No Metrô de São Paulo sempre tivemos fatos pitorescos protagonizados por nós, torcedores, no dia seguinte aos jogos.
Entre 1992 e 1993 estava insuportável aguentar a torcida do São Paulo, e, para piorar, tentariam o tricampeonato da Libertadores na partida final contra o Velez Sarsfield.
Em 1993 fui tentar ser diplomático e dar os parabéns no bicampeonato a um são paulino, o Amaury e fui obrigado a escutar poucas e boas, que eu tinha mais é que me ferrar por ser corintiano, etc and etc.
Mas a vingança veio contra o Velez, quando Palhinha perdeu o pênalti e o Velez foi campeão. As rádios foram entrevistar o goleiro Chilavert e ouvi ele aos berros falar: pase-me la copa, hijos de p_ _ a.
Como o Amaury foi ao jogo e chegou ás 2h50min da matina em casa e logo ás 06h teve que acordar para trabalhar, chegou ao serviço destruído.
E eu fui implacável e joguei a pá de cal em cima dele. Sabem como? Entrava de 30 em 30 minutos na sala e imitava Chilavert: Pase-me la copa, hijos de p _ _ a.
Mas futebol sempre tem vingança e……..quando Marcelinho Carioca perdeu o pênalti na semi-final da Libertadores contra o Palmeiras, esqueci-me de desligar o telefone e acabrunhado liguei o rádio somente para ouvir músicas até a hora do sono chegar. Passava já da meia-noite.
Um são-paulino, o Amaury, ligou para minha casa quase à 01h da manhã. Quem atendeu foi meu filho e como não tinha jeito de dar desculpas do tipo , está dormindo, ele não está , me chamou e tive que escutar o indefectível…..chuuuupáááá.
Doeu!
Estes fatos seguem de exemplos para narrar o que ocorreu hoje por e-mail entre eu e o Amaury. Como não se tem sossego, a gente sempre tem que devolver na oportunidade que se apresenta. Quando o Corinthians caiu para a segunda divisão, recebi uns 80 e-mails. Tive que aceitar na boa.
Então, hoje saiu um e-mail na coluna Voz da Arquibancada do site da Gazeta Esportiva, de um palmeirense , espinafrando os são-paulinos e mandei para o Amaury. Aí vai:
Bambis, não adianta contestar a história.
História de várias falências, vários pedidos de peniquinho para os rivais, e de duas filas nas costas, dois jejuns: de 1931 a 1943 e de 1957 a 1970; 25 anos sem ganhar nada nem o Paulistinha como vocês mesmos dizem. Em doze decisões de título, entre Brasileiro, Paulista, Rio-SP, e até Supercopa de Juniores, envolvendo Palmeiras e São Bâmbi, o Palmeiras venceu 10 (1933/33, 42, 44, 47, 50, 65, 72/73 e 95); São Bâmbi (71 e 92). Nos anos de 1940, que vocês falam que eram o tal do Rolo Compressor, vocês perderam todas as decisões disputadas com o Palmeiras.
Todas! Duas delas, bem famosas a de 1942, que vocês correram de campo para não serem goleados, e a de 1950, o célebre Jogo da Lama. Vocês nunca foram tricampeões paulistas naquela época, porque o Palmeiras nunca deixou. Vocês nunca venceram os Brasileiros dos anos de 1960. Nem Copa do Brasil. Nem Rio-São Paulo. Nem a Fita Azul da CBF vocês têm. Vocês nunca vestiram a camisa da Seleção. Vocês nunca colocaram meia dúzia de jogadores de uma só vez na Seleção. Vocês nunca foram campeões invictos de nada. Vocês nunca montaram um ataque que fizesse mais de 100 gols num único campeonato.
Não são titulozinhos de um joguinho só, e que vocês passam o tempo todo na retranca, tipo juventinhus da rua Javari, só ganhando na bola parada ou no gol sem querer, né seu Müller, que vão fazer de vocês o clube mais glorioso do País. Outra coisa: vocês já ganharam algum título no Palestra Itália? Nunca! Eu já cansei de comemorar títulos em vossa casa e em cima de vocês ? nesse estádio aí, que a minha Torcida ajudou a construir, isso mesmo, demos esmolas a vocês muitas vezes, e o mantivemos com nossas rendas ?, sem contar as várias eliminações de Brasileiros e Paulistas, e os shows de nossos craques, como Ademir da Guia, Jorge Mendonça, Evair, César Sampaio e Alex10, o Chapeleiro de Bâmbis, entre outros. Agora, façam o que vocês mais gostam de fazer: Chupem!
Giacomo Leone
Então, mandei o e-mail com a seguinte provocação:
Amaury, ele deve ser da Mooca, no mesmo bairro onde sua família se estabeleceu .
Quando morava lá você tinha que respeitar os palestrinos.
Ou não?
E a resposta do Amaury foi:
Você sabe que não!
Eu já contei pra você, mas vale a pena bisar, para os demais conhecerem.
Eu morei 30 anos na Moóca, reduto de italianos e palmeirenses.
Eles eram nojentos!
Tinha, por exemplo, Seu José e Da. Maria, 2 casas pra baixo da minha.
Em 1977, no dia da final do Brasileiro, contra o timaço do Atlético Mineiro, depois do almoço, eu e meu pai encontramos com o Seu José, que disse:
– Hoje vcs. vão levar uma surra daquelas lá no Mineirão, hein?
Eu e meu pai demos uma de humildes, concordamos que o Galo era mais time, etc.
Quando acabou o jogo e fomos campeões brasileiros pela primeira vez, eu e meu pai abraçados pulávamos e gritávamos sonoros “chupa!” por cima do muro que dava para o quintal deles!
Eles tinham um filho, o Carlinhos, casado, pai de um casal de filhos, que gostava de ir para o bar do Valter, na rua de baixo, onde puxava assunto de futebol e sempre terminava ofendendo algum torcedor de outro time pra sair na porrada.
E o meu episódio preferido: na semifinal do Paulista de 1978, jogamos com o porco, e o empate era deles.
Eu estava ouvindo pelo rádio, sentado num banco de pedra que ficava na porta do Otávio, palmeirense que morava na casa abaixo da minha.
No último minuto da prorrogação, 0 x 0, o porcão estava aos berros comemorando na sala da casa dele, cuja janela dava para a rua, e consequentemente para onde eu estava sentado, puto da vida.
Aí o Getúlio, Gêgê da cara grande, desceu pela lateral direita, cruzou pra área.
O Serginho Chulapa cabeceou, a bola viajou e……entrou no ângulo!
Não deu nem tempo pra raciocinar: levantei e dei um sonoró chute no portão de ferro da casa do Otávio e gritei:
-Chuuuuuuuuuuuuuuuupaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaá!!!!
Esse era o respeito que eu tinha pelos palestrinos da Rua Serra de Jairé, na Moóca da minha infância, adolescência e juventude!
Mostrei exemplos do pessoal que convivi. Alguns com mais picardia, outros mais popularescos, etc.
Gilberto Maluf