O futebol carioca se desenvolveu de uma forma muito similar ao paulista e por este, foi extremamente influenciado. A grande diferença, é que a maioria dos grandes clubes do início do século 20, que nasceram de uma origem mais elitista, continuaram existindo. Ao contrário de São Paulo, na antiga capital federal os clubes não nasceram populares, mas se tornaram até por uma questão de sobrevivência. Da elite que formava o campeonato carioca do início do século, apenas um campeão parou com o futebol, o Paysandu. Outras equipes desapareceram mas nenhuma chegou a ter a pujança de um Paulistano ou de um Germânia como foi o exemplo paulistano. Mas nem por isso, a “seleção natural” dos clubes não deixou suas marcas no estado. O América, Bangu e São Cristóvão, grandes equipes do passado, hoje amargam situações que em muito diferem de sua gloriosa história. Mas tal fenômeno foi acentuado pelo próprio “mercado” existente. Ao contrário de São Paulo, que tem um interior muito desenvolvido e rico, os clubes cariocas se concentraram na capital, até porque, a unificação da Guanabara ao estado do Rio de Janeiro só se deu em 1979. Até esta época, eram disputados dois campeonatos distintos: o Carioca na Guanabara e o Fluminense, no estado do Rio de Janeiro, cuja capital era Niterói. Aliás, caso os estados não tivessem se unido, hoje teríamos no Americano e no Goytacaz, as duas principais equipes de Campos, dois grandes clubes do país devido à quantidade de títulos que eles venceram no antigo estado.
No Espírito Santo, o futebol sempre se desenvolveu à sombra do futebol carioca. A influência dos clubes do Rio de Janeiro sempre foi muito grande. Os capixabas viram seu campeonato se desenvolver na sua capital, Vitória. Seus clubes, Rio Branco e Vitória, mandaram no futebol local por anos. Na década de 60, surgiria a Desportiva, em Cariacica, na região metropolitana da capital, que acabou por se transformar no principal rival do Rio Branco e, com este, passou a dividir os títulos desde então. Mas, na década de 80, o futebol do Espírito Santo começou a se desenvolver no interior e algumas das principais equipes do estado hoje são de Linhares, Cachoeiro do Itapemirim ou Serra. Desde o título do Guarapari em 1987, a taça foi pro interior mais 9 vezes e o Rio Branco, maior campeão do estado, não vence desde 1985, assim como o Vitória, que não papa um título desde 76.
Em Minas Gerais, o futebol também teve as suas características próprias. Nasceu na capital, com influências do futebol paulista e teve, até a década de 60 como maior clássico América e Atlético. O Cruzeiro, antigo Palestra Itália, começou a crescer de fato com a geração de Tostão, Dirceu e companhia e hoje é um dos maiores clubes do país. Além destes, o Villa Nova de Nova Lima, já teve seus anos de glória na década de 50 e assim como o América do Rio ou a Portuguesa, busca voltar ao seu lugar de direito que é brigando pelos títulos. Mas Minas também teve características próprias no tratamento dado ao seu grande interior. Devido à distância e à influência do Rio e de São Paulo, por muitos anos o futebol mineiro profissional se restringiu à capital, Belo Horizonte. Foi apenas na década de 50, quando a Caldense de Poços de Caldas ameaçou disputar o campeonato paulista, que os dirigentes mineiros resolveram olhar para o interior e promover o desenvolvimento de campeonatos que tivessem equipes de todos os cantos do estado. Todavia, apenas 2 títulos não ficaram na capital desde 1915 e os dois para a cidade de Sabará, que teve no Siderúrgica o último grande campeão do interior em 1964.
Berço e capital do futebol brasileiro, o estado de São Paulo teve uma história que se confunde com a do próprio esporte no Brasil, de seu nascimento elitista, no fim do século 19 à sua popularização na década de 20. Esta popularização foi motivada por um fenômeno extremamente paulistano, que foi o início da industrialização, motivada pelo fim do ciclo do café e pela imigração, principalmente, italiana. Dessa forma, quando houve o primeiro encontro em Palmeiras ou Palestra Itália e Corinthians, em 1917, a cidade viu – assustada – o nascimento do futebol como cultura de massa. Ao contrário dos jogos de então, vistos em grande parte pela aristocracia da época, iriam se encontrar duas equipes de origem popular, uma nascida no seio dos operários e outra na imensa colônia imigrante italiana, que começava a deixar o campo para vir para a cidade. Este fenômeno motivou o fim do primeiro ciclo do futebol paulista e que se refletiu por todo o país. Neste, grandes equipes do passado como Paulistano, Mackenzie, Germânia, Internacional, Americano, São Bento e AA das Palmeiras foram desaparecendo ou, simplesmente, perdendo a motivação em disputar um esporte “profissional” como eles não poderiam aceitar, devido à origem nobre e amadora. Da década de 30 em diante, o futebol paulista viu a solidificação das equipes populares, o desenvolvimento do futebol no interior e a força de Santos, demonstrada desde o início. O interessante é notar que hoje, as grandes equipes do estado tem passados distintos. Por um lado, o Palmeiras e o Corinthians nasceram da força popular de suas origens. O São Paulo, herdou a estirpe elitista do Paulistano e da AA das Palmeiras, o Santos, se desenvolveu graças à pujança da cidade e à força do – maravilhoso – time da década de 60, isso sem contar o poder da colônia lusa na Portuguesa e a importância do Guarani e da Ponte, legítimos representantes da cidade mais importante do interior.