No dia 21 de Maio de 1985, em Santiago do Chile a Seleção Brasileira dirigida pelo treinador Evaristo de Macedo, jogava um amistoso contra o Chile, ultimo jogo preparatório para as eliminatórias para a Copa de 1986 no México. Evaristo tinha estreado no comando técnico no dia 25 de abril quando o país ainda se ressentia do falecimento do Presidente Tancredo Neves, ele era o terceiro treinador da seleção desde a saída de Telê Santana depois da Copa de 1982, Carlos Alberto Parreira assumiu em 1983 que ficou até a perda da Copa América para o Uruguai, em 1984 assumiu Edu Antunes o irmão de Zico que só durou três partidas e não emplacou.
Evaristo era a bola da vez, assumia o cargo num momento difícil, o Brasil vivia o êxodo de jogadores para o exterior que veio depois da Copa da Espanha, Zico, Sócrates, Junior e Toninho Cerezo se juntariam a Falcão, Edinho e Dirceu no futebol italiano e os clubes só liberariam os jogadores para jogos oficiais e Evaristo teve de iniciar o trabalho com jogadores que atuavam no Brasil que tinha bons valores como Casagrande, Alemão, Elzo, Bebeto, Renato Gaúcho, Mozer, Branco e Luis Carlos Winck, mais certos nomes com Edson Boaro, Dema, Jorginho, Reinaldo, e o veterano Mario Sérgio não vinham agradando. No período que dirigiu a seleção foram seis partidas com três vitórias e três derrotas e as duas ultimas contra a Colômbia e o Chile foram a gota d’água para a CBF que não agüentou a pressão da mídia e da torcida e trouxeram de volta Telê Santana a dez dias da estréia contra a Bolívia em Santa Cruz de la Sierra no dia 02 de junho de 1985.
Telê estava de volta para a felicidade de toda a nação, ele que fora bastante questionado antes da Copa de 1982, por não escalar dois pontas como eram de costume as equipes jogarem no Brasil, era perseguido até em programas humorísticos como o de Jô Soares que na pele do Zé da Galera todas as segundas ligava para o Telê pedindo ponta quem não se lembra do jargão “Bota ponta Telê” o que não sabíamos que apesar da boa safra de pontas direitas como Paulo César do São Paulo, Robertinho do Fluminense, Lúcio do Guarani, Wilsinho do Vasco, o mestre Telê armava sua seleção apenas com um ponta nato que era Eder na esquerda, e que com um quadrado no meio campo formado por Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico, permitiam que Leandro e Junior jogassem como verdadeiros pontas.
Bem no dia 02 de junho na estréia contra os bolivianos o time que o povo e a mídia queriam estavam em campo, Carlos; Leandro, Oscar, Edinho e Junior; Cerezo, Sócrates e Zico; Renato Gaúcho, Casagrande e Eder, a esperança estava de volta e as vitórias também a classificação fora conseguida praticamente nos dois primeiros jogos fora de casa, depois ficou uma certa frustração por não ter vencido nem Paraguai e Bolívia, houve empate por 1 a 1 em ambos os jogos e uma vitória sobre o Chile por 3 x 1 no intervalo do primeiro para o segundo jogo.
Depois das eliminatórias e com o passaporte carimbado para o México o Brasil iniciou o ano de 1986 numa expectativa muito grande, no dia 31 de maio se iniciaria o mundial e o México trazia boas lembranças, mais nos dois primeiros amistosos contra Alemanha e Hungria na Europa nos deixaram preocupados mesmo sem contar com Junior, Cerezo e Edinho que continuavam a jogar na Itália o time tinha Sócrates e Falcão que voltaram a jogar no Brasil, além de Zico que voltou em 1985, mais depois das eliminatórias em um jogo do campeonato carioca foi violentamente atingido por Marcio Nunes do Bangu logo na segunda rodada da competição, o Brasil perdeu para a Alemanha por 2 x 0 e para a Hungria por 3 x 0, o pânico se generalizou pelo Brasil! e ai será que o time que encantou o mundo em 82 voltaria a se juntar e jogar juntos de forma encantadora? Ou será que nossos maiores craques já passados dos trinta teriam fôlego para jogar uma Copa inteira ! e Zico será que ele se recuperaria antes do mundial? Bem apesar das atribulações e vontade popular de ver os mesmos craques jogando uma Copa; o Mestre Telê sabia como resolver a questão. Ele aproveitou para mesclar os velhos talentos com jogadores campeões mundiais juniores na Rússia em 1985, Dida, Muller e Silas começaram a serem chamados com freqüências além de Valdo do Grêmio, Alemão do Botafogo, Elzo e Edvaldo do Atlético/MG, Telê sabia que tinha um time envelhecido mais em compensação tinha novos valores, nos quatros amistosos seguintes vitórias diante Peru, Alemanha Oriental, Finlândia e Iugoslávia, neste jogo no Recife Zico retornou a camisa canarinho e com uma atuação nota 10 marcou três gols e nos encheu de esperanças novamente o time começara a ganhar forma, na despedida antes do mundial o ultimo amistoso contra o Chile no Paraná e um empate por 1 x 1, mais Telê ganhou um novo problema; Renato Gaúcho e Leandro voltaram tarde para a concentração e somente Renato fora cortado em solidariedade ao amigo Leandro também pediu para ser desligado da delegação que viajaria dois dias depois rumo ao México, Telê chamou Josimar do Botafogo para seu lugar, que terminou sendo o lateral direito da Copa.
