Hoje em dia divulga-se muito a porcentagem de aproveitamento de um clube dentro e fora de casa, em uma competição.
Passam-se algumas rodadas e já se percebe que nenhum dos participantes está mais com 100% de aproveitamento, mesmo em jogos efetuados em seus domínios.
Quando um time sustenta a totalidade dos pontos ganhos, em casa ou fora de seu reduto, tem-se como certo que esse é um clube grande, jamais intermediário ou pequeno.
Mas houve uma vez, ou pelo menos uma vez, em que um clube incipiente em termos de Paulistão – era o seu quarto ano seguido de presença na divisão principal do certame bandeirante e do bloco dos meros coadjuvantes – se agigantou e foi protagonista de um feito inigualável para os seus padrões.
Foi no Campeonato Paulista de 1959, e tratou-se da Associação Ferroviária de Esportes, que venceu 12 vezes seguidas em seu estádio (Dr. Adhemar Pereira de Barros, mais divulgado como Fonte Luminosa). Toda essa dúzia de jogos valendo pelo difícil Campeonato Paulista.
A série foi iniciada justamente na primeira rodada do campeonato, em 24 de maio de 1959, contra o C.A. Juventus, e prolongou-se até 15 de novembro, quando a Ferrinha recebeu o Palmeiras e foi abatida por 3 a 0.
Antes disso, porém, transcorreu quase toda a temporada oficial sem que a Ferrinha conhecesse, na Fonte, o dissabor de um revés ou mesmo de um empate. Doze jogos, doze vitórias. E vitórias maiúsculas, contra times do porte de um Corinthians e de uma Portuguesa (quando esta era respeitada como clube grande), ambos derrotados por diferença de dois gols.
Não era apenas obtenção de vitórias; o que mais impressionava era ver o futebol maiúsculo exibido pelos comandados de José Guillermo Agnelli.
Foi tamanho o sucesso grená em 1959, que logo no primeiro semestre do ano subsequente ela empreendia a sua primeira excursão ao exterior, por gramados lusos e espanhóis, além de campos – nem sempre gramados – da África portuguesa.
Um feito extraordinário, fantástico, que muito provavelmente jamais será superado ou mesmo igualado, e que por isso mesmo merece ocupar este espaço precioso com a divulgação das fichas técnicas dos 12 jogos vencidos pela Ferroviária, consecutivamente, em seu estádio, no ano de 1959, pelo certame bandeirante.
1ª vitória – Ferroviária 3 x 0 Juventus
14.05.1959, domingo (tarde); Árbitro: Antônio Musitano; Renda: Cr$ 74.650,00; Gols: Amaral (pênalti), 17 e Baiano, 43 do 1º; Benny, 40 do 2º; AFE: Rosan; Ismael e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Osni; Amaral, Cardoso, Baiano, Nei e Benny; Juventus: Claudinei; Julinho e Homero; Cássio, Clóvis e Pando; Zeola, Palico, Baltazar, Buzzone e Rodrigues
2ª vitória – Ferroviária 2 x 0 Jabaquara
07.06.1959, domingo (tarde); Árbitro: Anacleto Pietrobon; Renda: Cr$ 86.075,00; Gols: Baiano, 28 do 1º e 12 do 2º; AFE: Rosan; Ismael e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Osni; Amaral, Baiano, Nei, Bazzani e Benny; Jabaquara: Barbosinha; Macedo e Sarno; Darci, Miguel e Ivan; Jorge, Luiz, Vasconcelos, Bugre e Carlinhos
3ª vitória – Ferroviária 4 x 2 Portuguesa
21.06.1959, domingo (tarde); Árbitro: Francisco Moreno; Renda: Cr$ 209.850,00; Gols AFE: Nei, 32 do 1º; Bazzani, 19 e 35, e Capeloza, 43 do 2º; Gols Lusa: Ocimar, 19 do 1º e Servílio, 15 do 2º; AFE: Rosan; Ismael, Antoninho e Osni; Dirceu e Rodrigues; Capeloza, Nei, Baiano, Bazzani e Benny; Portuguesa: Carlos Alberto; Mário Ferreira, Ditão e Juths; Hermínio e Vilela; Ocimar, Didi, Servílio, Zé Carlos e Raul Klein
4ª vitória – Ferroviária 2 x 0 Noroeste
05.07.1959, domingo (tarde); Árbitro: Dino Pasini; Renda: Cr$ 84.600,00; Gols: Bazzani, 37 do 1º e Dirceu, 35 do 2º; AFE: Rosan; Ismael e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Cardarelli; Amaral, Nei, Baiano, Bazzani e Benny; Noroeste: Julião; Pedro e Zarrir; Diógenes, Gaspar e Nelsinho; Batista, Edir, Marinho, Fernando e Ismar
5ª vitória – Ferroviária 1 x 0 Botafogo-RP
26.07.1959, domingo (tarde); Árbitro: Francisco Moreno; Renda: Cr$ 164.850,00; Gol: Amaral, 4 do 1º; AFE: Rosan; Ismael e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Cardarelli; Amaral, Baiano, Nei, Bazzani e Benny; Botafogo: Machado; Egídio e Benedito Julião; Hugo, Antônio Julião e Gil; Antoninho, Laerte, Silva, Mário e Dodô. Obs.: O encontro entre essas duas agremiações passou a ser chamado “Clássico Bota-Ferro”, do interior.
