulo, na sua quinta apresentação no clube mosqueteiro. Tudo ia bem até que no final de 1964 surgiu um moleque chamado Rivellino, que virou xodó da Fiel. A concorrência foi desleal. A torcida e a imprensa pressionaram pela escalação do novato e Rabi perdeu seu espaço, retornando à Ferroviária em junho de 1965.
Deixou Pelé no banco em 1960
Em 1960, após ser campeão paulista do Interior pela Ferroviária, Bazani, além de Dudu e o goleiro Rosan foram convocados pelo técnico Aimoré Moreira para defender a seleção paulista no Campeonato Brasileiro de Seleções. No jogo de ida da primeira fase, os paulistas venceram a seleção baiana por 2 a 0, em Salvador. Na partida de volta, no Pacaembu, Aimoré optou pela escalação de Bazani na meia-esquerda e deixou na reserva ninguém mais ninguém menos que Pelé, já idolatrado como campeão mundial pela Seleção Brasileira na Copa da Suécia em 1958. No primeiro tempo, os paulistas fizeram 1 a 0, gol de Pepe. No intervalo, Aimoré colocou Pelé no lugar de Bazani. O banco deve ter deixado o “Atleta do Século” irado e quem pagou o pato foi o time baiano, que não viu a cor da bola. Resultado, o “Rei do Futebol” marcou três gols, Pepe fez mais dois e Chinezinho completou o massacre de 7 a 1. Biriba anotou para os baianos. Na seqüência, o selecionado bandeirante atropelou a concorrência e faturou o tetracampeonato. Bazani teve com Pelé uma disputa amigável pela camisa 10.
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