Não sei se estarei sendo infantil, mas com certeza éramos mais inocentes que a idade entre 9 e 13 anos poderia espelhar.
Em 1960 não se tinha muitas alegrias torcendo pelo Corinthians, mas parece que fui mordido por uma mosca diferente da tsé tsé, que ao invés de transmitir a doença do sono, trazia o exótico sintoma da alegria pelo futebol.
Pois bem, na minha casa não tinha televisão na época, por isso sempre imaginava que meus amigos vizinhos eram mais felizes do que eu, principalmente aqueles que assistiram pela TV o último grande jogo de Garrincha, Botafogo 3 x 0 Flamengo, da decisão de 1962. Este jogo passou para São Paulo.
Mas como o meu negócio tinha que ser o rádio, começava o dia esperando o noticiário esportivo das 11h da manhã, da rádio Difusora. Eu ficava uma hora antes no sofá esperando o noticíário. Mas antes devo confessar que logo pela manhã ia à banca de jornal ver as manchetes da Gazeta Esportiva. Gostava de ver também as 20 Notícias de Antonio Guzman, do Diário da Noite. E fechava a conta com os jornais quando meu pai chegava com o jornal A Gazeta, vespertino da fundação Casper Líbero. Mas o verdadeiro sofrimento vinha durante as transmissões de Edson Leite, Pedro Luis e Fiori Gigliotti nas rádios Panamericana e Bandeirantes. Eu ficava tão nervoso que literalmente batia os dentes, como se tivesse morrendo de frio. Não sei se alguém ficava assim, mas durante boa parte do jogo não conseguia parar de tremer. As tristezas eram muitas, mas parece que pouco me importava a classificação, pois cada jogo era muito importante para mim. O gozado que hoje os sintomas são diferentes, fico com um ligeiro mal estar devido ficar tenso nos grandes jogos.
No mesmo ano de 1960, a TV Tupi passava jogos do Real Madri às 13h do domingo e ia ao bar da rua Domingos de Morais na Vila MAriana , era chique, tinha TV, e com o dinheiro de um Guaraná, instalava-me numa mesa e via Canário, Didi, Di Stefano, Puskas, Gento, Araquistain, Del Sol entre outros do futebol espanhol. As vezes esticava o tempo para ver Ari Silva e Raul Tabajara revezarem-se nas transmissões televisivas do campeonato paulista que começava às 15h15min. E os donos do bar tinham paciência comigo e não me mandavam embora.
Certamente os jovens de hoje tem quase tudo, TV, Internet, Celular, mas não tem a infância que tivemos. Era duro, mas como era gostoso.
Abs
Gilberto M.
Concordo com o Rui Moura, cada geração tem seu modo de vida, e a felicidade independe da geração, vai do estado de Espírito do individuo, temos pessoas infelizes em todas as gerações.
A grande dúvida é se estamos educando ou propiciando “felicidade” e um bom futuro aos nossos filhos oferecendo brinquedos eletrônicos, TV, internet, celular e deixando de lado os brinquedos mecânicos e de madeira que proporcionavam a criatividade, condicionamento físico e percepção de espaço real.
Me parece que o equilíbrio dos brinquedos proporcionará a felicidade infantil como um futuro promissor, assim deixar as crianças somente com jogos eletrônicos poderá ser um caminho distorcido a formação das crianças. Seria muito bom que o mercado pudesse oferecer em abundância todos os brinquedos de madeira, mecânicos e eletrônicos.
Se verdadeiro ou não, as crianças que brincaram com armas de “Cowboy” vivem hoje em um mundo bem mais violento que as gerações passadas do século XX…
Inserido pelo Rui Moura
Gilberto, não há gerações iguais e cada um, ao seu modo, acha gostoso o que viveu. Felizmente a minha infância e a sua parece que foram bem felizes! Os nossos pais foram felizes com brinquedos de madeira, nós com brinquedos mecânicos, os nossos filhos com brinquedos eletrônicos. É muito bom ser-se feliz!
Abraço.