O rapto de Hercules e Batatais

Histórias contadas pelo cronista esportivo Isaac Amar.

Pelos idos de 1936, vários jogadores paulistas atuavam no futebol carioca. Entre eles, dois eram os de maior cartaz e prestígio: Batatais e Hercules. Jogavam pelo Fluminense e eram ídolos da torcida tricolor. Uma tarde, como às vezes ocorre, não existia uma novidade, uma nota interessante para o cronista esportivo. Era uma véspera de 1º de abril. O jornalista Isaac Amar, já estudante de medicina, com uma imaginação fértil, resolveu pregar peça ao publico carioca, especialmente à torcida do Fluminense. E fez publicar a seguinte manchete – “Batatais e Hercules raptados”.
A noticia pegou fogo. Como naquele ano havia uma cisão no futebol carioca e os ânimos estavam exaltados, a nota dava a entender que os autores do sensacional rapto pertenciam ao Vasco. O presidente do Fluminense era Arlindo Pinto da Fonseca, já falecido. Chamado a tomar providências, tomou seu carro e correu a casa onde moravam os jogadores do seu clube. Por coincidência, ambos haviam dormido fora. Esse fato deu mais autenticidade a noticia e, durante algumas horas, o ambiente esportivo da cidade ficou em polvorosa.
Só no dia seguinte, o caso foi esclarecido. O carioca, como é do seu feitio, recebeu com bom humor a peça pregada pelo jornalista Isaac Amar, que por sua vez, ficou em evidência.

A macumba do Arubinha

Outra história de Isaac Amar. Em 1937, o Vasco da Gama derrotou o Andaraí por 12×0 em partida pelo campeonato carioca. Os jogadores do Andaraí ficaram revoltados com a severidade do placar. E Issac Amar aproveitou para inventar outra história. Com destaque informou ao carioca que o ponta esquerda Arrubinha, do clube suburbano, havia feito uma tenebrosa “macumba”, enterrando um sapo no campo de São Januário. E o trabalho tirava o clube vascaíno do titulo carioca por dez anos.
A principio, ninguém deu importância a noticia. Mas acontece que o Vasco, de líder absoluto da tabela naquele ano, foi perdendo pontos fáceis. Acabou perdendo um campeonato que já estava quase ganho. No ano seguinte, novamente o Vasco perdeu o titulo. E, com o correr dos anos, os jogadores, supersticiosos, quando perdiam jogos considerados fáceis, justificavam, entre desolados e submissos, aos diretores – Não adiante. Isso é o “trabalho” do Arubinha.
O episódio ganhou fama. Provocou celeumas. A diretoria do Vasco passou a dar crédito a noticia e mandou vascular toda a grama do campo, procurando descobrir o “sapo do Arubinha”. Já haviam passados oito anos sem o clube ganhar um campeonato. Os jogadores, quando contratados, diziam sempre, na suposição de enfrentar a célebre “macumba”. – Vai ser “espeto” com a praga do Arubinha.
Um dia, o próprio Arubinha procurou Isaac Amar. Disse, sério e com tristeza: – Seu Isaac, veja se desmente essa história do sapo…
E justificou: O vendeiro da minha rua é português e vascaíno. Já cortou o meu fiado por causa dessa história.
Só com a conquista do campeonato de 1947, o Vasco se libertou da história do célebre sapo do Arubinha. Uma história que era apenas o fruto da imaginação de um jornalista.

Fonte: Gazeta Esportiva