1. A BOLA
A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do irmão menor.
2. O GOL
O gol pode ser feito com o que estiver à mão: tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, chinelos, os livros da escola e até o seu irmão menor.
3. O CAMPO
O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, rua e a calçada do outro lado e, nos clássicos, o quarteirão inteiro.
4. DURAÇÃO DO JOGO
O jogo normalmente vira 3 e acaba 6, pode durar até a mãe do dono da bola chamar ou escurecer. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
5. FORMAÇÃO DOS TIMES
Varia de 3 a 20 jogadores de cada lado. Ruim vai para o gol. Perneta joga na ponta, esquerda ou a direita, dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque.
6. O JUIZ
Não tem juiz.
7. AS INTERRUPÇÕES
No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada em 3 eventualidades:
a) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isso não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação.
b) Quando passar na rua qualquer garota gostosa.
c) Quando passarem veículos pesados. De ônibus para cima. Bicicletas e Fusquinhas podem ser chutados junto com a bola e, se entrar, é Gol.
8. AS SUBSTITUIÇÕES
São permitidas substituições no caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer lição ou em caso de atropelamento.
9. AS PENALIDADES
A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar o adversário dentro do bueiro.
10. A JUSTIÇA ESPORTIVA
Os casos de litígio serão resolvidos na porrada, prevalecem os mais fortes e quem pegar uma pedra antes.
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(autor não identificado)
Havia uma brincadeira que nenhum de nós prescindia, o jogo da bola.
A bola era em princípio feita com uma meia cheia de trapos, e quando aparecia uma bola de borracha fazia a delícia de todos nós. As balizas eram feitas com pedras. As regras eram feitas por nós. E os jogos quase sempre mudavam aos cinco e acabam aos dez, o que muitas vezes levava a lutas renhidas para a conclusão do jogo. Normalmente os mais pequenos, como era o meu caso, tinham de ir para a baliza. Como éramos quase todos pobres, andávamos descalços pelo que regra geral os que tinham sapatos ou botas tinham que as descalçar para poder jogar. Não eram poucas as vezes que chegávamos em casa com os dedos todos esfolados. Quero com isso dizer que não havia interferência de adultos senão muitas vezes à assistir às nossas grandes contendas, incentivando e comentando, entre eles que um ou outro de nós seríamos mais tarde jogadores para o Clube da terra.
Não havia a presunção sequer de se falar em jogar em clube algum . Não tínhamos kits caros de equipamentos com , mas não deixávamos de durante os nossos jogos de identificar-nos com elementos de cada equipe. Este é, em meu entender, o verdadeiro futebol de jovens. Não havia obesidade, porque muitos de nós também não tínhamos muito que comer, mas passávamos grande parte do tempo na rua r e não como agora os jovens passam o tempo agarrados a computadores e outras tecnologias .
Conclusões:
– O fato de jogarmos em espaços com irregularidades, como pedras, buracos, desenvolvia, em nós, uma maior capacidade técnica, pois não bastava ultrapassar os adversários , mas tínhamos sempre de contar com aquele ressalto inesperado que aparecia.
– O jogar com bolas de diferentes tamanhos, pesos e materiais, permitia-nos desenvolver uma maior sensibilidade no pé, associado ao fato de jogarmos descalços. De fato a relação pé e bola era a mais natural possível, pois não era mediada por chuteiras ou meias.
– A ausência de adultos, de sistemas táticos rígidos, permitia-nos desenvolver a criatividade, dar espaço ao “detalhe” individual, ao virtuosismo particular que cada um possuía. Dava-nos, ainda, a possibilidade de nós a organizarmos o espaço de jogo, a introduzirmos a regras em função do espaço disponível, e no fundo desempenhavamos ao mesmo tempo a dupla função de Atletas – treinadores.
– Para finalizar, este artigo não pretende ser uma crítica à criação de escolas de futebol, pois estas se bem orientadas, poderão ter um excelente papel no desenvolvimento de atletas. Pretende-se, apenas, alertar para os grandes benefícios que a prática do Futebol de Rua, pode trazer a todas aquelas que ocupam os seus tempos de lazer, correndo atrás de uma bola, pelo simples prazer de jogar.
Texto de António da Costa Pinheiro – Treinador de Futebol Nível II Pró UEFA.
Impressionante como veio à lembrança o fato que nós nos adaptávamos ao terreno irregular. Tínhamos que entender como seria o pique da bola.
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Eu mesmo sendo novo,tive meus tempos de jogar bola na rua,aliás ainda hoje eu vejo alguns garotos na rua,essa brincadeira será eterna..na minha opinião não haverá video game que venha atrapalhar.
Pois bem,na rua onde acostumavamos jogar era calcada,com pedras desniveladas onde frequentemente machucavamos o dedos,chutando pedras aos inves da bola,ou ainda,quando a bola caia no terreno do vizinho,tempos depois o mesmo colocaria arame farpados nos muros,impedindo que pulassemos lá,ou melhor,se enganará.
Bons tempos aqueles,que não voltam mais!
Na av.Jabaquara em São Paulo, onde hoje está erguido o prédio que era da Telesp, hoje Telefonica, tinha um terreno enorme, onde jogavamos bola. Chegou o circo Norte-Americano e o trator trabalhou na terra fazendo o picadeiro na parte central. Depois que o circo foi embora, jogavamos bola com o “picadeiro” nomeio do campo, com elevação de uns 50 cm. Que fizemos para poder jogar: desbastamos o picadeiro fazendo uma rampa suave.
Quando criança acho que todos nós já jogamos o famoso futebol de rua, quebravamos vidraças, pertubavamos os vizinhos,ficavamos sem a tampa do dedão ouviamos muitas reclamações, mas o jogo não parava. Este artigo com certeza vai fazer que todos voltem ao passado de alegrias e com muitas saudades.
Esse artigo me fez lembrar da minha infância, quando eu jogava bola até anoitecer e chegava em casa com o pé, o joelho e até o braço ralado.
Naquele tempo não havia a violência que há hoje, nem a quantidade de carros que há hoje. Por essa razão, as crianças de hoje tem que ficar a maior parte do tempo trancada em casa e apelam para o futebol digital em vez do futebol de rua.