O Campeonato Catarinense de Futebol de 1929 foi o sexto disputado na história, o terceiro com participação de clubes do interior do Estado.
O maior campeão até então era o Avahy FC com quatro conquistas: 1924, 26,27 e 28. O outro campeonato havia sido conquistado pelo Externato FC, do Gymnasio Santa Catharina (atual Colégio Catarinense) em 1925.
Repetindo a formula dos últimos dois anos, ficou definido pela Federação Catharinense de Desportos que o campeão estadual seria conhecido após a realização de um jogo único, a ser disputado em Florianópolis, no “Campo da Liga”, na rua Bocayuva, envolvendo o “Campeão da Capital” e o “Campeão do Interior”.
Devido a total desorganização da Federação, o Campeonato Estadual teve inicio somente em Dezembro e a eventual tabela projetada para a competição era cruel para o vice-campeão estadual Brasil de Blumenau e favorecia muito o Pery de Mafra.
Tabela do campeonato
No primeiro jogo do Campeonato, realizado em 1º de Dezembro, o Brasil F.C. de Blumenau, vice-campeão de 1927 e 1928, arrasou o Brusquense por 10×2 classificando-se para a fase seguinte.
No mesmo dia deveriam jogar em Itajahy: Marcilio Dias x Lauro Muller, no entanto, o rubro-anil entregou os pontos ao Lauro Muller F.C. que deste modo, avançou sem esforço.
Na semana seguinte o Lauro Muller comprovou a sua força e bateu o até então favorito Brasil de Blumenau por 3×1, obtendo assim, o status de ‘Campeão do Vale do Itajahy’. Conforme a tabela, seu próximo adversário seria o ‘Campeão de Joinville’.
8/12/29 – CAXIAS: CAMPEÃO JOINVILLENSE
O campeonato joinvillense de 1929 resumiu-se ao jogo único entre América e Caxias, válido pelo Campeonato Estadual, realizado no campo do Caxias, na Rua Imaruy, conforme escolha da FCD que enviou seus próprios juizes e representantes para o jogo.
O Caxias FC tinha um time mais forte, porém, teria que quebrar um tabu de jamais ter vencido o campeonato da cidade, coisa que o América FC havia conseguido em quatro oportunidades: 1920, 22, 23 e 25.
O América FC com um time envelhecido, não estava disposto a perder a condição de principal time da cidade e por isto foi atrás de reforços, conseguindo com muito custo (financeiro) trazer o jogador Garantão, famosíssimo em Ponta Grossa, exclusivamente para este duelo.
O Caxias FC era composto por jogadores e dirigentes ardilosos, sempre atentos aos bons valores da região, e em resposta ao rival, reforçou o seu time com um jovem atacante local, ainda desconhecido, chamado Cylo. A confiança era grande, pois no meio do ano, o time já havia se reforçado com o meia Marinheiro, craque da varzea curitibana.
CILO E MARINHEIRO: Grandes reforços.
Caxias e América se enfrentaram em 8 de Dezembro, perante duas mil pessoas. O jogo foi muito disputado e o gol da vitória caxiense saiu somente aos 35 minutos do segundo tempo, feito por Cyrillo após um passe do estreante Cylo. Esta dupla de atacantes, entrosada até no nome, faria história do futebol joinvillense.
15/12/29: UMA VITÓRIA CONTURBADA
Dando sequencia ao ‘Campeonato do Interior’, em 15 de Dezembro, o Caxias recebeu o fortíssimo Lauro Muller, de Itajahy, no campo da Rua Imaruy.
O Lauro Muller havia sido fundado em 24 de Março e desde o principio colocou-se como uma nova força do futebol catarinense. Sendo composto exclusivamente por operários, moradores do bairro Vila Operária, convenientemente patrocinados por seus patrões, era um time muito aguerrido para os padrões da época, e não era raro seus jogos acabarem em confusão.
Em campo, o Caxias não deu chances ao Lauro Muller e venceu facilmente por 3×0, com gols de Chiquinho, Cyrillo e Candinho. O Lauro Muller, descontente com a atuação do juiz da FCD, ou talvez temendo uma goleada, abandonou o campo aos 17 minutos do segundo tempo. Os itajahyenses ainda requereram a anulação da partida junto a FCD mas seus argumentos não foram aceitos.
