Eu sempre quis saber mais detalhes desse torneio (e também da excursão do Brasil, de Pelotas, ao Rio de Janeiro e São Paulo) mas, por falta de fontes, tinha pouquíssimo material sobre ele. O próprio livro do Thomaz Mazzoni, “História do Futebol no Brasil” dedica poucas linhas ao evento.
Agora, com a disponibilização de jornais antigos que a Biblioteca Nacional vem promovendo, encontrei nos jornais O Imparcial e Correio Paulistano aproveito para repassar para os amigos que também não tinham até então.
A primeira experiência em promover um torneio nacional de clubes verificou-se em 1920. A Confederação Brasileira de Desportos organizou o Campeonato Brasileiro de Clubes Campeões. Mas o evento não passou de um torneio triangular, que reuniu no Rio de Janeiro clubes de apenas três Estados – Guanabara, São Paulo e Rio Grande do Sul: Fluminense, tricampeão carioca (1917 a 1919), Paulistano, tetracampeão paulista (1916 a 1919) e o Brasil, de Pelotas, campeão gaúcho de 1919.
O torneio foi disputado em março, no estádio das Laranjeiras, do Fluminense, o maior do Brasil na época.
Paulistano e Brasil inauguraram o torneio no dia 25 de março: 7 x 3 para os paulistas. O público foi bom, principalmente de considerarmos que o jogo foi realizado em dia de trabalho e de greves operárias, tendo mesmo havido distúrbios em vários pontos da cidade e alguns bondes virados, que impediu de grande número de famílias se afastasse de suas casas com receio de sofrerem as conseqüências da greve e a paralisação geral do tráfego já anunciada.
O árbitro do jogo foi Henrique Vignal, do Flamengo, e os times formaram assim: Paulistano – Arnaldo, Orlando Pereira e Carlito; Sérgio Pereira, Mariano e Clodoaldo; Zonzo, Mário de Andrada, Friedenreich, Carlos Araújo e Cassiano; Brasil – Frank, Nunes e Zabaleta; Floriano, Rossel e Victório “Babá”; Farias, Alberto Correa, Pelágio Proença, Ignácio e Alvariza.
Marcaram os gols, pela ordem, no 1º tempo: Friedenreich (logo aos dois minutos de jogo), Mário de Andrada, Friedenreich, Mário de Andrada, Mariano e Alberto Corrêa. Resultado do 1º tempo: 5 x 1 a favor do Paulistano. No 2º tempo, Carlos Araújo anotou dois gols seguidos, aumentando para sete o total do Paulistano. Pelágio Proença e novamente Alberto Correa diminuiram para o clube gaúcho.
No dia 28 de março mediram forças Fluminense e Paulistano. Eduardo Gibson, do São Cristóvão, foi o árbitro do jogo.
Para surpresa daqueles que esperavam por um jogo equilibrado, o Paulistano venceu de forma categórica pelo placar de 4 x 1.
O Paulistano formou com Arnaldo, Orlando Pereira e Carlito; Sérgio Pereira, Carlos Araújo e Mariano; Zonzo, Mário de Andrada, Friedenreich, Guariba e Cassiano. E o Fluminense com Marcos de Mendonça, Othelo e Chico Netto; Laís, Osvaldo Gomes e Fortes; Mano, Zezé, Harry Welfare, Machado e Bacchi.
O Fluminense marcou primeiro, através de Zezé. Ainda no primeiro tempo, Friedenreich empatou para o Paulistano. Final do 1º tempo: 1 x 1. No segundo tempo, o Paulistano definiu o marcador com gols, pela ordem, de Mário de Andrada, Guariba e Mário de Andrada, novamente.
No dia 3 de abril aconteceu o terceiro e último jogo do torneio. E o clube gaúcho sofreu nova goleada: Fluminense 6 x 2 Brasil.
Carlos Santos, do S. C. Mangueira foi o árbitro da partida e as equipes formaram assim: Fluminense – Marcos de Mendonça, Vidal e Chico Netto; Laís, Honório e Fortes; Mano, Zezé, Harry Welfare, Machado e Bacchi. Brasil – Frank, Nunes e Ary;
Floriano, Rossel e Zabaleta; Farias, Alberto Correa, Pelágio Proença, Ignácio e Alvariza.
Marcaram os gols, pela ordem: Welfare e Zezé, no 1º tempo, e Zezé, Pelágio Proença, Zezé, Zezé e Machado.
Nos três jogos disputados foram marcados 23 gols, alcançando-se a excelente média de 7,7 gols por jogo.
Despedindo-se do Rio de Janeiro, no dia 8 de abril o Brasil disputou um amistoso contra o São Cristóvão, no campo do Botafogo.
Sob a arbitragem de Hugo Blume, desta vez os gaúchos venceram facilmente, por 5 x 1. Formou o Brasil com Frank, Nunes e Zabaleta; Floriano, Alberto Correa e Babá; Farias, Soares, Pelágio Proença, Alvariza e Júlio. O São Cristóvão com Frederico, Labuto e Rubens; Renato, Epaminondas e Martins; Heraclydes, Vinhaes, Braz, Heitor e Goulart.
O primeiro tempo terminou 2 x 0 a favor dos gaúchos, gols de Júlio e Soares. No 2º tempo, Soares, Epaminondas, Júlio e Farias definiram o marcador em 5 x 1 a favor do Brasil.
Depois do Rio de Janeiro, o Brasil jogou em São Paulo, com o Palestra Itália, perdendo por 2 x 1, em 11 de abril. O Palestra Itália formou com Primo, Oscar e Gildo; Pedretti, Picagli e Fabbi; Caetano, Forte, Heitor, Imparato e Aldighieri. O Brasil com Frank,
Nunes e Zabaleta; Floriano, Alberto Correa e Victório; Farias, Rossel, Pelágio Proença, Ignácio e Alvariza. No 1º tempo, Caetano marcou para o Palestra Itália. No segundo, o clube paulista ampliou o marcador, com um gol de Forte. O Brasil marcou seu único gol através de Nunes, cobrando pênalti. O árbitro da partida foi Emílio Cordes.
Em seguida, a 15 de abril, no campo da Ponte Grande, o Brasil se juntou ao Palestra Itália e formou um combinado para enfrentar o Corinthians. O jogo foi dirigido por Carlos Yegros e os times formaram assim: Corinthians – Russo, César e Nando; Bororó, Amílcar e Gano; Américo, Neco, Gambarotta, Garcia e Basílio. Combinado Brasil/Palestra Itália: Primo, Nunes e Zabaleta; Floriano, Severino e Fabbi; Caetano, Pelágio Proença, Heitor, Constantino e Alvariza. Cinco jogadores do Brasil e seis do Palestra Itália.
O resultado foi um empate em 4 x 4. Os gols foram marcados nesta ordem: Amílcar, Neco (de pênalti), Constantino, Basílio e Garcia. Resultado do 1º tempo: Corinthians 4 x 1 Combinado. No segundo tempo, Heitor e Caetano marcaram mais três gols para o combinado, empatando a partida em 4 x 4.
Os gaúchos deixaram São Paulo no dia 16 de abril, rumo à Santos, onde tomaram o vapor “Itapema” que os conduziu de volta a Pelotas.
Fontes: O Imparcial e Correio Paulistano.