História do Campeonato de Acesso Paulista – Cap. I

Estamos nos propondo a recontar, é isso mesmo, recontar a história do campeonato de acesso que em algum momento do passado já foi ditada em prosa e verso pelo brilhante mestre Delphin Ferreira Rocha Netto (1913-2003).
O nosso trabalho contou com a colaboração desse magnífico cronista, que permitiu que pudéssemos desfrutar de seu acervo. O Sr. Rocha Netto na qualidade de correspondente esportivo, viajava pelo nosso interior afora colhendo matéria para o velho “Esporte Ilustrado” ou para “A Gazeta Esportiva”.
Ele foi um dos primeiros a contar “causos” do futebol caipira e tinha uma maneira “sui generis” de relatar os fatos, além da preocupação permanente com a “verdade” dos mesmos.
Outro grande parceiro foi Nelcy Pauleto, que pacientemente coletou a maioria dos resultados da outrora chamada “segundona”. Não poderia deixar de citar o nome de Júlio Diogo, grande batalhador para a preservação da memória esportiva brasileira que muito auxiliou com seus arquivos de resultados.
Outros colaboradores foram aparecendo à medida que evoluíamos de ano para ano. Nosso trabalho se baseou na reunião de dados, obtidos da pesquisa em bibliotecas, jornais e arquivos públicos, portanto, informações colhidas em jornais da época.
Nossa missão é acima de tudo pela preservação da memória esportiva, principalmente do nosso interior. Esse trabalho não é conclusivo e estará sujeito a correções e complementações.
O campeonato de 1947 foi o primeiro da era do profissionalismo envolvendo clubes do interior e pode ser considerado como “balão de ensaio” para o primeiro campeonato de acesso que seria realizado em 1948. Esse campeonato foi também o primeiro da era profissional envolvendo clubes do interior e não contemplava o acesso.
A idéia de um campeonato de acesso nasceu da necessidade de se acabar com o chamado “amadorismo marrom” que vigorava entre as agremiações do interior.
Naquele tempo os clubes profissionais “tiravam” os melhores valores provenientes do interior, através de um depósito simbólico na Federação. “Amadores” estes que eram lapidados com muito carinho pelos seus clubes de origem.
Para por fim a esse disparate, o XV Piracicaba e mais 13 agremiações do interior resolveram, com a ajuda da Federação Paulista, implantar o profissionalismo no interior. Assim os clubes “prendiam” seus atletas através de contratos, para poder se protegerem dos ataques dos clubes da capital e do Rio.
Os acertos para a implantação do profissionalismo foram finalizados em 1946 e em 1947 foi realizado o campeonato que mencionamos acima.
É importante frisar que uma das figuras que mais colaborou para a implantação da lei do acesso foi Roberto Gomes Pedrosa (1914-1954), ex atleta e presidente da Federação Paulista, precocemente falecido no exercício de suas funções como mandatário máximo do futebol em São Paulo.
Mas vamos ao Primeiro Campeonato Profissional envolvendo clubes do interior.
Apesar de ser pouco lembrado, foi um campeonato muito importante para o XV de Piracicaba, pois serviu para a montagem da equipe que conquistaria o primeiro campeonato da Lei de Acesso de 1948.
O campeonato iniciou em meados de maio de 1947 e terminou em dezembro do mesmo ano. Como já foi dito anteriormente, foi disputado por 14 agremiações pelo sistema de turno e returno, todos contra todos.
A disputa foi ferrenha e emocionante, ora se alternava na liderança o XV, ou Taubaté, ora a Ponte Preta ou Batatais.

O jogo decisivo:
Desfalcado de Rabeca e Strauss, o XV enfrentou pela última rodada a agremiação da Palmeiras, da cidade de Franca, equipe já extinta. O jogo era pela última rodada e o Taubaté torcia por um tropeço do XV para tentar a conquista do campeonato
Jogo: XV de Piracicaba 1 x 0 Palmeiras
Data: 21/12/47
Local: Franca
Árbitro: Otávio Richter
Gol: Henrique aos 43′ do 2º tempo
XV: Bertolucci; Elias e Idiarte; Cardoso, Changai e Adolfinho; Curtinho, Sato, Gatão, Berto e Henrique. Técnico: Humberto Cabelli
Palmeiras: Paulo; Zezão e Joacir; Marreta, Cazeca e Tostão; Nené, Marinho, Cabelo, Pacu e Lógico. Técnico: nd

Campanha do Campeão:
1º Turno 2º Turno
18/05/47: XV 2 x 0 Mogiana 07/09/47: XV 4 x 0 Botafogo
25/05/47: XV 6 x 2 São Bento 14/09/47: Mogiana 1 x 3 XV
01/06/47: Guarani 2 x 2 XV 21/09/47: XV 1 x 0 Barretos
08/06/47: XV 3 x 2 Sanjoanense 23/09/47: São Bento 4 x 1 XV
15/06/47: Rio Branco 0 x 5 XV 07/10/47: XV 3 x 0 Rio Branco
22/06/47: Batatais 1 x 1 XV 19/10/47: Sanjoanense 1 x 1 XV
06/07/47: XV 6 x 2 Palmeiras 26/10/47: XV 3 x 3 Internacional
13/07/47: Botafogo 0 x 3 XV 01/11/47: Ponte Preta 1 x 1 XV
20/07/47: XV 4 x 1 Ponte Preta 23/11/47: Francana 1 x 1 XV
27/07/47: Internacional 3 x 0 XV 30/11/47: XV 1 x 1 Batatais
10/08/47: XV 2 x 1 Taubaté 07/12/47: Taubaté 3 x 3 XV
17/08/47: Barretos 2 x 1 XV 14/12/47: XV 4 x 0 Guarani
24/08/47: XV 6 x 2 Francana 21/12/47: Palmeiras 0 x 1 XV