5/1/30: CAMPEÃO DO INTERIOR
CAXIAS 1X0 PERY de Mafra
Após bater América e Lauro Muller, o Caxias teria pela frente, em 5 de Janeiro de 1930, o Pery de Mafra, num jogo que valeria a passagem para a final do Campeonato Estadual.
O jornal ‘O Pharol’, de Itajahy, havia informado que o Pery de Mafra enfrentaria o Porto União FC na primeira fase do campeonato, no entanto, este clube era totalmente desconhecido até o momento e o único clube desta cidade filiado á FCD era o Club Athletico Catharinense. Era comum nesta época, os jornais errarem o nome de clubes de outras cidades.
De qualquer modo, o resultado deste jogo entre mafrenses e porto-unionenses jamais foi divulgado pelos jornais da época, o que leva a crer que jamais se realizou. Supõe-se que por problemas na filiação ou transporte, o representante da Porto União não pode enfrentar o Pery, que era o favorito absoluto para vencer a partida.
Certo é que, sem muito esforço, o Pery estava prestes a chegar na final do Campeonato Catarinense de 1929, afinal, tinha um time experiente, acostumado a jogos difíceis, já que Mafra, por meio do trem, era a cidade catarinense mais próxima de Ponta Grossa e Curitiba, que neste período, eram centros futebolísticos bem mais avançados que qualquer outro em Santa Catarina.
A força do Pery se traduz na dificuldade que foi o jogo para o Caxias, que mesmo jogando em seu campo, teve imensas dificuldades para vencer. O time joinvillense abriu o marcador aos 27 minutos com Cylo, porem, pouco depois, o Pery empatou numa cobrança de pênalti. O segundo tempo foi dramático com o Pery ameaçando virar o jogo e o Caxias, levemente prejudicado pela arbitragem, sentindo-se frustrado com a anulação de dois gols. Somente graças a um gol do reserva Pedro Lemos foi que o Caxias conseguiu assegurar a vitória e assim se credenciar á final do Campeonato.
ADOLPHO KONDER FC: CAMPEÃO DA CAPITAL
O Campeonato da Capital deste ano, disputado em pontos corridos, acabou somente em Março de 1930 e foi conquistado pelo Adolpho Konder F.C. que teve como principal rival o vice-campeão Tamandaré.
Fundado em 1926 por praças da Força Publica (atual Policia Militar), o Adolpho Konder ganhou este nome em homenagem ao Governador do Estado. A sua conquista do título florianopolitano não foi surpresa, afinal, nos últimos dois anos, contando com jogadores fisicamente muito bem preparados, já vinha ameaçando a soberania avahyana.
O ESTÁDIO ADOLPHO KONDER
A Federação Catharinense de Desportos, presidida pelo coronel Pedro Lopes Vieira, chefe da Força Publica e fundador do Adolpho Konder F.C. vinha construindo desde 1929 o seu estádio, no local onde ficava o antigo Campo da Liga e numa “justa” homenagem ele receberia o nome do Estádio Adolpho Konder.
A ideia era inaugurar o novo estádio com uma grandiosa festa esportiva que teria como principal atração, a final do Campeonato, onde, sob os olhares do governador Adolpho Konder e diversas outras autoridades, jogariam o time da casa, o Adolpho Konder FC contra o Caxias FC de Joinville.
O atraso nas obras fez com que a final entre Adolpho Konder e Caxias fosse postergada para 21 de abril.
Após novos contratempos, foi marcada uma nova data: 4 de Maio.
Finalmente, para que vossa senhoria o Governador pudesse estar presente á inauguração do Estádio e ao jogo final, ficou definido que o jogo aconteceria em 13 de Maio. As festas de inauguração, que contaram com uma extensa programação esportiva, com provas atléticas, jogos de vôlei e futebol iniciaram já no dia 11.
O Caxias esperou pacientemente pela final sem reclamar, afinal, sentia-se honrado em participar deste grande evento. Por outro lado, esta espera teve alguns percalços. O jogador Cyrillo adoeceu e chegou a ter sua morte anunciada pela cidade, o que não aconteceu, tanto é que rapidamente voltou a defender o alvinegro. Um grande desleixo do clube foi aceitar realizar um amistoso contra o Lauro Muller, em Itajahy, em fevereiro, onde além de amargar uma derrota por 3×2, os joinvillenses tiveram nada menos que sete jogadores machucados pela meia Mocinho, tudo fruto da rivalidade criada no jogo valido pelo Estadual.