6ª vitória – Ferroviária 1 x 0 Ponte Preta
13.08.1959, quinta-feira (noite); Árbitro: Pedro Calil; Renda: Cr$ 113.400,00; Gol: Nei, 12 do 1º; AFE: Rosan; Porunga e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Cardarelli; Baiano, Cardoso, Nei, Dudu e Benny; Ponte Preta: Nino; Pirani, Derem e Carlito Roberto; Pitico e Carlinhos; Nivaldo, Wilse, Paulinho, Gamba e Jansen; Obs.: Nei, da AFE, perdeu um pênalti aos 27 do 2º.
7ª vitória – Ferroviária 4 x 2 Taubaté
26.08.1959, quarta-feira (noite); Árbitro: Telêmaco Pompeu; Renda: Cr$ 170.900,00; Gols AFE: Bazzani, 28 do 1º; Rubens (contra), 13, Baiano, 35 e Bazzani, 41 do 2º; Gols Taubaté: Renatinho, 6 e Gardel, 31 do 1º; AFE: Rosan; Elcias e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Cardarelli; Dudu, Baiano, Nei, Bazzani e Benny; Taubaté: Rossi; Mexicano, Rubens e Zé Carlos; Gardel e Celso; Evaldo, Renatinho, Tec, Ivan e Valter Prado
8ª vitória – Ferroviária 5 x 1 Portuguesa Santista
17.09.1959, quinta-feira (noite); Árbitro: Stefan Walter Glanz; Renda: Cr$ 125.925,00; Gols AFE: Bazzani, 40” e Nei, 7 do 1º; Raul (contra), 13, Dirceu, 22 e Nei, 25 do 2º; Gol Port. Sant.: Edemir, 19 do 1º; AFE: Rosan; Porunga e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Cardarelli; Amaral, Cardoso, Nei, Bazzani e Benny; Portuguesa Santista: Aparecido; Pixu, Raul e Henrique; Clóvis e Jorge; Bota, Edemir, Grilo, Perinho e Valdo
9ª vitória – Ferroviária 3 x 1 Corinthians
27.09.1959, domingo (tarde); Árbitro: Francisco Moreno; Renda: Cr$ 583.650,00 (recorde na Fonte); Gols AFE: Cardoso, 23 e Bazzani, 38 do 1º; Benny, 40 do 2º; Gol Corinthians: Miranda, 9 do 2º; Expulsão: Rafael (Cor.), 42 do 2º; AFE: Rosan; Porunga e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Cardarelli; Amaral, Cardoso, Nei, Bazzani e Benny; Corinthians: Gilmar; Benedito e Oreco; Valmir, Goiano e Roberto Belangero; Miranda, Joãozinho, Joaquinzinho, Rafael e Tite
10ª vitória – Ferroviária 2 x 0 XV de Piracicaba
08.10.1959, quinta-feira (noite); Árbitro: Casemiro Gomes; Renda: Cr$ 105.465,00; Gols: Amaral, 90” do 1º e Cardoso, 19 do 2º; AFE: Rosan; Porunga e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Cardarelli; Amaral, Cardoso, Nei, Bazzani e Benny; XV de Piracicaba: Orlando; Clélio, Cardinalli e Dema; Biguá e Drace; Alfredinho, Nilo, Oraci, Pita e Nelsinho
11ª vitória – Ferroviária 5 x 1 Comercial-RP
22.10.1959, quinta-feira (noite); Árbitro: Olten Aires de Abreu; Renda: Cr$ 125.300,00; Gols AFE: Benny, 7 e Cardoso, 10 do 1º; Cardoso, 18, Baiano, 30 e Nei (pênalti), 45 do 2º; Gol Comercial-RP: Carlos César, 17 do 2º; AFE: Rosan; Porunga e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Cardarelli; Baiano, Cardoso, Nei, Bazzani e Benny; Comercial-RP: Paulo; Arruda, Valdemar e Toninho; Parracho e Vastinho; Noca, Almeida, Gato, Lero e Carlos César