Mais os problemas não terminaram por ai, Oscar e Cerezo foram cortados as vésperas da estréia contra a Espanha no dia 01 de junho, mais Telê mostrou que sabia tudo de bola e começou a remontar o time com o mundial em andamento, nos dois primeiros jogos foram vencidos na marra por 1 x 0 contra a Espanha com uma ajuda do bandeirinha que não viu a bola dentro do gol num chute de Michel e contra a Argélia quando começou a despontar a estrela do atacante Careca que era reserva nas eliminatórias, Telê pois Josimar na lateral direita pois Edson não vinha agradando,Branco na lateral esquerda, na zaga Edinho ganhou a companhia de Julio César, firmou o meio campo com Elzo e Alemão na marcação, pondo Sócrates e Junior mais a frente, aproveitando que Junior jogava como meia no Torino, na frente sacou Casagrande que era unanimidade nas eliminatórias e colocou Muller junto a Careca por ter entrosamento melhor pois atuavam juntos pelo São Paulo, no terceiro jogo diante a Irlanda do Norte, Zico retornou nesta partida entrando no segundo tempo o Brasil ganhou fácil 3 x 0 com Josimar fazendo um golaço e dois de Careca.
Nas oitavas no baile agora diante da Polônia, mais não foi fácil pois os polacos assustaram com uma bola na trave no inicio da partida, a defesa sólida não sabia o quera sofrer gol naquele mundial e ai finalmente encontramos o caminho do sonhado tetra, com uma defesa bem protegida e um meio campo organizado e técnico e tendo Zico recuperado e Careca dando show o Brasil atropelou a Polônia e partiu para as quartas de finais para enfrentar a França a outra equipe que encantou no mundial de 82 e não levou vinha de eliminar a atual campeã mundial a Itália por 2 x 0, tinha também um time renovado mais conhecidas peças como Amoros, Battiston, Bossis, Tigana, Girese, Rocheteau e o genial Michel Platini, o jogo começou a toda e o Brasil saiu na frente numa bela jogada triangulada por Junior, Muller e Careca que finalizou com maestria, o jogo continuava quente ao sol do meio dia em Guadalajara, a nossa defesa tinha mais trabalho mas a França jogava e deixava jogar tivemos chances de ampliar o placar com Muller mais Joel Bats começara a fazer a diferença no gol dos blues, antes do final do primeiro tempo a França empata, no segundo tempo o jogo continuou quente com chances de ambos os lados, Zico entra no lugar de Muller na primeira bola que recebe lança Branco que entra pela diagonal o lateral é derrubado na área pênalti festa dos jogadores e nos país inteiro são 27 minutos do segundo tempo um gol aquela altura seria uma ducha fria para os franceses, Zico recebe a bola de Careca, ajeita a pelota bate e para a surpresa geral Bats defende a ducha fria se virou o jogo foi para a prorrogação e nos pênaltis nos perdemos por 4 a 3. Telê mais uma vez se vê num turbilhão de questionamentos, Careca deveria ter batido o pênalti ou Sócrates, Zico acabara de entrar e estava frio! Telê é pé-frio não ganha nada, fora Telê e muito mais, este jogo contra a França foi o ultimo do velho mestre á frente da seleção brasileira, ele e aqueles mágicos jogadores não ganharam as Copas mais deram brilho ao futebol mundial, ele mostrou competência, visão futebolística, não tremeu diante a impaciência de jogadores estrelas, capacidade de remontar um time já com um mundial iniciado e se fosse em um pais europeu ele continuaria para a próxima Copa, depois da seleção Telê levou o Atlético/MG as semi-finais do brasileiro de 87 e a fama de pé-frio voltou a ser lançada, monta boas equipes da show e não leva a taça, mais a sua competência viria a ser premiada quando passou a comandar um time brasileiro com administração com modelos europeus o São Paulo no primeiro ano novo vice e a fama de pé-frio, de 1991 em diante Telê mostrou que era mais que vencedor: campeão brasileiro e paulista em 1991, paulista, libertadores e mundial em 92, libertadores, mundial e super copa libertadores 93 e muitos outros títulos.
O Mestre Telê para mim foi o melhor treinador de futebol sua simpatia e carisma eu presenciei de perto em 1981 quando a seleção brasileira enfrentou a Espanha aqui na Fonte Nova eu fui um dos gandulas daquele dia no jogo e no dia anterior no treino. Em um momento de descontração me aproximei do Mestre e ele gentilmente me perguntou “ esta gostando de ver tantos craques juntos”respondi sim estou gostando e ele me disse “ estou treinando o melhor elenco do mundo e vamos dar muitas alegrias as vocês, vamos trazer a Taça de volta para a nossa casa” ele não cumpriu a promessa mais é certamente o maior treinador que a seleção brasileira já teve.
Fonte: Texto Galdino Silva
Galdino ótimo trabalho. Tele realmente fora um mestre.
Grande abraço
Marcos Falcon