O ano de 1912 foi marcado por uma das maiores da navegação mundial; o naufrágio do Transatlântico Titanic, no futebol baiano as confusões e violência marcaram a disputa do certame que contou ainda com a proibição dos jogos no Campo da Pólvora e as partidas passaram a serem disputadas no Underground do Rio Vermelho e tendo o Clube São Salvador sendo o pivô na maioria dos casos.
O São Salvador, por motivo de indisciplina, suspende por 90 dias o seu goleiro Teixeira Gomes e comunica a Liga, que aprova a penalidade. Na reunião de 22 de maio, porém, um clube filiado pede a transferência desse amador. Calorosos debates em torno do assunto terminam com o deferimento da transferência.
Não se conforma o São Salvador e retira-se da Liga. Acompanha-o seu Presidente da Liga, Sr. Alfredo Ruas, que o substitui na mesma sessão, ilegalmente, pelo Sr. J. Fernandes.
Finalmente a 1º de junho volta o São Salvador a Liga uma vez que “cessaram os motivos da sua desfiliação”.
O ano de 1912 foi o ano fatídico da Liga Baiana de Sports Terrestres. A indisciplina campeou e raro os jogos em que não terminavam em sururus, muitos dos quais com conseqüências lamentáveis. Os casos na entidade eram quase que diários. Ninguém se entendia. A politicalha campeou e a indisciplina deu cabo da primeira entidade que se fundou na Bahia e que auspiciosamente se iniciou no Campo da Pólvora. Note-se entretanto que dessa entidade se fazia parte rapazes finos e educados, na sua maioria estudantes e empregados do alto comércio.
Um jornal da época, descrevendo um dos jogos do campeonato, assim se externou: “Infelizmente, mais uma vez, lamentamos os fatos que se passam no Rio Vermelho em quase todos os jogos. Até já parece que isso faz parte do programa do campeonato deste ano. Outro dia numa partida entre os clubes Sport Club Bahia e Atlético deu-se o vergonhoso incidente de que já tratamos; no penúltimo jogo, entre os clubes Vitória e São Salvador, houve novos incidentes que reservamos para tratar em outra ocasião que agora chega; e no último, reproduziu-se o fato de caráter sério. E no pé em que vai queira Deus, não tenhamos de lamentar resultado mais funesto e mais triste. Lamentamos tanto porque nesses incidentes em que jogadores e árbitros são agredidos e insultados ou se engalfinham, há sempre sacamento de revólveres e mesmos tiros. O que não pode, nem deve, é continuar no curso em que vai a fiscalização do Campo do Rio Vermelho; se ali existe o policiamento indispensável, ele é imperfeito; se no campo há um representante da Liga, um Juiz, ele não se faz impor e assim torna-se necessário que o Sr. Chefe de Polícia mande um Delegado aos domingos assistir aos jogos de futebol para garantia dos que ali procuram um divertimento”.
Voltando ao goleiro Teixeira Gomes, que em 1931 veio a ser o primeiro defensor da meta do Bahia, se tornou um grande criador de casos no futebol baiano. Alcançava todas as bolas. No jargão futebolístico dos anos 30, o primeiro goleiro do Esporte Clube Bahia, Teixeira Gomes, era “uma antena”. Pegava tudo. Naquela tarde do Campo da Graça, mítico e extinto gramado de Salvador, a antena tricolor contrariou o epíteto e sofreu um frango. Ora vá, torcida. O corpulento goleiro passou a reagir às vaias com bananas e ofensas. No campo em que, anos mais tarde, o cronista Antonio Maria irradiaria outras pelotas, ele seria capaz de irromper uma batalha para honrar sua fama de arqueiro. Revoltados, os torcedores avançaram contra Teixeira Gomes e suas bananas.
Hora do folhetim: à beira do gramado, num carro, o dono do cinema Jandaia, João Oliveira, acompanhava o jogo com suas filhas, como num corso carnavalesco. Em solidariedade, ofereceu abrigo ao fugitivo no automóvel, ao lado de suas pequenas. Desse frango nasceria um casamento: entre respirações sobressaltadas, Teixeira Gomes se enamorou por Célia, uma das filhas de Oliveira, dessa união nasceu o escritor João Carlos Teixeira Gomes em 1936.
Fontes: Livro Esporte Clube 70 anos de Glórias de Carlos Casaes e Normando Reis e Esporte Clube da Felicidade de Nestor Mendes Junior.