Na estréia do técnico João Saldanha no Botafogo do Rio aconteceu um fato inusitado.
Na preleção Saldanha chamou o defensor Matias e insistiu: – Olha, o perigo maior do Palmeiras é o Mazzola, ponta de lança que joga enfiado no seu lado. Ele não fica plantado na entrada da área. Gosta de voltar para receber a bola e vir com ela dominada.Você pode acompanhar o Mazzola que o Domício fica na cobertura, sobrando. Assim, se ele passar por você, o Domício entra na jogada. Entendeu?
O Matias repetiu direitinho como se tivesse decorado.
Depois fui ao Domício e expliquei a mesma coisa. O Domício entendeu.
Não sei porque resolvi perguntar se eles conheciam o Mazzola. Domício disse que sim e Matias disse que não. Aí o Aloísio, que estava olhando para fora do vestiário disse:
-Eles estão entrando em campo, Mazzola está com o número nove.
Logo que o jogo começou, o Mazzola entrou na nossa área sozinho, foi cara do Amauri, que era o goleiro e perdeu o gol mais feito do mundo. A brecha por onde o atacante do Palmeiras viera parecia a avenida Presidente Vargas. Dava para passar todo aquele trânsito. Botei as mãos na cabeça e gritei:
-Olha o Mazzola! Matias! Domício!
O Domicio que estava mais perto respondeu:
-Pode deixar.
Na segunda vez o Mazzola não errou. Foi até a cara do Amauri e fuzilou. Seis minutos e um a zero. Berrei mais alto ainda e já estava ficando rouco quando percebi a inutilidade: a torcida do Palmeiras na comemoração do gol não dava nenhuma chance.
O Aloísio foi até o Amauri, por trás do gol, para dar o recado. Mas Amauri não podia atendê-lo. Já vinha o Mazzola outra vez pela avenida. Chegou na pequena área e mandou brasa. Oito minutos, dois a zero e eu já tinha deixado de ser técnico de futebol. Pelo menos este recorde eu ia bater: o técnico que durou menos tempo.
Nisto olhei para dentro do campo e reparei que o Nardo, outro atacante adversário, tinha o número nove nas costas. Já ia dar uma bronca no Aloísio, quando vi que, de fato o Mazzola também tinha o número nove. O roupeiro do Palmeiras se enganou, não foi truque, porque o juíz não deixaria passar. Só que o miserável não tinha visto.
Mas de qualquer forma , deixar aquela avenida ali na área era de primeiro ano primário, e o Matias e o Domicio pegaram o nove errado.
Não adiantava falar de novo. Chamei o Nilson, irmão de Nilton Santos e disse:
Vai para o lugar do teu irmão e diz a ele para ficar no lugar do Matias, marcando o Mazzola. O Matias sai.
Aí o Nilton foi para junto do Mazzola e acabou a avenida, o jogo acabou ficando igual e conseguimos empatar com um de Garrincha e outro de Pampolini do meio da rua.
Histórias do Futebol – João Saldanha
Dois números NOVE em campo – João Saldanha
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