Por Celso Unzelte
As três histórias a seguir aconteceram nos jogos Palmeiras x Deportivo Cali (final da Libertadores de 99), Corinthians x Inter (decisão da Copa do Brasil de 2009) e em um clássico entre Remo e Paysandu. Mas poderiam ter acontecido em qualquer arquibancada.
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A primeira me foi contada pelo amigo Walter Mazzuchelli, o popular Anjinho, velho companheiro na profissão e na vida desde os tempos de Placar. Foi presenciada por ele na noite de 16 de junho de 1999, quando o Palmeiras foi campeão da Libertadores.
Depois da vitória do Deportivo Cáli, na Colômbia, por 1 a 0, e dos 2 a 1 do Palmeiras naquela noite, no Parque Antarctica, a decisão teve que ir para os pênaltis. Nas arquibancadas, uma família de Sorocaba, interior de São Paulo, que havia viajado até a capital especialmente para assistir ao jogo, insistia para que um garoto de cerca de 10 anos ficasse de costas para o campo na hora em que Zinho se preparava para a primeira cobrança do Palmeiras. “Ele não pode olhar para o campo, de jeito nenhum”, explicava o pai, desesperado. “Toda vez que o Palmeiras cobra um pênalti e ele vê, a bola acaba não entrando.” Ninguém estava ligando muito para a superstição, até ver o chute de Zinho estourar no travessão.
Dali para a frente, não só o pai ou a família, mas todos os palmeirenses que estavam em volta passaram a pedir pelo amor de Deus para que o garoto ficasse de costas para o campo. Foi um sacrifico segurá-lo de uma maneira que, mesmo esperneando, ele não visse todas as outras cobranças, efetuadas por Júnior Baiano, Roque Júnior, Rogério e Euller. Mas valeu a pena: coincidência ou não, naquela noite, deu Palmeiras, 4 a 3.
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A segunda aconteceu comigo. No primeiro jogo da decisão da Copa do Brasil, entre Corinthians e Inter, no Pacaembu, o torcedor corintiano assistia das arquibancadas, espremido entre uma jovem e uma senhora perto dos 80 anos. Naquela noite, o Corinthians chegou sem grande drama aos 2 a 0, mas a partir dali teve que fazer das tripas coração para não sofrer nenhum gol em casa e, assim, viajar com uma boa vantagem para Porto Alegre, conforme reza o regulamento.
A cada chute do Inter contra o gol de Felipe, o torcedor corintiano se contorcia. Até que, sem querer, roçou seu braço no da moça que estava à sua direita. E cismou que se não roçasse o braço também na velhinha que estava à esquerda, “igualando”, assim, as coisas, o Corinthians acabaria tomando um gol.
Foto: GazetaPress
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O problema é que, logo depois, foi a velhinha que roçou o braço no dele. E o rapaz se viu, então, na obrigação de roçar o dele novamente no da moça, igualando as coisas mais uma vez. E assim foi durante o resto dos 90 minutos, tudo para que o Corinthians não tomasse um gol.
O jogo, enfim, terminou com a vitória corintiana por 2 a 0, e só então o rapaz pôde se desculpar, explicando às duas que, se por acaso elas tivessem sentido todo aquele roça-roça durante a partida, havia sido por mera superstição da parte dele. “Ah, que pena… Então era só por causa disso?”, respondeu a velhinha, visivelmente decepcionada.
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Por último, uma história que vem do norte do País, contada por Amaro Klautau, o simpático presidente do Clube do Remo, que esteve em São Paulo para o lançamento do livro infantil Todo-Poderoso Timão em quadrinhos, do craque Ziraldo.
Na véspera de um clássico entre Remo e Paysandu, dois caboclos do interior paraense, ambos torcedores do Remo, resolveram ir para Belém ver o jogo. Para isso, tiveram que cruzar um rio com uma embarcação rudimentar, daquelas com péssima vedação, que têm mais água dentro do que fora. Por isso, combinaram que enquanto um ia remando o outro ia tirando a água de dentro da canoa com uma cuia. E assim acabaram chegando.
No estádio, os dois se sentaram por engano no meio da torcida do Paysandu. Pior: na hora do gol do Remo, não se aguentaram e levantaram para gritar. Logo apareceu por trás deles um enorme torcedor do Paysandu, que disse para a multidão: “Pessoal, esses dois são do Remo!”
Um deles, então, tratou logo de tirar o corpo fora: “Eu não sou, não senhor, eu não sou. Eu sou é o da cuia…”
Fonte: Jornalista e pesquisador, Celso é professor de jornalismo e comentarista do canal ESPN Brasil, no qual participa do programa “Loucos por Futebol”. Também colabora com especiais para as revistas Placar e Quatro Rodas. Celso escreve semanalmente para o Yahoo! Esportes.