Balanço geral: Jogos: 26; Vitórias: 14; Empates: 9, Derrotas: 3, Gols marcados: 68, Gols sofridos: 35, Saldo: 33

Equipe base do campeão:
Bertolucci; Idiarte e Mário Renzi; Cardoso, Straus e Adolfinho; Cardeal, Berto, Gatão, Sato e Rabeca. Também jogaram: Picolino, Rubens, Henrique, Changai, Curtinho, Elias, Luis Foltran, Tão, Bita Pixe e Cardinalli. Técnico: Humberto Cabelli
Destaques: Antonio Bertolucci, goleiro que mais tarde defenderia o São Paulo Futebol Clube. Idiarte Massariol, segundo Rocha Netto, é o jogador símbolo da história do XV. Vicente Naval Filho (1928-1995), o Gatão, defenderia mais tarde o Corinthians e após encerrar a carreira foi técnico. Sato, o jogador mais cerebral da equipe, seu “espírito amador”, impediu de jogar nas grandes equipes. Hoje vive em Sorocaba como agrônomo aposentado.

Curiosidades:
• Artilheiro máximo do campeonato: Rivetti (Sanjoanense) com 20 gols;
• Outros goleadores: Hugo (Taubaté), Pedrinho (Mogiana) e Rabeca (XV) todos com 19 gols, Tonho Rosa (Batatais) com 18 gols, Perruche (Taubaté) com 17 gols, Tião (Taubaté) com 16 gols;
• Goleiros mais vazados:
Nelson (Barretos): 40 gols, Magalhães (Mogiana): 38 gols, Paulo (Palmeiras): 37 gols, José (Taubaté): 36 gols;
• Goleiros menos vazados:
Barone (Botafogo) com 29 gols, Jura (São Bento) com 30 gols e Costa (Rio Branco) com 31 gols; Ari (Sanjoanense): 32 gols;
• Maior goleada: Internacional (Limeira) 10 x 2 Palmeiras (Franca) em 8/6/1947;
• Equipes que se destacaram:
Taubaté: Zezão; Bibide e Orestes; Dunga, Gute e Juju; Tião, Renato, Gerson, Hugo e Perruche;
Ponte Preta: Fia; Alcides e Stalingrado, Nego, Oscar e Oliveira; Damião, Bruninho, Cacique, Vicente (Gaiola) e Armandinho. Técnico: José Guillermo Agnelli (1912-1998);
Batatais: Joãozinho; Piolim e Antero; Moacir, Luís Lopes e Itamar; Dema, Renatinho, Tonho Rosa, Dirceu e Carlito. Técnico: Tito Rodrigues/Conrado Ross de Marco;
• Mauro Ramos de Oliveira (1930-2002), capitão da Seleção Brasileira na conquista do bicampeonato no Chile, jogou nesse ano na Sanjoanense, transferindo-se no ano seguinte para o São Paulo;
• João José da Silva, o Pirombá (Barretos) fez parte daquela célebre equipe do Sport Recife que excursionou pelo sul do Brasil em 1942, faziam parte daquela equipe Ademir de Menezes (1922-1996) e Magri;
• José Chagas, o Eca (Francana), seria o treinador da Francana no acesso de 1977;
• Mário Marcos Gaiola (Ponte Preta) seria campeão em 1951 com o XV de Jaú;
• Antonio Justino Figueiredo Rosa (? -2001), o Tonho Rosa (Batatais), era o “craque fazendeiro”, filho de uma família de posses, passava o tempo “batendo uma bolinha”. Foi considerado um dos melhores jogadores do interior e encerrou a carreira em 1957 na Francana, agremiação que defendeu na maior parte das vezes. Seu irmão Luís Clóvis Rosa (1922-?) atuou muitas vezes com Tonho e chegou a ser cogitado como substituto de Leônidas da Silva (1913-2004) quando da sua despedida no São Paulo;
• Antonio Rosolém (1928-2005), o Rosalém (Rio Branco), jogaria mais tarde pelo Corinthians onde seria campeão paulista de 1950;
• Revelações do campeonato: Mauro (Sanjoanense), Piolim (Guarani), Gatão (XV), Hugo (Taubaté) e Perruche (Taubaté).

fila da esquerda p/ direita: Bertolucci, Idiarte, Mário Renzi, Cardoso, Straus e Adolfinho;
Segunda fila na mesma ordem: Cardeal, Berto, Gatão, Sato, Rabeca, Picolino, Rubens, Henrique;
Última fila: Tão, Elias, Cardinalli, Luisinho, Changai, Pixe, Curtinho e Brito.

 

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