ADOLPHO KONDER: O homenageado
13/5/30: CAXIAS: CAMPEÃO ESTADUAL DE 1929
CAXIAS 7×3 ADOLPHO KONDER FC
O Adolpho Konder tinha um time forte, mas sabia que o Caxias era mais poderoso, fato é que, no único jogo amistoso realizado entre ambos até então, em Julho de 1929, havia sido derrotado em casa por 4×0.
Para remediar este desnível técnico, o clube entregou-se á exaustivos treinos no campo da Federação, para assim, ter vantagem sobre o rival ao menos no que diz respeito ao campo de jogo, já que o Caxias não teria tempo hábil para fazer um reconhecimento do novo gramado.
A pressão sobre o time canarinho era imensa, sobretudo após todas as solenidades, provas e festividades realizadas antes do jogo, que decorreram com enorme perfeição, faltando apenas, a vitória do time ilhéu para que tudo fosse fechado com chave de ouro.
Em campo o Caxias tratou de estragar a festa e mostrou-se arrasador nos primeiros minutos fazendo 3×0 com Cylo aos 6, Raul Schmidlin aos 7 e novamente Cylo aos 9 minutos de jogo!!!
O Caxias se descuida e permite que aos 15 e aos 25 minutos o Adolpho Konder desconte para 3×2, gols de Cidade e Candinho.
O Caxias redobra as atenções e ainda no 1º tempo faz 4×2 com Reck.
No 2º tempo o Caxias não deu chances ao rival e tratou de assegurar o titulo com mais três gols, marcados por Raul Schmidlin aos 13, Cyrillo aos 25 e novamente Raul Schmidlin aos 31.
Com 6×2 no placar o jogo tornou-se uma brincadeira para o veterano goleiro caxiense Benedicto, que passou a se exibir fazendo defesas com a cabeça, para delírio e ao mesmo tempo indignação da torcida local. Numa de suas gracinhas, Benedicto fez um golpe de vista mal feito e permitiu que aos 39 minutos o Adolpho Konder descontasse para 7×3.
O Caxias foi campeão com: Benedicto, Candinho e Chiquinho; Marinheiro, José e Otto; Meyer, Cyrillo, Raul Schmidlin, Cylo e Reck. Os meias Antonio Augusto, Arthurzinho, Lemos e Amorim também participaram da campanha.
Para os veteranos Benedicto e Candinho, que atuavam no futebol desde a década de 1910, esta foi a glória que coroou seu pioneirismo. Também foi a consagração máxima para Raul Schmidlin que defendeu o clube durante 25 anos (1922-1947). Marinheiro teve a chance de alçar voos mais altos, porem, não se adaptou o profissionalismo do Vasco da Gama. Os jogadores Benedicto, Arthurzinho, Pedro Lemos e Cyrillo, foram duplamente festejados, primeiro em Joinville, onde participaram da carreata pelas principais ruas do centro da cidade, e posteriormente em São Francisco do Sul, onde residiam e também defendiam o Ypiranga FC.
A vitória caxiense abalou tanto a moral dos florianopolitanos que os cronistas esportivos dos jornais mais importantes da cidade: O Estado e Republica limitaram-se em informar o placar do jogo, não dando maiores detalhes á respeito do seu desenrolar. Tal desserviço não foi repetido pela ‘Folha Nova’ que detalhou minuciosamente a conquista alvinegra.
Até mesmo o Coronel Pedro Lopes perdeu a compostura com a derrota e no dia seguinte mandou prender o goleiro Alfredinho, acusando-o de ter falhado e facilitado a vitória joinvillense.
A primeira conquista estadual de um time do interior, jogando contra um rival de Florianópolis, algo raro de acontecer até hoje, foi comemorada não apenas em Joinville, mas também em Blumenau, já que o Brasil FC havia sofrido nas mãos da FCD nas duas finais que havia realizado diante do Avahy, tanto é que chegou até de desfiliar da entidade por algum tempo.
CAXIAS E A TAÇA DE CAMPEÃO DE 1929
Tabela e resultados do Campeonato