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Para os sofridos torcedores americanos um alento….
Dezenove anos após a memorável excursão ao Prata, voltou o América, em princípios de 1948, a sair em busca de novas glórias no exterior. Dessa vez, seu destino foi a costa do Pacífico, que se transformou em cenário de um dos mais expressivos feitos do futebol de nosso clube.
É preciso que se esclareça, antes de tudo, que a comitiva rubra saiu do país sem o aval da confiança da imprensa guanabarina. Para os homens da crônica esportiva carioca, iríamonos expor a uma aventura, tanto mais perigosa porque nossos jogadores não eram dotados de qualidades técnicas que os capacitassem a representar o futebol nacional no estrangeiro. Não lhes era suficiente a credencial de terceiros colocados no campeonato da cidade no ano anterior. A própria torcida não escondia a preocupação que sentia, não faltando os inveterados pessimistas que chegaram quase ao desrespeito, com suas impertinências.
Vinte e um desportistas integravam a delegação, que tinha a dupla chefia de Giulite Coutinho e João Antero de Carvalho. O técnico era José Delia Torre; o massagista e roupeiro, Olavo Barros; jornalista, Luís Bayer; e dezesseis jogadores: Vicente; Osni, Alcides, Domício, Jonga, Hilton, Gilberto, Amaro, Walter, Jorginho, Maneco, César, Lima, Es¬querdinha, Maxwell e Carlinhos.
A viagem, feita em moderníssimo DC-4 da Pan American, acabou tornando-se longa e fatigante, por força de mal explicada mudança na rota inicialmente prevista. Foram percorridos 9.600 quilômetros em 36 horas, até Bogotá, com escalas inesperadas em San Juan (Porto Rico), Miami, Kingston (Jamaica) e em Cuba. Tudo terminou em paz, entre¬tanto, com uma cordial recepção na capital colombiana, proporcionada pelos promotores da temporada, o clube Millonarios. Éramos o primeiro time brasileiro a jogar em Bogotá.
Dois dias após a chegada, ocorreu a estréia, no domingo 22 de fevereiro. Vencemos tranqüilamente o vice-campeão local, o Medellin, por 5 x 1, com a seguinte equipe: Osni, Alcides e Domício; Hilton, Gilberto e Amaro; Jorginho, Maneco, César, Lima e Esquerdinha. Esquerdinha (2), Lima (2) e Maneco foram os artilheiros. A partida efetuou-se no estádio El Campin, na época ainda por ser terminado.
No domingo seguinte enfrentamos os Millonarios, que se apresentavam credenciados pelo título de campeões nacionais da Colômbia, bem como por extensa e vitoriosa experiência internacional. Voltamos a vencer, por 3 x 1, tentos de Maneco, César e Esquerdinha.
Toda a esperança de derrubar os poderosos visitantes foi concentrada, pela torcida local, no Independientes de Santa Fé, uma brava equipe que, semanas antes, vencera o Velez Sarsfield, de Buenos Aires. Mas triunfamos, ainda dessa feita, pelo terrível placar de 6 x 1, gols de Lima (2), Esquerdinha (2), Maxwell e Hilton. Foi a 7 de março, em El Campin.
A partir de então, o prestígio alcançado pelo América provocou justificados temores nos seus prováveis adversários, dificultando a escolha do próximo oponente. Este teve de ser buscado em Medellin, para onde se deslocou a embaixada rubra. Foi armado um forte selecionado, que vestiu a camisa do Clube Municipal. A despeito disso e das fortes chuvas que caíram antes da partida e encharcaram o gramado, a vitória pertenceu aos nossos, por 3 x 2, tentos conquistados por Lima, Jorginho e Maneco. Curioso é que, ao ouvir-se o apito final do árbitro a torcida presente invadiu o campo, eufórica, a festejar seus jogadores, pelo sucesso que representava a honrosa derrota pela diferença de um gol.
Para o compromisso seguinte, o jeito foi apelar para o Allianza, do Peru, que se encontrava excursionando pela terra e cujo cartel exibia recentes vitórias sobre o Racing e o Chacaritas, ambos de Buenos Aires, além de um giro invicto pelo Chile. Nem por isso os limenhos se livraram, a 19 de março, da derrota, por 2 x 1, gols de César e Lima. Foi, talvez, o mais difícil dos confrontos, e nem precisaríamos salientar isso, posto que o futebol peruano é reconhecidamente de muito boa categoria. O jogo foi em Bogotá.
O fecho da campanha na Colômbia ocorreu quarenta e oito horas depois. Enfrentamos, em revanche, os promotores da temporada, os Millonarios, sobre quem tornamos a marcar 3 x 1, tentos de Lima (2) e Maneco. O jogo foi em Medellin.
As duas derradeiras pelejas estavam marcadas para Quito, onde a vitoriosa comitiva recebeu também cavalheiresca acolhida. A estréia deu-se a 28 de março, em um campo totalmente “careca”. Vencemos ao Aucas por 3 x 1, gols de Jorginho (2) e Maneco.
Finalmente, coroando a excepcíonal tournée, uma brilhante vitória a 4 de abril, sobre o selecionado de Quito (que, na realidade, era a seleção equatoriana) por 3 x 1, tentos de Esquerdinha (2) e Jorginho.
Oito jogos, oito vitórias. Regressou triunfalmente a desacreditada comitiva, trazendo a invencibilidade que tanto lhe havia sido exigida pelos críticos nacionais. É verdade que não enfrentara nenhuma das grandes expressões do futebol continental, mas pouco importam as restrições que sejam feitas aos adversários, que elas não podem diminuir, em absoluto, os méritos de uma campanha como essa, invicta, durante quase dois meses, em terras estranhas, a uma altitude apavorante.
Fonte:Campos Salles 118