12ª vitória – Ferroviária 3 x 2 Comercial-SP
08.11.1959, domingo (tarde); Árbitro: Antônio Musitano; Renda: Cr$ 84.225,00; Gols AFE: Benny, 15 do 1º; Savério (contra), 24 e Cardoso, 40 do 2º; Gols Comercial-SP: Tantos, 29 do 1º e Osvaldo, 13 do 2º; AFE: Rosan; Ismael e Antoninho; Dirceu, Rodrigues e Osni; Dudu, Cardoso, Nei, Bazzani e Benny; Comercial-SP: Nivaldo; Diógenes, Savério e Alan; Maurinho e Rubens de Almeida; Tantos, Orlando, Alvacir, Mituca e Osvaldo; Obs.: Algumas garrafas foram atiradas em um dos bandeirinhas. O estádio da Fonte foi interditado e a AFE teve de atuar no Estádio Municipal de Araraquara, contra o América de Rio Preto.
Nessas 12 vitórias seguidas na Fonte Luminosa, pelo certame paulista de 1959, a Ferroviária assinalou 35 gols e sofreu apenas 9.
O quadro afeano perdeu a invencibilidade em casa no 13º jogo, ao enfrentar o Palmeiras (que viria a ser o supercampeão paulista), pela contagem de 3 a 0. Mas no jogo seguinte em casa, realizado no Estádio Municipal pela interdição do estádio da Fonte, a Ferroviária aniquilou o América de Rio Preto, ao abatê-lo pelo dilatado marcador de 7 a 1, em 19 de novembro.
No dia 29 de novembro, a Ferroviária decepcionou a sua torcida ao empatar em Araraquara com o Nacional da Capital, um dos times mais fracos da competição; resultado: 1 a 1.
No dia 6 de dezembro, a esquadra avinhada do Interior recebeu o Santos, fez 1 a 0 mas não resistiu ao poderio de Pelé e companhia, perdendo de goleada: 5 a 2.
Em 20 de dezembro, uma vitória sem brilho contra o XV de Jaú, por 3 a 2; mas três dias depois, triunfo expressivo sobre o Guarani, 3 a 0.
E no dia 27 de dezembro, despedindo-se de sua torcida, a Ferroviária perdeu para o São Paulo por 1 a 0.
Foram 19 partidas em Araraquara, com 15 vitórias, 1 empate e 3 derrotas (para os três times mais fortes do certame: Palmeiras, Santos e São Paulo). Os grenás assinalaram 51 gols na presença de seus torcedores, sofrendo 22. Uma campanha de clube grande, marcando o início de destacadas presenças na Primeira Divisão do Campeonato Paulista.
Atrás apenas de Palmeiras e Santos, que terminaram juntos na primeira colocação e decidiram o certame em três partidas extras, a Ferroviária terminou em terceiro lugar, ao lado do São Paulo FC.
Fontes:
Tópicos do Passado da AFE (Prof. Antônio Jorge Moreira);
O Caminho da Bola, Rubens Ribeiro/FPF;
Arquivo pessoal
Texto: Vicente Henrique Baroffaldi
Edição: Paulo Luís Micali